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sexta-feira, 14 de junho de 2013

Unidade, amor e companheirismo: Necessidades da Igreja atual.

Essa é uma transcrição da mensagem que preguei na Igreja Batista Monte Santo em Rio Várzea – Itaboraí, RJ, no culto do dia 12 de junho de 2013.

Leiamos o texto abaixo:

Atos 9:19-31
E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco.
E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus.
E todos os que o ouviam estavam atônitos, e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes?
Saulo, porém, se esforçava muito mais, e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que aquele era o Cristo.
E, tendo passado muitos dias, os judeus tomaram conselho entre si para o matar.
Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo; e como eles guardavam as portas, tanto de dia como de noite, para poderem tirar-lhe a vida,
Tomando-o de noite os discípulos o desceram, dentro de um cesto, pelo muro.
E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo.
Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus.
E andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo,
E falava ousadamente no nome do Senhor Jesus. Falava e disputava também contra os gregos, mas eles procuravam matá-lo.
Sabendo-o, porém, os irmãos, o acompanharam até Cesaréia, e o enviaram a Tarso.
Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.

Em primeiro lugar, gostaria de fazer uma observação introdutória a respeito do último parágrafo, que representa o versículo 31 do texto em referência, pois aparentemente há uma contradição aqui. Esse parágrafo afirma haver paz em todas as igrejas desde a Judéia, passando pela Galiléia e Samaria. No entanto, a contradição é apenas aparente vejamos a respeito do que estou me referindo.

Os apóstolos e discípulos de Jesus estavam sofrendo forte perseguição, religiosa por parte dos sacerdotes, fariseus, e outros grupos de religiosos da época. Sofriam ainda perseguição política por parte do Império Romano, que tentando prevenir mais uma revolta na região, eram muito rigorosos. E ainda, havia a perseguição social por parte daqueles que temiam uma reprimenda do governo. Enfim, havia perseguição por todos os lados, mas ainda assim, eles pregavam e falavam a respeito de Jesus, ou seja, eram realmente igreja no sentido mais literal do termo. Tinham paz no sentido mais estrito e espiritual que possa caber nesse contexto. Por isso lemos no Livro de Atos, diversas passagens nos primeiros capítulos, onde discípulos eram presos por anunciarem a Cristo. Porém, mesmo assim eles tinham paz, e entenderemos isso no decorrer dessa mensagem.

Vamos então, nos voltar para o início do texto em referência, para ao final retornarmos para o último parágrafo, no qual iniciamos esta reflexão. Dessa forma, precisamos entender o contexto da situação em análise, que no caso é o que começa a acontecer na vida de Saulo, logo após seu encontro com Jesus, no caminho de Damasco, para assim, entendermos o tema da mensagem que prego – Unidade, amor e companheirismo.

A história nos mostra que Saulo era um judeu com nacionalidade romana. Era também um fariseu, aprendiz de Gamaliéu, um grande mestre do farisaísmo em Jerusalém. Dessa forma, é comum se entender que Saulo conhecia tudo que era possível conhecer a respeito da Toráh, e dos textos sagrados mais tradicionais do judaísmo. Sabia muito a respeito da religião judaica, e além de tudo, por ser fariseu, acreditava, entre outras coisas, na ressurreição e em anjos. E devido a tanto conhecimento e religiosidade, acreditando estar fazendo a vontade de Jeová, foi um grande perseguidor dos seguidores primitivos de Jesus.

Podemos perceber que na atualidade, há muitas pessoas, mesmo dentro da igreja, que são muito religiosas, ou que se utilizam apenas do conhecimento, se tornando extremamente legalistas, e acreditando estarem fazendo o querer de Deus, acabam muitas vezes perseguindo os irmãos.

Então, Saulo, com documentos das autoridades, tanto romana quanto judaica, segue para Damasco, a fim de arrastar os seguidores de Jesus para Jerusalém, depois de já ter feito o mesmo naquela cidade e em seus arredores. Nesse momento acontece o encontro entre Jesus e Saulo. Segundo o Manual Bíblico da Sociedade Bíblica do Brasil[i], esse fora um momento decisivo na história da Igreja primitiva. Ainda segundo esse manual, nenhuma outra conversão trouxe uma mudança tão radical. Pode-se perceber que, com o conhecimento de Saulo a respeito da religião e das leis de Deus, a apresentação que lhe fora feita por Jesus, como sendo o Senhor, já era suficiente para que esse homem entendesse tudo, e logo após começasse a anunciar a Cristo ressurreto. No entanto, vemos Saulo convivendo humildemente com os irmãos, e ouvindo dos mesmos, detalhes a respeito dos ensinamentos do Mestre, Jesus. Até que decide não ser mais Saulo e sim Paulo, repare que não trocou de nome, pois é o mesmo dito em hebraico e em grego, respectivamente. No entanto isso representa que ele assumiu para si uma humildade, pois já não queria ser conhecido como antes.

Sabe, fico pensando, quando Paulo ouvia seus irmãos lhe ensinando o que ouviram de Jesus, ou dos apóstolos, as reflexões que ele fazia em relação aos textos de Moisés e dos profetas, em comparação com o que estava ouvindo, compreendo assim, o que tais homens tinham escrito, e o resultado de tais reflexões, encontro quando leio suas epístolas.

Com isso podemos aprender que a convivência dos irmãos novos na fé, com os mais antigos é muito importante, para o amadurecimento e aprendizado dos neófitos. Infelizmente, vemos o contrário ocorrer muitas vezes na igreja. Precisamos estar dispostos a ensinar o que aprendemos, em conformidade com o texto de IITm 2.2. Ainda, de acordo com McNair (1997, p. 394)[ii] percebemos as consequências da conversão, que são: a associação com os crentes, o testemunho público, esforço e argumento resultante da convicção, a perseguição por parte dos inimigos e a ousadia.

Assim como aconteceu com Saulo, no 4º parágrafo do texto bíblico acima, ou no versículo 22 do texto em referência, o novo convertido tenta se esforçar em demonstrar ser uma pessoa diferente, pois muitos não acreditam. O texto nos mostra que ele se esforçava para demonstrar mudança e pregava cada vez mais com afinco, uma vez que ele próprio era quem perseguia os seguidores. Com isso, posso aprender que devemos ter um cuidado maior com os irmãos que começam a caminhada com Cristo. Perceba que uma coisa muito importante demonstrado neste trecho bíblico é a unidade que havia na igreja primitiva.

O humilde conhecimento adquirido por meio das pregações que os seguidores ouviram, somados ao conhecimento teológico de Saulo resultaram em uma pregação e um ensinamento mais profundo até mesmo para os cristãos mais antigos, que logo se beneficiaram desse conhecimento. E nisso percebo como as minhas fraquezas podem ser completadas pelo meu irmão, assim como as minhas forças podem completá-lo, ou seja, ninguém é suficientemente forte que não precise do outro. A unidade já mencionada mostra que eles seguiam na mesma direção, com um mesmo propósito, como um corpo, que é na verdade o que somos, o corpo de Cristo.

Não é possível que um braço faça uma coisa sem a ordem do cérebro, ou que o ouvido ouça sem que o cérebro mande, ou seja, cada parte do corpo faz o que precisa fazer com o propósito de fazê-lo sempre estar em perfeito funcionamento. Não pode ser diferente na igreja, cada membro da igreja precisa ter o mesmo propósito geral e específico, ou seja, como propósito geral temos o mandamento de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, e como propósito específico, a obediência a esse amor me levará a amar meu irmão, sendo ele seguidor de Cristo ou não. Os que são seguidores devem ser amados e compreendidos como membros do corpo, levando em consideração as suas falhas, assim como eu sei que sou falho. No texto do capítulo 9 de Atos, vemos que quando os irmãos percebem que alguém estava fazendo planos secretos para matarem Saulo, de tal forma que até mesmo vigiavam os portões de acesso à cidade, eles arrumaram uma maneira de proteger seu irmão, colocando ele em um cesto e passando pelo muro, que era alto, a fim de que ele saísse com vida. Quantos irmãos estão hoje dispostos a ajudar alguém em perseguição, ou aflição? Quantos se colocam na brecha em favor do seu companheiro? Devemos pensar nisso, a fim de melhorarmos nossa comunhão com os irmãos, de tal forma que possamos ter unidade.

Uma outra coisa que gostaria de mencionar aqui, é a respeito da experiência pessoal de cada um, que de acordo com McNair (1997, p. 394), “como pregador, Saulo falou por experiência própria, não apenas repetindo verdades lidas em livros. Testificou daquilo que recebera de Cristo. Seu assunto era uma Pessoa conhecida, amada e obedecida. Não era apenas uma doutrina nova, ou um novo meio de salvação.”

