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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Estudo da Parashá Ki Tavô (Quando entrares)

 


Estudos da Torá


Parashá nº 50 – Ki Tavô (Quando entrares)

Devarim/Deuteronômio Dt 26:1-29:9

Haftará (Separação) Is 60:1-22; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 13:1-15:27.



1 - INTRODUÇÃO

No estudo da parashá dessa semana veremos mais uma parte do discurso de Moshê ensinando e fazendo o povo relembrar as leis e mandamentos do Eterno, para que vivessem segundo sua vontade. Nessa porção estudaremos sobre a mitsvá (mandamento) anual aos fazendeiros de Israel para que trouxessem seus bikurim (primícias/primeiros frutos) ao sacerdote no templo, reconhecendo o importante papel do Eterno na provisão de seu sustento, e qual a importância desses mandamentos para cada um de nós.

Após novamente exortar o povo de Yisrael a permanecer fiel a D’us, que os elegeu especificamente como Seu povo escolhido dentre todas as nações do mundo, Moshê ensina duas mitsvot especiais que eles deverão cumprir ao entrar na Terra de Yisrael para reafirmar seu compromisso com a Torá. Primeiro deverão escrever toda a Torá em doze grandes pedras, e então deverão recitar bênçãos e maldições no vale entre Monte Gerizim e Monte Eival, as quais se aplicarão respectivamente àqueles que cumprem e àqueles que afrontam a Torá. Seguindo-se uma recontagem das maravilhosas bênçãos que D’us concederá ao povo judeu por permanecer fiel, Moshê faz uma assustadora profecia do que se abaterá sobre o povo por não cumprir a Torá. Conhecido como admoestação, Moshê descreve com detalhes a horrível destruição que infelizmente acontecerá quando nos desviarmos das mitsvot.

A Porção da Torá conclui quando Moshê contempla em retrospecto os maravilhosos milagres que D’us realizou pelos quarenta anos anteriores, lembrando o povo da enorme dívida de gratidão que tem com D’us por Seu carinhoso amor.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

Quando entrares na terra que o Eterno, teu Elohim, te dá por herança, ao possuí-la e nela habitares, tomarás das primícias de todos os frutos do solo que recolheres da terra que te dá o Eterno, teu Elohim, e as porás num cesto, e irás ao lugar que o Eterno, teu Elohim, escolher para ali fazer habitar o seu nome.” Dt 26:1-2


Moshê trás à memória do povo que eles deveriam levar as primícias de sua colheita “ao lugar”(ha makon) que Adonai escolher. A lembrança desse mandamento ao povo de Israel tinha o objetivo de que eles tivessem claro em sua mente, que a terra era dada a eles em herança, por Adonai. Ou seja, assim como o Eterno criou todas as coisas, criou também Israel, e dessa forma está mostrando ao povo que tem condições de dar a Israel a terra de herança, bem como o que eles necessitam para viver. A palavra “herança” vem do termo hebraico “nahala” que significa também “legado, possessão”. Essa palavra tem em si o entendimento do que é ou pode ser passado adiante como herança. O interessante aqui é que percebemos que Israel é o único país do mundo que tem suas fronteiras demarcadas pelo próprio D’us. Por isso ele tem direito à posse da terra, de habitar e existir ali. Sendo assim, e sabendo que a Palavra de HaShem não pode ser anulada, percebemos que como isso é profético, pois aponta para o futuro, onde Israel retomará todas as suas antigas fronteiras e com isso, tenha outra vez autonomia sobre a terra que lhe fora dada por herança física pelo próprio criador.

Retornando à questão da oferta, lemos que enquanto estivessem ali, eles deveriam trazer suas “primícias” ao Eterno, “no lugar” (ha makon) que Ele escolheria para ali habitar seu nome. Os primeiros frutos levados ao sacerdote eram das sete espécies pelas quais Êrets Yisrael é abençoada: trigo, cevada, uva, figo, romã, azeitona e tâmara. Isso mostra duas idéias importantes, que são as “primícias” e “o lugar”.

Em primeiro lugar falemos sobre as primícias, que nesse texto surge como “laqesh”, significando colheita tardia, isto é, colheita da primavera. Com certeza é uma referência à bikurim (primícias) que ocorre no segundo dia de pessach. Mas de onde isso viria? O termo “laqesh” tem sua raiz no termo “malkôsh” significando “últimas chuvas, chuvas de primavera”. Sabendo que o período de chuvas em Israel vai de dezembro à março, quando caem as chuvas tardias, conhecidas como serôdias e que podem ser vistas mencionadas nos seguintes versos:


Não dizem no seu íntimo: ‘Temamos o Eterno, o nosso D’us: aquele que dá as chuvas do outono e da primavera, no tempo certo, e assegura-nos as semanas certas da colheita’”. Jr 5:24,


Conheçamos o Eterno; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra." Os 6:3


Ó povo de Sião, alegre-se e regozije-se no Eterno, no seu D’us, pois ele lhe dá as chuvas de outono, conforme a sua justiça. Ele lhe envia muitas chuvas, as de outono e as de primavera, como antes fazia.” Jl 2:23


Essas chuvas de primavera se estendem até abril, que é a época da festa de pessach, matzot e bikurim, por isso caracteriza o evento. A palavra usada para designar “primícias” em hebraico é “reshit” que significa “primeiro, princípio, melhor (de um grupo)” E esta palavra vem da raiz “ro’sh” que por sua vez significa “cabeça, pico, cume, parte superior, chefe, total, soma”. Com isso, devemos entender que tais frutos deveriam ser, além dos primeiros, os melhores, provenientes da terra que o Eterno lhes dera.

E essas primícias de suas plantações deveriam ser levadas “ao lugar” que o Eterno escolheria para ali fazer “habitar” seu nome. Isso é uma referência ao templo construído por Salomão, no Monte Sião, também conhecido como MoRYah, que conforme já dissemos em estudos anteriores, é um acróstico de “Makon-lugar, Ree-vê, Yah-parte do nome do Eterno”, que literalmente significa “lugar que se vê D’us”.

E também aqui notamos dois fatores importantes, a palavra “habitar” vem do hebraico “shakan” que também significa “tabernacular”. Esta palavra indica uma “morada provisória”, e sabemos que mesmo o templo, cuja construção foi tão esmerada e demorada, foi considerada pelo Eterno como uma “habitação temporária”, pois seu projeto seria habitar dentro do Tabernáculo que Ele mesmo construiu, ou seja, o homem, onde habitaria para sempre o seu nome.

Com tudo isso, podemos perceber como o Eterno é didático no que faz, pois os seus servos são identificados por seu nome, pois somos chamados “messiânicos” (seguidores ao messias), ou “nazarenos” (seguidores do nazareno) e o próprio povo de Yisrael traz em seu nome um dos nomes de D’us - El - que o une, identifica, ao Eterno, assim também como o termo que o identifica desde a separação das duas casas, os Yhudim, ou seja, judeus, também trazem uma letra do nome do Eterno.

Ainda sobre esta oferta, ela também é mencionada em Ex 23:19 e 34:26, com o termo “bikurey”, onde lemos:


As primícias (reshit) dos primeiros frutos (bikurim) da tua terra trarás à Casa de HaShem”.


Percebemos que o propósito de entregar os primeiros frutos, que são os mais apreciados, é demonstrar ao Eterno que Ele é o primeiro nas nossas vidas. Veja, é tentador degustar o primeiro fruto maduro de uma espécie que não estava disponível já há algum tempo. Em vez disso, nós somos instruídos pela Torá a nos refrearmos, e reservá-lo para D’us. E assim notamos um dos benefícios da mitsvá, que é a de fortalecer o autocontrole da pessoa e de demonstrarmos nosso amor ao Eterno.

Entenda ainda que, quando os primeiros frutos começavam a brotar, eram marcados com um fiozinho, e assim poderiam ser observados. Quando amadureciam eram levados ao santuário entre Shavuot (semanas ou pentecostes) e Sukkot (tabernáculos). De acordo com o site Chabad, o dono do campo esperava até que as várias espécies de frutos tivessem amadurecido para levá-los ao Bet Hamikdash(casa da santidade - templo). Se ele calculasse que as primeiras frutas iriam apodrecer antes de começar sua jornada, ele deveria preservá-las. Por exemplo, transformando os figos em figos secos e as uvas em passas. Apesar de que ele só precisava dar uma fruta como bikurim, quanto mais ele acrescentar, maior seria sua mitsvá, ou seja seu cumprimento.

Os antigos em seus midrashim afirmam que as frutas deveriam se levadas ao Beit Hamikdash em algum recipiente, como uma cesta, e preferivelmente, uma espécie em cada recipiente. Se todas elas fossem colocadas no mesmo recipiente, deveria-se proceder da seguinte forma: a cevada por baixo, por cima dela o trigo, acima dele as azeitonas, as tâmaras, as romãs, e finalmente os figos por cima de tudo. Entre cada camada de fruta deve haver uma divisória, como folhas, e a camada de cima é circundada por cachos de uvas. Profeticamente essa organização aponta para como o Eterno irá organizar os grupos de servos no reino do messias, ou seja a hierarquia no reino.

Segundo o site “emunah a fé dos santos”, na época do Templo, famílias inteiras costumavam ir juntas a Yerushalaym, encontramos isso em Lc 2:42-46, e ao se aproximarem da cidade as pessoas saíam a recebê-los com gritos de alegria e com toques de flautas. Os levitas cantavam o Salmo 30 (que é uma referência à ressurreição do Messias, a qual é simbolizada nas primícias, “bikurim”) e também o Salmo 122.

Uma midrash no site Chabad, conta como era a chegada dos habitantes de outras cidades em Yerushalaym, para a festa da entrega das primícias, que passo a transcrever abaixo:


As cidades de Êrets Yisrael eram agrupadas em distritos. Os habitantes de cada cidade de um mesmo distrito se reuniam em um lugar e viajavam juntos para Yerushalayim para trazer os seus bikurim.

A mitsvá era engrandecida quando realizada por toda a congregação. Os viajantes descansavam à noite em céu aberto (evitando assim a possibilidade de ficarem impuros, pois alguém que estivesse numa casa que contivesse um cadáver, suas primícias se tornariam impuras e portanto inaptas para serem trazidas ao Bet Hamicdash). De manhã, o líder anunciava: "Levantem-se, e vamos a Tsiyon, à casa do nosso D’us!"

Um boi, que mais tarde seria oferecido como oferenda, ia à frente da procissão; seus chifres cobertos com ouro e uma grinalda de folhas de oliva enfeitava sua cabeça. Os viajantes recitavam (Salmos 122:1) "Eu ficava feliz quando me diziam: ‘Vamos à Casa de D’us.’" Flautistas proviam acompanhamento musical até que a procissão alcançasse Yerushalayim. Os viajantes paravam nos portões para arranjar e decorar seus bikurim, enquanto avisavam que eles haviam chegado à cidade. Eles eram recebidos por vários cohanim (sacerdotes), leviyim (levitas) e tesoureiros do Bet Hamikdash, que saíam para cumprimentá-los. Ao entrar na cidade os viajantes proclamavam (Salmos 122:2) "Nossos pés estavam em seus portões, Yerushalayim."

Os trabalhadores de Yerushalayim paravam seu trabalho, levantavam-se e cumprimentavam os recém-chegados: "Nossos irmãos de tal cidade, sejam bem vindos!" (Eles assim honravam os cumpridores da mitsvá. Para demonstrar nosso respeito àqueles que estão cumprindo uma mitsvá, nós costumamos nos levantar, como por exemplo, quando um bebê é trazido para o Berit Milá.)

Os flautistas continuavam a tocar e os viajantes continuavam a recitar os versos dos Salmos até chegarem ao Monte do Templo. Aí todos, inclusive o próprio rei, colocavam suas cestas sobre os ombros e pessoalmente apresentavam-nas ao cohen. Quando a procissão entrava na Azará (o pátio do Bet Hamicdash) os leviyim cantavam: "Te louvarei, D’us, por ter me erguido e não ter deixado meus inimigos regozijarem-se em mim."(Salmos 30:2).

Os viajantes tinham anexado pombas aos lados de suas cestas e davam-nas para os cohanim, como oferenda. Com as cestas ainda em seus ombros, cada judeu recitava o verso (Deuteronômio 26:3): "Eu declaro hoje a D’us, nosso D’us, que eu vim à terra que D’us prometeu aos nossos antepassados que a daria para nós." Ele assim reconhecia que D’us manteve a Sua promessa para com os nossos antepassados, e que ele trouxe para o Bet Hamicdash um presente de bikurim da sua porção de terra. Enquanto o proprietário segurava a alça da cesta, o cohen colocava suas mão sob esta, e juntos, eles erguiam a oferenda.


Talvez você possa se perguntar o que tem com tudo isso, uma vez que não é judeu. Além de pertencer a Yisrael, por causa do que o Messias Yeshua fez, a Torá nos orienta a agirmos como se nós fossemos quem viveu todo o episódio de libertação, assim como em Pessach.


Virás ao que, naqueles dias, for sacerdote e lhe dirás: Hoje, declaro ao Eterno, teu Elohim, que entrei na terra que o Eterno, sob juramento, prometeu dar a nossos pais.” Dt 26:3


Este verso nos ensina a respeito da importância da identificação nacional e histórica com o povo de Israel. Todas as pessoas que faziam esta declaração no templo não tinham entrado fisicamente na terra, mas eram descendentes ou não deles, por pertencer ao povo deles, cada judeu/israelita terá que se identificar com esse fato como se ele mesmo tivesse vivido.


Então, testificarás perante o Eterno teu Elohim, e dirás: Arameu prestes a perecer foi meu pai, e desceu para o Egito, e ali viveu como estrangeiro com pouca gente; e ali veio a ser nação grande, forte e numerosa. Dt 26:5


Vejamos agora, como sempre temos dito, como a Torá é profética, ao contrário do que muitos pensam.

Arã foi o quinto filho de Sem, cf. Gênesis 10:22, e não é ancestral de Abraão, mas sim o terceiro filho de Sem, Arfaxade. Como é que então aqui neste verso nos é dito que o pai dos israelitas foi um arameu? Labão foi chamado “arameu”, cf. Gênesis 25:19-20; 28:5. Ele tampouco foi descendente de Arã. Ao que parece, eram chamados arameus porque viviam em Padã-Arã. O pai de Labão, Betuel, e Isaque eram primos. A filha de Betuel foi Rebeca. Logo Isaque casou com a filha de seu primo. O irmão de Rebeca foi Labão, chamado “o arameu”. Mas não vinha desse Arã mencionado em Gênesis 10. Um dos irmãos de Betuel, Kemuel, é chamado o pai de Arã. Esse outro Arã, era portanto primo de Labão. Jacob e esse outro Arã, eram então primos em segundo grau.

É provável que os descendentes de Arã em Gênesis 10 tenham povoado a terra chamada Padã-Arã. Esse Arã que na maior parte das vezes é mencionado nas Escrituras é a terra que hoje em dia se chama Síria. Padã-Arã é mais a norte, cruzando o rio, na Mesopotâmia. É provável que Labão fosse chamado arameu pelo fato de falar em arameu e habitar nessa área, ainda que não fosse descendente de Arã, filho de Sem. Segundo Gênesis 31:47, Labão falava o idioma arameu.

Como é que Yaacov (Israel) foi chamado arameu na Torá? (Abraão foi chamado “hebreu”, não “arameu”), como vamos entender essa oração?

A tradução Peshita diz “meu pai foi enviado a Arã”, referindo-se a Jacob que foi enviado à terra onde estava Labão. Outra tradução diz: “um aramita (tentou) destruir o meu pai”. Outra tradução diz: “um arameu quis fazer perecer o meu pai” (Chumash HaMerkaz). Outra tradução diz: “um arameu a ponto de perecer foi meu pai”: Ainda outra diz: “Um aramí era a perdição do meu ancestral”.

Se entendermos a palavra como se Yaacov fosse arameu por viver na terra geográfica de Padã-Arã onde passou vinte anos da sua vida; é provável que por ter ali morado tanto tempo, que tenha sido chamado arameu, tal como Labão que habitava nessa terra, sem necessariamente ser descendente de Arã, filho de Sem.

A razão pela qual Yaacov não é chamado hebreu, mas sim arameu, é para nos demonstrar que a descendência de Abraão, e Isaque é mais profética do que biológica.

Concluindo, devemos entender que os mandamentos descritos por Moshê nesta parashá, entre outras coisas, servem para demonstrarmos nosso amor e prioridade ao Eterno, enquanto Ele mesmo nos mostra como agiu e age para que possamos ser parte de seu reino. Como primícias Yeshua foi o primeiro e é o representante, depois os seguidores, os remanescentes enxertados no povo estarão no reino. Lembremos do que Rav Shaul, o apóstolo Paulo, fala sobre isso em sua epístola aos Coríntios.


Mas de fato o Messias ressuscitou dentre os mortos, sendo a primícias dentre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, no Messias todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: o Messias, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem. Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a D’us, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder.” 1 Coríntios 15:20-24

Que possamos a cada dia sermos guiados pela palavra, ir ao encontro do reino através do cumprimento dos mandamentos seguindo o exemplo de nosso rei e irmão mais velho, Yeshua Hamashiach. Que nossa vida de justiça em exemplo a de Yeshua, possa ser as primícias verdadeiras para serem entregues ao Eterno em cada momento de nossas vidas.

Que HaShem lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/50_-_ki_tav_quando_chegares.pdf

- http://shemaysrael.com/parasha-ki-tavo/

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822839/jewish/Resumo-da-Parash.htm

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Comunicado importante sobre o estudo de shabat às 15h



sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Estudo da Parashá Ki Tetsê (Quando saíres)

 



Estudos da Torá


Parashá nº 49 – Ki Tetsê (Quando saíres)

Devarim/Deuteronômio Dt 21:10-25:19

Haftará (Separação) Is 54:1-10; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 12:1-50.


1 - INTRODUÇÃO

No resumo da parashá desta semana, vemos que a porção Ki Tetsê começa discutindo o caso de uma mulher quando capturada por um soldado judeu durante uma batalha. Pelo resto da Porção, a Torá continua com uma lista de várias mitsvot cobrindo vasta gama de tópicos. Relata então os direitos especiais de herança do primogênito, o caso do filho teimoso, a importância de respeitar-se a propriedade de outras pessoas, a obrigação de enxotar a ave mãe do ninho antes de pegar seus filhotes, e que não se deve vestir shatnez, mescla de lã e linho na mesma peça de roupa.

O caso da difamação da mulher casada é então discutido, seguido pela proibição de adultério e outros casamentos proibidos, bem como a ordem de manter o acampamento do exército como local santificado. Após mencionar brevemente o divórcio e o requerimento de um guet (carta de divórcio), a Torá discute o sequestro, a mitsvá de pagar os trabalhadores no tempo apropriado, e o conceito da responsabilidade do indivíduo por suas próprias ações.

A Torá descreve então a consideração especial que deve ser dada a um órfão e a uma viúva, o casamento levirato e a mitsvá de ser honesto nos negócios. Esta Porção da Torá conclui com uma exortação para recordar as atrocidades que a nação de Amalek cometeu contra nós após o Êxodo.

A porção Ki Tetsê, é a 49ª porção semanal, e é a 6ª de Devarim/Deuteronômio. Nela contém 74 mandamentos, abordando os mais diferentes assuntos que são muito importantes ao nosso conhecimento. Há leis referentes à guerra, cativos, despojos e até mesmo aferimento de balanças. Nesta parashá também fala sobre divórcio e casamentos proibidos. Muito há que se aprender ao se estudar essa porção, porém não temos espaço aqui para analisá-la na sua totalidade, veremos apenas uma parte, e no próximo ano mais um pouco e assim por diante. Mas isso não lhe impede de ler e estudar em sua casa, e se preciso pesquisar mais sobre o assunto, o que eu incentivo.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

O nome da porção vem descrito nas primeiras palavras no texto hebraico. “Ki Tetsê” significa “quando saíres”, nesse texto está trazendo da possibilidade da ida para a guerra. Guerra é uma palavra que nos assusta e como servos do Eterno e seguidores dos passos do messias Yeshua, logo pensamos que não podemos participar. No entanto, esse trecho da Torá quebra alguns tabus em relação a isso. Veja o que o comentário da Torá diz sobre isso:

A Torá nos impõe prescrições referentes à guerra. Existem doutrinas que impedem a guerra aos seus crentes, e existem os que pretendem permanecer absolutamente neutros e passivos diante de todo combate, mas não conseguem; ao contrário, caíram nas mãos dos inimigos. Por essa razão, a Torá determina o dever da autodefesa e da luta por nossos direitos. É triste ter de recorrer à guerra e ao derramamento de sangue, mas há momentos em que essa é a única alternativa e tem de ser feito. A Torá não quer, de modo algum, negar isto, mas quando a guerra é necessária, deve legislar até sobre ela. A tática do avestruz que esconde a cabeça é indigna, e se a guerra for necessária, submeter-se-á aos mandamentos (os mandamentos da Torá). No caso de guerra, onde todos os maiores sentimentos humanos são sufocados, a Lei de Moisés impõe prescrições, porque mesmo na guerra não se pode perder a consciência do bem. Em primeiro lugar, a Torá ordena oferecer a paz ao povo inimigo (Dt 20:10); mais adiante (vers. 19), proíbe destruir as árvores frutíferas ao redor da cidade sitiada, pois a guerra não deve significar de maneira nenhuma a destruição; e os primeiros versículos desta parashá tratam das leis relativas aos direitos dos vencedores israelitas sobre as mulheres cativas. O ideal máximo da Torá é a paz. Assim diziam os nossos profetas em suas prédicas: “Não levantarás povo contra povo a espada, e não ensinarão mais a guerra” (Miquéias 4:3). O judaísmo sabe como é triste ter de recorrer à guerra e derramar sangue, mas às vezes esta é a única alternativa. Mas, se a guerra é necessária, mesmo nela devem vigorar as leis humanas. (Torá, Ed. Sefer. pág 566)

Entendendo os princípios desse texto vejamos então um pouco mais de contexto histórico a respeito de guerra para que possamos entender os motivos de Moshê ter falado essas palavras ao povo.

Perceba que no período da antiguidade quando as terras não tinham donos e os Estados soberanos estavam iniciando, era comum que houvessem disputas por territórios, e nessas disputas, os dominados ou derrotados, eram aniquilados ou tornavam-se cativos para posterior servidão, podemos ver isso em vários textos das Escrituras, como no livro de Juízes. E com isso, muitas vezes eram poupados mulheres e crianças que tornadas cativas somavam junto com os despojos de guerra, que era propriedade dos vitoriosos. Encontramos ocorrências destes procedimentos ao consultarmos a literatura clássica grega, e encontramos também a semelhança da legislação contida nesta porção da Torá nas leis escritas no código de Hamurabi e no código de Mari, que são documentos que regulamentavam a vida nas terras próximas naquela época.

Contudo, há uma diferença grande, pois a Torá dava às mulheres prisioneiras o status de seres humanos e não de uma mera propriedade de guerra, e isso com um motivo claro, conforme teremos a oportunidade de verificar nesse estudo.

Voltemos ao texto bíblico dessa porção.


10 Quando saíres à peleja contra os teus inimigos, e o SENHOR, teu D’us, os entregar nas tuas mãos, e tu deles levares prisioneiros,

11 e tu, entre os presos, vires uma mulher formosa à vista, e a cobiçares, e a quiseres tomar por mulher,

12 então, a trarás para a tua casa, e ela rapará a cabeça, e cortará as suas unhas,

13 e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.

Sabemos que a Torá proíbe o casamento de servos do Eterno com pessoas de outros povos, e já vimos também, que apesar disso, D’us permitiu em alguns casos tais casamentos, desde que a pessoa demonstrasse que queria servir ao Eterno. Vemos também na Torá instruções a respeito da auto disciplina, responsabilidade e controle, então pode parecer estranho nessa porção a Torá trazer ensinamentos sobre hum homem querer se casar com uma mulher cativa.

Um homem que passa pelos horrores de uma guerra, está emocionalmente desequilibrado, pois pode estar há muito tempo longe de casa, sendo ele casado ou não, e por isso estar no limite de suas forças em resistir à inclinação para o mal (Yetser hará), que a Torá tanto preza, e satisfazer seus instintos naturais. Sendo assim, a Torá o protege de se precipitar em uma relação apenas passageira, pois ele vendo uma mulher cativa, bela e formosa, que influenciada pelos conselhos de Bilam (Nm 25:1-4; 31:16) de seduzir os soldados, por meio de belas roupas e penteados, poderia ele ser tentado a prevaricar com a tal mulher, e mesmo precipitadamente, tomá-la em casamento. E no intuito de colocar alguns empecilhos a um ato desencadeado por desejos passageiros, a Torá cria um roteiro para que o soldado que, temente a D’us e obediente as Suas leis, não fosse traído por seus impulsos, e se conscientizasse de seus atos precipitados. Ou seja, o Eterno entende isso, e permite que nessa situação ele despose uma mulher não israelita, ao invés de a violar como era habitual (e na verdade ainda é, infelizmente) nas guerras.

Mas para se casar com ela, deveria seguir algumas orientações prescritas na Torá, que estão nestes versos que estamos analisando, Dt 21:11-13. A prescrição era que, se um homem desejasse casar com uma mulher que trouxe cativa de entre o povo com quem guerreou, esta deveria rapar a cabeça e deixar as unhas crescerem. Na verdade, há nessa passagem uma mensagem importante, pois o propósito dessa instrução é que o homem não se engane pelas aparências físicas ou pelo desgaste emocional provocado pela guerra. Quando ele visse a mulher em um estado lastimável, literalmente, destruída pelo sofrimento de perda de entes queridos, com cabelo rapado e unhas crescendo, ou seja, sem qualquer sinal de beleza feminina, o homem olharia para ela de forma diferente, e perceberia se de fato a ama ou se seria apenas uma ilusão. Contudo, se depois de tudo isso, continuasse a desejar se casar com ela, mesmo não tendo a aparência física agradável de antes, o casamento poderia se realizar.


Entendendo o propósito além da letra

Olhando para a história dos povos antigos podemos entender que cada cultura tinha seus cortes de cabelo exclusivo, estilos de vestuário e a decoração das unhas, isso identificava as pessoas a qual povo pertencia. Então, é normal se considerar que pela mudança do corte de cabelo, nas unhas e no vestuário da mulher pelo modo israelita, isto significasse um processo de mudança de sua identidade de uma estrangeira para a possibilidade de tornar-se uma israelita. Porque, ao acabar com tudo que a identificava anteriormente, com os laços de sua vida antiga, tudo é deixado para trás simbolicamente.

Mas e o porquê disso? Segundo o Midrash, as filhas dos povos da antiguidade adornavam-se nos tempos de guerra para seduzir sexualmente os inimigos, conforme já dissemos anteriormente. Sendo assim, quando lemos: “e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.” Dt 21:13. Aqui “veste do seu cativeiro” está se referindo a roupas atrativas que vestia ao ser feita prisioneira. O propósito maior aqui de tirar-lhe as roupas é que o homem já não a encontre atraente como antes, pois era proposital. Antes de realmente se casar com a prisioneira ele deveria esperar um mês para que ela pudesse “chorar pelo seu pai e sua mãe”. Isto nos ensina que o Eterno se interessa que a alma da mulher seja consolada antes do casamento. E também nos ensina, conforme já vimos, que o Eterno não quer que o homem tome uma decisão precipitada. Ela precisaria chorar tanto tempo para que o homem não a visse contente e feliz, mas sim feia e pouco atraente comparativamente com as mulheres israelitas. O Eterno estava também cuidando com isso, da própria mulher que devido à guerra agora estaria à mercê, e condiciona um meio de ser cuidada.

Ainda outro ponto importante a respeito do luto dela pelos pais é que, pela guerra acontecia de os pais ou algum parente ter sido morto, mas não necessariamente esse luto seja por isso. Esse luto também era para que ela tivesse uma oportunidade para esquecer de sua família, assim ela teria condição de recomeçar deixando todo o passado familiar idólatra para trás, devido a cultura a qual estava inserida.

Podemos perceber o princípio desse desligamento com o passado quando Yeshua, no evangelho de Marcos 10:29-30 diz:

Respondeu Yeshua: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho que não receba, já neste mundo, cem vezes mais de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo vindouro, a Vida Eterna.”

Resumindo, podemos ver que a Torá nos dá através desta lei sobre a “mulher cativa”, a essência de “um enxertado na Oliveira”, conforme menciona o Judeu Autônomo em seu Blog, que segundo Yeshua, deve deixar para trás sua cultura familiar (religião familiar, crendices e etc) em favor da cultura e mandamentos do Reino de D’us que se encontram nas Palavras de Yeshua que torna plena a Torá.


E, se não te agradares dela, deixá-la-ás ir à sua própria vontade; porém, de nenhuma sorte, a venderás por dinheiro, nem a tratarás mal, pois a tens humilhado.” Dt 21:14

Podemos entender o propósito deste trato com esta mulher, que é para que não seja agradável para o homem, como já dissemos, ter que vê-la em uma situação diferente. Isso não seria uma situação ideal, para que ele se casasse com ela, pois poderia trazer-lhe consequências negativas no futuro, e por isso, HaShem estabelece estas regras para que finalmente ele se dê conta que não convém casar-se com ela.

Segundo o site Emunah a fé dos santos, a Torá não proíbe este tipo de matrimônio, mas também não o aconselha. Se o homem ainda assim deseja casar com ela, poderia fazê-lo. Contudo, incorre no risco de que com o passar do tempo ela se torne numa mulher aborrecida, segundo os versículos seguintes, e eventualmente nasça um filho rebelde do seu matrimônio, segundo os versículos, que logo se seguem. Segundo o Midrash, a mãe do rebelde Absalão era uma gentia cativa de guerra que o rei David tinha capturado.

Assim, é importante destacar que apesar de não ser a vontade do Eterno, na época era permitido a um homem ter mais de uma esposa. Segundo um midrash do site Chabad, se o soldado israelita já tivesse uma esposa judia, a cativa tornava-se sua segunda esposa. A Torá, através de uma alusão, conforme mostramos acima, devido a atitude impensada, adverte que ele provavelmente odiaria a yefat toar, a cativa de guerra. Como sabemos disto?

Porque o próximo assunto do qual a Torá fala é sobre um marido que tem duas esposas e odeia uma delas. Quando o soldado viu a yefat toar pela primeira vez, ficou cego por sua beleza. Não levou em conta se ela seria ou não uma esposa adequada para si. Uma vez casado, começou a pensar: "Como pude querer essa moça? Ela não é tão fina, delicada e educada como uma esposa judia deve ser!" Ele se lamentaria e se arrependeria de ter se casado com ela, até que, finalmente, começaria a odiá-la.

Se isso acontecesse, ele poderia pensar: “Farei dela uma escrava! Ou talvez a venda como escrava!” Mas a Torá o proíbe de agir assim: "Você a tomou por esposa, agora, deve tratá-la bem!"

O assunto seguinte, está ligado ao que foi mencionado acima, e envolve filhos. A Torá agora vai falar sobre o direito de primogenitura de uma filho ser intransferível independente de qualquer situação. De acordo com um midrash, um homem pode ter duas esposas e não gostar de uma delas. O que acontece se seu filho primogênito é da esposa da qual ele não gosta? O pai pode não querer legar-lhe seu duplo quinhão de primogênito. Em vez disso, pode querer dar a porção dupla ao filho de sua esposa favorita. A Torá o proíbe de agir desta forma. Um pai não pode negar ao primogênito a parte da herança que lhe cabe.

Porque esta lei aparece na Torá após o tema da yefat toar, a cativa de guerra? A Torá indica que mesmo que um homem israelita pudesse eventualmente odiar a yefat toar, ele deveria tratar o primogênito que ela porventura lhe desse de maneira justa e equânime.

Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à tua mãe e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos,” Dt 21:18

A seguir, a Torá explica as leis do filho rebelde. Isto é uma indicação de que a yefat toar poderia dar à luz um filho assim. Tudo isso está nos mostrando o cuidado que devemos ter ao tomar uma decisão de entrar em um relacionamento sem a devida reflexão, análise e entendimento, pois as consequências de nossas atitudes nos acompanharão. E o objetivo da Torá é visivelmente nos instruir para seguirmos por um caminho de paz e serenidade.

Este texto também trata a respeito de alguém que desobedece às palavras do pai. A rebeldia é considerada pelo Eterno como uma atitude gravíssima e por isso tem que ser duramente corrigida na vida de uma criança antes que chegue à adolescência.

O Eterno a todo tempo, através de sua Torá, nos alerta a viver de forma correta, a seguir caminhos planos e a tomar decisões sensatas, pensadas e de acordo com sua vontade. Que possamos aprender e praticar as palavras da Torá. Porque segundo o Rav Shaul (apóstolo Paulo) já nos dizia: “Porque os que ouvem a Lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei serão justificados.” Rm 2:13

Que possamos viver assim, segundo a Torá nos ensina, a cada dia mais praticando aquilo que cabe a nós. E temos aprendido, cada vez mais mandamentos que podemos e devemos praticar, ao contrário do que é ensinado nos sistemas. Vivamos e pratiquemos com amor “a carreira que nos foi proposta.”

Que o Eterno lhes abençoe!

Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://shemaysrael.com/shoftim/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/49_-_ki_tets_quando_sares.pdf

- http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/09/parashat-ki-tetse-quando-saires.html

- https://www.cafetorah.com/deuterenomio/

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822869/jewish/Mensagem-da-Parash.htm

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Estudo da Parashá Shoftim (Juízes)

 



Estudos da Torá


Parashá nº 48 - Shoftím (Juízes)

Devarim/Deuteronômio Dt 16:18-21:9

Haftará (Separação) Is 51:12-52:12; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 11:1-57.


1 - INTRODUÇÃO

Iniciando nosso estudo com o costumeiro resumo, vemos que Shoftim trata primeiramente dos mandamentos a respeito da criação de um sistema de liderança na Terra de Israel, começando com a designação de cortes, juízes e oficiais em cada cidade.

O povo de Yisrael recebe ordens de requisitar um rei assim que estiver instalado em Israel. São relacionados alguns dos presentes especiais que devem ser dados aos cohanim, sacerdotes.

Após descrever a natureza da profecia, a Torá repete as leis do Ir Hamiklat, cidade de refúgio para assassinos acidentais, e descreve o caso judiciário especial de Edim Zomemim, testemunhas conspiratórias.

A Torá então fala de vários aspectos da conduta da nação durante a guerra, dizendo-lhes para não temer os inimigos, e relacionando aquelas pessoas que estão isentas do serviço militar. Deve-se primeiro dar ao inimigo a oportunidade de paz, e o povo judeu deve ser cuidadoso para não destruir nenhuma árvore frutífera durante a batalha.

A porção da Torá conclui com o caso do assassinato não resolvido e com o ritual da eglá arufá, a novilha decapitada, que serve como expiação para o povo das cidades vizinhas por não terem impedido o assassinato.

A parashá Shoftim trata principalmente a respeito da justiça dentre o povo de D’us. Juízes e oficiais ou policiais deveriam ser apontados dentre as tribos, e os procedimentos judiciais são estabelecidos, a fim de que o povo de Israel trilhasse o caminho que os tornariam uma “nação de sacerdotes e um povo santo”, de acordo com Shemot/Êxodo 19:6.

Moshê estava agora instruindo o povo como eles deveriam agir para que isso acontecesse, mostrando que a justiça é o ingrediente essencial para se atingir este objetivo, e alerta Yisrael de que a “justiça, e somente a justiça seguirás” (Devarim/ Dt 16:20). Esse texto quer dizer que o povo de Adonai deveria perseguir a justiça, ou seja, ansiar por agir de acordo com os preceitos do Senhor. Vejamos então nesse estudo o que a Torá, por meio de Moshé nos instrui a esse respeito.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

Como sempre temos feito no decorrer deste ano, vamos iniciar com o significado do nome da parashá. O termo “Shoftim” é a primeira palavra que aparece no primeiro verso dessa porção.


Shoftim veshoterim titen lecha…

Juízes e oficiais designarás para ti...


Perceba que aparecem duas palavras “shoftim” (juízes) e “shoterim” (oficiais ou polícias), onde segundo o comentário da Torá, os shoftim eram os responsáveis pela administração da justiça e por resolver os assuntos judiciais, enquanto os shoterim eram responsáveis por cumprir as ordens e disposições dos tribunais ou sinédrios. Nesse sentido, o nome da parashá vem, mais uma vez a partir dessa primeira palavra, “shoftim” (juízes), pois o que se quer passar é a idéia de justiça.

De acordo com o que podemos compreender do texto bíblico, o juiz não podia fazer diferença entre o rico e o pobre, não se poderia agradar com presentes a um juiz com o intuito de conseguir favores, ou seja, todos deveriam agir com justiça e equilíbrio. E o objetivo desse mandamento é que, por meio da justiça, o mundo pudesse ser convertido no que a Torá e os profetas haviam sonhado: o reino do Eterno sobre a Terra.

“...designarás para ti...”

Isso transmite a ideia de um outro tipo de juízo, ou seja, a necessidade de julgarmos a nós mesmos, pois as pessoas costumam ser muito rápidas para julgar os outros e lentas para julgarem a sim mesmas. Portanto, cada um deverá ser, em primeiro lugar, juiz de si mesmo, de suas próprias ações, e condenar-se, caso seja necessário.

Vejamos o seguinte texto:


Se um homem ou uma mulher que vive, numa das cidades que o Senhor lhes dá, for encontrado fazendo o que o Senhor, o seu Deus, reprova, violando a sua aliança, e, desobedecendo ao meu mandamento, estiver adorando outros deuses, prostrando-se diante deles, ou diante do sol, ou diante da lua, ou diante das estrelas do céu, e vocês ficarem sabendo disso, investiguem o caso a fundo. Se for verdade e ficar comprovado que se fez tal abominação em Israel, levem o homem ou a mulher que tiver praticado esse pecado à porta da sua cidade e apedreje-o até morrer. Pelo depoimento de duas ou três testemunhas tal pessoa poderá ser morta, mas ninguém será morto pelo depoimento de uma única testemunha. As mãos das testemunhas serão as primeiras a proceder à sua execução, e depois as mãos de todo o povo. Eliminem o mal do meio de vocês.” Devarim/Dt 17:2-7


Observe que o texto acima, sendo da Torá, trata de transgressão da própria Torá por idolatria, e dentro do seu contexto geral, podemos entender alguns princípios aos quais Moshê estava passando ao povo.

Estamos falando de juízes nesse estudo, mas você já parou para se perguntar o que significa ser um juiz nas Escrituras? Já demos uma noção nos primeiros parágrafos deste estudo, mas vamos tentar entender melhor agora.

De acordo com o site “emunah a fé dos santos”, um juiz é uma pessoa que recebeu autoridade para pronunciar sentenças de acordo com a Torá, sobre as obras ou palavras de outras pessoas. O juiz tem que condenar o culpado e absolver o inocente sendo imparcial e justo, seguindo tudo o que a Torá determina, a partir dos princípios dela. Podemos observar o próprio livro dos Juízes, que foram homens e mulheres levantados pelo Eterno para administrar a Torá e guiar o povo no seu cotidiano, mas quando eles não agiam de acordo com o que a lei prescreve, as coisas davam errado, exatamente como esta parashá nos mostra, e aí entram as consequências da desobediência.

Já os oficiais, nesse contexto, são aqueles que executam as ordens do juiz. Sem eles o juiz não poderia fazer executar as suas ordens, e no caso não teria como controlar quem obedecia e quem não obedecia a Torá. Os oficiais ou a polícia não funciona bem sem os juízes porque precisam saber quais ordens devem executar. Por isso, o texto menciona esses dois tipos de funcionários ou de servos, e eles devem trabalhar paralelamente para que a sociedade seja beneficiada. E com isso, podemos perceber que o objetivo do Eterno através das palavras de seu servo Moshê, sempre foi o de instruir a sociedade para que vivessem de forma digna e justa.

É importante pontuar que, do ponto de vista profético, algumas pessoas do grupo de remanescentes da casa de Yisrael serão estabelecidas como Juízes e outras como Oficiais no reino do messias, assim como ocorria no passado, e confirmamos isso através do que o Rav. Sha’ul HaShaliach (Apóstolo Paulo) diz em 1Co 6:2-3:


Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Se vocês hão de julgar o mundo, acaso não são capazes de julgar as causas de menor importância? Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos(mensageiros)? Quanto mais as coisas desta vida.”


Continuando nosso estudo, o texto ainda fala que esses indivíduos mencionados, ou seja os juízes, deveriam ser escolhidos “em todas as cidades.” Vamos entender isso à luz do que o povo de Israel viveu na época e como a tradição nos conta.

Haviam três tipos de tribunais em Israel, o tribunal com 3 juízes, o com 23 juízes e o com 71 juízes. Vejamos como era a distribuição desses tribunais. Nas cidades com menos de 120 habitantes tinham um tribunal chamado de Beit Din (casa de julgamentos), que era composta por três juízes. As cidades com mais de 120 habitantes tinham um tribunal com 23 juízes, que eram chamados de “pequeno sinédrio”. E mais tarde, conforme a população cresceu, em Jerusalém foi estabelecido o tribunal com 71 juízes, chamado de “grande sinédrio”.

Agora, como eles funcionavam? Vamos lá! As cortes de três juízes somente podiam dar sentenças sobre assuntos monetários. Já para dar uma sentença de vida e morte, seria necessário um tribunal de 23 juízes. Em Jerusalém, por ser muito habitada, haviam três tribunais, sendo dois de 23 juízes e um de 71 juízes, no qual o sumo sacerdote era o principal líder. Os membros do grande sinédrio reuniam-se num lugar designado para eles no templo. Para esse tribunal iam as causas de difícil resolução, as quais não haviam condições comuns de análise, ou que eram desconhecidas.

No verso 19 lemos: Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno, porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos.” O termo no texto hebraico que foi traduzido como “justiça” ou “juízo”, é “mishpat”. Com o propósito de não se torcer um veredicto, é necessário que não siga-se uma justiça humanista, ou que ao homem pareça justo, mas sim a que o Eterno manda na Sua Torá. Vejamos alguns textos do apóstolo Paulo que aponta essa idéia.


Em Romanos 2:17-24:

Ora, você que leva o nome de judeu, apóia-se na lei e orgulha-se em D’us; se você conhece a vontade de D’us e aprova o que é superior, porque é instruído pela lei; se está convencido de que é guia de cegos, luz para os que estão em trevas, instrutor de insensatos, mestre de crianças, porque tem na lei a expressão do conhecimento e da verdade; então você, que ensina os outros, não ensina a si mesmo? Você, que prega contra o furto, furta? Você, que diz que não se deve adulterar, adultera? Você, que detesta ídolos, rouba-lhes os templos? Você, que se orgulha na lei, desonra a D’us, desobedecendo à lei? Como está escrito: "O nome de D’us é blasfemado entre os gentios por causa de vocês".


Em Romanos 7:7:Que diremos, pois? É a Torá pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela Torá; porque eu não conheceria a concupiscência, se a Torá não dissesse: Não cobiçarás…”


Em Romanos 7:12: “Assim, a Torá é santa; e o mandamento, santo, justo e bom.”

Podemos ainda dar uma olhada em Mt 23:23, pois também está dentro desse mesmo entendimento. "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas.

Percebemos que o testemunho da própria Escritura é de que a Torá expressa a justiça de HaShem que é a base de um veredicto correto. A Torá deve ser sempre a base para que o sistema judicial de qualquer país seja justo, não se regendo por critérios humanistas nem pelo que pensa a maioria da população. Mesmo que a maioria de um povo tenha um certo tipo de comportamento, isso não significa que seu comportamento seja correto. De acordo com o site “Emunah a fé dos santos”, comum e normal são conceitos diferentes. Um comportamento comum não tem necessariamente que ser normal, segundo as normas estabelecidas pelo homem. Só há uma justiça verdadeira e ela foi revelada de duas formas, na Torá de Moshê e em Yeshua haMashiach, conforme podemos ler em Romanos 3:21:


Mas, agora, se manifestou, além da Torá, a justiça de D’us, tendo o testemunho da Torá e dos Profetas.”


Observe que, normalmente, na maioria das bíblias, esse trecho traz a palavra “sem” no lugar de “além”, até mesmo na Bíblia Judaica Completa, o termo que aparece é “à parte”, no entanto, esse termo no texto grego é χωρίς “choris”, que segundo o dicionário STRONG, pode significar “sem, para além de, aparte”. No contexto Rm 3:21, não significa “ao contrário da Torá” ou “sem a Torá”, mas significa “além da Torá”, querendo dar o entendimento de que a Torá manifestou a justiça do Eterno, e para além da Torá, também Yeshua haMashiach revela a mesma justiça de uma forma diferente, mas não é outra justiça, ou uma justiça contraditória e contrária. O Messias Yeshua é a justiça do Eterno devido a vida justa que ele viveu, como lemos em 1Coríntios 1:30:


Mas vós sois dele, em Yeshua haMashiach, o qual para nós foi feito por HaShem sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.”


Aqui a palavra grega que foi traduzida como “justiça” é dikayosúne que pode significar tanto justiça como justificação.

Assim, a expressão “além da Torá”, em Rm 3:21, não significa que seja outra justiça diferente da Torá, mas sim que a justiça do Eterno, que é a prática da Torá, se manifestou de uma outra forma possível que não seja somente através das Escrituras, mas pela prática dela em concordância com a vida justa do messias, conforme Hb 1:1-2:


Há muito tempo D’us falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.”


Então, devemos entender que são duas revelações da Sua justiça, a justiça do Eterno, que é a Torá e o Messias, mas é a mesma justiça revelada de duas formas distintas, e elas são próximas, e harmonizam-se.

Que venhamos buscar como alvo de nossa vida a justiça do Eterno, pois ela se manifesta em nossas vidas através da obediência à Torá e nas obras e práticas do Messias. Nossa vida deve ser sempre pautada pela justiça, não é à toa que Yeshua fala sobre a nossa justiça ser superior à de alguns religiosos hipócritas em Mt 5:20, e o apóstolo Paulo compara a justiça a uma couraça quando fala da armadura de D’us em Ef 6:14. Vivamos sempre de forma justa e acima de tudo exercendo a justiça.

Que o Eterno lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva(Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://shemaysrael.com/shoftim/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/parasha__48_-_shoftim_juzes.pdf

- http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/08/parashat-shoftim-juizes.html

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/923476/jewish/Nomear-Juzes.htm