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sexta-feira, 15 de março de 2024

Estudo da Parashá Pekudei - A fidelidade e o caráter do servo.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 23 – Pekudei (Registros)

Shemôt/Êxodo Ex 38:21 – 40:38,

Haftará (Separação) 1Rs 7:51-8:21, e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Ap 15:5-8


Tema: A fidelidade e o caráter do servo.


No estudo dessa semana entenderemos um pouco a respeito da fidelidade e do caráter do servo do Eterno. Falaremos sobre Moshê e sobre os servos do Eterno na atualidade. O que levou o servo do Eterno a prestar contas das coisas que o povo doou para o Mishkan? E qual a importância dessa atitude em sua época e em nossa?

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


No site Chabad encontramos o resumo dizendo que, esta semana lemos a Porção final de Shemot, um livro que começa com o povo judeu escravizado pelo faraó no Egito e agora termina com o término da construção do Mishkan (tabernáculo) no deserto.

Os comentaristas referem-se a este segundo livro como o Livro da Redenção, e este é seu tema desde o início da Parashá Shemot até o final de Pecudê. A Redenção não foi conseguida somente ao escapar da escravidão; receber a Torá no Monte Sinai deu um propósito a esta liberdade, e o repouso da Presença de D'us entre Sua nação (o resultado da conclusão do Mishkan) assinala o clímax da salvação.

A Parashá Pecudê começa com uma contabilidade completa do ouro, prata e cobre doados pelo povo para uso no Mishkan. A Torá prossegue descrevendo os tecidos e a confecção das várias vestes a serem usadas pelo Cohen Gadol (Sumo-sacerdote) durante o serviço. Após a inspeção de Moshê e aprovação dos muitos utensílios e partes desmontadas, Moshê estabelece o Mishkan em Rosh Chôdesh Nissan, ou seja, início do mês de Nissan, enquanto cada parte é ungida e colocada no lugar que lhe foi destinado. E como D'us havia prometido, Sua glória preenche o Mishkan.

ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


Esta é a contagem das coisas para o tabernáculo, a saber, o tabernáculo do Testemunho, segundo, por ordem de Moisés, foram contadas para o serviço dos levitas, por intermédio de Itamar, filho do sacerdote Arão. Shemot/Ex 38:21


O site Emunah a fé dos santos, em seu comentário dessa parashá nos diz que, Moshê ordena que se faça uma contagem de todo o material que se utilizou para a construção do tabernáculo. O serviço dos levitas estará sob a direção de Itamar filho de Aharon. Betzalel juntamente com Aholiabe fazem conforme aquilo que o Eterno diz a Moshê. A quantidade de ouro empregado em toda a obra foi de 29 talentos e 730 siclos. Foram usados 100 talentos e 1775 siclos de prata, que correspondem a uma beka por cabeça dos 603.550 homens contados, de 20 anos para cima. Os 100 talentos foram usados para as 100 bases das tábuas do santuário e as colunas do véu. Os 1775 siclos foram usados para os ganchos e demais detalhes dos pilares do átrio. A contribuição do cobre foi de 70 talentos e 2400 siclos, com os quais se fez as bases dos pilares para a entrada da tenda, o altar e os seus utensílios, as bases dos pilares do átrio e todas as estacas. Também foram feitas as vestes para o serviço sacerdotal.

Mos deu a ordem para fazer contas diante de todo o povo de como se tinha utilizado o material doado para a obra do Eterno. Não só o povo de Israel podia ver essas contas, mas sim todo aquele que tem acesso à Torá pode ver como Moisés administrou o ouro, a prata, o cobre, as pedras preciosas e os demais objetos de valor. Isto ensina-nos sobre a importância de ser sério na congregação e na administração pública de qualquer organização, bem como em nossa vida cotidiana. Em todas as nossas decisões e ações a seriedade, o caráter e a clareza no trato das coisas, principalmente relacionado a valores monetários.

Moshê tomou a iniciativa para apresentar as contas diante do povo, para que ninguém o acusasse de ser corrupto. E isso não era apenas para se defender ou se justificar. Em momento algum deu a oportunidade para que o povo pensasse que ele tinha enriquecido à custa das doações para a obra do Eterno, como lemos em Números 16:15b:


nem um só jumento levei deles e a nenhum deles fiz mal”.


