Estudos da Torá
Parashá nº 32 – Behar (No monte)
Vayicrá/Levítico Lv 25:1-26:2,
Haftará (Separação) Ez 32:6-27; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 4:16-21; 1Co 7:21-24
Parashá
nº 33 – Bechu
kotai (Conforme meus regulamentos)
Vayicrá/Levítico Lv 26:3-27-34,
Haftará (Separação) Jr 16:19-17:14; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 14:15-21; 15:10-12
Tema: A casa em cidade murada
A PARASHÁ DA SEMANA
Iniciemos com o resumo da parashá B’har. Na parashá “kedoshim” (Vayicrá/Levítico 19:9) aprendemos que algumas porções da colheita deveriam ser deixadas para os pobres (os cantos dos campos e o que caía ou era esquecido no campo, etc.). Nesta porção, no entanto, o Eterno pede algo mais aos fazendeiros, donos de terra e plantações, ele pede algo que para nós pode parecer impossível, mas para os que obedecem representa receber as bênçãos da obediência. Estudaremos sobre o ano de “Shemitah”(liberação).
Mas em primeiro lugar, vamos ao nosso resumo dessa parashá, como de costume. A parashá Behar, concentra-se principalmente nas mitsvot referentes à terra de Israel, começando com a ordem de cumprir Shemitá - a mitsvá de deixar o campo sem cultivo a cada sete anos, abstendo-se de plantar e colher. Da mesma forma, a terra em Israel deve permanecer não cultivada no Yovel, ou 50º ano, quando então a propriedade de todas as terras retorna automaticamente à sua herança ancestral.
D'us promete que abençoará a terra no sexto ano, para que produza alimentos suficientes para durar por todo o período de Shemitá. Após descrever este processo, pelo qual os proprietários originais da terra podem redimir sua propriedade ancestral nos anos que precedem Yovel, a porção muda para falar sobre os pobres e oprimidos. Não apenas somos ordenados a dar-lhes tsedaká e fazer atos de bondade, como o ideal seria fornecer-lhes os meios para sair de seu estado de pobreza.
Somos proibidos de receber e pagar quaisquer juros em empréstimos feitos a outros judeus. A Torá então discute os vários detalhes a respeito de servos judeus e não-judeus que trabalham para judeus, e a mitsvá de redimir judeus que são servos de não-judeus. Todos os servos judeus devem ser libertados antes do início do ano Yovel. A porção conclui repetindo a proibição da idolatria, e as mitsvot de guardar o Shabat da profanação e reverenciar os locais santificados de D'us
A porção chamada de Bechukotai, é a última porção do Livro de Vayicrá/Levítico, assim vejamos também um resumo dela. Esta porção começa relacionando brevemente algumas das bênçãos e recompensas que o povo do Eterno receberá por seguir diligentemente a Torá e por cumprir as mitsvot.
A parashá então, muda para o assunto que a tornou famosa - a tochachá, a severa admoestação de D'us. A Torá passa a descrever as tragédias que acontecerão ao povo, muitas vezes em termos descritivos, por eles terem abandonado a observância da Torá e suas mitsvot, fornecendo uma lúgubre descrição daquilo que foi a história do povo judeu até este dia. Podemos então perceber, mais uma vez como ela é profética.
A porção então continua, e fala agora sobre a santificação dos presentes voluntários ao Templo Sagrado, e o processo pelo qual uma pessoa pode monetariamente redimir aqueles itens santificados para seu próprio uso.
O Livro de Vayicrá conclui com uma breve discussão sobre os dízimos, incluindo uma porção que o fazendeiro deve ele próprio consumir dentro da cidade de Jerusalém, chamada ma'asser sheni.
Observe abaixo, um resumo dos principais aspectos desta parashá:
- Relação entre as bênçãos e a obediência das Mitsvôt – 26:3;
- Relação entre as vitórias e a obediência das Mitsvôt – 26:6;
- 5 obedientes derrotam 100 inimigos - 26:8;
- 100 obedientes derrotam 10 mil - 26:8;
- O Eterno manterá a Aliança para com os obedientes – 26: 9;
- Relação entre o Eterno e seu povo – 26:11;
- Relação entre Força moral e desfazimento das “cadeias” egípcias – 26:13;
- Relação entre maldições e o desprezo e desobediência das Mitsvôt – 26:14-26;
- Relação entre destruição e a desobediência das Mitsvôt – 26:27 até 39;
- O tempo da TESHUVÁ (retorno) – 26:41 até 46;
- Doações/votos particulares por pessoas variadas – 27:1;
- Coisas animais e imóveis doados ao Eterno se tornam consagradas – 27:9; e
- Dízimos (maaser) pertencentes ao Eterno – 27:30.
Assim, vimos que nesta parashá, o Sefer Vayicrá (livro de Levítico) conclui com o fragmento em que Moshé contrasta as diferentes atitudes que seguiram a obediência ou a violação dos filhos de Israel aos mandamentos de HaShem. Aprendemos que a adesão às leis se traduzia em paz e prosperidade para o povo, e isso é assim até os dias de hoje com todos os que o seguem. E da mesma forma, o que acontecia caso o povo não obedecesse às leis.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Entrando agora em nosso tema sobre “a casa em cidade murada”, vejamos um trecho da parashá B’har.
Se um homem vender uma casa numa cidade murada, terá o direito de resgate até que se complete um ano após a venda. Nesse período poderá resgatá-la. Se não for resgatada antes de se completar um ano, a casa da cidade murada pertencerá definitivamente ao comprador e aos seus descendentes; não será devolvida no Jubileu. Levítico 25:29,30
A parashá B’har, conforme já vimos acima no resumo, nos mostra as palavras que foram dadas a Moshê pelo Eterno no Monte Sinai a respeito do chamado ano do jubileu como é geralmente traduzido, ou no original Yovel, e suas implicações proféticas.
É importante destacar que neste trecho, assim como em muitos outros na Torá, há uma gama muito grande de informações proféticas, que dizem respeito ao povo de Yisrael, aos remanescentes, ao messias e ao tempo do fim. Embora midrash profética seja a área do Rav Yochanan Ben Yaakov, essa semana vamos adentrar um pouco nesta seara para falar sobre este tema de muita relevância para nossa teshuvah.
Outra coisa importante, é que conforme mencionei ano passado, do ponto de vista profético, nas Escrituras, os montes apontam para os servos do Eterno, aqueles que vivem em obediência à sua Torá. E representa também a autoridade do Eterno em relação aos reinos desse mundo.
HaShem se apresenta em uma montanha para mostrar aos seus filhos que ele é sempre a solução para qualquer que seja o problema apresentado, mas é preciso que também os seus filhos entendam que Ele é o D’us das alturas e é justamente ali, que Ele lhes dará a vitória. Enquanto os outros achavam que a montanha era um D’us, para os israelitas D’us aparecia na montanha.
Pois bem, naquela montanha o Eterno deu uma série de estatutos em relação ao ano de shemitah e ao Yovel, conforme já disse. E dentre esses estatutos estão os mandamentos relacionados à recuperação de casas vendidas em algumas situações diferentes, e cada uma delas são apontamentos proféticos diferentes. Leiamos novamente os versos abaixo:
Se um homem vender uma casa numa cidade murada, terá o direito de resgate até que se complete um ano após a venda. Nesse período poderá resgatá-la. Se não for resgatada antes de se completar um ano, a casa da cidade murada pertencerá definitivamente ao comprador e aos seus descendentes; não será devolvida no Jubileu. Levítico 25:29,30
A porção Behar da Torá, conforme estamos vendo, discute entre outras coisas, as leis sobre a venda da terra na Terra Santa. Segundo o estudo no site Chabad, depois que o povo judeu entrou na Terra de Israel em 1273 AEC (o ano 2488 desde a Criação no calendário judaico), Yehoshua, o líder do povo de Yisrael na época, designou um pedaço de terra para toda tribo e família, como está registrado no Livro de Yehoshua. Se um judeu passava por dificuldades e era obrigado a vender sua terra ancestral, a Torá – a constituição do povo do Eterno – lhe dava o direito de redimí-la à partir de dois anos após a data da compra. O vendedor devolvia o dinheiro ao comprador e recebia o campo em retorno. Se ele não o redimisse, o campo retornava automaticamente para ele com a chegada do Ano Jubileu, em hebraico Yovel.
Talvez você pergunte o que é Yovel?
Depois que o povo de Yisrael completou a colonização da terra de Kenaan 14 anos depois de ali entrar, eles começaram a contar os anos em ciclos de cinquenta. Cada 50º ano era observado como um Yovel, durante o qual pedaços de terra ancestrais que tivessem sido vendidos durante os 49 anos anteriores, revertiam ao dono original. Quase nenhuma venda ou presente em Yisrael era legal por mais de 49 anos. Esta era a lei sobre a venda de um campo.
Dentro do contexto literal, as propriedades deveriam ser passadas como herança aos filhos, deveria permanecer na família. Sejam terras ou casas, haviam leis do Eterno para proteger as famílias e suas heranças. Mas há problemas que podem surgir sobre a vida das pessoas e elas poderiam precisar vender sua propriedade a fim de saldar uma dívida. E para não perder totalmente o direito à sua herança, o Eterno estabeleceu leis que permitiam as pessoas buscarem redimir, resgatar sua herança.
No site Chabad encontramos o seguinte:
O que acontecia se um judeu pobre fosse forçado a vender uma casa ancestral localizada dentro de uma cidade murada em Israel? Aqui a lei mudava dramaticamente. Esta casa, declara a Torá, poderia ser redimida somente até o primeiro aniversário da venda. Depois disso, permanecia como propriedade do comprador perpetuamente, e não voltava ao vendedor com a chegada do Ano Jubileu (a menos que o comprador quisesse vender a casa de volta para o vendedor original).
E se um judeu vendesse uma casa ancestral localizada numa cidade não murada? Aqui a lei constitui o “melhor de dois mundos” dos dois casos anteriores. A casa podia ser redimida imediatamente após a venda, assim como uma casa numa cidade murada. E mesmo se não fosse redimida durante o primeiro ano da venda, ainda podia ser recuperada mais tarde, até a chegada do Ano Jubileu, quando retornava ao proprietário original, assim como a lei sobre o campo.
E esse trecho da parashá, conforme lemos no texto bíblico, está justamente trazendo esse entendimento, quando fala: “se um homem vender uma casa numa cidade murada,…”. No contexto desse verso vemos vários exemplos, e a maioria deles declaram que o resgate da propriedade pode ser feita até o ano de Yovel, pois se não conseguir resgatar antes, no Yovel a propriedade retorna para o dono original.
No entanto, a casa em cidade murada não é desse jeito. O texto mostra que a pessoa que vende uma casa em cidade murada tinha somente um ano para buscar resgatar a casa novamente para si, caso contrário perderia a possessão para sempre. O verso é bem claro ao mostrar que a pessoa perderia a herança para sempre.
Se não for resgatada antes de se completar um ano, a casa da cidade murada pertencerá definitivamente ao comprador e aos seus descendentes; não será devolvida no Jubileu.
Vejam o verso que se segue:
Mas as casas dos povoados sem muros ao redor serão consideradas campo aberto. Poderão ser resgatadas e serão devolvidas no Jubileu. Levítico 25:31
Note que as casas em locais abertos, sem muros, poderiam ser resgatadas em qualquer tempo e no Yovel, caso não tivesse sido resgatada, seria devolvida. O Eterno deixa registrado o direito de resgate da herança vendida por qualquer que fosse o motivo, e se não conseguisse efetuar o resgate, no Yovel a herança voltava para a família original. Porém a casa em cidade murada não era assim.
Esse direito a resgate é devido a intenção do Eterno de mostrar que tudo que ele concede ao homem, é apenas para que este gerencia, cuide, tome conta, aproveite, mas tudo é somente Dele. Veja o verso 23 desse capítulo 25:
"A terra não poderá ser vendida definitivamente, porque ela é minha, e vocês são apenas estrangeiros e imigrantes. Levítico 25:23
Viu porque digo que sou “peregrino na terra”!
Nada que podemos comprar, ganhar ou conquistar nesse planeta ou nessa vida, é realmente nosso. Tudo pertence a HaShem. Veja o que os sábios do povo dizem a respeito disso, registrado no comentário de rodapé da Torá da Editora Sêfer. Segundo o comentário, a posse do homem sobre tudo que lhe pertence não é absoluta. Tudo é possessão do Todo Poderoso, a “quem pertencem os céus e a terra”. O cometário continua dizendo que o Eterno criou o mundo, e o conserva renovando dia a dia, pois tudo é dele e está sob seu domínio, e tudo que ele dá aos homens, o faz como um depósito. Portanto, deve ser dever do homem considerar a si mesmo como tendo sido honrado por HaShem para desempenhar a função de tesoureiro e guarda fiel dele, recebendo e guardando estes bens de acordo com a vontade do Depositante Celestial, que “abre suas mãos e sacia os anseios de todos os seres”. Assim, conforme o comentário o que o homem deve fazer ou deixar de fazer com o que lhe foi entregue em custódia está determinado na Torá, não lhe cabendo nenhuma ilusão de posse absoluta sobre o que pertence ao criador. E, dessa forma, se as pessoas entendessem bem esta verdade, seriam anulados seus pensamentos egoístas, receios e preocupações, e se dedicariam à vontade do Soberano do Universo.
