O que você entende quando lê o seguinte texto: “D’us meu, D’us meu porque me abandonaste?”
Como você interpreta? Como te ensinaram? Reflita sobre isso. Vamos ao texto e ao estudo no contexto original.
Mt 27:46-50
E por volta da hora nona Yeshua exclamou em voz alta, dizendo em língua hebraica: “Eli, Eli, lamá azavactani?”
Alguns dos que ali estavam, ouvindo isso disseram: Este chama por Eliyahu.
E logo um deles correu e pegou uma esponja, encheu-a de vinagre e, pondo-a num caniço, deu-lhe a beber.
Os outros, porém, disseram: Deixa, vejamos se Eliyahu vem salvá-lo.
E Yeshua, clamou outra vez com grande voz, e entregou o ruach.
Esse texto é um pouco polêmico, pois no cristianismo é ensinado que Yeshua estava clamando ao Pai, porque o Eterno teria virado as costas para ele, devido ao pecado da humanidade que estava sobre ele.
Tanto pensam assim, que há músicas consideradas por eles como louvor, que trazem em suas letras falando sobre isso, veja uma delas:
“O universo chora, o sol se apagou
Ali estava morto o salvador
Seu corpo lá na cruz,
Seu sangue derramou
O peso do pecado ele levou, levou, levou
Deus Pai o abandonou, cessou seu respirar
Em trevas encontrou o Filho…”
Será que foi isso mesmo? Será que essas afirmativas da teologia religiosa e das músicas condizem com as Escrituras, com os profetas e em seu contexto original?
Antes de mais nada, é preciso entender que ao contrário do que se entendam por aí, os escritos dos evangelhos são textos proféticos, pois tudo na vida de Yeshua o Messias foi profético. Nada que Yeshua fez foi aleatório ou sem propósito, ele sempre tinha um apontamento profético para cumprir ou para ensinar.
Sendo assim para entendermos perfeitamente os textos dos evangelhos devemos estudá-los como estudamos os profetas, sempre analisando 3 pontos importantes:
- 1º Ponto – Considerar o contexto histórico (estudando os protagonistas e fatos ocorridos na época);
- 2º Ponto – Analisar o texto levando em consideração a 1ª vinda de Yeshua;
- 3º Ponto – Analisar o texto levando em consideração a 2ª vinda ou volta de Yeshua.
Assim, se considerarmos o 1º ponto, entenderemos que Yeshua estava no madeiro quase à morte. Naquele lugar estavam alguns fariseus hipócritas, soldados romanos e alguns seguidores do Messias, ele estava muito ferido.
Como essa passagem está acontecendo durante sua vida ministerial, estamos então dentro do 2º ponto. E veremos o que ele está nos mostrando profeticamente. E sendo assim, não entraremos no 3º ponto, uma vez que não se trata aqui de assunto sobre seu retorno.
Considerando que tudo na vida e ministério de Yeshua era profético, podemos nos perguntar: Será que algum profeta falou algo a respeito de seus sofrimentos?
A resposta é um sonoro sim!
Vejamos então alguns dos sofrimentos que Yeshua padeceu, que foram preditos pelos profetas.
Nos versos 34 e 48 do texto que estamos estudando, diz que deram fel com vinho e vinagre para Yeshua:
e lhe deram para beber vinho misturado com fel; mas, depois de prová-lo, recusou-se a beber. Mateus 27:34
Imediatamente, um deles correu em busca de uma esponja, embebeu-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-a a Jesus para beber. Mateus 27:48
Veja agora a profecia em Sl 69:21
Puseram fel na minha comida e para matar-me a sede deram-me vinagre. Salmos 69:21
No verso 35 de Mt 27 diz que tiraram sorte sobre as roupas de Yeshua:
Depois de o crucificarem, dividiram as roupas dele, tirando sortes. Mateus 27:35
Percebam agora a profecia em Sl 22:18
Dividiram as minhas roupas entre si, e tiraram sortes pelas minhas vestes. Salmos 22:18
No verso 38 lemos que foram colocados criminosos ao lado de Yeshua:
Dois ladrões foram crucificados com ele, um à sua direita e outro à sua esquerda.
