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segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Comunicado importante sobre o estudo de shabat às 15h



sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Estudo da Parashá Ki Tetsê (Quando saíres)

 



Estudos da Torá


Parashá nº 49 – Ki Tetsê (Quando saíres)

Devarim/Deuteronômio Dt 21:10-25:19

Haftará (Separação) Is 54:1-10; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 12:1-50.


1 - INTRODUÇÃO

No resumo da parashá desta semana, vemos que a porção Ki Tetsê começa discutindo o caso de uma mulher quando capturada por um soldado judeu durante uma batalha. Pelo resto da Porção, a Torá continua com uma lista de várias mitsvot cobrindo vasta gama de tópicos. Relata então os direitos especiais de herança do primogênito, o caso do filho teimoso, a importância de respeitar-se a propriedade de outras pessoas, a obrigação de enxotar a ave mãe do ninho antes de pegar seus filhotes, e que não se deve vestir shatnez, mescla de lã e linho na mesma peça de roupa.

O caso da difamação da mulher casada é então discutido, seguido pela proibição de adultério e outros casamentos proibidos, bem como a ordem de manter o acampamento do exército como local santificado. Após mencionar brevemente o divórcio e o requerimento de um guet (carta de divórcio), a Torá discute o sequestro, a mitsvá de pagar os trabalhadores no tempo apropriado, e o conceito da responsabilidade do indivíduo por suas próprias ações.

A Torá descreve então a consideração especial que deve ser dada a um órfão e a uma viúva, o casamento levirato e a mitsvá de ser honesto nos negócios. Esta Porção da Torá conclui com uma exortação para recordar as atrocidades que a nação de Amalek cometeu contra nós após o Êxodo.

A porção Ki Tetsê, é a 49ª porção semanal, e é a 6ª de Devarim/Deuteronômio. Nela contém 74 mandamentos, abordando os mais diferentes assuntos que são muito importantes ao nosso conhecimento. Há leis referentes à guerra, cativos, despojos e até mesmo aferimento de balanças. Nesta parashá também fala sobre divórcio e casamentos proibidos. Muito há que se aprender ao se estudar essa porção, porém não temos espaço aqui para analisá-la na sua totalidade, veremos apenas uma parte, e no próximo ano mais um pouco e assim por diante. Mas isso não lhe impede de ler e estudar em sua casa, e se preciso pesquisar mais sobre o assunto, o que eu incentivo.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

O nome da porção vem descrito nas primeiras palavras no texto hebraico. “Ki Tetsê” significa “quando saíres”, nesse texto está trazendo da possibilidade da ida para a guerra. Guerra é uma palavra que nos assusta e como servos do Eterno e seguidores dos passos do messias Yeshua, logo pensamos que não podemos participar. No entanto, esse trecho da Torá quebra alguns tabus em relação a isso. Veja o que o comentário da Torá diz sobre isso:

A Torá nos impõe prescrições referentes à guerra. Existem doutrinas que impedem a guerra aos seus crentes, e existem os que pretendem permanecer absolutamente neutros e passivos diante de todo combate, mas não conseguem; ao contrário, caíram nas mãos dos inimigos. Por essa razão, a Torá determina o dever da autodefesa e da luta por nossos direitos. É triste ter de recorrer à guerra e ao derramamento de sangue, mas há momentos em que essa é a única alternativa e tem de ser feito. A Torá não quer, de modo algum, negar isto, mas quando a guerra é necessária, deve legislar até sobre ela. A tática do avestruz que esconde a cabeça é indigna, e se a guerra for necessária, submeter-se-á aos mandamentos (os mandamentos da Torá). No caso de guerra, onde todos os maiores sentimentos humanos são sufocados, a Lei de Moisés impõe prescrições, porque mesmo na guerra não se pode perder a consciência do bem. Em primeiro lugar, a Torá ordena oferecer a paz ao povo inimigo (Dt 20:10); mais adiante (vers. 19), proíbe destruir as árvores frutíferas ao redor da cidade sitiada, pois a guerra não deve significar de maneira nenhuma a destruição; e os primeiros versículos desta parashá tratam das leis relativas aos direitos dos vencedores israelitas sobre as mulheres cativas. O ideal máximo da Torá é a paz. Assim diziam os nossos profetas em suas prédicas: “Não levantarás povo contra povo a espada, e não ensinarão mais a guerra” (Miquéias 4:3). O judaísmo sabe como é triste ter de recorrer à guerra e derramar sangue, mas às vezes esta é a única alternativa. Mas, se a guerra é necessária, mesmo nela devem vigorar as leis humanas. (Torá, Ed. Sefer. pág 566)

Entendendo os princípios desse texto vejamos então um pouco mais de contexto histórico a respeito de guerra para que possamos entender os motivos de Moshê ter falado essas palavras ao povo.

Perceba que no período da antiguidade quando as terras não tinham donos e os Estados soberanos estavam iniciando, era comum que houvessem disputas por territórios, e nessas disputas, os dominados ou derrotados, eram aniquilados ou tornavam-se cativos para posterior servidão, podemos ver isso em vários textos das Escrituras, como no livro de Juízes. E com isso, muitas vezes eram poupados mulheres e crianças que tornadas cativas somavam junto com os despojos de guerra, que era propriedade dos vitoriosos. Encontramos ocorrências destes procedimentos ao consultarmos a literatura clássica grega, e encontramos também a semelhança da legislação contida nesta porção da Torá nas leis escritas no código de Hamurabi e no código de Mari, que são documentos que regulamentavam a vida nas terras próximas naquela época.

Contudo, há uma diferença grande, pois a Torá dava às mulheres prisioneiras o status de seres humanos e não de uma mera propriedade de guerra, e isso com um motivo claro, conforme teremos a oportunidade de verificar nesse estudo.

Voltemos ao texto bíblico dessa porção.


10 Quando saíres à peleja contra os teus inimigos, e o SENHOR, teu D’us, os entregar nas tuas mãos, e tu deles levares prisioneiros,

11 e tu, entre os presos, vires uma mulher formosa à vista, e a cobiçares, e a quiseres tomar por mulher,

12 então, a trarás para a tua casa, e ela rapará a cabeça, e cortará as suas unhas,

13 e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.

Sabemos que a Torá proíbe o casamento de servos do Eterno com pessoas de outros povos, e já vimos também, que apesar disso, D’us permitiu em alguns casos tais casamentos, desde que a pessoa demonstrasse que queria servir ao Eterno. Vemos também na Torá instruções a respeito da auto disciplina, responsabilidade e controle, então pode parecer estranho nessa porção a Torá trazer ensinamentos sobre hum homem querer se casar com uma mulher cativa.

Um homem que passa pelos horrores de uma guerra, está emocionalmente desequilibrado, pois pode estar há muito tempo longe de casa, sendo ele casado ou não, e por isso estar no limite de suas forças em resistir à inclinação para o mal (Yetser hará), que a Torá tanto preza, e satisfazer seus instintos naturais. Sendo assim, a Torá o protege de se precipitar em uma relação apenas passageira, pois ele vendo uma mulher cativa, bela e formosa, que influenciada pelos conselhos de Bilam (Nm 25:1-4; 31:16) de seduzir os soldados, por meio de belas roupas e penteados, poderia ele ser tentado a prevaricar com a tal mulher, e mesmo precipitadamente, tomá-la em casamento. E no intuito de colocar alguns empecilhos a um ato desencadeado por desejos passageiros, a Torá cria um roteiro para que o soldado que, temente a D’us e obediente as Suas leis, não fosse traído por seus impulsos, e se conscientizasse de seus atos precipitados. Ou seja, o Eterno entende isso, e permite que nessa situação ele despose uma mulher não israelita, ao invés de a violar como era habitual (e na verdade ainda é, infelizmente) nas guerras.

Mas para se casar com ela, deveria seguir algumas orientações prescritas na Torá, que estão nestes versos que estamos analisando, Dt 21:11-13. A prescrição era que, se um homem desejasse casar com uma mulher que trouxe cativa de entre o povo com quem guerreou, esta deveria rapar a cabeça e deixar as unhas crescerem. Na verdade, há nessa passagem uma mensagem importante, pois o propósito dessa instrução é que o homem não se engane pelas aparências físicas ou pelo desgaste emocional provocado pela guerra. Quando ele visse a mulher em um estado lastimável, literalmente, destruída pelo sofrimento de perda de entes queridos, com cabelo rapado e unhas crescendo, ou seja, sem qualquer sinal de beleza feminina, o homem olharia para ela de forma diferente, e perceberia se de fato a ama ou se seria apenas uma ilusão. Contudo, se depois de tudo isso, continuasse a desejar se casar com ela, mesmo não tendo a aparência física agradável de antes, o casamento poderia se realizar.


Entendendo o propósito além da letra

Olhando para a história dos povos antigos podemos entender que cada cultura tinha seus cortes de cabelo exclusivo, estilos de vestuário e a decoração das unhas, isso identificava as pessoas a qual povo pertencia. Então, é normal se considerar que pela mudança do corte de cabelo, nas unhas e no vestuário da mulher pelo modo israelita, isto significasse um processo de mudança de sua identidade de uma estrangeira para a possibilidade de tornar-se uma israelita. Porque, ao acabar com tudo que a identificava anteriormente, com os laços de sua vida antiga, tudo é deixado para trás simbolicamente.

Mas e o porquê disso? Segundo o Midrash, as filhas dos povos da antiguidade adornavam-se nos tempos de guerra para seduzir sexualmente os inimigos, conforme já dissemos anteriormente. Sendo assim, quando lemos: “e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.” Dt 21:13. Aqui “veste do seu cativeiro” está se referindo a roupas atrativas que vestia ao ser feita prisioneira. O propósito maior aqui de tirar-lhe as roupas é que o homem já não a encontre atraente como antes, pois era proposital. Antes de realmente se casar com a prisioneira ele deveria esperar um mês para que ela pudesse “chorar pelo seu pai e sua mãe”. Isto nos ensina que o Eterno se interessa que a alma da mulher seja consolada antes do casamento. E também nos ensina, conforme já vimos, que o Eterno não quer que o homem tome uma decisão precipitada. Ela precisaria chorar tanto tempo para que o homem não a visse contente e feliz, mas sim feia e pouco atraente comparativamente com as mulheres israelitas. O Eterno estava também cuidando com isso, da própria mulher que devido à guerra agora estaria à mercê, e condiciona um meio de ser cuidada.

Ainda outro ponto importante a respeito do luto dela pelos pais é que, pela guerra acontecia de os pais ou algum parente ter sido morto, mas não necessariamente esse luto seja por isso. Esse luto também era para que ela tivesse uma oportunidade para esquecer de sua família, assim ela teria condição de recomeçar deixando todo o passado familiar idólatra para trás, devido a cultura a qual estava inserida.

Podemos perceber o princípio desse desligamento com o passado quando Yeshua, no evangelho de Marcos 10:29-30 diz:

Respondeu Yeshua: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho que não receba, já neste mundo, cem vezes mais de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo vindouro, a Vida Eterna.”

Resumindo, podemos ver que a Torá nos dá através desta lei sobre a “mulher cativa”, a essência de “um enxertado na Oliveira”, conforme menciona o Judeu Autônomo em seu Blog, que segundo Yeshua, deve deixar para trás sua cultura familiar (religião familiar, crendices e etc) em favor da cultura e mandamentos do Reino de D’us que se encontram nas Palavras de Yeshua que torna plena a Torá.


E, se não te agradares dela, deixá-la-ás ir à sua própria vontade; porém, de nenhuma sorte, a venderás por dinheiro, nem a tratarás mal, pois a tens humilhado.” Dt 21:14

Podemos entender o propósito deste trato com esta mulher, que é para que não seja agradável para o homem, como já dissemos, ter que vê-la em uma situação diferente. Isso não seria uma situação ideal, para que ele se casasse com ela, pois poderia trazer-lhe consequências negativas no futuro, e por isso, HaShem estabelece estas regras para que finalmente ele se dê conta que não convém casar-se com ela.

Segundo o site Emunah a fé dos santos, a Torá não proíbe este tipo de matrimônio, mas também não o aconselha. Se o homem ainda assim deseja casar com ela, poderia fazê-lo. Contudo, incorre no risco de que com o passar do tempo ela se torne numa mulher aborrecida, segundo os versículos seguintes, e eventualmente nasça um filho rebelde do seu matrimônio, segundo os versículos, que logo se seguem. Segundo o Midrash, a mãe do rebelde Absalão era uma gentia cativa de guerra que o rei David tinha capturado.

Assim, é importante destacar que apesar de não ser a vontade do Eterno, na época era permitido a um homem ter mais de uma esposa. Segundo um midrash do site Chabad, se o soldado israelita já tivesse uma esposa judia, a cativa tornava-se sua segunda esposa. A Torá, através de uma alusão, conforme mostramos acima, devido a atitude impensada, adverte que ele provavelmente odiaria a yefat toar, a cativa de guerra. Como sabemos disto?

Porque o próximo assunto do qual a Torá fala é sobre um marido que tem duas esposas e odeia uma delas. Quando o soldado viu a yefat toar pela primeira vez, ficou cego por sua beleza. Não levou em conta se ela seria ou não uma esposa adequada para si. Uma vez casado, começou a pensar: "Como pude querer essa moça? Ela não é tão fina, delicada e educada como uma esposa judia deve ser!" Ele se lamentaria e se arrependeria de ter se casado com ela, até que, finalmente, começaria a odiá-la.

Se isso acontecesse, ele poderia pensar: “Farei dela uma escrava! Ou talvez a venda como escrava!” Mas a Torá o proíbe de agir assim: "Você a tomou por esposa, agora, deve tratá-la bem!"

O assunto seguinte, está ligado ao que foi mencionado acima, e envolve filhos. A Torá agora vai falar sobre o direito de primogenitura de uma filho ser intransferível independente de qualquer situação. De acordo com um midrash, um homem pode ter duas esposas e não gostar de uma delas. O que acontece se seu filho primogênito é da esposa da qual ele não gosta? O pai pode não querer legar-lhe seu duplo quinhão de primogênito. Em vez disso, pode querer dar a porção dupla ao filho de sua esposa favorita. A Torá o proíbe de agir desta forma. Um pai não pode negar ao primogênito a parte da herança que lhe cabe.

Porque esta lei aparece na Torá após o tema da yefat toar, a cativa de guerra? A Torá indica que mesmo que um homem israelita pudesse eventualmente odiar a yefat toar, ele deveria tratar o primogênito que ela porventura lhe desse de maneira justa e equânime.

Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à tua mãe e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos,” Dt 21:18

A seguir, a Torá explica as leis do filho rebelde. Isto é uma indicação de que a yefat toar poderia dar à luz um filho assim. Tudo isso está nos mostrando o cuidado que devemos ter ao tomar uma decisão de entrar em um relacionamento sem a devida reflexão, análise e entendimento, pois as consequências de nossas atitudes nos acompanharão. E o objetivo da Torá é visivelmente nos instruir para seguirmos por um caminho de paz e serenidade.

Este texto também trata a respeito de alguém que desobedece às palavras do pai. A rebeldia é considerada pelo Eterno como uma atitude gravíssima e por isso tem que ser duramente corrigida na vida de uma criança antes que chegue à adolescência.

O Eterno a todo tempo, através de sua Torá, nos alerta a viver de forma correta, a seguir caminhos planos e a tomar decisões sensatas, pensadas e de acordo com sua vontade. Que possamos aprender e praticar as palavras da Torá. Porque segundo o Rav Shaul (apóstolo Paulo) já nos dizia: “Porque os que ouvem a Lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei serão justificados.” Rm 2:13

Que possamos viver assim, segundo a Torá nos ensina, a cada dia mais praticando aquilo que cabe a nós. E temos aprendido, cada vez mais mandamentos que podemos e devemos praticar, ao contrário do que é ensinado nos sistemas. Vivamos e pratiquemos com amor “a carreira que nos foi proposta.”

Que o Eterno lhes abençoe!

Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://shemaysrael.com/shoftim/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/49_-_ki_tets_quando_sares.pdf

- http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/09/parashat-ki-tetse-quando-saires.html

- https://www.cafetorah.com/deuterenomio/

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822869/jewish/Mensagem-da-Parash.htm

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Estudo da Parashá Shoftim (Juízes)

 



Estudos da Torá


Parashá nº 48 - Shoftím (Juízes)

Devarim/Deuteronômio Dt 16:18-21:9

Haftará (Separação) Is 51:12-52:12; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 11:1-57.


1 - INTRODUÇÃO

Iniciando nosso estudo com o costumeiro resumo, vemos que Shoftim trata primeiramente dos mandamentos a respeito da criação de um sistema de liderança na Terra de Israel, começando com a designação de cortes, juízes e oficiais em cada cidade.

O povo de Yisrael recebe ordens de requisitar um rei assim que estiver instalado em Israel. São relacionados alguns dos presentes especiais que devem ser dados aos cohanim, sacerdotes.

Após descrever a natureza da profecia, a Torá repete as leis do Ir Hamiklat, cidade de refúgio para assassinos acidentais, e descreve o caso judiciário especial de Edim Zomemim, testemunhas conspiratórias.

A Torá então fala de vários aspectos da conduta da nação durante a guerra, dizendo-lhes para não temer os inimigos, e relacionando aquelas pessoas que estão isentas do serviço militar. Deve-se primeiro dar ao inimigo a oportunidade de paz, e o povo judeu deve ser cuidadoso para não destruir nenhuma árvore frutífera durante a batalha.

A porção da Torá conclui com o caso do assassinato não resolvido e com o ritual da eglá arufá, a novilha decapitada, que serve como expiação para o povo das cidades vizinhas por não terem impedido o assassinato.

A parashá Shoftim trata principalmente a respeito da justiça dentre o povo de D’us. Juízes e oficiais ou policiais deveriam ser apontados dentre as tribos, e os procedimentos judiciais são estabelecidos, a fim de que o povo de Israel trilhasse o caminho que os tornariam uma “nação de sacerdotes e um povo santo”, de acordo com Shemot/Êxodo 19:6.

Moshê estava agora instruindo o povo como eles deveriam agir para que isso acontecesse, mostrando que a justiça é o ingrediente essencial para se atingir este objetivo, e alerta Yisrael de que a “justiça, e somente a justiça seguirás” (Devarim/ Dt 16:20). Esse texto quer dizer que o povo de Adonai deveria perseguir a justiça, ou seja, ansiar por agir de acordo com os preceitos do Senhor. Vejamos então nesse estudo o que a Torá, por meio de Moshé nos instrui a esse respeito.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

Como sempre temos feito no decorrer deste ano, vamos iniciar com o significado do nome da parashá. O termo “Shoftim” é a primeira palavra que aparece no primeiro verso dessa porção.


Shoftim veshoterim titen lecha…

Juízes e oficiais designarás para ti...


Perceba que aparecem duas palavras “shoftim” (juízes) e “shoterim” (oficiais ou polícias), onde segundo o comentário da Torá, os shoftim eram os responsáveis pela administração da justiça e por resolver os assuntos judiciais, enquanto os shoterim eram responsáveis por cumprir as ordens e disposições dos tribunais ou sinédrios. Nesse sentido, o nome da parashá vem, mais uma vez a partir dessa primeira palavra, “shoftim” (juízes), pois o que se quer passar é a idéia de justiça.

De acordo com o que podemos compreender do texto bíblico, o juiz não podia fazer diferença entre o rico e o pobre, não se poderia agradar com presentes a um juiz com o intuito de conseguir favores, ou seja, todos deveriam agir com justiça e equilíbrio. E o objetivo desse mandamento é que, por meio da justiça, o mundo pudesse ser convertido no que a Torá e os profetas haviam sonhado: o reino do Eterno sobre a Terra.

“...designarás para ti...”

Isso transmite a ideia de um outro tipo de juízo, ou seja, a necessidade de julgarmos a nós mesmos, pois as pessoas costumam ser muito rápidas para julgar os outros e lentas para julgarem a sim mesmas. Portanto, cada um deverá ser, em primeiro lugar, juiz de si mesmo, de suas próprias ações, e condenar-se, caso seja necessário.

Vejamos o seguinte texto:


Se um homem ou uma mulher que vive, numa das cidades que o Senhor lhes dá, for encontrado fazendo o que o Senhor, o seu Deus, reprova, violando a sua aliança, e, desobedecendo ao meu mandamento, estiver adorando outros deuses, prostrando-se diante deles, ou diante do sol, ou diante da lua, ou diante das estrelas do céu, e vocês ficarem sabendo disso, investiguem o caso a fundo. Se for verdade e ficar comprovado que se fez tal abominação em Israel, levem o homem ou a mulher que tiver praticado esse pecado à porta da sua cidade e apedreje-o até morrer. Pelo depoimento de duas ou três testemunhas tal pessoa poderá ser morta, mas ninguém será morto pelo depoimento de uma única testemunha. As mãos das testemunhas serão as primeiras a proceder à sua execução, e depois as mãos de todo o povo. Eliminem o mal do meio de vocês.” Devarim/Dt 17:2-7


Observe que o texto acima, sendo da Torá, trata de transgressão da própria Torá por idolatria, e dentro do seu contexto geral, podemos entender alguns princípios aos quais Moshê estava passando ao povo.

Estamos falando de juízes nesse estudo, mas você já parou para se perguntar o que significa ser um juiz nas Escrituras? Já demos uma noção nos primeiros parágrafos deste estudo, mas vamos tentar entender melhor agora.

De acordo com o site “emunah a fé dos santos”, um juiz é uma pessoa que recebeu autoridade para pronunciar sentenças de acordo com a Torá, sobre as obras ou palavras de outras pessoas. O juiz tem que condenar o culpado e absolver o inocente sendo imparcial e justo, seguindo tudo o que a Torá determina, a partir dos princípios dela. Podemos observar o próprio livro dos Juízes, que foram homens e mulheres levantados pelo Eterno para administrar a Torá e guiar o povo no seu cotidiano, mas quando eles não agiam de acordo com o que a lei prescreve, as coisas davam errado, exatamente como esta parashá nos mostra, e aí entram as consequências da desobediência.

Já os oficiais, nesse contexto, são aqueles que executam as ordens do juiz. Sem eles o juiz não poderia fazer executar as suas ordens, e no caso não teria como controlar quem obedecia e quem não obedecia a Torá. Os oficiais ou a polícia não funciona bem sem os juízes porque precisam saber quais ordens devem executar. Por isso, o texto menciona esses dois tipos de funcionários ou de servos, e eles devem trabalhar paralelamente para que a sociedade seja beneficiada. E com isso, podemos perceber que o objetivo do Eterno através das palavras de seu servo Moshê, sempre foi o de instruir a sociedade para que vivessem de forma digna e justa.

É importante pontuar que, do ponto de vista profético, algumas pessoas do grupo de remanescentes da casa de Yisrael serão estabelecidas como Juízes e outras como Oficiais no reino do messias, assim como ocorria no passado, e confirmamos isso através do que o Rav. Sha’ul HaShaliach (Apóstolo Paulo) diz em 1Co 6:2-3:


Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Se vocês hão de julgar o mundo, acaso não são capazes de julgar as causas de menor importância? Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos(mensageiros)? Quanto mais as coisas desta vida.”


Continuando nosso estudo, o texto ainda fala que esses indivíduos mencionados, ou seja os juízes, deveriam ser escolhidos “em todas as cidades.” Vamos entender isso à luz do que o povo de Israel viveu na época e como a tradição nos conta.

Haviam três tipos de tribunais em Israel, o tribunal com 3 juízes, o com 23 juízes e o com 71 juízes. Vejamos como era a distribuição desses tribunais. Nas cidades com menos de 120 habitantes tinham um tribunal chamado de Beit Din (casa de julgamentos), que era composta por três juízes. As cidades com mais de 120 habitantes tinham um tribunal com 23 juízes, que eram chamados de “pequeno sinédrio”. E mais tarde, conforme a população cresceu, em Jerusalém foi estabelecido o tribunal com 71 juízes, chamado de “grande sinédrio”.

Agora, como eles funcionavam? Vamos lá! As cortes de três juízes somente podiam dar sentenças sobre assuntos monetários. Já para dar uma sentença de vida e morte, seria necessário um tribunal de 23 juízes. Em Jerusalém, por ser muito habitada, haviam três tribunais, sendo dois de 23 juízes e um de 71 juízes, no qual o sumo sacerdote era o principal líder. Os membros do grande sinédrio reuniam-se num lugar designado para eles no templo. Para esse tribunal iam as causas de difícil resolução, as quais não haviam condições comuns de análise, ou que eram desconhecidas.

No verso 19 lemos: Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno, porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos.” O termo no texto hebraico que foi traduzido como “justiça” ou “juízo”, é “mishpat”. Com o propósito de não se torcer um veredicto, é necessário que não siga-se uma justiça humanista, ou que ao homem pareça justo, mas sim a que o Eterno manda na Sua Torá. Vejamos alguns textos do apóstolo Paulo que aponta essa idéia.


Em Romanos 2:17-24:

Ora, você que leva o nome de judeu, apóia-se na lei e orgulha-se em D’us; se você conhece a vontade de D’us e aprova o que é superior, porque é instruído pela lei; se está convencido de que é guia de cegos, luz para os que estão em trevas, instrutor de insensatos, mestre de crianças, porque tem na lei a expressão do conhecimento e da verdade; então você, que ensina os outros, não ensina a si mesmo? Você, que prega contra o furto, furta? Você, que diz que não se deve adulterar, adultera? Você, que detesta ídolos, rouba-lhes os templos? Você, que se orgulha na lei, desonra a D’us, desobedecendo à lei? Como está escrito: "O nome de D’us é blasfemado entre os gentios por causa de vocês".


Em Romanos 7:7:Que diremos, pois? É a Torá pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela Torá; porque eu não conheceria a concupiscência, se a Torá não dissesse: Não cobiçarás…”


Em Romanos 7:12: “Assim, a Torá é santa; e o mandamento, santo, justo e bom.”

Podemos ainda dar uma olhada em Mt 23:23, pois também está dentro desse mesmo entendimento. "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas.

Percebemos que o testemunho da própria Escritura é de que a Torá expressa a justiça de HaShem que é a base de um veredicto correto. A Torá deve ser sempre a base para que o sistema judicial de qualquer país seja justo, não se regendo por critérios humanistas nem pelo que pensa a maioria da população. Mesmo que a maioria de um povo tenha um certo tipo de comportamento, isso não significa que seu comportamento seja correto. De acordo com o site “Emunah a fé dos santos”, comum e normal são conceitos diferentes. Um comportamento comum não tem necessariamente que ser normal, segundo as normas estabelecidas pelo homem. Só há uma justiça verdadeira e ela foi revelada de duas formas, na Torá de Moshê e em Yeshua haMashiach, conforme podemos ler em Romanos 3:21:


Mas, agora, se manifestou, além da Torá, a justiça de D’us, tendo o testemunho da Torá e dos Profetas.”


Observe que, normalmente, na maioria das bíblias, esse trecho traz a palavra “sem” no lugar de “além”, até mesmo na Bíblia Judaica Completa, o termo que aparece é “à parte”, no entanto, esse termo no texto grego é χωρίς “choris”, que segundo o dicionário STRONG, pode significar “sem, para além de, aparte”. No contexto Rm 3:21, não significa “ao contrário da Torá” ou “sem a Torá”, mas significa “além da Torá”, querendo dar o entendimento de que a Torá manifestou a justiça do Eterno, e para além da Torá, também Yeshua haMashiach revela a mesma justiça de uma forma diferente, mas não é outra justiça, ou uma justiça contraditória e contrária. O Messias Yeshua é a justiça do Eterno devido a vida justa que ele viveu, como lemos em 1Coríntios 1:30:


Mas vós sois dele, em Yeshua haMashiach, o qual para nós foi feito por HaShem sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.”


Aqui a palavra grega que foi traduzida como “justiça” é dikayosúne que pode significar tanto justiça como justificação.

Assim, a expressão “além da Torá”, em Rm 3:21, não significa que seja outra justiça diferente da Torá, mas sim que a justiça do Eterno, que é a prática da Torá, se manifestou de uma outra forma possível que não seja somente através das Escrituras, mas pela prática dela em concordância com a vida justa do messias, conforme Hb 1:1-2:


Há muito tempo D’us falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.”


Então, devemos entender que são duas revelações da Sua justiça, a justiça do Eterno, que é a Torá e o Messias, mas é a mesma justiça revelada de duas formas distintas, e elas são próximas, e harmonizam-se.

Que venhamos buscar como alvo de nossa vida a justiça do Eterno, pois ela se manifesta em nossas vidas através da obediência à Torá e nas obras e práticas do Messias. Nossa vida deve ser sempre pautada pela justiça, não é à toa que Yeshua fala sobre a nossa justiça ser superior à de alguns religiosos hipócritas em Mt 5:20, e o apóstolo Paulo compara a justiça a uma couraça quando fala da armadura de D’us em Ef 6:14. Vivamos sempre de forma justa e acima de tudo exercendo a justiça.

Que o Eterno lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva(Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://shemaysrael.com/shoftim/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/parasha__48_-_shoftim_juzes.pdf

- http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/08/parashat-shoftim-juizes.html

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/923476/jewish/Nomear-Juzes.htm

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Estudo da Parashá Re'e (Observe ou vejam)

 


Estudos da Torá


Parashá nº 47 – Re’eh (Observe ou vejam)

Devarim/Deuteronômio Dt 11:26-16:17

Haftará (Separação) Is 54:11-55:5; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) 1Co 5:9-13.


1 - INTRODUÇÃO

Como normalmente fazemos vamos ao resumo da parashá, para que possamos ter uma visão geral.

Na Parashá Reê, Moshê continua a exortar o povo de Yisrael a seguir os caminhos da Torá, e a confiar em D’us. Moshê começa a colocar as mitsvot em perspectiva, sem ambiguidade, declarando que o povo de Yisrael será abençoado se cumprir a Torá, e amaldiçoado se não o fizer.

Ele começa então uma longa revisão de várias mitsvot, compreendendo a maior parte do livro Devarim. Primeiro discute alguns dos mandamentos que são relevantes à iminente conquista da Terra de Yisrael pelo povo, conclamando-os novamente a remover qualquer vestígio de idolatria.

Após ensinar-lhes certos detalhes sobre a oferenda e o consumo de corbanot (sacrifícios) a Torá ordena que o povo de Yisrael se abstenha de imitar as nações que os circundam. A eles é dito que permaneçam atentos aos falsos profetas e outras pessoas que poderiam afastá-los de D’us, e não aprendem as leis de uma cidade que tornou-se tão corrupta que a maioria de seus cidadãos sucumbiu à idolatria, recebendo por isso a pena de morte.

A Torá faz uma revisão sobre quais animais são casher, permitidos para consumo, e quais não o são, seguida pelas leis de ma’aser sheni – o segundo "dízimo", que é consumido por seus proprietários, mas apenas na cidade de Jerusalém.

Após ordenar que todas as dívidas sejam canceladas ao final de cada sétimo ano (Shemitah), e que devemos ser calorosos e caridosos com nossos irmãos, a Torá repete as leis relativas ao servo judeu. Ele deve ser libertado incondicionalmente no sétimo ano e coberto de presentes generosos por seu antigo amo.

A Parashat Reê conclui com uma breve descrição das três festas de peregrinação – Pêssach, Shavuot e Sucot – quando todos deveriam ir a Jerusalém e ao Templo com oferendas, para celebrar sua prosperidade.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

A porção dessa semana é “Reê”, que significa “observa” ou “vede”. Ela é tão profunda quanto a palavra “shemá” que fala de ouvir e obedecer. Perceba que ela está em modo imperativo. Ela tem a ver com uma percepção mais profunda, uma visão interior, com os “olhos” do coração. Veja o texto de Devarim (Dt) 11:26-28:


Observa(reê) que, hoje, eu ponho diante de vós a bênção e a maldição: a bênção, quando cumprirdes os mandamentos do Eterno, vosso Elohim, que hoje vos ordeno; a maldição, se não cumprirdes os mandamentos do Eterno, vosso Elohim, mas vos desviardes do caminho que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes.”


Vemos o Eterno apresentando dua opções para o homem, a fim de que ele tenha a oportunidade de escolher. Para que ele possa usufruir do livre arbítrio. O homem pode escolher viver desligado ou ligado ao Eterno. Por isso, essa parashá inicia com a palavra “Reê” ou seja, “observa”. O que temos que observar é as opções que nos são colocadas à frente, e tomar a decisão correta. Se o homem tivesse sido criado sem o poder de escolha seria um autômato, como uma máquina, porém, cada um de nós temos o poder ou a liberdade de escolher. Ninguém é obrigado a obedecer ou a pecar (desobedecer), porque o Eterno nos criou para sermos pessoas que podem escolher servir de livre e espontânea vontade.

O homem pode optar pelo caminho da transgressão, do pecado, no entanto essa liberdade não o isenta da responsabilidade e das consequências de suas escolhas. A indicação da liberdade de opção que o Eterno disponibiliza ao ser humano em escolher o bem ou o mal, que devido às consequências se tornarão em bênçãos ou em maldições. Veja o texto:


Reê anochi noten lifneichem haiom bracha ukelala

Veja que ponho diante de vós, hoje, a benção e a maldição” Dt 30: 19.


Segundo o site Britolam, as “brachot” seriam consequências da obediência à Torá e a maldição, o efeito e resultado da desobediência e rebeldia à Torá, quando o homem se desvia dos caminhos e vontade do Eterno.

Podemos então notar, que esta parashá comprova o livre arbítrio que HaShem deu ao ser humano, notamos também que indica o caminho da obediência para que se possa alcançar o êxito e as “brachot” (bênçãos).

O livre arbítrio deve ser visto como uma das dádivas preciosas que o ser humano recebeu. Permite o homem viver sua liberdade e fazer sua própria opção de vida. HaShem disponibiliza a vida e não impede que o ser humano tenha liberdade de escolha, entretanto, o Eterno como um Pai zeloso e amoroso indica e instrui o caminho da vida, da excelência e do melhor para seus filhos. Assim sendo, a Torá no mostra que o Eterno não criou uma máquina programada, mas um ser com capacidade de criar sistemas que tenham sua própria autonomia e competência para administrar sua própria vida e estar apto a tomar suas próprias decisões, arcando com as consequências dela, sejam boas ou más.

Pelo estudo do texto, podemos ver também que as bençãos eram pronunciadas por aqueles que estavam no monte Guerizim, enquanto as maldições pelas pessoas que estavam no monte Ebal. Agora perceba uma coisa, o monte Ebal, onde se pronunciaram as maldições, era mais alto que monte Guerizim. Isso é uma relação interessante, pois o topo do monte, representa juízo sobre a pessoa a qual cai a maldição. Ou seja, a maldição é aplicada após uma jornada mais longa do que a jornada que se percorre para subir o monte Guerizim. Isso quer dizer que, possivelmente, essa relação demonstra que o Eterno espera até ao último momento para que o ímpio se arrependa. O Eterno dá-lhe o máximo de tempo possível para que possa vir a se arrepender, mas se isso não ocorrer, ao final de sua jornada, a maldição ou juízo recairá sobre ele.

A porção “Reê” ou “ver” implica em compreender não só o aspecto da escolha mas o que está revelado, o caminho correto para a vida, assim também como crer e ter consciência de que, esta bem-aventurança procede de Deus.

Outra coisa, é que consiste ainda em considerar sobre as consequências desastrosas, conforme já mencionamos antes, da desobediência, como também as recompensas que o cumprimento dos mandamentos proporcionam, para que através delas o homem possa ter uma vida plena e abundante e servir melhor ao Eterno.

Yeshua fala sobre estes dois caminhos, da obediência e da rebeldia e suas consequências “Eu sou a porta, se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância;” (Yochanan/João 10:9-10). O site britolam.com.br no estudo dessa parashá diz que, estes são como dois caminhos alegóricos que se localizam no meio exterior, ao longo de toda a extensão da vida humana, onde obrigatoriamente se escolhe uma opção em detrimento da outra em meio a constante luta interior, na submissão do ser à vontade Divina.

Em nossas vidas muitas destas opções que surgem diariamente são de fácil escolha, ou seja, podemos prever suas consequências benéficas ou maléficas com muita clareza e evidência, sem haver uma tensão, um conflito interno, pois trata-se de uma escolha que condiz com o nosso caráter ou com nossa visão de mundo, como por exemplo, a escolha entre roubar ou não roubar. Contudo algumas escolhas não são tão simples assim, e dessa forma exigem certo discernimento para saber qual é o caminho correto a seguir, a fim de estar de acordo com a justiça de D’us. Isto portanto, requer o conhecimento das Escrituras, como também um relacionamento mais íntimo com o Eterno, com o exercício das disciplinas toraístas que constam na santidade, na adoração e tefilá (oração), no estudo da Torá, e comunhão constante com o povo de D’us.

Vede que ponho diante de vós, hoje, a bênção e a maldição.” Dt 11:26


O comentário da Torá da Editora Sêfer no início dessa porção, diz que os dois primeiros versos dessa parashá e mais adiante na parashá Nitsavim, em Dt 30:19, sintetizam muito bem a ideia do livre arbítrio e da responsabilidade moral do homem, conforme mencionamos acima. O comentário continua dizendo que a Torá, que é a fonte da misericórdia, mostra ao povo os dois caminhos: o do bem e o do mal, pois é difícil para o homem escolher entre eles pelo fato de que um destes caminhos parece fácil, claro e confortável para o viajante; porém, à medida que avança, percebe que a via se torna tortuosa, com obstáculos, obscura e triste. O outro, entretanto, de acordo com o referido comentário, que aparenta ser acidentado, é na realidade o mais seguro, aquele que conduz ao objetivo supremo, ao cumprimento do destino do homem sobre a terra. As aparências enganam muitas vezes, por isso a Torá adverte e nos aconselha a escolher o caminho verdadeiro, que conduz à bênção e à vida.

Com tudo isso, essa porção compreende em retornar à pureza da essência da Torá rompendo com as tradições que impedem a percepção e o entendimento da vontade Divina expressa nas Escrituras. Veja que Yeshua fala sobre isso no seguinte texto:


Vocês negligenciam os mandamentos de D’us e se apegam às tradições dos homens. E disse-lhes: Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de D’us, a fim de obedecer às suas tradições!” Marcos 7:8 e 9.


Assim, é muito importante e urgente que retornemos a observação das prescrições da Torá, considerando que a Palavra de Deus é imutável, e nos garante tomar a opção certa, não para entrada na Aliança, que é concedida pela misericórdia ou graça Divina, mediante a vida justa de Yeshua HaMashiach, mas para permanecer nela, em santidade constante, como o próprio Yeshua disse em Mt 5:18-19.


Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus.”


O irmão Metushelach Cohen, autor do Blog Judeu Autônomo, sobre esta parashá, diz que essa porção nos leva refletir sobre como podemos obedecer alguns mandamentos cujos significados vão muito além de nosso entendimento, assim sendo os obedecemos não por entendermo-los mas por temor ao Eterno. Mas o que significa ter Temor ao Senhor?

Ele continua com o seguinte questionamento: Será que significa que devemos ter medo da desaprovação de D-us sobre nós? Deveremos viver no medo sobre uma perspectiva de um futuro julgamento pelos nossos pecados?

A fim de considerar tais questões, vamos refletir sobre um versículo da Torah:


Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti? Não é que temas ao Senhor, teu D-us, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor, teu D-us, de todo o teu coração e de toda a tua alma” Devarim/Dt 10:12


Nesta declaração sumária do que D-us exige de nós, vemos que o Temor ao Senhor - Yirat HaShem: é mencionado em primeiro lugar. Assim, temos de aprender a TEMER corretamente ao Senhor, e só então poderemos ser capazes de andar em Seus caminhos, para amá-lo, e para servi-lo com todo nosso coração e alma. Mais uma vez, o requisito de TEMER ao Senhor teu D-us é colocado em primeiro na lista.

Na verdade, o Temor ao Senhor é dito ser o princípio da sabedoria conforme o Salmo abaixo:


O Temor ao SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre.” Tehilim/Salmos 111:10


As Escrituras claramente declaram que o Temor ao Eterno leva a vida, conforme vemos no texto abaixo:


O Temor ao Senhor conduz à vida; aquele que o tem ficará satisfeito, emal nenhum o visitará.” Mishlei/Provérbios 19:23


Ainda segundo o Blog do Judeu Autônomo, a palavra hebraica “Yirat” יראת que foi traduzida em muitas versões da Bíblia é “temor”, mas “Yirat” tem um significado muito maior nas Escrituras Sagradas. Às vezes refere-se ao medo que nós sentimos em antecipação de algum perigo ou de sofrimento, mas também pode indicar admiração ou reverência. Neste último sentido, a palavra “Yirat” inclui a ideia de maravilha, espanto, admiração, gratidão, e até mesmo adoração (igual a um sentimento que começa quando nós admiramos algo maravilhoso).

Então, ainda segundo o referido blog, “O Temor ao Senhor”, inclui uma esmagadora sensação de glória, dignidade, e a beleza do único verdadeiro D-us.

Alguns dos Sábios Rabinos da antiguidade ligaram a palavra “YIRAT” com a palavra ‘Ver’ - quando nós realmente ‘vemos’ a vida como ela é, nós seremos preenchidos com a admiração e temor sobre a glória de tudo isso. Cada sarça será iluminada com a presença de D-us e o solo onde caminhamos, de repente, será visto como sendo Santo, de acordo com Êxodo 3:2-5.

Nada vai parecer comum, ou trivial ou insignificante. Neste sentido, ‘temor e tremor’ diante a D-us é uma descrição da consciência interna da santidade da vida em si, conforme podemos ler nos textos a seguir:


Adorem ao Senhor com temor; exultem com tremor.” Salmo 2:11


Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas em minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor,” Filipenses 2:12.


O autor Abraham Joshua Heschel escreveu: “Temor é uma intuição para a dignidade de todas as coisas, uma percepção de que as coisas não só são o que são, mas também têm, no entanto remotamente, algo supremo. Temor é um sentido para a transcendência, para o mistério para além de todas as coisas. Isso nos permite perceber no universo as insinuações do Divino, ao sentir a grandeza no comum e no simples: sentir-se na agitação da passagem da quietude do que é eterno. O que nós não podemos compreender por análise, nós nos tornamos conscientes de temor” (Heschel: D-us em busca do Homem, ARX, 2006)

Hershel continua: “O temor ao Senhor é o início da sabedoria” (Salmo 111:10) e observa que tal temor não é o objetivo da sabedoria, mas seu meio. Começamos com temor que nos leva à sabedoria.

Então, o que significa a palavra YIRAT – Temor em Devarim/Dt 10:12? Devemos considerar como medo ou temor? Nós devemos temer a D-us através de uma sensação de que estaremos sendo ameaçado por ELE por causa dos nossos pecados e transgressões, ou devemos considerá-lo no temor na reverência por causa da Sua magnitude?

Esta pergunta é vital, pois dependendo de como responderemos isso afetará como caminharemos nos caminhos de D-us, se vamos amá-lo, e como vamos servi-lo, se, com todo o nosso coração e alma ou não.

Concluindo, ao aprender com a porção Re’eh - “observa” ou “vede”, que o Eterno nos dá a liberdade de escolha sobre qual caminho seguir, devemos ter em mente onde esse caminho nos levará, ou qual será as consequências dele. HaShem coloca para escolhermos o caminho da obediência, cujas consequências são as bençãos, e também coloca o caminho da desobediência, cujas consequências são as maldições ou juízos. Devemos saber escolher, pois quando se entra pelo caminho da desobediência, mesmo que depois nos arrependamos e sejamos perdoados, e retornemos para o caminho da obediência, algumas consequências de nossas escolhas erradas nos acompanharão por muitos anos em nossas vidas. Então, como diz o texto:


Cuidem de seguir todas as leis e regras que ponho hoje diante de vocês.” Dt 11:32


Que o Eterno os abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822836/jewish/Resumo-da-Parash.htm

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/parasha_47-_re.pdf

- https://www.britolam.com.br/parashat-ree

- http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/08/parashat-ree-observem-vejam-parashat.html