O propósito de Moshê era ainda mais importante, e o midrash fala sobre isso. Bruno Summa em seu comentário dessa parashá aborda o que o midrash diz a esse respeito observe a seguir alguns trechos que trago junto com minhas próprias observações.

O citado autor diz que a parashá PEKUDEI inicia apresentando a contabilidade de todo material utilizado para a construção do Mishkan. Tudo tinha sido fielmente contabilizado em seus pequenos detalhes. Para o autor a decisão de Moshê em fazer a contabilidade do material é claramente uma decisão que partiu dele próprio, ou seja, não foi um mandamento do Eterno. O autor nos leva a refletir em algumas coisas importantes.

O que Moshê fez, de acordo com o autor, apesar de ter sido uma decisão compreensível, já que nada seria mais justo do que apresentar aos investidores onde seus investimentos foram aplicados, levanta muitas dúvidas, pois o povo de Yisrael não sabia que Moshê era um homem santo e justo? Não sabiam que se caso Moshê desviasse algo, o Eterno não falaria mais com ele face a face e que o tornaria passível de punição? Sendo assim, por que o homem de D’us se deu ao trabalho de apresentar ao povo de Yisrael a contabilidade?

Conforme o relato de Bruno Summa, isso chama muita atenção de diversos sábios, os quais abordam a decisão de Moshê por diversos pontos de vista, indo do mais racional ao mais espiritual, e quando falamos espiritual estamos nos referindo a interpretações que envolvem conceitos da kabalah bíblica. Vejamos abaixo um midrash:


Rabbi Chama disse: “o povo poderia dizer: olhe o quão gordo e bem nutrido está o filha de Amram. E outros diriam: é claro, você não esperaria que o homem responsável pela construção não enriquecesse? Quando Moshê ouviu isso, ele os disse: pelas vossas vidas, assim que o Mishkan estiver terminado, eu vos apresentarei a contabilidade detalhada.” Shemot Rabbah 51:6

Ainda conforme o autor, apesar dos maledicentes que haviam entre o povo de Yisrael não formarem a maioria do povo, Moshê sabia que se permitisse que suas maledicências não fossem imediatamente refutadas, ela poderiam, com o tempo, se espalhar pelo acampamento e fazer com que muitos pensassem que Moshê estaria desviando o dinheiro doado pelo povo para si mesmo. O Midrash, quando diz que o povo começou a ver quão bem nutrido estava Moshê, não explica de forma direta o que realmente estava acontecendo.

Perceba que havia mais coisas acontecendo que as pessoas não conheciam, mas o mal costume de falar o que não se sabe ou de falar mal dos outros leva muitos à transgressão, podendo levar a morte. E pelo que vemos, o autor está nos dizendo que Moshê queria evitar isso. Mas o que então levou as pessoas a pensarem que Moshê estava enriquecendo. Vamos seguir com o relato de Bruno Summa.

Antes que Moshê subisse pela terceira vez ao monte sinai, HaShem o ordenou a talhar duas pedras onde a Torah seria escrita, duas tábuas de safira, e HaShem permitiu que Moshê mantivesse para si todas as rebarbas que caíssem de seu trabalho. Como a safira é uma pedra com alto valor agregado, o status financeiro de Moshê mudou repentinamente. Ao ter terminado de talhar o segundo par de tábuas, Moshê havia se tornado um homem muito rico. E aqui interrompo o relato para chamar sua atenção. Sempre haverá pessoas que falarão ou encontrarão motivos para apontar o dedo. Por isso nossa fidelidade ao Eterno e a sua palavra devem sempre estar em primeiro lugar, por mais ridículo que isso possa parecer para quem está de fora.

Notem que quando o povo de Yisrael deixou o Egito, antes eles saíram de casa em casa pedindo bens, como ouro, prata, pedras preciosas, tecidos, etc. E assim, saíram levando consigo grande riqueza, no entanto, enquanto eles estavam fazendo isso, Moshê estava procurando o corpo de Yosef a fim de cumprir o que havia sido prometido de levá-lo para a terra que o Eterno os daria. Ou seja, Moshê não teve tempo de pedir riquezas para si, e saiu do Egito mais pobre que os demais. E depois de passarem pelo mar, mais uma vez o povo se preocupou em pegar os espólios do exército egípcio, enquanto Moshê e Miriam se preocuparam em louvar e agradecer ao Eterno pela salvação que lhes tinha dado.

Por isso, quando HaShem tornou Moshê rapidamente um homem rico através das rebarbas de safira que caíram do segundo par de tábuas, algo que ocorreu em pouco tempo à construção do Mishkan, muitos entre o povo não entendiam como ele, um homem que não pegou nada no Egito e nem no mar, poderia ter enriquecido tão rápido, e isso, somado ao fato dele estar recebendo riquezas para a construção do Mishkan, foi mais que natural a associação entre o rápido e estranho enriquecimento de Moshê com o fato dele estar recebendo grandes quantidades de materiais preciosos. O autor diz que esse tipo de coincidência não costuma passar em branco perante os olhos dos homens e mulheres de corações maus e propensos à maledicência e ao rápido julgamento.

Outro fato importante que lemos na Torah é que Moshê colocou uma tenda fora do acampamento correto? Vemos isso em Ex 33:7:


Mos costumava montar uma tenda do lado de fora do acampamento; ele a chamava Tenda do Encontro. Quem quisesse consultar a D’us ia à tenda, fora do acampamento. Êxodo 33:7


Conversando com o Rav Yochanan essa semana sobre esse midrash, ele me disse que a Torah oral confirma isso, que foi mostrado acima, e que essa tenda que Moshê ficava era em cima de uma grande pedra de safira não lavrada, e disse também que depois das pedras terem sido lavradas a safira ficou ainda mais valiosa.

Assim, podemos perceber que, conforme o autor já mencionado continua comentando que, Moshê quando decidiu prestar conta de tudo que havia recebido, gasto e sobrado, não estava defendendo seu caráter, mas estava impedido que os fofoqueiros entre o povo cometessem mais um pecado grave, o pecado da maledicência. O que Moshê fez não foi para si mesmo e nem para “esfregar” na cara de seus acusadores que ele não roubou nada, mas foi para que mais pessoas não se tornassem vítimas da Lashon Harah.

Claro que há muitos outros pontos de vista a respeito do que ocorreu nessa parashá e como podemos aprender com ela, afinal a Torah não tem fim em seus ensinos, nem eu pretendo esgotar o entendimento nesse aspecto, mas apenas refletir nessa possibilidade e nos aprendizado que ele nos trás.

E refletindo ainda nesse ponto de vista, podemos aprender que Moshê nos ensina que devemos tomar cuidado com nossa imagem. Se falamos de santidade devemos dar exemplos em nossos comportamentos, pois esses devem ser santos, ele deve andar lado a lado com a fé que nos professamos. E isso não porque devemos prestar contas perante os homens, mas para que possamos evitar que outras pessoas cometam o pecado da maledicência. Então, de certa forma, devemos nos preocupar com o que podem vir a pensar de nós, sabemos que quem nos justifica é o Eterno, mas nunca podemos agir de forma a que pensem mal de nós. E completando assim essa parte, reparem o que diz a Mishnah:


Assim como um homem deve estar limpo perante os olhos do santo, Bendito Seja, o homem também deve estar limpo perante os olhos dos outros homens. Mishnah Shekalim 3:2


O Caráter Fiel de Moshê: Um Modelo para a Nossa Vida

A parashá Pekudei, conforme já vimos no início desse estudo, marca o ápice da construção do Mishkan, o Tabernáculo Sagrado. Moshê, após árduo trabalho e mediação divina, apresenta ao povo um relatório detalhado de tudo que foi utilizado na construção (Êxodo 38:21-31), de acordo com o que comentamos até agora. Essa atitude do homem de D’us, aparentemente simples, revela um caráter admirável de Mos e nos ensina valiosas lições sobre fidelidade, responsabilidade e gestão de recursos. Assim, vejamos algumas dessas lições e o que a sabedoria do povo de Yisrael tem a dizer.


1. Transparência e Prestação de Contas:

    • Midrash: O Midrash Shemot Rabbah (53:3) destaca a meticulosidade de Mos ao apresentar um "relatório final" (Êxodo 38:28). Cada talento de ouro, cada siclo de prata, cada fio de lã, tudo era contabilizado com precisão. Essa atitude demonstrava transparência e responsabilidade para com o povo e com D’us.