Mateus 27:38
Agora veja a profecia em Isaías 53:12:
Por isso eu lhe darei uma porção entre os grandes, e ele dividirá os despojos com os fortes, porquanto ele derramou sua vida até à morte, e foi contado entre os transgressores. Pois ele carregou o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores. Isaías 53:12
No versos 39 a 42 encontramos o texto nos mostrando o desprezo e a zombaria de alguns:
Os que passavam lançavam-lhe insultos, balançando a cabeça e dizendo: "Você que destrói o templo e o reedifica em três dias, salve-se! Desça da cruz, se é Filho de Deus! " Da mesma forma, os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes religiosos zombavam dele, dizendo: "Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo! E é o rei de Israel! Desça agora da cruz, e creremos nele. Mateus 27:39-42
Agora vejam as profecias nos textos de Sl 22:7,8 e 109:25
Caçoam de mim todos os que me vêem; balançando a cabeça, lançam insultos contra mim, dizendo: "Recorra ao Senhor! Que o Senhor o liberte! Que ele o livre, já que lhe quer bem! " Salmos 22:7,8
Sou motivo de zombaria para os meus acusadores; logo que me vêem, meneiam a cabeça. Salmos 109:25
Sendo assim, vimos que todas essas coisas, todos esses sofrimentos estavam previstos pelos profetas, então o que na verdade estava acontecendo ali, naquela hora, no momento daquele clamor do Messias? Porquê ele falou daquele jeito?
Vamos procurar entender o texto sem o sensacionalismo que vemos em muitas pregações e ensinos errôneos. E através do contexto original descobrir o que na verdade estava havendo e porque o mestre falou aquelas palavras em forma de clamor.
Lembre-se de que Yeshua era judeu. Pelos seus ensinos vemos que estudou em uma das melhores escolas rabínicas de sua época, e sendo assim utilizava de métodos que os sábios do seu povo costumavam usar para ensinar. Alguns dos principais meios de ensino eram os midrashim, as parábolas e as comparações entre textos. Uma das formas de midrash, singular de midrashim, que significa ensino, consistia em se mencionar um verso do início, meio ou final de um texto da Torá, dos profetas ou dos escritos, e o aluno deveria saber o contexto e o assunto do ensino que estava sendo dado.
Acontece que os líderes religiosos hipócritas da época de Yeshua estavam tão cegos em sua arrogante e interesseira fome de poder, que não percebiam muitas vezes, o que ele estava fazendo, usando suas próprias técnicas de ensino. Nem sempre eles conseguiam entender como é o caso desse momento.
Vejam que eles estavam confusos, notem no verso 47:
Quando alguns dos que estavam ali ouviram isso, disseram: "Ele está chamando Elias". Imediatamente, um deles correu em busca de uma esponja, embebeu-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-a a Jesus para beber. Mas os outros disseram: "Deixem-no. Vejamos se Elias vem salvá-lo". Mateus 27:47-49
Apesar de alguns ali estarem enganados sobre o que ouviram, Yeshua mesmo em agonia cumpriu seu papel de rabino, de messias, de levar a verdade até o fim. E mesmo em sofrimento ele continuava ensinando e tentando mostrar seu propósito.
O clamor de Yeshua naquele madeiro dizendo: Eli, Eli, lemá azavactani? Que quer dizer: D’us meu, D’us meu porque me abandonaste? Não era uma reclamação, um lamento, um grito de angústia e dor, mas uma demonstração de amor e obediência, um ensino por meio de um midrash, técnica conhecida de todo rabino.
Ele estava ali citando o início do salmo 22, veja:
Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? Salmos 22:1
Esse é um salmo profético de David, um texto messiânico, que traz em seu contexto profético o sofrimento do messias, mas acima de tudo mostra ao final que o Eterno não abandonaria seu ungido. Leia esse salmo completo agora com calma.
Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? Meu Deus! Eu clamo de dia, mas não respondes; de noite, e não recebo alívio! Tu, porém, és o Santo, és rei, és o louvor de Israel. Em ti os nossos antepassados puseram a sua confiança; confiaram, e os livraste. Clamaram a ti, e foram libertos; em ti confiaram, e não se decepcionaram. Mas eu sou verme, e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do povo. Caçoam de mim todos os que me vêem; balançando a cabeça, lançam insultos contra mim, dizendo: "Recorra ao Senhor! Que o Senhor o liberte! Que ele o livre, já que lhe quer bem! " Contudo, tu mesmo me tiraste do ventre; deste-me segurança junto ao seio de minha mãe. Desde que nasci fui entregue a ti; desde o ventre materno és o meu Deus. Não fiques distante de mim, pois a angústia está perto e não há ninguém que me socorra. Muitos touros me cercam, sim, rodeiam-me os poderosos de Basã. Como leão voraz rugindo escancaram a boca contra mim. Como água me derramei, e todos os meus ossos estão desconjuntados. Meu coração se tornou como cera; derreteu-se no meu íntimo. Meu vigor secou-se como um caco de barro, e a minha língua gruda no céu da boca; deixaste-me no pó, à beira da morte. Cães me rodearam! Um bando de homens maus me cercou! Perfuraram minhas mãos e meus pés. Posso contar todos os meus ossos, mas eles me encaram com desprezo. Dividiram as minhas roupas entre si, e tiraram sortes pelas minhas vestes. Tu, porém, Senhor, não fiques distante! Ó minha força, vem logo em meu socorro! Livra-me da espada, livra a minha vida do ataque dos cães. Salva-me da boca dos leões, e dos chifres dos bois selvagens. E tu me respondeste. Proclamarei o teu nome a meus irmãos; na assembléia te louvarei. Louvem-no, vocês que temem o Senhor! Glorifiquem-no, todos vocês, descendentes de Jacó! Tremam diante dele, todos vocês, descendentes de Israel! Pois não menosprezou nem repudiou o sofrimento do aflito; não escondeu dele o rosto, mas ouviu o seu grito de socorro. De ti vem o tema do meu louvor na grande assembléia; na presença dos que te temem cumprirei os meus votos. Os pobres comerão até ficarem satisfeitos; aqueles que buscam o Senhor o louvarão! Que vocês tenham vida longa! Todos os confins da terra se lembrarão e se voltarão para o Senhor, e todas as famílias das nações se prostrarão diante dele, pois do Senhor é o reino; ele governa as nações. Todos os ricos da terra se banquetearão e o adorarão; haverão de ajoelhar-se diante dele todos os que descem ao pó, cuja vida se esvai. A posteridade o servirá; gerações futuras ouvirão falar do Senhor, e a um povo que ainda não nasceu proclamarão seus feitos de justiça, pois ele agiu poderosamente. Salmos 22:1-31
Com isso podemos perceber claramente que o mestre mesmo no madeiro estava ensinando que ele era o messias, e que apesar de tudo o que estava acontecendo com ele, HaShem não o abandonaria, e que pela sua fidelidade e obediência até naquele momento, um momento de dor excruciante, o Eterno lhe daria a vitória. E essa vitória seria a garantia de muitos terem a oportunidade de se tornar povo junto com os escolhidos, Israel. Conforme lemos nos versos 27 a 29 do Sl 22:
Todos os confins da terra se lembrarão e se voltarão para o Senhor, e todas as famílias das nações se prostrarão diante dele, pois do Senhor é o reino; ele governa as nações. Todos os ricos da terra se banquetearão e o adorarão; haverão de ajoelhar-se diante dele todos os que descem ao pó, cuja vida se esvai. Salmos 22:27-29
Normalmente, conforme já mencione antes, os judeus entenderiam esse clamor dele, mas conforme vimos, alguns não entenderam, por causa de sua inclinação para o mal aguçada. O midrash mostra muito límpido que Yeshua estava fazendo um ensinamento.
Aquele clamor, aquele momento ali no madeiro, um momento de obediência, de justiça, é a causa da nossa salvação dos pecados e transgressões a fim de estarmos livres para cumprir Torá. Veja o que o autor à epístola aos Hebreus diz:
Durante os seus dias de vida na terra, Yeshua ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão. Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu; e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte de eterna salvação para todos os que lhe obedecem, sendo designado por D'us sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. Hb 5:7-10
Yeshua, nosso messias tinha um D'us, a quem dirigia suas orações, assim como nós por exemplo dele fazemos. E ele confiava que somente seu D'us o podia salvar e de fato foi o que aconteceu, pois ao sofrer de forma obediente, e ainda assim encontrar forças para ensinar a aqueles que ali estavam e a nós hoje, demonstra que realmente ele merece a autoridade com que o Eterno o presenteou.
Por causa disso, sua vida justa e cumpridora de Torá, ele se tornou a fonte eterna de salvação ao seu povo e a todos quantos se aproximarem, pois se tornou sacerdote, um mediador, segundo a ordem de Melquisedeque.
Concluindo, precisamos entender que o clamor de Yeshua no madeiro não foi um sentimento de abandono, não foi solidão, nem desespero pelo sofrimento como muitos pregam e ensinam por aí. Antes foi um clamor pelas vidas do seu povo, e também pelas nossas vidas, que fomos enxertados. Porque estava ensinando aos que estavam ali, e para todos que viessem a conhecer essa passagem de sua vida, que ele era o ungido do Eterno para anunciar a mensagem do reino e levar o conhecimento do Pai e de sua Torá a todas as nações.
Tudo isso demonstra o amor e o cuidado do Eterno através de seu messias, pelos seus escolhidos, as ovelhas perdidas da casa de Israel, e por cada um de nós.
Que HaShem lhes abençoe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário