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quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Estudo da Parashá Re'e (Observe ou vejam)

 


Estudos da Torá


Parashá nº 47 – Re’eh (Observe ou vejam)

Devarim/Deuteronômio Dt 11:26-16:17

Haftará (Separação) Is 54:11-55:5; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) 1Co 5:9-13.


1 - INTRODUÇÃO

Como normalmente fazemos vamos ao resumo da parashá, para que possamos ter uma visão geral.

Na Parashá Reê, Moshê continua a exortar o povo de Yisrael a seguir os caminhos da Torá, e a confiar em D’us. Moshê começa a colocar as mitsvot em perspectiva, sem ambiguidade, declarando que o povo de Yisrael será abençoado se cumprir a Torá, e amaldiçoado se não o fizer.

Ele começa então uma longa revisão de várias mitsvot, compreendendo a maior parte do livro Devarim. Primeiro discute alguns dos mandamentos que são relevantes à iminente conquista da Terra de Yisrael pelo povo, conclamando-os novamente a remover qualquer vestígio de idolatria.

Após ensinar-lhes certos detalhes sobre a oferenda e o consumo de corbanot (sacrifícios) a Torá ordena que o povo de Yisrael se abstenha de imitar as nações que os circundam. A eles é dito que permaneçam atentos aos falsos profetas e outras pessoas que poderiam afastá-los de D’us, e não aprendem as leis de uma cidade que tornou-se tão corrupta que a maioria de seus cidadãos sucumbiu à idolatria, recebendo por isso a pena de morte.

A Torá faz uma revisão sobre quais animais são casher, permitidos para consumo, e quais não o são, seguida pelas leis de ma’aser sheni – o segundo "dízimo", que é consumido por seus proprietários, mas apenas na cidade de Jerusalém.

Após ordenar que todas as dívidas sejam canceladas ao final de cada sétimo ano (Shemitah), e que devemos ser calorosos e caridosos com nossos irmãos, a Torá repete as leis relativas ao servo judeu. Ele deve ser libertado incondicionalmente no sétimo ano e coberto de presentes generosos por seu antigo amo.

A Parashat Reê conclui com uma breve descrição das três festas de peregrinação – Pêssach, Shavuot e Sucot – quando todos deveriam ir a Jerusalém e ao Templo com oferendas, para celebrar sua prosperidade.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

A porção dessa semana é “Reê”, que significa “observa” ou “vede”. Ela é tão profunda quanto a palavra “shemá” que fala de ouvir e obedecer. Perceba que ela está em modo imperativo. Ela tem a ver com uma percepção mais profunda, uma visão interior, com os “olhos” do coração. Veja o texto de Devarim (Dt) 11:26-28:


Observa(reê) que, hoje, eu ponho diante de vós a bênção e a maldição: a bênção, quando cumprirdes os mandamentos do Eterno, vosso Elohim, que hoje vos ordeno; a maldição, se não cumprirdes os mandamentos do Eterno, vosso Elohim, mas vos desviardes do caminho que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes.”


Vemos o Eterno apresentando dua opções para o homem, a fim de que ele tenha a oportunidade de escolher. Para que ele possa usufruir do livre arbítrio. O homem pode escolher viver desligado ou ligado ao Eterno. Por isso, essa parashá inicia com a palavra “Reê” ou seja, “observa”. O que temos que observar é as opções que nos são colocadas à frente, e tomar a decisão correta. Se o homem tivesse sido criado sem o poder de escolha seria um autômato, como uma máquina, porém, cada um de nós temos o poder ou a liberdade de escolher. Ninguém é obrigado a obedecer ou a pecar (desobedecer), porque o Eterno nos criou para sermos pessoas que podem escolher servir de livre e espontânea vontade.

O homem pode optar pelo caminho da transgressão, do pecado, no entanto essa liberdade não o isenta da responsabilidade e das consequências de suas escolhas. A indicação da liberdade de opção que o Eterno disponibiliza ao ser humano em escolher o bem ou o mal, que devido às consequências se tornarão em bênçãos ou em maldições. Veja o texto:


Reê anochi noten lifneichem haiom bracha ukelala

Veja que ponho diante de vós, hoje, a benção e a maldição” Dt 30: 19.


Segundo o site Britolam, as “brachot” seriam consequências da obediência à Torá e a maldição, o efeito e resultado da desobediência e rebeldia à Torá, quando o homem se desvia dos caminhos e vontade do Eterno.

Podemos então notar, que esta parashá comprova o livre arbítrio que HaShem deu ao ser humano, notamos também que indica o caminho da obediência para que se possa alcançar o êxito e as “brachot” (bênçãos).

O livre arbítrio deve ser visto como uma das dádivas preciosas que o ser humano recebeu. Permite o homem viver sua liberdade e fazer sua própria opção de vida. HaShem disponibiliza a vida e não impede que o ser humano tenha liberdade de escolha, entretanto, o Eterno como um Pai zeloso e amoroso indica e instrui o caminho da vida, da excelência e do melhor para seus filhos. Assim sendo, a Torá no mostra que o Eterno não criou uma máquina programada, mas um ser com capacidade de criar sistemas que tenham sua própria autonomia e competência para administrar sua própria vida e estar apto a tomar suas próprias decisões, arcando com as consequências dela, sejam boas ou más.

Pelo estudo do texto, podemos ver também que as bençãos eram pronunciadas por aqueles que estavam no monte Guerizim, enquanto as maldições pelas pessoas que estavam no monte Ebal. Agora perceba uma coisa, o monte Ebal, onde se pronunciaram as maldições, era mais alto que monte Guerizim. Isso é uma relação interessante, pois o topo do monte, representa juízo sobre a pessoa a qual cai a maldição. Ou seja, a maldição é aplicada após uma jornada mais longa do que a jornada que se percorre para subir o monte Guerizim. Isso quer dizer que, possivelmente, essa relação demonstra que o Eterno espera até ao último momento para que o ímpio se arrependa. O Eterno dá-lhe o máximo de tempo possível para que possa vir a se arrepender, mas se isso não ocorrer, ao final de sua jornada, a maldição ou juízo recairá sobre ele.

A porção “Reê” ou “ver” implica em compreender não só o aspecto da escolha mas o que está revelado, o caminho correto para a vida, assim também como crer e ter consciência de que, esta bem-aventurança procede de Deus.

Outra coisa, é que consiste ainda em considerar sobre as consequências desastrosas, conforme já mencionamos antes, da desobediência, como também as recompensas que o cumprimento dos mandamentos proporcionam, para que através delas o homem possa ter uma vida plena e abundante e servir melhor ao Eterno.

Yeshua fala sobre estes dois caminhos, da obediência e da rebeldia e suas consequências “Eu sou a porta, se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância;” (Yochanan/João 10:9-10). O site britolam.com.br no estudo dessa parashá diz que, estes são como dois caminhos alegóricos que se localizam no meio exterior, ao longo de toda a extensão da vida humana, onde obrigatoriamente se escolhe uma opção em detrimento da outra em meio a constante luta interior, na submissão do ser à vontade Divina.

Em nossas vidas muitas destas opções que surgem diariamente são de fácil escolha, ou seja, podemos prever suas consequências benéficas ou maléficas com muita clareza e evidência, sem haver uma tensão, um conflito interno, pois trata-se de uma escolha que condiz com o nosso caráter ou com nossa visão de mundo, como por exemplo, a escolha entre roubar ou não roubar. Contudo algumas escolhas não são tão simples assim, e dessa forma exigem certo discernimento para saber qual é o caminho correto a seguir, a fim de estar de acordo com a justiça de D’us. Isto portanto, requer o conhecimento das Escrituras, como também um relacionamento mais íntimo com o Eterno, com o exercício das disciplinas toraístas que constam na santidade, na adoração e tefilá (oração), no estudo da Torá, e comunhão constante com o povo de D’us.

Vede que ponho diante de vós, hoje, a bênção e a maldição.” Dt 11:26


O comentário da Torá da Editora Sêfer no início dessa porção, diz que os dois primeiros versos dessa parashá e mais adiante na parashá Nitsavim, em Dt 30:19, sintetizam muito bem a ideia do livre arbítrio e da responsabilidade moral do homem, conforme mencionamos acima. O comentário continua dizendo que a Torá, que é a fonte da misericórdia, mostra ao povo os dois caminhos: o do bem e o do mal, pois é difícil para o homem escolher entre eles pelo fato de que um destes caminhos parece fácil, claro e confortável para o viajante; porém, à medida que avança, percebe que a via se torna tortuosa, com obstáculos, obscura e triste. O outro, entretanto, de acordo com o referido comentário, que aparenta ser acidentado, é na realidade o mais seguro, aquele que conduz ao objetivo supremo, ao cumprimento do destino do homem sobre a terra. As aparências enganam muitas vezes, por isso a Torá adverte e nos aconselha a escolher o caminho verdadeiro, que conduz à bênção e à vida.

Com tudo isso, essa porção compreende em retornar à pureza da essência da Torá rompendo com as tradições que impedem a percepção e o entendimento da vontade Divina expressa nas Escrituras. Veja que Yeshua fala sobre isso no seguinte texto:


Vocês negligenciam os mandamentos de D’us e se apegam às tradições dos homens. E disse-lhes: Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira para pôr de lado os mandamentos de D’us, a fim de obedecer às suas tradições!” Marcos 7:8 e 9.


Assim, é muito importante e urgente que retornemos a observação das prescrições da Torá, considerando que a Palavra de Deus é imutável, e nos garante tomar a opção certa, não para entrada na Aliança, que é concedida pela misericórdia ou graça Divina, mediante a vida justa de Yeshua HaMashiach, mas para permanecer nela, em santidade constante, como o próprio Yeshua disse em Mt 5:18-19.


Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus.”


O irmão Metushelach Cohen, autor do Blog Judeu Autônomo, sobre esta parashá, diz que essa porção nos leva refletir sobre como podemos obedecer alguns mandamentos cujos significados vão muito além de nosso entendimento, assim sendo os obedecemos não por entendermo-los mas por temor ao Eterno. Mas o que significa ter Temor ao Senhor?

Ele continua com o seguinte questionamento: Será que significa que devemos ter medo da desaprovação de D-us sobre nós? Deveremos viver no medo sobre uma perspectiva de um futuro julgamento pelos nossos pecados?

A fim de considerar tais questões, vamos refletir sobre um versículo da Torah:


Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti? Não é que temas ao Senhor, teu D-us, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor, teu D-us, de todo o teu coração e de toda a tua alma” Devarim/Dt 10:12


Nesta declaração sumária do que D-us exige de nós, vemos que o Temor ao Senhor - Yirat HaShem: é mencionado em primeiro lugar. Assim, temos de aprender a TEMER corretamente ao Senhor, e só então poderemos ser capazes de andar em Seus caminhos, para amá-lo, e para servi-lo com todo nosso coração e alma. Mais uma vez, o requisito de TEMER ao Senhor teu D-us é colocado em primeiro na lista.

Na verdade, o Temor ao Senhor é dito ser o princípio da sabedoria conforme o Salmo abaixo:


O Temor ao SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre.” Tehilim/Salmos 111:10


As Escrituras claramente declaram que o Temor ao Eterno leva a vida, conforme vemos no texto abaixo:


O Temor ao Senhor conduz à vida; aquele que o tem ficará satisfeito, emal nenhum o visitará.” Mishlei/Provérbios 19:23


Ainda segundo o Blog do Judeu Autônomo, a palavra hebraica “Yirat” יראת que foi traduzida em muitas versões da Bíblia é “temor”, mas “Yirat” tem um significado muito maior nas Escrituras Sagradas. Às vezes refere-se ao medo que nós sentimos em antecipação de algum perigo ou de sofrimento, mas também pode indicar admiração ou reverência. Neste último sentido, a palavra “Yirat” inclui a ideia de maravilha, espanto, admiração, gratidão, e até mesmo adoração (igual a um sentimento que começa quando nós admiramos algo maravilhoso).

Então, ainda segundo o referido blog, “O Temor ao Senhor”, inclui uma esmagadora sensação de glória, dignidade, e a beleza do único verdadeiro D-us.

Alguns dos Sábios Rabinos da antiguidade ligaram a palavra “YIRAT” com a palavra ‘Ver’ - quando nós realmente ‘vemos’ a vida como ela é, nós seremos preenchidos com a admiração e temor sobre a glória de tudo isso. Cada sarça será iluminada com a presença de D-us e o solo onde caminhamos, de repente, será visto como sendo Santo, de acordo com Êxodo 3:2-5.

Nada vai parecer comum, ou trivial ou insignificante. Neste sentido, ‘temor e tremor’ diante a D-us é uma descrição da consciência interna da santidade da vida em si, conforme podemos ler nos textos a seguir:


Adorem ao Senhor com temor; exultem com tremor.” Salmo 2:11


Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas em minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor,” Filipenses 2:12.


O autor Abraham Joshua Heschel escreveu: “Temor é uma intuição para a dignidade de todas as coisas, uma percepção de que as coisas não só são o que são, mas também têm, no entanto remotamente, algo supremo. Temor é um sentido para a transcendência, para o mistério para além de todas as coisas. Isso nos permite perceber no universo as insinuações do Divino, ao sentir a grandeza no comum e no simples: sentir-se na agitação da passagem da quietude do que é eterno. O que nós não podemos compreender por análise, nós nos tornamos conscientes de temor” (Heschel: D-us em busca do Homem, ARX, 2006)

Hershel continua: “O temor ao Senhor é o início da sabedoria” (Salmo 111:10) e observa que tal temor não é o objetivo da sabedoria, mas seu meio. Começamos com temor que nos leva à sabedoria.

Então, o que significa a palavra YIRAT – Temor em Devarim/Dt 10:12? Devemos considerar como medo ou temor? Nós devemos temer a D-us através de uma sensação de que estaremos sendo ameaçado por ELE por causa dos nossos pecados e transgressões, ou devemos considerá-lo no temor na reverência por causa da Sua magnitude?

Esta pergunta é vital, pois dependendo de como responderemos isso afetará como caminharemos nos caminhos de D-us, se vamos amá-lo, e como vamos servi-lo, se, com todo o nosso coração e alma ou não.

Concluindo, ao aprender com a porção Re’eh - “observa” ou “vede”, que o Eterno nos dá a liberdade de escolha sobre qual caminho seguir, devemos ter em mente onde esse caminho nos levará, ou qual será as consequências dele. HaShem coloca para escolhermos o caminho da obediência, cujas consequências são as bençãos, e também coloca o caminho da desobediência, cujas consequências são as maldições ou juízos. Devemos saber escolher, pois quando se entra pelo caminho da desobediência, mesmo que depois nos arrependamos e sejamos perdoados, e retornemos para o caminho da obediência, algumas consequências de nossas escolhas erradas nos acompanharão por muitos anos em nossas vidas. Então, como diz o texto:


Cuidem de seguir todas as leis e regras que ponho hoje diante de vocês.” Dt 11:32


Que o Eterno os abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822836/jewish/Resumo-da-Parash.htm

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/parasha_47-_re.pdf

- https://www.britolam.com.br/parashat-ree

- http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/08/parashat-ree-observem-vejam-parashat.html

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