    • Lição para nós: A transparência é fundamental em qualquer relacionamento. Devemos ser honestos e responsáveis com os recursos que nos são confiados, seja em projetos pessoais, profissionais ou na administração de bens públicos.

2. Gratidão e Reconhecimento:

    • Midrash: O Midrash Tanhuma (Pekudei 4) interpreta a repetição da frase "todas as coisas que foram feitas para o serviço do Mishkan" (Êxodo 38:28) como um hino de gratidão de Mos a D’us pela provisão divina durante a construção.

    • Lição para nós: A gratidão é uma virtude essencial para uma vida plena. Devemos reconhecer as bênçãos que recebemos, grandes ou pequenas, e agradecer a D’us e às pessoas que nos rodeiam.



3. Liderança Exemplar:

    • Midrash: O Midrash Bamidbar Rabbah (17:3) compara a liderança de Moshê à de um bom pastor que conta suas ovelhas com cuidado.

    • Lição para nós: A atitude de Mos nos ensina sobre liderança autêntica. Um bom líder é responsável, transparente, grato e se preocupa com o bem-estar daqueles que guia.


A história de Mos em Pekudei nos convida a cultivar a fidelidade, a responsabilidade e a gratidão ao Eterno em nossas vidas. Que possamos ser exemplos de transparência, reconhecendo as bênçãos que recebemos e liderando com sabedoria e amor.


Hazak, Hazak, v’nit’chazek! Seja forte, seja forte, e sejamos fortalecidos!


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


sábado, 2 de março de 2024

Estudo da Parashá Ki Tissa - Não perca o propósito, acerte o alvo.

 



Estudos da Torá

Parashá nº 21 – Ki Tissá (Quando fizeres)

Shemôt/Êxodo Ex 30:11 – 34:35,

Haftará (Separação) 1Rs 18:1-39, e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) At 7:35-8:1 e 2Co 3:1-18


Tema: Não perca o propósito, acerte o alvo.


No estudo dessa semana veremos o que podemos aprender com a parashá a respeito de propósito, de acertar o alvo e sobre transformar maldições em bênçãos. E aprenderemos que precisamos ter em mente que o propósito de nossas vidas não pode ser perdido de vista e seguindo assim, devemos buscar sempre acertar o alvo a fim de transformar maldições em bênçãos.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


A parashá começa com a ordem de D'us a Moshê para fazer um recenseamento, coletando uma contribuição igual de uma moeda de meio-shêkel de cada adulto do sexo masculino entre as idades de 20 a 60 anos, e estes valores iriam para o Mishkan (Tabernáculo).

O Eterno descreve a Moshê o kiyor de cobre (lavatório e base) na qual os Cohanim santificarão suas mãos e pés antes de servirem no Mishkan. É também discutido o azeite para unção que seria usado para santificar os vários utensílios para uso normal. Segue-se a receita para o ketoret, insenso aromático a ser queimado duas vezes ao dia. D'us designa Betsalel, da tribo de Yehudá, e Oholiyav, da tribo de Dan, para supervisionar a construção do Mishkan, que estava para ser iniciada. A mitsvá do Shabat é então repetida para advertir a nação de que mesmo a construção do Mishkan não suplanta a observância do dia semanal de descanso, o shabat.

A Torá retorna à narrativa da Revelação no Monte Sinai, e descreve o terrível pecado do bezerro de ouro. D'us aceita as preces de Moshê para que os filhos de Yisrael sejam poupados da aniquilação por sua grave transgressão, e Moshê desce da montanha com as duas Tábuas das Hasserát Hadevarim (Dez Palavras), conhecido como os Dez Mandamentos.

Ao testemunhar uma parcela da população dançando ao redor do Bezerro de Ouro, Moshê quebra as Tábuas e queima o ídolo, iniciando o processo de arrependimento, teshuvah do povo. Como resultado da queda do povo de seu patamar espiritual elevado, D'us anuncia que Sua presença não pode residir entre eles.

Moshê é forçado a mudar temporariamente a tenda para fora do acampamento, para que D'us continue a se comunicar com ele. Moshê novamente sobe à montanha para rezar a D'us para que perdoe o povo de Yisrael, e lhes devolva o status de povo escolhido. Moshê finalmente retorna com o segundo conjunto de tábuas e um pacto renovado com D'us; sua face aparece resplandecente como resultado da revelação Divina.

ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


Iniciando o estudo dos contextos da parashá, vamos seguir por três tópicos para melhor compreender.


Não perca o Propósito


O Eterno disse a Moshê: Fale ao povo de Yisrael: Guardem meus shabatot; pois este é um sinal entre mim e vocês por todas as suas gerações; para que saibam que eu sou o Eterno que os separo para mim. Shemot/Ex 31:12-13


O Eterno criou, separou, escolheu Yisrael como seu povo para um propósito. E como vimos nos versos acima obedecer a HaShem é um sinal de que se é separado como servo do criador, e esse é o propósito, conforme podemos ver na parashá Nitzavim, veja o texto:


Convoco céu e terra para testemunharem contra vocês hoje, que eu apresentei a vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Portanto, escolham a vida, para que vivam, vocês e seus descendentes, amando ao Eterno, seu Elohim, prestando atenção ao que ele diz e apegando-se a ele, pois esse é o propósito da sua vida! Disso depende quanto tempo vocês viverão na terra que o Eterno jurou dar a seus antepassados Avraham, Yitz’chak e Yaakov. Devarim/Dt 30:19-20


Com isso em mente, podemos refletir sobre o nosso propósito, em uma mensagem extraída do site Chabad.

Ao examinar esta Porção da Torá, é interessante notar que a mitsvá de construir o Mishkan veio após a Revelação do Monte Sinai. O ponto focal do Mishkan era a Arca Sagrada, que continha as duas Tábuas. Não faria mais sentido primeiro preparar o local para colocar as Tábuas e então recebê-las? Por que o Mishkan não foi construído primeiro? Desta dúvida aparentemente simples, emerge uma poderosa lição de vida. Segundo a mensagem do mencionado site, quando vamos à loja de presentes judaicos mais próxima, frequentemente passamos muito tempo examinando o belo trabalho nos estojos das mezuzot, mas gastamos o mesmo tempo inspecionando a qualidade do rolo que vem dentro do estojo? Muitas vezes nos preocupamos com o propósito secundário, esquecendo totalmente o objetivo principal. Gastamos tempo e dinheiro adquirindo um talit muito fino e uma bolsa de tefilin, mas não mostramos o mesmo entusiasmo pelo conteúdo que ali está.

Ao colocar a construção do Mishkan após a revelação no Monte Sinai, a Torá está nos lembrando a não perder de vista este propósito. As Tábuas e os Dez Mandamentos nelas gravados são o mais importante: a Arca Sagrada que os contém é secundária. Mais tempo deveria ser gasto aprendendo e honrando a Torá que aprimorando a Arca que a contém. Será a cobertura da chalá ou a chalá nosso maior foco de atenção, a bela sinagoga como santuário ou as preces que lá são ditas? Não devemos jamais deixar de lado nossa prioridade de cumprir as mitsvot de D'us ao máximo de nossas capacidades.

Assim, devemos entender que o propósito ao qual devemos ter sempre em vista é obedecer aos mandamentos do Eterno. Seguir os exemplos dados pelo messias Yeshua na nossa caminhada diária sem perder o foco jamais, ou seja, não perdendo o propósito.


Acerte o alvo

Para muitas pessoas errar o alvo é pecar. Como desejamos entender como podemos acertar o alvo, vejamos então o contexto original do que é pecado, para então compreendermos o foco principal, que é obedecer, ou seja, acertar o alvo. Nesta parashá vemos o povo de Yisrael cometendo uma grave transgressão, um pecado.

No meu blog, “Souperegrinonaterra.blogspot.com”, você encontra um estudo sobre o assunto, que trarei alguns pontos aqui para completar nosso entendimento.

Nesse pequeno estudo quero te mostrar o que é pecado de acordo com a visão bíblica e no contexto original. Claro que aqui não esgotaremos o assunto, mas será apresentado para você noções importantes para que venha ao entendimento sobre o pecado.

Na teologia a matéria que estuda o pecado chama-se "hamartiologia". Este termo vem da junção de duas palavras gregas: "hamartia", que significa "transgressão", "pecado" ou "errar o alvo" e "logia" que significa "estudo" ou "doutrina". Então "hamartiologia", de acordo com a teologia, é a doutrina que estuda o pecado e suas consequências. 


O pecado no cristianismo

Quando se estuda esse tema, na maioria dos livros teológicos cristãos e bíblias de estudo, como a "Bíblia do Pregador Pentecostal" da SBB, eles nos dão a seguinte informação:

"No Antigo Testamento (AT), o pecado é visto como uma transgressão direta à "Lei de Deus", caraterizado por um erro moral do homem que o torna culpado diante de D’us. Já no Novo Testamento (NT), o pecado é um mal impregnado na própria natureza pecaminosa do homem que o mantém cativo até que ele encontre a libertação em JC." Página 2013.

Essa forma de expressar deixa parecer que o pecado é diferente no AT e no NT. Eles dão a entender que somente no AT o pecado é uma transgressão à Lei de Deus, e que no NT ele é algo mais sério, mais profundo.

Contudo, será que é isso o que a Bíblia nos ensina a esse respeito? Ou isso é mera especulação teológica/filosófica?

Perceba que o tipo de pensamento sobre o pecado que é ensinado em todo o mundo cristão, vem de filosofias e pensamentos de homens que são considerados grandes homens na história do cristianismo, e eu não estou aqui para desmerecer a nenhum deles, mas para que possamos aprender a olhar para a bíblia, principalmente a Torah e os profetas, e não para a teologia. Claro que se eles criaram essas idéias foi com a permissão do Eterno, mas isso não quer dizer que seja a verdade.

Então vou te mostrar mais algumas referências cristãs sobre o pecado e seus enganos, antes de passarmos para o significado hebraico e verdadeiro.

Segundo McGrath, um renomado teólogo, sobre a natureza do pecado, Agostinho afirmava que toda a humanidade é afetada pelo pecado em consequência da queda. Ele diz que a mente humana tornou-se obscurecida e enfraquecida pelo pecado. Ele fez com que se tornasse impossível para o pecador pensar com clareza e, especialmente, compreender verdades e idéias espirituais elevadas. Também que a vontade humana foi enfraquecida pelo pecado. E principalmente, para Agostinho, o homem não tem controle sobre sua natureza pecaminosa.

O dicionário bíblico Wycliffe diz o seguinte: A maioria das definições de pecado é excessivamente restritiva. Por exemplo, uma definição usual, a de que o pecado é o egoísmo, significaria que um pai que rouba comida para uma criança faminta não estaria cometendo pecado. O pecado é iniquidade diz 1Jo 3:4, mas normalmente isto é interpretado em sentido muito limitado. A lei contra a qual se estima o pecado não é simplesmente a lei mosaica, mas sim toda e qualquer revelação de Deus durante todos os tempos. Isto inclui os mandamentos específicos da bíblia (tanto os positivos quanto os negativos) os princípios bíblicos de conduta (por exemplo 1Co 10:31) e leis que não se mencionam especificamente na bíblia sagrada, mas que podem ser consideradas diretrizes dadas pelos líderes indicados por Deus (por exemplo Hb 13:17 e Ef 6:1).


As palavras originais para pecado

Vamos agora entrar nas palavras originais a fim de buscarmos compreensão do assunto abordado.

Primeiramente devemos entender que a palavra "pecado" em português vem do latim "peccatum" e aparece pela primeira vez em Gn 4:7, na tradução chamada "Vulgata Latina de Jerônimo". Seu significado é "desejo", "concupiscência".

Conforme já mencionamos no início desse estudo, no grego é "hamartia", significando "transgressão", "pecado". Porém, no chamado NT ainda aparecem mais 12 palavras básicas para descrever pecado, conforme podemos ver no dicionário Wycliffe.  Essas palavras também podem trazer outras variações que levam o entendimento para mau, iniquidade, impiedade, culpa, prostituição, entre outros.

No hebraico também há tantos termos que denotam o pecado e o mau, e trataremos de pelo menos três, para que possamos ter um entendimento mais claro a respeito do pecado. De acordo com o entendimento da Toráh e do povo do Eterno, pecar contra D'us significa ignorar ou transgredir a vontade divina, violando um ou mais mandamentos da Toráh referente a nosso relacionamento com o Rei do Universo.