O entendimento profético da casa em cidade murada
Voltemos agora ao texto novamente para que possamos observar um pouco do seu aspecto profético.
Se um homem vender uma casa numa cidade murada, terá o direito de resgate até que se complete um ano após a venda. Nesse período poderá resgatá-la. Se não for resgatada antes de se completar um ano, a casa da cidade murada pertencerá definitivamente ao comprador e aos seus descendentes; não será devolvida no Jubileu. Levítico 25:29,30
O homem neste texto é um apontamento para uma pessoa desobediente, que resolve viver longe dos mandamentos do Eterno. A casa é a vida desse homem. A cidade murada aponta para a santificação, as obras justas ou de justiça. E o tempo de um ano para resgatar é o tempo de vida.
Assim, veja que a Torá está dizendo que se um homem desobediente vende ou entrega sua vida ao erro, ele terá apenas o tempo que durar sua vida para resgatá-la. Caso, ele não consiga resgatar, ou seja, se voltar para Deus e a proteção dos muros ou dos mandamentos, dentro do espaço da sua vida toda, ele perde o direito à vida eterna com Yeshua com corpo glorioso, que é a herança prometida.
Vamos reler o verso 29, fazendo algumas substituições de palavras:
Se um desobediente vender sua vida de justiça e obediência, terá o direito de resgate até que se complete o tempo de sua vida. Nesse período poderá resgatá-la.
Percebeu como o texto é bem claro! A casa em cidade murada somos nós! Estamos em teshuvah, vivendo em justiça, somos uma casa em cidade murada. Temos uma herança e a promessa de viver transformados com Yeshua no futuro reino do Eterno. Porém, se resolvemos sair dessa posição de obediência, de justiça, e vendermos nossa casa ou seja, nossa vida. Então, poderemos perder nossa herança. Veja o que o verso 30 com as devidas substituições de palavras nos mostram:
Se não for resgatada antes de se completar o tempo de sua vida, perderá definitivamente a obediência e a justiça, não será devolvida a herança no Yovel.
Vemos que essa vida que recebemos como herança é a teshuvah, e se perdemos essa herança, perderemos a chance também da segunda ressurreição, pois rejeitamos a teshuvah conscientemente, a vendemos e não conseguimos resgatar. Por isso, nem no Yovel, ou seja, no milênio e depois, não conseguiremos resgatar.
Os que hoje já vivem em cidade murada, ou seja, estão em justiça, em teshuvah, precisam se manter com sua herança. Pois se perderem e não conseguirem resgatar no tempo certo se perderão.
Diferentemente dos que vendem casas em locais abertos. Vejamos o texto:
Mas as casas dos povoados sem muros ao redor serão consideradas campo aberto. Poderão ser resgatadas e serão devolvidas no Jubileu. Levítico 25:31
Esses são apontamentos para pessoas sem a proteção dos muros, ou seja, da vida de justiça. O campo aberto aponta para a vida sem os mandamentos. São pessoas que não tem a Torá, não tem o Eterno. Elas tem todo o tempo para buscar resgate e se não conseguirem, conseguirão no Yovel, ou seja, no milênio e após, poderão aprender a Torá e viverão, mesmo em corpos físicos e não gloriosos, mas viverão. Não terão herança, apenas resgatarão suas vidas.
Para verificarmos que o sentido profético de herança de terras e campos dessa parashá fala sobre vidas, sobre o povo, podemos pegar o texto da haftará da parashá B’har, que está registrada em Yirmeyahu 32:6-44.
Depois de lermos esta profecia que está ligada ao texto da parashá, podemos ainda buscar o entendimento de que a cidade murada é um apontamento para a Nova Yerushalayim, onde os muros ao redor separam ela e os que estão dentro dela, dos que estão fora. Os muros são as justiças dos santos que lá viverão, ou seja, a justiça dos que hoje vivem uma teshuvah verdadeira. E podemos ler um outro texto, em ligação com esse estudo, registrado por Yochanan, o Shaliach, em Apocalipse 21:10-27.
Assim, que possamos nos manter fieis ao Eterno dia após dia, obedecendo a sua Torá e seguindo as instruções, sem vender nossa casa em cidade murada, a fim de vencermos e entramos na cidade celestial pelas portas, e vivermos lá de corpos gloriosos fazendo parte do Reino do Eterno.
Hazak, hazak, v’nit’chazek! (Seja forte, seja forte, e sejamos fortalecidos!)
Que HaShem lhes abençoe!
Pr./Rav Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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