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terça-feira, 16 de março de 2021

Entenda os Textos de Paulo – Parte 4 - Fomos libertos de qual lei?



Entenda os Textos de Paulo – Parte 4 - Fomos libertos de qual lei?



Este estudo pretende falar sobre a liberdade a qual o Rav Sha’ul (apóstolo Paulo) diz que, aquele que se volta para o Eterno (Santo Bendito seja ele) recebe ao crêr que Yeshua é o messias e começa a viver de acordo coma a Palavra da Torá, registrado em Gálatas 5. A maioria dos teólogos cristãos entendem que Sha’ul ensinou contra a Torá do Eterno, Santo Bendito seja ele. Mas será que ele realmente pregava e ensinava contra a Torá que HaShem havia dado ao seu povo?


Há alguns anos, eu e outro irmão, Anderson de Carvalho, que também está em teshuvá, escrevemos artigos sobre temas dessa epístola, e nesse estudo estarei continuando a utilizar partes deles, para que vocês possam ter uma compreensão sobre o assunto.


Para termos uma perfeita compreensão das cartas Paulo, principalmente usando o PaRDeS, que é a hermenêutica judaica, devemos nos lembrar que precisamos analisar três pontos:


- Primeiro - Com quem Paulo estava falando ou qual é o destinatário;

- Segundo - Qual era o motivo da carta ou qual era a situação vivida pelo destinatário; e

- Terceiro - Qual era o contexto histórico vivido pela congregação e pelo destinatário.


É importante lembrar também que o apóstolo Paulo usava alguns pronomes para identificar com quem ele está falando. Assim, quando ele usa os pronomes "nós, nosso ou nossos", está falando dele e dos judeus. E quando usa "você, vocês, vosso ou vossos", está falando dos ex-gentios que agora fazem parte do povo do Eterno. 


Então vamos ao Primeiro Ponto – Com quem Paulo estava falando ou qual é o destinatário. Talvez você ache estranho começarmos por esse ponto, afinal o nome da carta já define o destinatário. Porém, quem realmente eram os gálatas? Eles eram judeus ou gentios? 


Conforme mencionei no estudo anterior, olhando para o texto introdutório da carta, no capítulo 1, poderemos facilmente distinguir o destinatário real. 


Como disse, note que na introdução dessa carta, o apóstolo ou emissário, fala de seu chamado e que o Evangelho ou boas novas que anunciou era verdadeiro. E que algumas pessoas estavam trazendo um falso evangelho, falamos sobre isso no estudo anterior, se não o leu procure-o. Agora, repare de quem e para quem o apóstolo fala. Esta parte ainda é do estudo anterior, para que possamos cumprir os pontos de observação, e então chegarmos ao entendimento do texto em estudo no Capítulo 5 de Gálatas.


Primeiro ele diz que a carta era para as comunidades messiânicas da Galácia. E devemos ter o entendimento que não era uma igreja (prédio) na cidade, como muitos pensam, mas comunidades que se reuniam em vários lugares na cidade, de acordo com o que podemos ler em Rm 16. Eram famílias, irmãos e amigos que se reuniam em casas e que se revesavam nos ensinos e instruções da Torá, que o apóstolo havia lhes deixado. Agora repare também nos pronomes utilizados por ele. Note que no verso 3 ele diz: “Graça e shalom a vocês de D’us, nosso Pai, e do Senhor Yeshua, o Messias,…”, vejam que faz distinção de vocês e nosso. Isso é porque ele está desejando que a graça e a shalom (paz) fossem com esses crentes ex-gentios da Galácia, da parte de D’us que como ele disse, nosso Pai. O Eterno é o Pai do povo de Israel, de acordo com Ex 4:23:


“e eu já lhe disse que deixe o meu filho ir para prestar-me culto. Mas você não quis deixá-lo ir; por isso matarei o seu primeiro filho!”


Também podemos ver que ele fala do povo de Israel quando diz: “...se entregou a si mesmo por nossos pecados, a fim de nos libertar do presente sistema mundial maligno, em obediência à vontade de D’us, nosso Pai…Pois aqueles que estão vivendo sob ou debaixo da lei são o povo do Eterno, e como pecado é transgressão da Lei, só pode transgredir quem vive sob a Lei, tentando acertar. Os gentios que não tinham D’us, não tinham a Torá, e nem a promessa do messias, não viviam sob a Lei. Eles são iníquos ou anomos, sem Lei. Por isso podemos entender que Paulo se refere a si e a seu povo. 


Mas repare que o destino e objetivo da carta é esse:  “A realidade é que certas pessoas estão aborrecendo vocês…” Algumas pessoas estavam vindo a estes ex-gentios, com um ensinamento diferente do que eles tinham aprendido com o apóstolo. Veja, aborrecendo vocês, o pronome mostra. O ensino que estava chegando e aborrecendo, era repleto de legalismos e distantes da verdadeira Torá ensinada por Paulo. Por isso ele chama esses ensinos de falso evangelho ou boas novas que não são boas novas. E quando continuamos a ler os versos seguintes desse primeiro capítulo temos certeza que Paulo está falando a ex-gentios, e que seu evangelho é destinado a gentios ou remanescentes israelitas espalhados entre as nações.


Entendemos então o primeiro ponto, que era a quem a carta é destinada, e também entendemos o segundo ponto, que é: qual era o motivo da carta ou qual era a situação vivida pelo destinatário. Quando dissemos que Paulo estava combatendo um falso ensino que estava adentrando as comunidades naquela cidade.


Agora vamos entrar no contexto do capítulo 5 e buscar o entendimento do que Paulo queria ainda ensinar às comunidades da galácia. 


Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão. Ouçam bem o que eu, Paulo, lhes digo: Caso se deixem circuncidar, Cristo de nada lhes servirá. De novo declaro a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a cumprir toda a lei. Vocês, que procuram ser justificados pela lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça. Pois é mediante o Espírito que nós aguardamos pela fé a justiça que é a nossa esperança. Porque em Cristo Jesus nem circuncisão nem incircuncisão têm efeito algum, mas  sim a fé que atua pelo amor. Vocês corriam bem. Quem os impediu de continuar obedecendo à verdade? Tal persuasão não provém daquele que os chama. "Um pouco de fermento leveda toda a massa". Estou convencido no Senhor de que vocês não pensarão de nenhum outro modo. Aquele que os perturba, seja quem for, sofrerá a condenação. Irmãos, se ainda estou pregando a circuncisão, por que continuo sendo perseguido? Nesse caso, o escândalo da cruz foi removido. Quanto a esses que os perturbam, quem dera que se castrassem! Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; pelo contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor. Toda a lei se resume num só mandamento: "Ame o seu próximo como a si mesmo". Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente. Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam. Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei. Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito. Não sejamos presunçosos, provocando uns aos outros e tendo inveja uns dos outros. Gálatas 5:1-26 


Há alguns anos atrás, eu ouvia um debate teológico pelo rádio, enquanto dirigia para o trabalho, quando ainda ouvia as rádios evangélicas. Na ocasião, eles estavam discutindo a respeito da palavra de Deus ser imutável ou não, e um dos pastores que estava debatendo falou algo que martelou em meus ouvidos. Isso me levou a desejar estudar com mais cuidado o assunto, e olhar com mais atenção para o texto bíblico dentro do contexto original, ou seja, como os Apóstolos e discípulos do primeiro século entendiam o assunto.

O debatedor em sua fala mencionou sobre alguns cristãos estarem dando uma ênfase demasiada à obediência às leis escritas no Velho Testamento, e repare que ele disse “Velho Testamento” mesmo. Ele afirmou, utilizando o texto aos Gálatas 5.1, que “o Messias nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. E por isso não deveríamos nos colocar novamente debaixo do jugo da escravidão”. Ele afirmou isso valendo-se de um entendimento teológico muito comum, em que vários Mandamentos e Estatutos do chamado Antigo Testamento, deveriam ser deixados de lado, porque a Graça os teria anulado. Infelizmente, um pensamento tipicamente cristão e altamente antinomista.


Entretanto, olhemos para o texto sobre o qual o referido pastor tomou por base da sua argumentação. A Epístola de Paulo aos Gálatas, no capítulo 5, verso 1, na versão da Bíblia Judaica Completa de David H. Stern, diz o seguinte:

“O Messias nos soltou para a liberdade! Portanto, permaneçam firmes e não se deixem atar novamente a um jugo de escravidão.”


Normalmente usa-se um versículo isolado de seu contexto, para comprovar um ponto de vista, mas isso não é o correto a se fazer. O Rabino Shulam, um judeu messiânico, ensina que, “quando estivermos estudando as Escrituras, a nossa busca deve ser segundo a instrução que ela nos dá, e não para procurar doutrinas”, ou mesmo pontos de vista, pois as Escrituras têm seu próprio ponto de vista muito bem claro. Por isso, a maioria dos cristãos acaba entendendo errado muitas partes das Escrituras Sagradas, e principalmente as cartas de Paulo, porque usam seus textos isoladamente para comprovar suas doutrinas e não seguindo seus contextos e verdades próprias. Devemos, portanto, procurar o verdadeiro sentido da passagem, precisamos analisar todo o seu contexto, e mais ainda, como ele era entendido quando foi escrito.


Ao lermos os textos dos capítulos anteriores ao capítulo 5, poderemos perceber que o Apóstolo Paulo está falando de seu evangelho, de ex-gentios tornarem-se filhos de D’us, e também de salvação pela Fé (emunáh – firmeza, confiança, obediência) no Messias, está dizendo que antes da salvação o homem era escravo da natureza pecaminosa, veja o que ele diz em Gl 4.8:

“No passado, quando vocês não conheciam a D’us, serviram como escravos a seres que na realidade não são deuses.”


O Apóstolo está falando dos crentes não judeus, que antes de conhecerem a Yeshua, eram idólatras, entre outras coisas. Com isso, podemos perceber que o contexto desses capítulos é a justificação e a libertação, a qual o Messias trouxe àqueles que depositam sua confiança no D’us de Israel, através dele. O Apóstolo não está de maneira nenhuma, colocando-se contra a Lei de Deus, ou dizendo que ela foi abolida, conforme aquele debatedor do rádio estava demonstrando. Ao contrário disso, ele está dizendo que a observância legalista dela não traz nenhum benefício. Se lermos essa carta com cuidado poderemos entender perfeitamente o assunto tratado em seu escopo.


O fato é que, conforme ensinamos no estudo anterior, apareceram algumas pessoas que se diziam verdadeiros crentes em Yeshua, mas seus verdadeiros objetivos eram escusos, pois eram religiosos legalistas. É o que Sha’ul chama de “outro evangelho”, ou de “evangelho falso”, como podemos ver:


“Estou estarrecido com o fato de vocês terem me trocado tão rapidamente, àquele que os chamou pela graça do Messias, por outras supostas ‘boas-novas’, que não são boas-novas de forma nenhuma! A realidade é que certas pessoas estão aborrecendo vocês e tentando perverter as genuínas boas-novas do Messias...” (Gal 1.6-7).


Note que Sha’ul (Paulo) está repreendendo os crentes da Galácia por terem-no rapidamente trocado por outros mestres, que vieram lhes trazendo ensinamentos diferentes acerca da justificação. Entretanto, tais ensinamentos não eram apenas ideias diferentes das que ele tinha ensinado, mas deturpadas e contrárias à Verdade contida nas Escrituras que o Apóstolo lhes tinha apresentado. A verdade é que o Evangelho, ou Boas Novas, só são verdadeiras se forem do Messias, que é de acordo com a Torá, qualquer outra mensagem será falsa, e é isso que ele passa através de seus textos.

Agora, para uma boa compreensão do contexto, é necessário que relembremos o que é essa observância legalista da lei.


Uma vez que dizemos que a carta fala da justificação pela Fé (emunáh – firmeza, confiança, obediência) em detrimento das obras da lei (ma’assei hatoráh), necessitamos entender isso de forma correta. David H. Stern, em sua obra “Comentário Judaico do Novo Testamento”, define o legalismo como “o falso princípio de que D’us concede aceitação às pessoas, considerando-as justas e dignas de estarem em sua presença, com base na obediência delas a um conjunto de regras, e isso à parte de colocarem sua confiança em D’us, sujeitando-se aos cuidados dele, amando-o e aceitando o seu amor por elas.” É fácil entender o que é legalismo, quando percebemos que Paulo queria dizer que seria uma prática meramente ritualística, sem princípio verdadeiro nas Escrituras, como invenções e costumes humanos criados a partir das Leis ou Mandamentos dados pelo Eterno, com a clara intenção de alcançar a justificação por meio deles. É contra isso que o Apóstolo estava falando, e não contra os Mandamentos ou Leis em si mesmos. Paulo estava pregando contra aqueles que insistiam em que os ex-gentios salvos em Yeshua, deveriam guardar os ritos da Lei, como o da circuncisão, por exemplo, antes da plena compreensão, para serem justificados.


Reparem nos versos 2 e 3:

*"Ouçam bem minhas palavras: eu, Sha'ul, lhes digo que, se vocês realizarem a b'rit-milah (circuncisão), o Messias não lhes servirá para nada. Aviso-os outra vez: todo homem que permitir a realização da b'rit-milah é obrigado a cumprir toda a Toráh."* BJC David H. Stern.


Será que Paulo está proibindo de os crentes ex-gentios se circuncidarem?


Claro que não! Como ele poderia antes falar a favor da Toráh como mostramos acima, e aqui falar contra? 


O que ele está na verdade é afirmando que os ex-gentios deveriam primeiro aprender a obedecer a Toráh, para só depois se circumcidarem. Eles deveriam proceder a teshuvah ou retorno ao D'us de Israel, iniciar no aprendizado e prática da Toráh. Porém o que estavam ensinando a eles é que eles deveriam já se circuncidar ao chegar. Isso lhes impediria de viver a plenitude do que o Messias ensinou. Porque uma vez circuncidado teriam que cumprir totalmente toda a Toráh,  mesmo que ainda não soubessem de algo, isso lhes traria condenação. 


Vamos confirmar o que falei no verso 4:


*"Vocês, que procuram ser justificados pela observância legalista da Toráh, separaram-se do Messias; caíram da graça do Eterno."*


Praticar as leis do Eteno de forma legalista, buscando ser justificado pela prática é um engano, e demonstra que a pessoa não entendeu a Toráh e nem os ensinos de Yeshua, o Messias. E era isso que Paulo estava ensinando.


Vejam no verso 11, que Paulo está fazendo um questionamento, que mesmo ainda ensinando a circuncisão, é perseguido.


Gálatas 5:11. Irmãos, se ainda estou pregando a circuncisão, por que continuo sendo perseguido? Nesse caso, o escândalo do madeiro foi removido. 


Ou seja, fica claro que ele não era contra, mas ensinava do jeito certo, mas era perseguido pelos legalistas. Estão percebendo como tem muita interpretação errada por aí!



Então, quando vemos algumas pessoas falando sobre judaizar a igreja, percebemos que elas não sabem seu significado, pelo fato de entenderem o texto de Paulo de forma errada. “Judaizar” na verdade, conforme os textos que estamos lendo, seria exigir que um não judeu se converta ao judaísmo ou vire judeu, a fim de que possam serem justificados pela pela prática legalista dos mandamentos, e era o que aquelas pessoas estavam fazendo com os gálatas. Exemplo disso é o que Paulo fala nessa carta sobre a circuncisão, que é para os judeus de sangue e para ex-gentios que queiram fazer parte da aliança demonstrando entendimento e amor ao Eterno. Os gentios que se aproximam do povo de D’us não precisam se circuncidar logo que chegam a fé, sem entendimento algum, conforme lemos em Atos 15. Porém, há Mandamentos que devemos começar a cumprir logo que nos aproximamos do povo e do Eterno, porque são para todos, é a Palavra de Deus também.


Sendo assim, a liberdade que o Apóstolo está falando no capítulo 5, não se trata de estar livre para não obedecer às Leis de D’us, mas a liberdade da escravidão do pecado, que é a transgressão da Lei, conforme 1Jo 3:4. A liberdade da condenação advinda do pecado, que é mencionada no capítulo 4, por isso ele fala de justificação pela Fé, e a tentativa de justificação por cumprir a circuncisão. Veja os versos 13 a 15:


“Porque, irmãos vocês foram chamados para serem livres. Apenas não permitam que a liberdade se transforme em desculpa para darem margem à sua velha natureza. Ao contrário, sirvam uns aos outros em amor. Porque a Torah toda é resumida em uma frase: “Ame o próximo como a si mesmo”. Mas se vocês se morderem e arrancarem pedaços uns dos outros, cuidado: vocês acabarão se destruindo!”.


O foco do autor é combater a velha natureza e não o cumprimento das Leis de D’us, até porque elas são santas, justas e boas, conforme o Apóstolo Paulo fala em Romanos 7.12. E se são boas, por quê Sha’ul as combateria, afinal? Isso nos comprova a falibilidade dessa teologia ensinada e pregada nas igrejas, emissoras de rádio e em programas de tv. Uma teologia sem o contexto correto das Escrituras, sem verdadeiramente as Escrituras, pois se estudassem com sinceridade, humildade e verdade, poderiam perceber seus erros, assim como também um dia eu e muitos outros que agora abraçam a Visão da Restauração perceberam.


Nos versos 19 a 26 ele falou sobre a centralidade da carne e suas obras, ou seja, aquilo que a transgressão à Torá, levada pela yetser hará gera no homem. Também fala sobre o inverso disso, que é o fruto do ruach (espírito). E é importante destacar, que contrário ao que ensinam na religião, o fruto do ruach não é algo espiritual dado pelo Eterno, como pensam muitos teólogos. O ruach haElohim (espirito do Eterno) não precisa demonstrar fruto, ele é todas essas coisas, mas nós como seres humanos, e as Escrituras sempre nos comparam a árvores,  nós devemos dar fruto. Sendo assim, esse fruto é nosso, nosso ruach deve demonstrar esses atributos do Eterno, que são conquistados através da obediência correta e não legalista da Torá.


Finalmente, ao ler o texto em estudo, precisamos compreender que o Eterno está transmitindo, através de seu Ruach (Espírito), pelos escritos de Paulo, que a liberdade dada pelo Messias (primeiramente para os judeus que creram Nele, e a nós que éramos gentios e fomos enxertados em Israel, por meio da Fé no testemunho Dele, conforme Romanos 11) é para vivermos verdadeiramente como filhos que entendem sua responsabilidade no Reino do Pai. Recebemos a liberdade do poder do pecado e não da Lei do Eterno. Sha’ul quer transmitir que a liberdade recebida não pode nos conduzir de volta ao pecado e à carnalidade, e que por meio da Fé no testemunho de Yeshua, temos agora condições de obedecer às Leis e Mandamentos porque somos salvos, e não para sermos salvos através delas. Até porque, salvação significa exatamente receber de D’us condições de viver, porque estávamos destinados a morte, e a vida Eterna nós recebemos ao obedecermos as palavras da Torá de HaShem. Por esse motivo devemos voltar às raízes da nossa Fé e ao contexto original das Escrituras, a fim de buscar compreensão verdadeira de vivermos o caminho que foi preparado para vivermos, a Torá. 


Que o Eterno nos abençoe!

terça-feira, 9 de março de 2021

Entenda os Textos de Paulo – Parte 3O Evangelho de Paulo era contra a Torá?


Entenda os Textos de Paulo – Parte 3


O Evangelho de Paulo era contra a Torá?



Este estudo pretende falar sobre o evangelho que o Rav Sha’ul (apóstolo Paulo) pregava, com base na sua epístola aos Gálatas. A maioria dos teólogos cristãos entendem que Sha’ul ensinou contra a Torá do Eterno, Santo Bendito seja ele. Mas será que ele realmente pregava e ensinava contra a Torá que HaShem havia dado ao seu povo?


Há alguns anos, eu e outro irmão, Anderson de Carvalho, que também está em teshuvá, escrevemos artigos sobre temas dessa epístola, e nesse estudo estarei utilizando partes deles, para que vocês possam ter uma compreensão sobre o assunto.


Vejam uma coisa, qualquer pessoa sensata, que lê as declarações feitas pelo apóstolo em Romanos 7:12 entenderá claramente que ele não ensinou contra a Torá, leia: 


"De fato a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom" 


Para termos uma perfeita compreensão das cartas Paulo, principalmente usando o PaRDeS, que é a hermenêutica judaica, devemos nos lembrar que precisamos analisar três pontos:


- Primeiro - Com quem Paulo estava falando ou qual é o destinatário;

- Segundo - Qual era o motivo da carta ou qual era a situação vivida pelo destinatário; e

- Terceiro - Qual era o contexto histórico vivido pela congregação e pelo destinatário.


É importante lembrar também que o apóstolo Paulo usava alguns pronomes para identificar com quem ele está falando. Assim, quando ele usa os pronomes "nós, nosso ou nossos", está falando dele e dos judeus. E quando usa "você, vocês, vosso ou vossos", está falando dos ex-gentios que agora fazem parte do povo do Eterno. 


Então vamos ao Primeiro Ponto – Com quem Paulo estava falando ou qual é o destinatário. Talvez você ache estranho começarmos por esse ponto, afinal o nome da carta já define o destinatário. Porém, quem realmente eram os gálatas? Eles eram judeus ou gentios? 


Olhando para o texto da carta poderemos facilmente distinguir o destinatário real. Então vejamos o texto de Gl 1, na Bíblia Judaica Completa de David H. Stern.


“De: Sha’ul, um emissário – recebi meu comissionamento não de seres humanos nem por mediação humana, mas de Yeshua, o Messias, e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos – e de todos os irmãos que estão comigo

Para: As comunidades messiânicas da Galácia:

Graça e shalom a vocês de D’us, nosso Pai, e do Senhor Yeshua, o Messias, que se entregou a si mesmo por nossos pecados, a fim de nos libertar do presente sistema mundial maligno, em obediência à vontade de D’us, nosso Pai. A ele seja a glória para todo o sempre. Amén.

Estou estarrecido com o fato de vocês terem trocado tão rapidamente, àquele que os chamou pela graça do Messias, por outras supostas “boas novas”, que não são boas novas de forma nenhuma! A realidade é que certas pessoas estão aborrecendo vocês e tentando perverter as genuínas boas novas do Messias. Mas ainda que um de nós – ou até mesmo um anjo do céu - anunciasse a vocês “boas novas” diferentes das que já lhes anunciamos, que seja amaldiçoado para sempre! Como dissemos antes, repetimos agora: se alguém lhes anunciar boas novas diferentes das que já receberam, seja amaldiçoado para sempre!” Gálatas 1:1-9

Repare que na introdução dessa carta, o apóstolo ou emissário, fala de seu chamado e que o Evangelho ou boas novas que anunciou era verdadeiro. E que algumas pessoas estavam trazendo um falso evangelho, vamos falar sobre isso mais à frente. Agora, repare de quem e para quem o apóstolo fala.


Primeiro ele diz que a carta era para as comunidades messiânicas da Galácia. E devemos ter o entendimento que não era uma igreja (prédio) na cidade, como muitos pensam, mas comunidades que se reuniam em vários lugares na cidade, de acordo com o que podemos ler em Rm 16. Eram famílias, irmãos e amigos que se reuniam em casas e que se revesavam nos ensinos e instruções da Torá, que o apóstolo havia lhes deixado. Agora repare também nos pronomes utilizados por ele. Note que no verso 3 ele diz: “Graça e shalom a vocês de D’us, nosso Pai, e do Senhor Yeshua, o Messias,…”, vejam que faz distinção de vocês e nosso. Isso é porque ele está desejando que a graça e a shalom (paz) fossem com esses crentes ex-gentios da Galácia, da parte de D’us que como ele disse, nosso Pai. O Eterno é o Pai do povo de Israel, de acordo com Ex 4:23:


“e eu já lhe disse que deixe o meu filho ir para prestar-me culto. Mas você não quis deixá-lo ir; por isso matarei o seu primeiro filho!”


Também podemos ver que ele fala do povo de Israel quando diz: “...se entregou a si mesmo por nossos pecados, a fim de nos libertar do presente sistema mundial maligno, em obediência à vontade de D’us, nosso Pai…Pois aqueles que estão vivendo sob ou debaixo da lei são o povo do Eterno, e como pecado é transgressão da Lei, só pode transgredir quem vive sob a Lei, tentando acertar. Os gentios que não tinham D’us, não tinham a Torá, e nem a promessa do messias, não viviam sob a Lei. Eles são iníquos ou anomos, sem Lei. Por isso podemos entender que Paulo se refere a si e a seu povo. 


Mas repare que o destino e objetivo da carta é esse:  “A realidade é que certas pessoas estão aborrecendo vocês…” Algumas pessoas estavam vindo a estes ex-gentios, com um ensinamento diferente do que eles tinham aprendido com o apóstolo. Veja, aborrecendo vocês, o pronome mostra. O ensino que estava chegando e aborrecendo, era repleto de legalismos e distantes da verdadeira Torá ensinada por Paulo. Por isso ele chama esses ensinos de falso evangelho ou boas novas que não são boas novas. E quando continuamos a ler os versos seguintes desse primeiro capítulo temos certeza que Paulo está falando a ex-gentios, e que seu evangelho é destinado a gentios ou remanescentes israelitas espalhados entre as nações.


Entendemos então o primeiro ponto, que era a quem a carta é destinada, e também entendemos o segundo ponto, que é: qual era o motivo da carta ou qual era a situação vivida pelo destinatário. Quando dissemos que Paulo estava combatendo um falso ensino que estava adentrando as comunidades naquela cidade.


Entendendo o que é então evangelho. 

Muitos levam em conta que evangelho é apenas boas novas a respeito de Yeshua, ou seja, dizer o que Yeshua fez. Falar de seus milagres, de sua morte e ressurreição. Mas isso não é evangelho! Na verdade, Evangelho é outra coisa.


“Você, que traz boas novas (evangelho) a Sião, suba num alto monte. Você, que traz boas novas (evangelho) a Jerusalém, erga a sua voz com fortes gritos, erga-a, não tenha medo; diga às cidades de Judá: "Aqui está o seu Deus! "” Isaías 40:9 


“Desde o princípio eu disse a Sião: "Veja, estas coisas acontecendo! " A Jerusalém eu darei um mensageiro de boas novas(evangelho).” Isaías 41:27 


“Como são belos nos montes os pés daqueles que anunciam boas novas (evangelho), que proclamam a paz, que trazem boas notícias, que proclamam salvação, que dizem a Sião: "O seu Deus reina!"” Isaías 52:7 


Com esses versos podemos perceber que o termo boa novas refere-se à Torá, que é levada por um mensageiro do Eterno. Veja nesse último verso, quando o profeta fala “Como são belos nos montes os pés daqueles que anunciam boas novas (evangelho), que proclamam a paz, que trazem boas notícias, que proclamam salvação, que dizem a Sião: “O seu D’us reina!” Esse verso fala de anunciar boas novas, proclamam a paz, proclamam salvação e dizem que D’us reina. E todas essas são características da Torá. Então, podemos entender que Evangelho é a instrução do Eterno, a Torá.


O que quero mostrar até aqui, é que o evangelho que Paulo pregava era o ensino da Torá, a respeito do Messias, e de seus ensinos, que também eram sobre a Torá. Na verdade, Yeshua representava a própria Torá, pela forma como ele vivia em obediência ao Eterno. E o Apóstolo Paulo sabia muito bem disso, pois seu ensino, ou evangelho, ou boas novas eram verdadeiros, porque representavam a verdade do Eterno.


E por isso, podemos então observar e entender através das declarações de Paulo, de que a Torá é santa, e o seu mandamento é santo, justo e bom, que ele ensinava a Torá e não contra ela. Assim, fica clara a indignação do apóstolo quanto ao fato de os Gálatas terem dado ouvidos a ensinos errados depois de conhecerem a verdade. Podemos ver isso no Capítulo 3:1. "Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus olhos que Yeshua Hamashiach foi exposto como crucificado?”  


A Lei de D’us pode tornar alguém insensato?

Ou a má interpretação e aplicação da Torá do Eterno é que podem tornar alguém insensato?


São questões que a maioria dos teólogos não fazem, diante de inúmeras declarações e evidências bíblicas a respeito da Lei de D’us, conforme já mencionei antes. Agora, conforme já disse no início desse estudo, algo estava prejudicando a fé daqueles ex-gentios crentes recém saídos do paganismo. Havia grupos de judeus religiosos legalistas daquela região da Galácia, que ao presenciarem ex-gentios servindo ao D’us de Avraham (Abraão), Yt’zchack (Isaque) e Ya’akov (Jacó), junto com os judeus seguidores de Yeshua, decidem se aproximar desses irmãos. Esses religiosos acreditavam que por meio da guarda legalista das Leis de D’us, eles poderiam se declarar justos, e estavam ensinando isso aos Gálatas. 


Esta guarda legalista da Lei de D’us incluía as chamadas “obras de Lei” (ma’assei hatorah), ou “leis de cerca”, criadas com o propósito de “proteger” aos adeptos de transgredirem a Lei de D’us, com base em hábitos/costumes legalistas de seus líderes. Isso fazia com que estes religiosos estabelecessem sua justiça própria, independente da justiça de HaShem. E com isso, eles não criam na justiça de D’us manifestada pelo messias, a justiça concedida a todo que crê e obedece.


Aqueles religiosos viram uma oportunidade de convencer aos Gálatas sobre a “justiça por meio da observância legalista da Torá”. Eles se aproximaram desses ex-gentios aproveitando-se do fato de estarem servindo ao Eterno, assim como também hoje acontece, pessoas que não crêem verdadeiramente na vida justa de Yeshua, tentam enganar os que estão se aproximando do povo do Eterno.


Notem os seguintes versos:


“Gostaria de saber apenas uma coisa: foi pela prática legalista da lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram? Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio? Será que foi inútil sofrerem tantas coisas? Se é que foi inútil! Aquele que lhes dá o seu Espírito e opera milagres entre vocês, realiza essas coisas pela prática legalista da lei ou pela fé com a qual receberam a palavra?” Gálatas 3:2-5 


Perceba que o apóstolo quer mostrar que quem se convence ou é convencido desta “justiça” legalista, nega as promessas de D’us, nega a Graça de D’us, nega a justiça de D’us por meio do Messias Yeshua, e nega a sua condição de “sujeição ao pecado”, reconhecendo que tem em si uma Yetser Hará (inclinação para o mal). Por isso, Rav Sha’ul expõe um ensino sobre a Lei de D’us, em relação ao legalismo daqueles religiosos, que tornaram aos Gálatas insensatos. Ele ensinou sobre o fato da Lei de D’us jamais anular a promessa feita a Avraham, assim como a Emunah (fé, confiança, fidelidade), não se apoia no legalismo.


Paulo também ensinou que a justiça que provém da prática legalista de Lei de D'us é ineficaz para quem deseja ser justificado por meio dela, por causa do PECADO, que é a transgressão da Lei (1 João 3:4); 


“Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei.”


Ensinou também que a Lei de D'us serviu como um "tutor" (aio, guardião, guia, protetor) do povo judeu, até quando viesse Aquele que cumpriria de forma PLENA a promessa dada a Avraham: Yeshua. Pela Emunah Nele (fé,confiança, fidelidade), o povo de D’us pode agora viver a plenitude da Lei do Eterno, pois a mesma cumpriria o propósito da Nova Aliança, descrita em Jeremias 31:31-35. 


Sha'ul comparou esta religiosidade legalista a uma "escravidão", a qual a Jerusalém da época estava sujeita. E mais, ele declarou que, aquele que busca se justificar pela guarda legalista da Lei de D'us, está sob maldição: 


"Já os que são pela prática legalista da lei estão debaixo de maldição, pois está escrito: 'Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei'" Gl 3:10. 


Entenda, a própria Torá prescreve as maldições para os desobedientes, para os pecadores ou transgressores. Como alguém poderia se justificar pela observância legalista da Lei de D’us, se a mesma declara “maldito” quem a transgride? Quem vive transgredindo a Lei de D’us jamais alcança uma justificação pela observância legalista, e quem busca se justificar pela observância legalista sem se atentar para suas transgressões, permanece debaixo de maldição. 


Observe que jamais alguém pode ser justificado diante do Eterno nestes termos, e quem não é justificado permanece “réu” (culpado) diante de D’us, sob maldição. Yeshua é a justiça de D’us em favor do homem, que por causa do pecado (transgressão da Lei de D’us), jamais pode se declarar “justo” diante de D’us através da guarda legalista da Lei. O apóstolo cita o exemplo de Avraham, que não confiou em sua própria obediência ao Eterno, mas confiou nas promessas de D’us, e obedeceu ao Eterno por meio dessa confiança, demonstrada por suas obras (Tg 2:14-26), que foram confirmadas pelo próprio Eterno (Bereshit/Gênesis 26:5).


Para finalizar, pense no seguinte, a Lei de D’us se baseia na justiça de D’us, em sua retidão. Quem obedece a D’us, pratica a Lei de D’us, ou seja pratica a sua justiça, e não é de forma legalista. E quem pratica a justiça pode ser declarado justo por causa da prática da justiça. Essa pessoa não é justificada pela guarda legalista, mas sim é declarada justa por praticar a justiça, à partir da confiança na vida justa de Yeshua o messias.


Com isso, podemos ver que o entendimento errado das traduções das cartas de Paulo e das más interpretações, distantes do contexto original, levaram ao entendimento enganoso de que o apóstolo estava ensinando contra a Torá ou Lei de D’us. Porém, na verdade ele estava ensinando a Torá, de acordo com a Torá. Seu evangelho era a verdade da Torá. E os Gálatas estavam se distanciando por causa de ensinos errados de legalistas que queriam que eles buscassem justificação por observância legalista da Torá, totalmente desprovidos de confiança e entendimento da verdade, que é a Torá verdadeira.


Que o Eterno nos abençoe!