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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Estudo da Parashá - O Eterno é o Centro.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 34 – Bamidbar (No deserto)

Bamidbar/Números 1:1-4:20

Haftará (separação) Os 2:1-22 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Lc 2:1-7; 1Co 12:12-31


Tema: O Eterno é o Centro.


Vivemos tempos em que muitos buscam centros falsos para suas vidas: riquezas, poder, emoções, tradições humanas, ou até mesmo pessoas veneradas como se fossem mais do que homens. Entretanto, a Palavra do Eterno nos convida, com clareza e firmeza, a colocarmos novamente o Eterno no centro da nossa vida, nossa comunidade e toda a nossa existência n’Ele, que é único, eterno e incomparável.

Na travessia pelo deserto, conforme lemos na parashá Bamidbar, o Eterno mandou que o Mishkan fosse colocado no centro do acampamento de Yisrael. Ao redor dele, cada tribo se organizava com sua bandeira e seu estandarte. Não foi por acaso: o Eterno nos ensinou, de maneira visível e concreta, que Ele deve ser sempre o centro, e que todas as dimensões da nossa vida devem se organizar ao redor d'Ele.

O centro não é o homem, não é o messias, não é a tradição ou a religião; o centro é o Eterno! Como está escrito: "Eu sou o primeiro, e Eu sou o último, e fora de Mim não há Elohim." Yeshayahu 44:6.

Este é o chamado deste pequeno estudo: lembrarmos e reafirmarmos que o Eterno é o centro de tudo. Quando Ele ocupa esse lugar, tudo encontra seu verdadeiro sentido, sua direção e sua paz. Porém, quando deslocamos o centro, colocando qualquer outra coisa ou pessoa em Seu lugar, nos desviamos, nos desorientamos e caímos.

O Eterno nos chama hoje, como sempre chamou, com estas palavras: "Eu sou o Eterno, este é o Meu Nome; a Minha glória, pois, não darei a outrem." Yeshayahu 42:8. Que neste estudo possamos juntos meditar, refletir e decidir com firme confiança que o Eterno será sempre o centro de nossa vida!


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Esta semana estudamos a parashá Bamidbar (במדבר), que inicia o sefer com o mesmo nome. O Eterno falou a Moshê no deserto de Sinai, no Ohel Moed, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano após a saída dos filhos de Yisrael da terra de Mitsrayim. O Eterno ordenou a Moshê e a Aharon que fizessem o recenseamento de toda a congregação de Yisrael, por clãs e famílias, nome por nome, todo homem a partir de vinte anos, apto para sair à guerra.

Cada tribo foi contada separadamente, e os líderes de cada uma foram nomeados. O número total dos que foram contados, de todas as tribos, excetuando a tribo de Levi, foi de 603.550 homens.

O Eterno ordenou que a tribo de Levi não fosse contada entre os demais, pois ela tinha uma missão sagrada: guardar o Mishkan, transportar e cuidar de todos os utensílios sagrados. Os levitas deveriam acampar ao redor do Mishkan, formando uma guarda de honra e proteção. A tribo de Levi foi dividida segundo os filhos de Levi: Gershon, Kehat e Merari. Cada família levítica recebeu responsabilidades específicas relativas ao transporte e cuidado dos objetos sagrados do Mishkan.

Os filhos de Kehat, por exemplo, ficaram encarregados de transportar os objetos mais sagrados: a Aron HaBrit, a Menorah, o Mizbeach e demais utensílios. Mas deveriam fazer isso apenas após Aharon e seus filhos cobrirem os objetos com as cortinas e peles designadas, para que não olhassem diretamente para aquilo que é sagrado e morressem.

O Eterno também instruiu sobre a formação do acampamento: cada tribo com sua bandeira e insígnia, posicionadas ao redor do Mishkan, ao leste, sul, oeste e norte. Ao centro estava o Mishkan, símbolo da presença do Eterno entre o Seu povo. Assim, o povo foi organizado para a jornada pelo deserto, conforme as ordens do Eterno. O Mishkan ao centro demonstra que o Eterno deve ser o centro da vida de Yisrael, e todos devem se organizar ao redor d'Ele, seguindo as Suas instruções.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Ao estudar essa parashá, percebemos que o Mishkan está no centro do acampamento de Yisrael, conforme vemos em Bamidbar 2. Ao redor dele, próximas ao Mishkan as famílias da tribo de Levi, e depois as doze tribos se organizam em quatro grupos, cada qual com sua bandeira, demonstrando visualmente e espiritualmente que toda a vida de Yisrael gira ao redor do Eterno.