Segundo o site "Shemah Yisrael", na Toráh, diferentes palavras hebraicas são usadas para descrever diferentes tipos de pecado. E aqui é o momento de te fazer uma pergunta: Todo pecado é igual? Afinal, muitos dizem por aí que não existe pecadinho ou pecadão. Todo pecado é considerado pelo Eterno de forma igual, diante das Escrituras? Onde está a verdade? Os termos que aparecem na Toráh para os diferentes tipo de pecado são:

חטא - cheth - 18 - e suas variações, que significa pecado, delito mas também uma das variações, o "chatá", significa errar o caminho, errar o alvo. Esses termos são usados quando o pecado é cometido por erro ou por descuido, e há os que dizem que este termo também se refere à quebra do relacionamento com o Eterno diretamente.

עוון - avon - 132 - que significa pecado, delito, iniquidade, culpa, é utilizada quando o pecado é fruto de desejo ou paixão, e também se refere ao relacionamento com o próprio homem com seu semelhante. Também tem conotação com desonestidade, ou afastar-se intencionalmente do caminho da justiça de D'us. E caso se pergunte se é daqui que a empresa de cosméticos tira seu nome, sim, é, devido ao significado que a palavra trás sobre desejo e paixão.

פּשׁע - pesha - 450 - que significa pecado, delito, rebelião ou prevaricação, é utilizada para designar um ato de rebelião contra o criador, afastamento de D'us, desvio consciente. Esse termo não é usado apenas para designar uma falha, mas designa quando alguém vai além dos limites fixados por D'us, quando rebela-se contra sua autoridade.

Extraído de parte de um midrash vemos que a Toráh concorda que o pecado seja um ato prejudicial. Concorda também que é uma ruptura do fluxo de vida do Criador para a criação. De fato, a Torá é a fonte tanto da perspectiva da Sabedoria como da Profecia sobre o pecado. Mas a Toráh também vai além de ambos, ao reconhecer que a alma do homem, voluntária e conscientemente, jamais faria algo tão tolo.

O pecado, diz a Toráh, é um ato de insensatez. A alma "perde a cabeça", e num momento de irracionalidade e confusão cognitiva faz algo contrário a seu verdadeiro desejo. Então o pecado pode ser transcendido, quando a alma reconhece e identifica a tolice de sua transgressão, e reafirma sua verdadeira vontade. Então o verdadeiro "eu" da pessoa transparece, revelando que o pecado foi de fato cometido apenas pelo "eu" mais externo e maleável da alma, ou seja, a yetser hará, ao passo que seu "eu" interior jamais esteve envolvido.

E o que diz D'us? D'us, é claro, criou as leis da natureza (tanto físicas como espirituais) e a Sabedoria que reconhece como elas funcionam. D'us é a fonte da vida, e é Ele quem decreta que a vida deveria fluir para a alma humana através de um canal construído (ou rompido) pelas ações do homem. E D'us nos deu a Toráh e suas fórmulas para a sanidade espiritual, auto-conhecimento e transcendência. Portanto, D'us é a fonte das primeiras três perspectivas sobre o pecado.

Mas há uma quarta perspectiva que vem unicamente de D'us: o pecado como uma oportunidade para o "retorno" (teshuvá).

Teshuvá é um processo que, em sua forma máxima, nos possibilita não apenas transcender nossas falhas como também redimi-las: literalmente, voltar no tempo e redefinir a natureza essencial de um ato passado, transformando-o de mau em bom. E é justamente o ponto em que devemos perceber ou seja, acertar o alvo. E acertar o alvo é claramente cumprir os mandamentos de HaShem! Claro que isso é apenas uma forma ilustrada de falar, pois obedecer ao Eterno é o nosso principal objetivo, o propósito. E tudo que falamos até agora, nos leva ao último ponto.


Transformando maldições em bênçãos

Como vimos no último parágrafo, a teshuvah é a forma de transformar o mau feito em arrependimento e mudança de atitude, gerando assim bênção, que são decorrentes da obediência. O autor Bruno Summa em um de seus comentários dessa parashá fala exatamente sobre essa transformação. Ele começa esse comentário pelo seguinte texto:


À ti, meu mestre, pertence a caridade, mas à nós, a vergonha. Dn 9:7


O autor diz que apenas nos basta colocarmos na balança tudo que HaShem faz para nós para que vejamos o quão indignos somos de Seu amor e de Sua bondade. Nesse texto, vemos Daniel dizendo que a caridade de HaShem à Sua criação é tão grande que, por mais que façamos em Seu nome, no final do dia, apenas nos restará o sentimento da vergonha. E mostra que jamais seremos capazes de recompensar 1% de tudo que HaShem nos dá diariamente, inclusive àqueles que nem de longe merecem algum ato de bondade divina. À HaShem pertence a caridade, e graças a isso Ele nos criou, nos sustenta e nos mantém mesmo sabendo que nós O decepcionamos diariamente, e é por isso tudo que apenas nos resta a vergonha. O citado autor ainda diz que, o sentimento de vergonha por nosso pecados perante a bondade do Eterno não trata de arrependimento, não trata de humildade e não trata de Tshuvah, mas trata de reconhecimento de nossas incapacidades, de nossa carência de HaShem e de quão grande e bom Ele é. Desenvolver essa percepção e o sentimento de vergonha dentro de nós possui um poder que poucos conhecem, um poder que não é encontrado em nenhum outro tipo de conscientização sobre nossa realidade, seja ela física ou espiritual.

Esse comentário ainda diz que há um verso na Torah que fala sobre isso, sobre a vergonha, sobre o reconhecimento e sobre a bondade de HaShem, porém, não de forma clara, veja abaixo:


Olhe para baixo (HASHKIFAH) de Sua santa habitação, dos céus, e abençoe Seu povo Yisrael e o solo que nos deste, uma terra que emana leite e mel, conforme prometestes aos nossos pais. Dt 25:15


Esse versículo fala sobre a súplica de Moshê por bênçãos, sobre a bondade do Eterno em nos dá-las e sobre a vergonha, e essas três coisas se encontram na forma como Moshê se dirige a HaShem. Em sua súplica Moshê não pede segundo seus méritos, mas segundo a promessa feita aos patriarcas, ou seja, segundo as misericórdias do Eterno. Moshê não pediu bênçãos pelo que havia feito, mas pediu bênçãos pela bondade que HaShem teve ao prometê-las. Esse é um detalhe oculto e sensível que há nas palavras da Torah.

E de acordo com o autor, há um outro detalhe nesse versículo, pois ele começa com a palavra הַשְׁקִיפָה֩ HASHKIFAH – olhe para baixo – é uma palavra utilizada também para expressar a ação de “olhar” em outros versículos no TaNaK. Confira as referências abaixo:

- Gn 19:28,

- Ex 14:24,

- Jz 5:28,

- II Rs 9:32,

- Pv 7:6-7.

Os cinco textos acima possuem palavras com a mesma raiz de הַשְׁקִיפָה֩ HASHKIFAH, eles falam sobre desgraças e maldições, destruição de Gomorra, pânico no exército egípcio, tristeza da mãe de Sisera, solidão e falta de bom senso. Esses cinco textos nos levam a entender que por trás dessa palavra se esconde o julgamento que se opõe à bondade de HaShem. E aqui está uma dificuldade. Se HASHKIFAH alude à maldições, como pôde essa palavra iniciar o versículo que fala sobre as bênçãos que provém da bondade de HaShem conforme vemos no livro de Devarim?

Em todos os seis versos onde esse termo aparece, o único que fala sobre a vergonha, que é o reconhecimento da grandeza de HaShem e da incapacidade humana, é justamente o do Livro de Deuteronômio, é apenas nesse versículo que HASHKIFAH deixa de ser uma maldição e se torna bênçãos. E o que entendemos? Segundo Bruno Summa, o sentimento de vergonha, que a compreensão de que não somos dignos de nada, que o entendimento que dependemos de HaShem para tudo, inclusive respirar, quando desenvolvido dentro de nossas consciências e ele começar a influenciar nossas vidas e nossos serviços divinos, todas as maldições que foram lançadas sobre nós se tornarão bênçãos. Em cinco versos o termo aparece como maldições, mas no único que a palavra aparece justaposto à ideia de vergonha, vemos bênçãos, vemos leite emanando e vemos a doçura do mel.

Tudo isso, nos mostra que não somos dignos ou merecedores de nada, apenas a vergonha de tudo que o Eterno faz por nós. E ter consciência disso nos leva a crescer na obediência a cada dia, nos levando a manter os olhos no propósito, a acertar o alvo. E tudo que antes era maldição, desobediência e falta de reconhecimento do que o Eterno é, se transforma em bênçãos, tão ricas e doces como o leite e o mel.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)