Muitas vezes vemos irmãos que falam muito sobre o testemunhos dos outros, o que Deus fez na vida do seu irmão, o que viu em um DVD ou em um livro de testemunho, mas e quanto ao testemunho pessoal? Será que não devemos todos ter um testemunho pessoal para contar? O personagem a que nos referimos pregava sua própria experiência, pois teve um contato, e a partir daí, nutriu um relacionamento pessoal com seu Senhor. Precisamos fazer exatamente o mesmo! Temos que nutrir um relacionamento com Jesus, a fim de que, quando abrirmos nossa boca tenhamos testemunhos vivos a contar. E para isso ocorrer precisamos amar, primeiro ao Senhor, e depois nossos irmãos, por pior que eles ajam conosco. Não podemos viver sozinhos. Há algum tempo atrás, devido a tantas coisas que estavam acontecendo comigo e em meu ministério, tantas perseguições levantadas por irmãos em Cristo, cheguei a desejar e a clamar ao Senhor que iria apenas fazer a minha parte e nada mais, ou seja, iria apenas louvá-lo e fazer apenas o que me mandassem fazer. No entanto, em um retiro de carnaval, o Senhor usou um pregador naquele lugar para me ensinar que eu não poderia agir dessa forma, pois eu preciso do meu irmão, e ele precisa de mim. Refleti muito naquela noite e Deus me mostrou que a unidade é a base para o amor ao próximo. Cada pessoa é diferente e deve ser vista e entendida dessa forma. Nossas experiências com Deus serão mais profundas e consequentemente nossos testemunhos, quando estivermos unidos com nossos irmãos, independentemente se temos as mesmas ideias ou não, desde que tenhamos o mesmo objetivo, ou seja, servir a Deus e levar seu amor ao nosso próximo.

Vemos também no versículo 27, que depois de Saulo voltar para Jerusalém tenta entrar em contato com os apóstolos, mas esses ainda tinham receio em acreditar que ele tinha realmente se convertido. É aí que mais uma vez surge a figura de um irmão que aparece para ajudar na apresentação aos irmãos. Barnabé leva Saulo até seus irmãos, os apóstolos e lhes conta a respeito de sua vida e sua conversão e de como ele estava agindo e pregando. E na atualidade, temos irmãos dispostos a agirem da mesma forma? Não é o que vemos em algumas situações no seio da igreja. Porém isso pode mudar, basta apenas mudarmos nosso jeito de agir.

Finalmente, voltando ao verso 31, o último parágrafo do texto transcrito acima. Devido à forma com que os irmãos agiam na igreja primitiva, a unidade com que viviam todos os dias, os levava a ter paz. Todos nós podemos em meio à lutas, tribulações e perseguições ter paz, pois a paz que nos referimos aqui, não a que o mundo mostra. É uma paz que vai além, pois Jesus diz que nos dá uma paz diferente. O termo “paz” nesse trecho, no original grego, é “eirene”, que de acordo com o Dicionário Grego do NT de James Strong, tem a probabilidade de vir de um verbo primário “eiro”, significando unir-se a, ligar-se a, aderir a, ou literalmente, eirene significa paz, podendo fazer alusão ao sentido de ausência de guerra ou conflito, bem como o estado de paz, que é o que o contexto nos aponta.

O texto nos diz ainda que eles andavam no temor do Senhor, isso era a consequência da paz de Cristo, da unidade e do amor. Na Bíblia de Estudo Pentecostal, no comentário desse versículo encontramos o seguinte: “Lucas enfatiza a fórmula “temer a Deus” tanto no seu Evangelho como em Atos. São os tementes a Deus que formam a base inicial da obra missionária aos gentios no cap. 10. O temor do Senhor produz confiança e obediência, bem como o afastar-se do mal, e por sua vez, resulta na consolação do Espírito Santo.” O que podemos entender é que à partir do temor ao Senhor, que é na verdade amar e respeitar sua vontade e sua graça, todo o restante será possível, a unidade o amor e o companheirismo, pois são consequências. A consolação do Espírito Santo é o que nos dá a paz que excede todo entendimento, pois nos mostra sua presença conosco e o que podemos esperar para o futuro, que é o resgate que o Senhor nos dará, ao nos tirar desse mundo mal.

Concluindo, é possível perceber que a unidade, o amor e o companheirismo são os elementos que adicionados à obediência aos princípios estabelecidos pela Palavra de Deus, podem nos dar a paz e quietude que esperamos, mesmo que tudo ao nosso redor esteja ruindo, seremos como uma árvore que não sai do lugar, mesmo que pela sua força o vento a deixe arriada por um tempo, mas ao encerrar a ventania estaremos de pé. A unidade é capaz de nos unir a nossos companheiros de jornada, mesmo que sejamos diferentes, e somos diferentes, devemos entender isso para melhor conviver. Quando a igreja começar a entender isso e colocar em prática, as coisas passarão a serem melhores, os caminhos serão alargados, e poderemos cumprir melhor a missão que foi dada para a igreja - pregar o evangelho de Cristo.




[i] MANUAL BÍBLICO SBB. Barueri, SP: SBB, 2008. 816 páginas.
[ii] MCNAIR, S.E. A Bíblia Explicada. 12ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 508 páginas.

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