O Eterno ordena:


Os filhos de Yisrael acamparão, cada um junto ao seu estandarte, sob as insígnias das suas casas paternas, ao redor e de frente ao Ohel Moed acamparão. Bamidbar 2:2


Aqui está o princípio que deve ser guardado: não somos o centro, o Eterno é o centro. Toda a estrutura da nação, sua marcha e acampamento, sua adoração e sua identidade são orientadas pela presença do Eterno. Este princípio está enraizado desde a criação:


No princípio, Elohim criou os céus e a terra. Bereshit 1:1.


Ele é o princípio e fundamento de todas as coisas.


1. A Centralidade Exclusiva do Eterno

Este é um aspecto fundamental que precisa ser destacado com clareza para ser guardado em nossos corações e mentes, conforme a fidelidade que devemos ter ao Eterno e à Sua Palavra. Quando afirmamos e reconhecemos que não somos o centro, mas sim o Eterno, precisamos também reconhecer, com certeza, que nenhum ser humano pode ocupar esse lugar. O Tanakh revela claramente que:


Assim diz o Eterno, Rei de Yisrael, e seu Redentor, o Eterno dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e Eu sou o último, e fora de Mim não há Elohim. Yeshayahu 44:6


O Eterno é Echad (um), indivisível, incomparável. Colocar qualquer outro — seja homem, objeto, criatura ou força — no centro da vida e da adoração é idolatria.


O erro de colocar um homem como centro

Infelizmente, por causa do sistema religioso muitos que cometeram este erro ao atribuir divindade ao messias, afirmando que ele é o próprio Eterno encarnado ou um "Elohim-homem". Isso é contrário às Escrituras, que são claras ao afirmar que o Eterno não é homem e não se fez carne:


Elohim não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Bamidbar 23:19


Vede agora que Eu sou, Eu somente, e mais nenhum Elohim além de Mim; Eu mato e Eu faço viver; Eu firo e Eu saro; e ninguém há que possa livrar da Minha mão. Devarim 32:39


O messias, como ensina o Tanakh e como demonstrou Yeshua, é e sempre foi plenamente homem, um servo obediente ao Eterno, conforme as palavras do profeta:


Eis o Meu servo, a quem sustenho, o Meu escolhido, em quem a Minha alma se agrada; pus sobre ele o Meu espírito, e ele trará justiça às nações. Yeshayahu 42:1


Ele nunca afirmou ser o Eterno, mas sempre submeteu-se ao Eterno, colocando-O no centro de sua vida e missão, conforme está escrito:


Não posso Eu mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo; e o Meu juízo é justo, porque não busco a Minha vontade, mas a vontade Daquele que Me enviou. Yochanan 5:30


O perigo de deslocar o Eterno do centro

Quando alguém atribui divindade ao messias ou o coloca como centro da adoração, está violando diretamente os mandamentos do Eterno:


Não terás outros elohim diante de Mim. Shemot 20:3


O Eterno, teu Elohim, temerás, a Ele servirás e pelo Seu Nome jurarás. Devarim 6:13


Colocar um homem no centro — seja como "divindade" ou como mediador absoluto — afasta a pessoa do Eterno, pois desloca o foco da confiança e obediência. O messias, como homem obediente, nos ensina a olhar para o Eterno, e não para si mesmo como objeto de adoração.


Yeshua direcionou sempre ao Eterno

Yeshua ensinou:


Adorarás ao Eterno, teu Elohim, e só a Ele servirás. Devarim 6:13, confirmado por Yeshua em Matityahu 4:10.


Se Yeshua, o messias, ordenou que somente ao Eterno se deve adorar, como pode alguém ensinar ou crer que se deva adorá-lo como se fosse o próprio Eterno? Isso é contrário às próprias palavras do messias e à Torá.


O centro é sempre o Eterno

Assim como o Mishkan estava no centro do acampamento de Yisrael, representando a presença exclusiva do Eterno, assim também hoje o centro da nossa vida deve ser o Eterno, conforme Ele ordenou:


Eu sou o Eterno, e este é o Meu Nome; a Minha glória, pois, não darei a outrem, nem o Meu louvor às imagens. Yeshayahu 42:8


Por isso, quem ama verdadeiramente ao Eterno, jamais colocará outro no centro de sua confiança, adoração ou vida.


2. A Continuidade deste Princípio nos Nevi'im

Os profetas reafirmam esta centralidade. Yeshayahu declara:


Buscai ao Eterno enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto. Yeshayahu 55:6


O Eterno se colocou no centro de Yisrael, mas Yisrael muitas vezes buscou outros centros: poder, nações estrangeiras, deuses estranhos. Por isso, os profetas continuamente chamaram o povo de volta ao centro verdadeiro: o Eterno e Suas instruções.

Yirmeyahu exorta:

Assim diz o Eterno: Ponde-vos nos caminhos, olhai, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para a vossa alma. Yirmeyahu 6:16


As "veredas antigas" são os mandamentos do Eterno, que centralizam a vida e dão descanso. O profeta Yechezkel vislumbrou a restauração final de Yisrael com o Eterno novamente no centro, com um novo templo e com a própria cidade chamada: "O Eterno está ali" (Yechezkel 48:35). Este é o clímax: a presença permanente do Eterno no meio de Seu povo.


3. Relação com os Escritos dos Emissários (Brit Hadashá)

Os discípulos e emissários de Yeshua, sempre reforçaram que o centro da nossa vida e comunidade continua sendo o Eterno e as Suas palavras. Yeshua sempre ensinou:


Amarás ao Eterno, teu Elohim, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. (Devarim 6:5, reafirmado por Yeshua em Matityahu 22:37)

O amor e obediência ao Eterno são o centro. Assim também ensinamos que a "kehilá" (comunidade) deve ser formada ao redor desse princípio. Shaul (Paulo), também emissário, escreveu:


Vós sois o templo do Elohim vivo, como disse o Eterno: Habitarei neles, e entre eles andarei; e Eu serei o seu Elohim, e eles serão o Meu povo. 2 Coríntios 6:16, aludindo a Vayicrá 26:11-12


Aqui vemos que o princípio do Mishkan no centro não desapareceu, mas foi aprofundado ou ampliado: a comunidade se torna um Mishkan coletivo, onde a presença do Eterno habita quando andamos conforme os Seus mandamentos. Yochanan, o emissário, escreveu:


E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que o Eterno é luz, e não há nele treva nenhuma. 1 Yochanan 1:5


Por isso, quem ama ao Eterno deve andar na luz, ou seja, na obediência aos Seus mandamentos:


E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. 1 Yochanan 2:3


4. Perguntas de Reflexão

Pense e reflita nessas questões abaixo e tente observar em sua vida.

1. O que, ou quem, está ocupando o centro da sua vida hoje? Será que, em algum momento, deslocamos o Eterno e colocamos nossas vontades, medos ou tradições humanas como centro?

2. De que maneira temos organizado nossa vida, nossa família e nossas decisões ao redor do Eterno e dos Seus mandamentos? Como podemos ajustar isso de forma prática e diária?

3. Sabemos reconhecer quando colocamos homens ou sistemas no lugar do Eterno? Como evitar que ideias, costumes ou até figuras religiosas sejam elevadas ao centro, no lugar que pertence somente ao Eterno?

4. O Mishkan estava visivelmente no centro do acampamento de Yisrael. O que, hoje, representa para nós essa centralidade visível? Como tornar claro, para nós e para os outros, que o Eterno está no centro da nossa vida?

5. De que maneira podemos, como comunidade, reforçar que nossa identidade e nossa missão estão organizadas exclusivamente ao redor do Eterno e não de homens ou tradições? Como ajudar uns aos outros a permanecer firmes nesse caminho?

5. Tornando o Eterno o centro da nossa vida hoje

Como aplicação prática do que estamos trazendo nesse estudo, vejamos abaixo como podemos tornar o Eterno o centro de nossa vida na atualidade.

1. Obediência fiel aos mandamentos: Como está escrito: Portanto, guardareis os Meus estatutos e os Meus juízos, pelos quais, cumprindo-os, o homem viverá. Vayicrá 18:5

2. Santificação da comunidade: Tal como o Mishkan era guardado e purificado, assim a nossa vida e comunidade devem ser puras.

3. Organização da vida ao redor do Eterno: Não ajustar o Eterno às nossas prioridades, mas submeter nossa vida, família, trabalho e relações a Ele.

4. Expectativa da plena restauração: Como Yechezkel viu, aguardamos o dia em que o Eterno habitará plenamente em nosso meio, em Jerusalém, e todas as nações se reunirão ao redor Dele.


Ao concluirmos este estudo, fica diante de nós uma decisão tão antiga quanto a própria criação: Quem será o centro da nossa vida? O Eterno ensinou Yisrael a acampar ao redor do Mishkan, não apenas para organizar o espaço, mas para organizar a alma, o coração e a identidade. Hoje, o Eterno continua a nos chamar:


Eu sou o Eterno, teu Elohim... não terás outros elohim diante de Mim. Shemot 20:2-3


O centro não pode ser um homem, não pode ser uma tradição, não pode ser o messias. O centro é, e sempre será, o Eterno — o Criador dos céus e da terra, único, indivisível e eterno.

Que possamos, com firme confiança baseada na obediência, declarar como Yehoshua:


Eu e a minha casa serviremos ao Eterno! Yehoshua 24:15


E como o rei David afirmou:


Sempre porei o Eterno diante de mim; porque Ele está à minha direita, não serei abalado. Tehilim 16:8


Que o Eterno seja o centro de nossa vida, de nossa comunidade e de toda nossa existência, hoje e sempre!

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef


sexta-feira, 23 de maio de 2025

Estudo da Parashá Behar e Bechukotai - Somos donos do quê?

 


Estudos da Torá

Parashá nº 32 – Behar (No Monte)

Vayikra/Levítico 25:1-26:2

Haftará (separação) Jr 32:6-27 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Lc 4:16-21; 1Co 7:21-24

Parashá nº 33 – Bechukotai (Conforme meus regulamentos)

Vayikra/Levítico 26:3-27:34

Haftará (separação) Jr 16:19-17:14 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Jo 14:15-21; 15:10-12


Tema: Somos donos do quê?


Em um mundo onde o valor de um homem é frequentemente medido pelo que ele possui — seus bens, seu status, sua terra — a Parashá Behar, uma das porções que estudamos essa semana, vem como um golpe silencioso e contundente contra essa ilusão. Ela nos transporta para o Monte Sinai, onde, envolto em fumaça e trovões, o Eterno revelou mandamentos que não tratam apenas do serviço no Mishkan ou da pureza ritual, mas da terra, dos bens e da justiça social. Por que o Eterno trataria desses temas "materiais" em um lugar tão sagrado?

Porque ao contrário do que os sistemas religiosos tentam mostrar, o sagrado não é o oposto do material. O sagrado é aquilo que reconhece seu lugar de submissão diante do Eterno. E é isso que Shemitá, Yovel e as leis de resgate de propriedade e servidão nos ensinam: nada é verdadeiramente nosso — nem a terra, nem o próximo, nem sequer a nossa liberdade. Tudo pertence a HaShem. E veremos que há também apontamento profético nestes mandamentos.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Na parashá Behar vemos que a cada sete anos, a terra de Yisrael deve repousar. Durante esse ano, não se deve semear nem colher; o que crescer espontaneamente será alimento para todos, incluindo os pobres e os animais. Após sete ciclos de Shemitá (49 anos), o 50º ano é o Yovel. Nesse ano, as propriedades retornam aos seus donos originais, e os servos hebreus são libertos. É proibido cobrar juros de um irmão necessitado. Devemos sustentá-lo para que possa viver entre nós. Se alguém empobrecer e vender sua propriedade, seus parentes devem resgatá-la. O mesmo se aplica aos servos hebreus; eles não devem ser tratados como escravos, mas como jornaleiros, e serão libertos no Yovel.

E na parashá Bechukotai vemos que se seguirmos os estatutos de HaShem, Ele nos concederá chuvas no tempo certo, colheitas abundantes, paz na terra e Sua presença constante entre nós. No entanto, se rejeitarmos os mandamentos, enfrentaremos doenças, derrotas, fome e exílio. A terra ficará desolada e compensará os anos em que não descansou durante os Shemitot negligenciados. Mesmo em meio ao castigo, HaShem promete não rejeitar completamente Seu povo, lembrando-se da aliança com os antepassados. O Eterno dá instruções sobre como avaliar votos feitos à HaShem, incluindo pessoas, animais e propriedades, e sobre o dízimo do campo e do rebanho.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Ao refletirmos essa semana, na porção Behar, encontramos um assunto que me chamou a atenção. A questão da riqueza, da posse de bens materiais e do apego a isso. Somos realmente donos de alguma coisa nessa vida? Ao pensar nisso aprenderemos lições valiosas nessa porção, que pode parecer de menor valor em relação a outras, mas que carrega também um peso profético muito grande, e por isso, uma instrução poderosa para nossas vidas.


E agora, se vocês ouvirem Minha voz e guardarem minha aliança, vocês serão Minha possessão preciosa entre todos os povos, pois toda a terra me pertence. Shemot/Ex 19:5


No comentário dessa parashá, em seu livro, Bruno Summa afirma que esta é uma porção de enorme importância no sentido de que trata do comportamento ético humano. Ele diz:


A Parashat Behar aborda três mandamentos, o ano sabático chamado SHEMITTAH (שמיטה), o ano do jubileu chamado YOVEL (יובל) e por último as leis de propriedade e empréstimo. Os dois primeiros mandamentos, Shemittah e Yovel, tratam do descanso da terra. Já as leis de propriedade e empréstimo lidam com a maneira que devemos nos portar perante aquilo que não nos pertence. Apesar de ambos os temas possuírem aparência diversa, eles estão diretamente conectados, pois tanto a propriedade alheia como a terra onde habitamos não nos pertencem, são apenas colocados sob nosso domínio por um determinado período e, ao término dele, devem ser devolvidos aos seus respectivos donos, sejam eles nossos próximos, seja Ele Hashem, o Dono de toda a Terra.

O ano sabático, o jubileu e as leis de propriedade e empréstimos convergem em um único tema, o principal tema da presente Parashah, o amor à matéria, o qual desencadeia dois comportamentos humanos completamente opostos, a ganância ou a humildade. As leis apresentadas por Behar definem e colocam à prova todos nós, e nos mostram quem realmente somos e o quão psicologicamente somos afetados e influenciados pela existência terrena e por aquilo que os olhos veem. Summa, Bruno. SHA'AREI TORAH: Portões da Torah - VAYIKRA 6 (pp. 32-33). Edição do Kindle.


O texto nos leva a refletir sobre a ganância, e há um texto de Sh’lomoh Hamelech que nos acrescenta muito, veja:


O homem ganancioso, apressa-se após os ricos, não sabendo que a privação o alcançará. Pv 28:22


Isso é interessante, pois em uma outra tradução, apresentada por Bruno Summa, lemos o mesmo verso da seguinte maneira:


O Ish ra ayin corre atrás das riquezas e ele não sabe o que poderá ocorrer com ele. Pv 28:22


Segundo o autor, o rei Salomão diz que o ISH RA AYIN corre atrás das riquezas, porém não faz ideia do que isso poderá causá-lo. A expressão utilizada no versículo acima pode ser traduzida de algumas formas como “homem ganancioso”, “homem invejoso” ou “homem egoísta”. Portanto, o ganancioso, o invejoso e o egoísta sofrerão com aquilo que o rei Salomão diz que “poderá ocorrer com eles”. Mas o que seria “aquilo” que poderia ocorrer com eles? Qual o destino daqueles que possuem essas três falhas de caráter?

Essa revela, para aqueles que buscam se aprofundar na Torá, o que ocorre com tais homens, e os mandamentos de Shemitah, Yovel e as leis de resgate de propriedade e servidão nos mostram o apontamento profético e os níveis a que uma pessoa pode chegar se mantiver um comportamento ganancioso em sua vida. Há ensinos profundos dos sábios de Yisrael aqui nesse assunto, mas nesse estudo não entraremos neles. Vamos nos ater a um nível abaixo da superfície do literal, por enquanto. Vejamos cada um desses mandamentos e depois passamos para o próximo nível, o profético.


1. Shemitá: O Descanso Que Revela a Confiança

A Torá nos diz que a cada sete anos, toda a terra de Yisrael deveria cessar suas atividades agrícolas. Nenhum arado, nenhuma colheita, nenhuma venda. Não se deveria trabalhar a terra sob nenhum aspecto. O que crescesse espontaneamente serviria a todos: rico e pobre, nacional e estrangeiro, homem e animal. Esta não era apenas uma prática agrícola ou ambiental. Era um ato de confiança total.


Seis anos semearás teu campo... mas no sétimo ano haverá Shabat para a terra, um Shabat ao Eterno” Vayicrá 25:3-4


O Eterno não pediu que descansássemos por exaustão da terra, mas por reverência à Ele. Shemitá é um grito silencioso de fé, ou seja, confiança: vivemos não pelo fruto do nosso trabalho, mas pela Palavra e provisão do Eterno, conforme lemos em Devarim 8:3:


Ele os humilhou, permitindo que vocês se tornassem famintos, e então os alimentou com o man, desconhecido por vocês e por seus antepassados, para fazê-los entender que nem só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Eterno.


Interessante notar que este é o texto a que Yeshua se refere ao responder ao tentador, quando lhe sugeriu que transformasse pedras em pães. Se o messias tivesse atendido teria agido como um Ish ra ayin, homem orgulhoso e ganancioso, mas ele agiu corretamente, com humildade diante do Eterno, lembrou-se das palavras da Torá.

Aprendemos que ignorar Shemitá era negar essa confiança, e infelizmente, foi exatamente isso que o povo fez, resultando em exílios e desolações de acordo com o que foi profetizado, conforme lemos nos seguintes textos:


Então a terra desfrutará os seus shabatot enquanto estiver desolada e enquanto vocês estiverem na terra dos seus inimigos; e a terra descansará e desfrutará os seus shabatot. Enquanto estiver desolada, a terra terá o descanso que não teve quando vocês a habitaram. Vayicrá 26:34-35


A terra desfrutou os seus shabatot; descansou durante todo o tempo de sua desolação, até que os setenta anos se completaram, em cumprimento da palavra do Eterno anunciada por Yirmeyahu. 2 Divrei HaYamim 36:21.


Yeshua, nosso mestre, também ensinou com clareza:


Não andeis ansiosos pelo que haveis de comer ou beber ou com o que nos vestiremos? Porque os pagãos colocam o coração em todas essas coisas. Seu Pai celestial sabe do que necessitais. Matityahu 6:31-32


A prática de Shemitá é o antídoto contra a ansiedade e ganância. Ela diz: “Você não precisa controlar tudo; o Eterno cuida de você”. Quando alguém não reconhece que a terra é do Eterno, sua confiança se volta para si mesmo, para o "trabalho das suas mãos", gerando orgulho e ganância. A negação do descanso sabático da terra é símbolo da rebeldia contra a provisão do Eterno. Veja Yeshayahu 30:15:


Porque assim disse o Eterno: ‘Em descanso e em quietude estaria a vossa salvação; na confiança estaria a vossa força; mas não quisestes.


Aquele que não confia no Eterno tenta manter o controle, mas esse controle é ilusório. Quem ama o Eterno, entrega seus bens, seu tempo e até a terra ao descanso, pois reconhece que tudo é d'Ele.


2. Yovel: A Liberdade Que Restaura a Herança

Aprendemos que após sete ciclos de Shemitá, conforme o que aprendemos no tópico anterior, no quinquagésimo ano, o shofar ecoava em toda a terra anunciando o Yovel, ou seja, o ano da liberdade e restauração. Propriedades retornavam aos seus donos originais. Servos hebreus eram libertos. Dívidas eram canceladas. A ordem original era restaurada.


E proclamareis liberdade na terra a todos os seus habitantes. Será Yovel para vós. Vayicrá 25:10


Esse mandamento é um grito contra o acúmulo injusto de poder e riquezas. O Eterno nos mostra que ninguém deve se tornar permanentemente dono daquilo que pertence a Ele. A propriedade volta, os servos voltam, porque tudo volta ao Eterno.

É interessante também observar o aspecto contrário, ou seja, o do pobre e necessitado, que pode deixar de viver nessas condições. O ponto é como ele chegou nelas? E falaremos sobre isso mais à frente, permaneça até o fim.

Em Yeshayahu 61, o profeta fala de um ungido enviado para proclamar “o ano aceitável do Eterno” — uma clara alusão ao Yovel. Quando Yeshua lê esse texto, conforme vemos em Lucas 4, Ele se declara como aquele que proclama a libertação aos cativos, não apenas físicos, mas espirituais.

Assim como a terra é libertada em Yovel, nós também somos chamados a retornar à nossa origem espiritual, ou seja, retornar ao Eterno. Se a Shemitá nos ensina a descansar, o Yovel nos convida a voltar à nossa identidade, ao nosso propósito, ao Eterno.

O Yovel é uma sombra do retorno à nossa herança original. Cada um de nós, criado à imagem do Eterno, somos chamados a voltar à nossa origem, livres do jugo do pecado, da escravidão dos bens e da dívida moral. Observe alguns textos:


Yeshayahu 61:1-2 (o texto que Yeshua leu em público):

O Ruach do Eterno está sobre mim... para proclamar liberdade aos cativos, e o ano aceitável do Eterno…


Tehilim 49:8:

Porque a redenção da alma deles é caríssima, e seus recursos jamais bastariam...


Quando o homem não guarda Shemitá, ele se afasta da liberdade de Yovel. Ele se torna servo do sistema, servo de outros homens, servo do dinheiro. O Yovel representa a liberdade que o Eterno deseja restaurar em nós, mas que só é possível pela obediência.


3. Resgate de Propriedades e Servos: A Misericórdia em Ação

O que se segue, é que a Torá estabelece que, quando um homem perde sua herança ou se torna servo por causa de dívidas, o parente mais próximo — o goel — deve intervir e redimir. Essa mitsvá é um gesto de chesed, de misericórdia ativa.

Tudo pode ser perdido — a terra, a casa, a liberdade — mas o Eterno permite redenção. Um parente pode resgatar o irmão caído. Esse ato é de misericórdia, restauração e reconexão com a herança.


Se teu irmão empobrecer... então virá o seu parente e redimirá o que seu irmão vendeu. Vayicrá 25:25


Essa prática está ricamente ilustrada em Rute 4, quando Boaz age como resgatador. Ali, vemos o papel do goel como alguém que restaura a dignidade e a herança da família.

Em Yirmeyahu 32 o profeta compra uma propriedade como símbolo profético de que HaShem restaurará o povo à sua herança.

Nos escritos nazarenos, o conceito de redenção é ampliado:


Sabendo que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver... não com prata ou ouro, mas com obediência pura e sincera. 1 Kefa 1:18-19


Esse resgate é um eco direto do mandamento de Behar. O verdadeiro redentor não apenas devolve a terra, mas restaura a vida e a comunhão com o Eterno. Esses resgates não falam apenas de terras, mas de vidas. Aquele que se entrega à ganância acaba perdendo tudo — inclusive sua liberdade. Torna-se servo de um estranho, distante da herança de Yisrael. Agora na sequência, veremos como a entrega à ganância e ao orgulho, achando que é dono ou que pode muito, podem levar uma pessoa a perder tudo.


4. A Provação do Coração: Ganância ou Humildade?

Todas essas leis que observamos neste estudo servem de teste para o nosso coração. A Parashá Behar revela uma batalha silenciosa entre dois extremos:

- A ganância, que nos leva a controlar, acumular e oprimir;

- E a humildade, que nos faz reconhecer: “Nada é meu. Tudo é do Eterno.”

Quando ignoramos esses mandamentos, caímos em uma espiral de perda:

  1. - Perdemos o descanso (Shemitá).

    - Perdemos a liberdade (servimos a homens).

    - Perdemos a herança (a terra é vendida).

    - Por fim, nos tornamos estrangeiros em nossa própria identidade.

O já mencionado autor, Bruno Summa, comenta sobre essas perdas, comprovando os níveis proféticos nesses mandamentos, observe:

Por último o Midrash define o ISH RA AYIN como aquele que tira proveito do produto produzido durante o ano sabático. Esse é o ganancioso, aquele que profana a Torah visando o beneficio material. Como veremos adiante, Hashem ordena Israel a observar o ano sabático enquanto estiverem na terra de Israel. Nada pode ser produzido durante esse ano, nada deve ser colhido e nenhum tipo de ganho deve ser tirado do produto produzido pela terra durante esse ano. Segundo o Midrash, o homem que se beneficia materialmente ao rejeitar uma lei da Torah será punido com a perda de suas posses, de sua casa, de seu dinheiro, com a pobreza, e chegará ao ponto de ter que vender a si mesmo para que possa se alimentar. E como o Midrash sabe que essa é a punição aplicada sobre o ganancioso? Pela ordem que os mandamentos são expostos na Parashat Behar. Logo após a Torah apresentar as leis do ano sabático (v1-v13), está escrito:


Quando você vender sua propriedade ao seu vizinho. Levítico 25:14


Se uma pessoa não observar as leis de Shemittah e Yovel, ele terá que vender sua propriedade, e por quê? Porque estará passando por dificuldades financeiras. Caso se arrependa, tudo bem, mas caso continue sendo ganancioso:


Quando seu irmão em seu meio estiver com dificuldades e tiver que vender sua casa. Levítico 25:25

Então esse homem terá que vender sua casa e suas posses mais básicas para que possa se sustentar. Caso ele se arrependa, tudo bem, mas caso continue sendo ganancioso:


Quando seu irmão em seu meio estiver com dificuldades e bater em vossa porta. Levítico 25:35


Então esse homem terá que bater de porta em porta e necessitará mendigar o pão, uma situação humilhante. Caso se arrependa, tudo bem, mas caso continue sendo ganancioso:


Quando seu irmão em seu meio continuar com dificuldades e tiver que ser dado a vós. Levítico 25:39


Então chegará um dia em que esse homem terá que vender a si mesmo, ele se tornará um escravo, um escravo da sociedade, da situação em que se encontra e jamais verá uma saída material e financeira para o fundo do poço em que ele mesmo se lançou.

A ganância não trata apenas do amor e ao forte desejo por posses e dinheiro, mas também a qualquer suposto benefício que possa ser obtido através da profanação dos mandamentos. Summa, Bruno. SHA'AREI TORAH: Portões da Torah - VAYIKRA 6 (pp. 36-39). Edição do Kindle.


O mencionado autor ainda diz que, uma vez que os bens materiais são uma desvantagem para os esforços de uma pessoa para determinar os verdadeiros valores, a Torá estabelece diretrizes sobre como esses valores materiais devem ser usados, que são os mandamentos que estudamos nessa porção. Quando seguidas, estas diretrizes asseguram que esses bens materiais têm um impacto benéfico nas nossas vidas, em vez de o contrário, na medida em que os bens materiais libertam o homem de estar preocupado com a sua sobrevivência física neste mundo. Os bens materiais devem ser vistos como oportunidades para que um homem tente adquirir valores espirituais. Nesta medida, a riqueza material quase pode ser considerada uma necessidade. Veja o que dizem os sábios:


Onde não há farinha, também não há Torá. E onde não há Torá, não há farinha. Pirkei Avot 3:21


A Torá e tudo o que ela representa não podem florescer se não houver uma base econômica sólida. Por outro lado, a mesma Mishnah diz “onde não há Torá, não pode haver farinha”, ou seja, bem-estar econômico. Isto significa que, a menos que a riqueza material seja usada corretamente, como um meio para a elevação espiritual do homem, elevação espiritual alguma será alcançada.

Assim, entendemos que tudo que o Eterno deu por concessão ao seu povo, ou seja, a terra de Yisrael a riqueza material, e tudo o mais, era na verdade um requisito para que atingissem seus objetivos ou propósitos, coletivos e individuais dentro da vontade do Eterno. O Eterno tem um propósito para nossas vidas e quando nos apegamos à matéria, devido à ganância e ao orgulho nos tornamos algo que ele não suporta.


O que confia nas suas riquezas cairá, mas os justos florescerão como a folhagem. Mishlei 11:28


Por isso, as mitsvot de Shemitá, Yovel e resgate são provações da alma, ou seja, para a vida do indivíduo. Elas testam se o homem confia no Eterno ou em si mesmo, se é generoso ou egoísta e se reconhece que tudo pertence a HaShem, ou age como dono do mundo. Observe:

Mishlei 11:28:


O que confia nas suas riquezas cairá, mas os justos reverdecerão como a folhagem.


Tehilim 24:1:

Do Eterno é a terra e tudo o que nela há, o mundo e os que nele habitam.


Yeshua ensina (Matityahu 6:19-21):


Não ajunteis tesouros na terra... Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.


Então, vimos que Shemitá nos chama a confiar e descansar no Eterno. O Yovel nos aponta para a redenção e liberdade que Ele provê. E as leis de propriedade e servos nos ensinam a viver com humildade, compaixão e justiça. A desobediência a esses mandamentos leva à perda progressiva da herança: primeiro os frutos, depois a terra, por fim a liberdade. Porém, a obediência a esses mandamentos nos reconduz à nossa origem, à liberdade, à restauração plena.

Concluindo nosso estudo, essa Parashá nos convida a rever profundamente nossa relação com o mundo material. Somos apenas moradores temporários, peregrinos em uma terra que pertence ao Eterno. Quando tentamos nos apropriar daquilo que não é nosso, acabamos perdendo tudo. Mas quando obedecemos, descansamos e confiamos, o Eterno nos permite usufruir e nos restitui — com liberdade, herança e identidade.

Yeshua e os talmidim não vieram “espiritualizar” essas verdades, mas sim viver seu sentido mais profundo. A Shemitá é vivida no descanso da alma. O Yovel é celebrado na redenção da vida. E o resgate das propriedades é refletido na salvação de cada vida que volta ao Eterno.

Que possamos rejeitar o caminho da ganância e nos apegar à humildade usufruindo de tudo que HaShem nos proporciona com responsabilidade e temor, reconhecendo que ele é o dono de tudo.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef