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sexta-feira, 16 de maio de 2025

Estudo da Parashá Emor - Sustentados para Sustentar: Os Ensinos da Mesa Sagrada.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 31 – Emor (Fale)

Vayikra/Levítico 21:1-24:23

Haftará (separação) Ez 44:15-31 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 5:38-42; Gl 3:26-29


Tema: Sustentados para Sustentar: Os Ensinos da Mesa Sagrada.


Imagine uma mesa pura de ouro, preparada não pela capacidade humana, mas por ordem direta do Eterno. Sobre ela, doze pães dispostos com precisão, representando cada tribo de Yisra’el. Eles não envelhecem, não se corrompem, não perdem seu aroma. A cada semana, são renovados. A cada Shabat, são lembrança viva de um povo que foi separado, sustentado e colocado diante da presença do Eterno.

Agora, imagine que essa mesa não está apenas no passado do Mishkan. Ela fala conosco hoje. Ela aponta para algo maior. Para alguém que sustentou discípulos com ensino puro. Para uma missão viva, que continua geração após geração.

Neste estudo, não nos limitaremos ao ritual. Vamos mergulhar no propósito eterno por trás da mesa e dos pães. Veremos como Yeshua, o servo obediente do Eterno, preparou seus talmidim como pães vivos, colocados diante da face de HaShem, para alimentar um povo sedento, não de pão físico, mas da Palavra viva.

Este não é um convite a apenas aprender, mas a nos tornarmos parte viva desse propósito: ser pão sobre a mesa do Rei, sustentados por Sua Torá, alimentando outros com justiça, em santidade e firme confiança. Se teu coração tem fome da presença do Eterno, então te convido: aproxima-te da mesa, e vamos juntos partir o pão.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Nesta semana nos debruçamos sobre a porção Emor, que é uma parashá rica e profundamente espiritual, que revela o cuidado do Eterno com a santidade, não apenas do espaço ou do altar, mas dos homens que servem diante d'Ele e de todo o povo de Yisra’el.

O Eterno ordena a Moshê que diga aos filhos de Aharon — os cohanim — que devem manter-se afastados da impureza causada pela morte. Não por orgulho ou superioridade, mas porque foram separados para um serviço sagrado. São instruídos a não se contaminar com mortos, exceto por parentes próximos.

O Cohen Gadol, o sumo sacerdote, tem ainda maiores restrições. Ele não pode nem mesmo tocar em seus próprios pais se morrerem. Por quê? Porque ele carrega o shemen hamishchá (óleo da unção), o sinal da consagração que o liga diretamente ao serviço mais sagrado. Isso nos mostra que quanto mais próximos do altar, maior a responsabilidade de pureza e de consagração. Assim também todo aquele que deseja se achegar ao Eterno deve buscar pureza em seus caminhos.

O Eterno especifica que não se pode oferecer qualquer coisa diante d’Ele: animais defeituosos não são aceitos, nem podem servir no altar os cohanim que tiverem imperfeições físicas. Isso não é por desprezo, mas porque tudo que é trazido ao Eterno deve refletir integridade, ordem e respeito.

Um dos momentos mais sublimes da parashá é quando o Eterno proclama os Seus tempos designados — moedêi HaShem. Essas festas não são invenções humanas, nem tradições culturais. São convocações sagradas determinadas pelo Eterno para todos os que O amam. Ele disse: "São estas as festas fixadas do Eterno, que proclamareis como santas convocações".

A parashá também fala da manutenção perpétua das lâmpadas no Mishkan, usando azeite puro de oliva, e dos doze pães da proposição, que simbolizam as doze tribos de Yisra’el diante do Eterno, continuamente lembradas

Por fim, há o episódio do blasfemador, filho de uma mulher israelita e um egípcio. Ele blasfema contra o Nome e é julgado conforme os mandamentos. O Eterno declara que não importa se é nativo ou estrangeiro, há uma só Torá para todos: “Uma mesma instrução haverá para o estrangeiro e para o natural da terra


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Vamos então meditar com mais atenção sobre uma das seções finais da Parashá Emor, que trata das luzes perpétuas e dos doze pães da proposição, ambos colocados diante do Eterno no Mishkan. Veremos o apontamento profético para Yeshua e seus talmidim, com um foco principal para a mesa dos pães da proposição e sua indicação da missão dos seguidores do messias.


1. A Luz Perpétua ou Ner Tamid

Ordena aos filhos de Yisra’el que te tragam azeite puro de olivas batidas, para a lâmpada, para manter uma chama contínua. Fora do véu do testemunho, na tenda da reunião, Aharon a manterá em ordem desde a tarde até a manhã diante do Eterno, continuamente; estatuto perpétuo para vossas gerações. Vayicrá 24:2-3

Essa luz representa a presença contínua do Eterno entre o povo, através da Torá. Era alimentada por azeite puro — katit la'or — extraído da primeira prensa da azeitona, o mais refinado. Ela não era uma luz qualquer. Era a chama que não se apagava, sinal da vigilância constante e da comunhão perpétua entre Yisra’el e HaShem.

Nos escritos dos profetas, essa luz é refletida em muitas visões, como em Zekharyah 4, onde ele vê um candelabro de ouro com sete lâmpadas alimentadas por azeite que flui direto de duas oliveiras. Isso é uma imagem poderosa do contínuo suprimento do Eterno por meio de Seus ungidos — o rei e o cohen. Eles apontam para o messias e seus seguidores, judeus fiéis que vivem de acordo com a vontade do Eterno e trabalham em prol do resgate dos remanescentes.


Não por força nem por poder, mas pelo Meu Ruach, diz HaShem Tsevaot. Zekharyah 4:6


Este texto ecoa a ideia de que a luz verdadeira não vem do homem, mas da presença do Eterno sustentando Seu povo com justiça e verdade, levada às casas de Yisrael e Yehudah por todos que se aproximam verdadeiramente do Eterno, vivendo uma vida de justiça, que é a obediência.

Os sábios do povo de Yisrael também entenderam que a ner tamid simboliza a Torá, cuja luz guia os caminhos do homem, conforme lemos no TaNaK:


Porque a mitzvá é lâmpada, e a Torá é luz… Mishlei 6:23


Também viram nisso o papel do Mashiach, o ungido, como portador da luz da verdade. Como está em Yeshayahu 42:6-7:


Eu, HaShem, te chamei com justiça o segurei pela mão, o modelei e fiz de você uma aliança para o povo, para ser a luz dos goyim, a fim de que possa abrir os olhos dos cegos, libertar os prisioneiros do confinamento, os que vivem em trevas no calabouço.


Essa luz, portanto, prefigura a vinda de um servo fiel, que mantém a chama do Eterno acesa entre o povo — não com palavras vazias, mas com vida justa. Mas não apenas ele, os seus seguidores também são essa luz, pois a exemplo de seu mestre, vivem uma vida de justiça, ou seja, de obediência aos mandamentos do Eterno, indicando o caminho para outros.

Yeshua, o filho de Miriam e Yosef, o messias, é mostrado nos Escritos Nazarenos como aquele que viveu essa luz. Não apenas falou dela, mas andou nela. Como ele mesmo disse:


Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. Yochanan 9:5


Vós sois a luz do mundo. A cidade construída sobre o monte não pode ser escondida. Da mesma forma, quando alguém acende uma candeia, não a cobre com uma vasilha, mas a coloca no suporte para iluminar a todos os que estão na casa. Assim, que a vossa luz brilhe diante das pessoas, para que elas também possam ver as boas coisas que fazem e louvem ao Pai celestial de vocês. Matityahu 5:14-16


Yeshua não reivindicava uma luz sua, mas refletia a luz do Eterno, a justiça de HaShem revelada em sua Torá, assim como a menoráh que só brilhava porque recebia azeite puro. Esse entendimento nos mostra claramente que as profecias e ensinos ocultos nas Escrituras são para os que buscam com sinceridade. Agora vamos aprofundar mais um pouco com os apontamentos da mesa e dos pães da proposição.


2. A Mesa e os Pães da Proposição – Lechem Hapanim

Tomarás da flor da farinha e dela cozerás doze pães; cada pão será de duas décimas de efa. E os porás em duas fileiras, seis em cada fileira, sobre a mesa pura diante de HaShem. E sobre cada fileira porás incenso puro, que será para o pão como memorial, oferta queimada a HaShem. Em cada Shabat, continuamente, se porão em ordem perante HaShem, recebidos dos filhos de Yisra’el por aliança perpétua. E serão de Aharon e de seus filhos, e os comerão em lugar santo; porque são coisa santíssima para ele, das ofertas queimadas a HaShem; estatuto perpétuo será. Vayicrá 24:5-9


Esses doze pães representavam as doze tribos de Yisra’el, postas diante do Eterno semanalmente, como um memorial contínuo da aliança. Embora fossem comidos pelos cohanim a cada Shabat, estavam sempre expostos durante a semana, simbolizando a constante intercessão e lembrança do povo diante de HaShem.

Os sábios do Talmud, em Menachot 96b, ensinavam que esses pães não ficavam duros nem mofavam, mesmo depois de sete dias, era um milagre que mostrava que na presença do Eterno não há decadência, mas permanência. Da mesma forma acontece com quem vive diante da presença, a corrupção deste mundo não os deturpa.

Rashi comenta que o arranjo dos pães representava shalom bayit, a harmonia entre as tribos, e também a suficiência do povo sustentado pela mão do Eterno. Assim, cada semana, as tribos eram “renovadas” diante de HaShem.

Veja o que diz o profeta Yeshayahu, que nos conecta perfeitamente ao que estamos tratando:

Ah, vós, todos os que tendes sede, vinde às águas; e vós que não tendes prata, vinde, comprai e comei; sim, vinde, comprai sem prata e sem preço, vinho e leite. Por que gastais a prata naquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. Yeshayahu 55:1-2


O profeta fala de pão sem preço, dado gratuitamente àqueles que têm sede de justiça. Esse pão que sustenta não é físico apenas, mas simboliza o ensino puro da Torá, que alimenta a alma, ou seja, a vida. Mas isso precisa ser levado. E quem faz isso? Continue acompanhando!

Nos Escritos Nazarenos, Yeshua é visto alimentando multidões com pães, não como milagre apenas, mas como sinal de que o Eterno provê aos que O buscam com confiança firme.


Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Eterno. Devarim 8:3 e Matityahu 4:4


Yeshua também disse:


Eu sou o pão da vida... Yochanan 6:35

Ele não dizia isso como sendo ele o alimento em si, mas como aquele que trazia o verdadeiro alimento: a Torá vivida com integridade. Estava mostrando que era o exemplo a ser seguido.

Vamos adentrar mais um pouco no assunto, continue acompanhando aqui, e reflitamos no que é proposição, e o apontamento para Yeshua e seus seguidores.


3. A Mesa e os Pães como Sombra do Propósito do Eterno

No dicionário on line, “proposição” é um substantivo feminino que traz dois significados comuns. O primeiro é o ato ou efeito de propor. E o segundo, é aquilo que se propõe; uma proposta ou sugestão. No contexto original, Lechem Hapanim, literalmente “pães das faces” ou “pães da presença”, não são uma proposição no sentido moderno, mas sim algo colocado diante da face do Eterno, ou seja, na Sua presença contínua.


E os porás em duas fileiras, seis em cada fileira, sobre a mesa pura diante do Eterno. Vayicrá 24:6

Estes pães representavam todas as doze tribos de Yisra’el, dispostas diante do Eterno como um sinal perpétuo da aliança. Não era apenas alimento, era memorial, intercessão, e presença contínua do povo diante de HaShem.
Entretanto, observe alguns detalhes importantes que devem ser compreendidos. A mesa sustentava os doze pães, da mesma forma que o Eterno sustenta o povo de Yisra’el e mantém as tribos diante de Si. A mesa não é destacada como objeto central, mas sem ela os pães não teriam onde repousar. É como o que está escrito:


Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos… Tehilim 23:5


Essa mesa é suporte, provisão, confiança, e acolhimento do Eterno para aqueles que Nele confiam. E por isso ela é sombra de algo maior, ela aponta para Yeshua, assim como os pães apontam para os talmidim. Vejamos como se dão os apontamentos.

Yeshua, em seu tempo de ministério, sustentou e ensinou os doze talmidim. Ele os alimentou com a Torá, deu-lhes direção, e preparou-os para se tornarem representantes das tribos, não segundo genealogia, mas segundo a função profética e missão.

Da mesma forma que os pães estavam sempre diante da face do Eterno apoiados pela mesa, os talmidim também estiveram diante do Eterno apoiados pelos ensinos de Yeshua, que os moldou conforme o propósito do Eterno. Como está escrito:


Vós que tendes permanecido comigo nas minhas provações… Lucas 22:28


E mais:


Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos assenteis em tronos, julgando as doze tribos de Yisra’el. Luca 22:29-30


Esse texto mostra com clareza que o Eterno estabelece Yeshua, a mesa, como aquele que coloca os talmidim na função dos pães, representando o povo diante do Eterno, comissionados para levar o ensino da Torá ampliada às ovelhas perdidas da casa de Yisrael.


4. A Missão dos Talmidim: Alimentar e Resgatar

Yeshua disse:

Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Yisra’el. Matityahu 15:24


E também:


Shalom Aleikhem! Yeshua repetiu. Como o pai me enviou, eu também os envio. Yochanan 20:21


Aqueles que estavam com Ele à mesa de Pessach foram posteriormente, enviados com a missão de representar as tribos, alimentar os famintos com a Torá do Eterno, e restaurar a casa de Yisra’el. Eles são os "pães", pois levam o sustento espiritual que provém do ensino de Yeshua, que por sua vez provém da Torá.

Assim como os pães eram trocados toda semana e comidos pelos cohanim em santidade, assim também os talmidim foram constantemente renovados pela presença do Eterno através dos ensinos de Yeshua, que os alimentava com a sabedoria do Eterno. Eles não foram apenas guardadores de conhecimento, mas instrumentos vivos. Essa deve ser também nossa prática.

E como está em Yeshayahu:


Então o Redentor virá a Tzion, àqueles em Yaakov que abandonam a rebelião, assim diz o Eterno. Quanto a mim, diz do Eterno, esta é a minha aliança com eles: meu ruach, que repousa sobre você, e minhas palavras, postas em sua boca, não se afastarão de seus lábios, ou dos lábios de seus filhos, ou dos lábios dos filhos de seus filhos, para sempre, diz o Eterno. Yeshayahu 59:20-21


O último sêder de Pessach junto com seus talmidim, registrado nos Escritos Nazarenos é conhecido como “seudat haMelech”, uma refeição com o rei, apontam para o que ocorrerá no futuro. Yeshua parte o pão, e ao fazê-lo declara que aquele momento não é apenas memória, mas envio. Ele está dizendo: “assim como estes pães estão sobre a mesa, vós estareis diante do Eterno para cumprir Sua missão.”


Fazei isto em memória de mim. Luca 22:19


Isto não é a instituição de uma nova “ceia”, nem ele fez isso como ritual, mas como continuação do seu trabalho. Estava passando autoridade para eles, e demonstrou isso, quando lavou seus pés, conforme lemos em Jo 13:1-17. Hoje nós, como seus talmidim, como seguidores de seus ensinos, somos esses pães na presença do Eterno.

Concluindo nosso estudo, vemos que os pães da presença, sustentados pela mesa pura, apontam para a presença constante das tribos diante do Eterno, o sustento que vem da Torá, a necessidade de renovação constante, santidade e um modelo para os discípulos de Yeshua, representando as tribos, sustentados por ele como mesa, alimentados com a instrução do Eterno.

Yeshua não substituiu os pães, mas os preparou para estarem diante do Eterno, como representantes do povo, enviados para resgatar e alimentar as ovelhas com justiça.


Vede, dias vêm, diz HaShem, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras de HaShem. Amos 8:11

A título de fixação, relembro que a missão dos talmidim é para todos os que seguem o exemplo de Yeshua, não está limitada àqueles do primeiro século. Assim como os pães eram renovados semana a semana, todo seguidor da Torá pode ser um desses pães, sustentado pela mesa do ensinamento puro, o ensino de Torá de Yeshua.
Que sejamos como esses pães, colocados diante da face do Eterno, renovados toda semana, alimentando outros com a luz da Torá.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef


quinta-feira, 8 de maio de 2025

Estudo da Parashá Acharei Mot e Kedoshim - Santidade, o caminho prático.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 29 – Acharei Mot (Depois da Morte)

Vayikra/Levítico 16:1-18:30

Haftará (separação) Ez 22:1-19 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Rm 3:19-26 e 9:30-10:13

Parashá nº 28 – Kedoshim (Povo Santo)

Vayikra/Levítico 19:1-20-27

Haftará (separação) Am 9:7-15 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 5:33-48.


Tema: Santidade, o caminho prático.


Com temor e reverência diante das Palavras do Eterno, e com coração disposto a ouvir e obedecer, na parashá dessa semana nos aproximamos de um dos chamados ou mandamentos mais profundos e transformadores das Escrituras: “Santos sereis, porque Eu sou santo” (Vayicrá 19:2). Este chamado não é uma proposta teórica, nem um ideal distante reservado aos separados por título ou posição; é um convite direto do Criador para todo aquele que deseja andar em Seus caminhos. Neste estudo, buscamos compreender como a santidade é vivida — não apenas declarada — e como ela se manifesta em obediência prática, justiça no cotidiano, amor ao próximo e separação do mal. Através da Torá, dos Profetas, dos ensinamentos de Yeshua e dos seus enviados, e mesmo nas palavras refletidas por alguns dos sábios, vemos um fio contínuo: a santidade é uma expressão viva da confiança firme e da aliança com o Eterno. Ela não se resume a práticas externas, mas se revela no caráter, nas escolhas, e na forma como tratamos o próximo. Este pequeno estudo propõe-se a ampliar e aprofundar esse entendimento, chamando todos a retornarem à essência da santidade conforme as Escrituras.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Após a morte dos filhos de Aharon (Nadav e Avihu), o Eterno ordena como o Sumo Sacerdote deve entrar no Lugar Santíssimo – somente uma vez ao ano, em Yom HaKippurim, com sacrifícios específicos e pureza extrema. Este é o centro do serviço de expiação, mostrando que a aproximação ao Eterno exige temor, ordem e purificação. E estabelece que todo sangue deve ser derramado perante o altar e proíbe o consumo de sangue – “porque a vida da carne está no sangue”, mostrando que a vida pertence ao Eterno. A Torá apresenta os mandamentos sobre pureza moral, proibindo práticas das nações, especialmente imoralidades sexuais. O povo de Yisrael é chamado a diferenciar-se das nações, vivendo conforme a santidade do Eterno.

O Eterno declara: “Kedoshim tihyu – Santos sereis, porque Eu, HaShem, sou santo” (Vayicrá 19:2). Esta parashá apresenta instruções sociais, éticas e rituais que formam o coração da vida em santidade:

  • Respeitar pai e mãe;

  • Guardar os Shabatot;

  • Não roubar, não mentir, não oprimir o próximo;

  • Julgar com justiça;

  • Deixar parte da colheita para os pobres e estrangeiros

  • Não guardar ódio, nem vingar-se;

  • Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Essa santidade é vivida no dia a dia – na honestidade, na justiça e na separação de costumes das nações.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

A santidade como prática diária de obediência ao Eterno é um dos temas mais repetidos e aprofundados em toda a Torá, nos escritos dos profetas, e também nos ensinos de Yeshua e dos seus enviados. Não se trata de um estado místico reservado a poucos, nem de uma ideia abstrata distante da realidade do ser humano. Ela é, pela Torá, uma convocação direta, possível e necessária:


Santos sereis, porque Eu, HaShem, vosso Elohim, sou santo” Vayicrá 19:2

Essa declaração não é poética, é instrucional. O Eterno não nos chama para algo inatingível, mas nos convida a andar com Ele de maneira justa, pura e reta — vivendo os Seus mandamentos com integridade em cada aspecto da vida.


1. A santidade vivida no cotidiano

Na Torá, a santidade é demonstrada através de ações concretas no dia a dia, como deixar as pontas da colheita para o necessitado, justiça nos negócios, julgar com justiça, guardar o Shabat, honrar os pais, não guardar ódio no coração, não difamar, e amar o próximo como a si mesmo. São ações e decisões tomadas em conformidade com a instrução dada pelo Eterno por meio de Sua Palavra, Torá. O Eterno espera santidade de seu povo.


Eu sou o Eterno que os tirou da terra do Egito para ser o seu Elohim; por isso, sejam santos, porque eu sou santo. Lv 11:45


Consagrem-se, porém, e sejam santos, porque eu sou o Eterno, o Elohim de vocês. Lv 20:7


Vocês serão santos para mim, porque eu, o Eterno, sou santo, e os separei dentre os povos para serem meus. Lv 20:26


Ao estudarmos os textos bíblicos, não apenas os mencionados aqui, percebemos claramente que cada uma dessas ações concretas revelam que a verdadeira separação ao Eterno não está em rituais vazios, em meras liturgias legalistas, nem muito menos em cultos desprovidos de verdade, mas em um viver alinhado com a Sua vontade. Conforme Yeshua falou a uma certa mulher samaritana:


No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Jo 4:23


Yeshua estava ensinando sobre santidade e obediência prática, acima de liturgias criadas por homens. A santidade não é isolamento do mundo, mas transformação do mundo através da obediência. Santidade é obediência contínua e prática aos mandamentos do Eterno, principalmente, seguindo o exemplo do messias Yeshua. Vamos falar mais sobre isso no próximo tópico.


2. Santidade além do ritual: a expressão da justiça

Os profetas foram vocacionados pelo Eterno para despertar a consciência adormecida do povo. Eles constantemente denunciaram o povo por pensarem que a santidade se resumia a rituais e sacrifícios, enquanto negligenciavam o juízo, a misericórdia e a fidelidade. Eles não aboliram a Torá, mas chamaram o povo a lembrar do que ela realmente exige. Yeshayahu, por exemplo, denuncia os que continuam oferecendo sacrifícios enquanto praticam a injustiça, observe o texto:


"Para que me oferecem tantos sacrifícios? ", pergunta o Senhor. Para mim, chega de holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos gordos; não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, de cordeiros e de bodes! Quando lhes pediu que viessem à minha presença, quem lhes pediu que pusessem os pés em meus átrios? Parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembléias cheias de iniqüidade. Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais! Quando vocês estenderem as mãos em oração, esconderei de vocês os meus olhos; mesmo que multipliquem as suas orações, não as escutarei! As suas mãos estão cheias de sangue! Lavem-se! Limpem-se! Removam suas más obras para longe da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva. Is 1:11-17


A santidade, para ele, não se manifesta no incenso, mas na limpeza das mãos sujas de sangue, na defesa dos órfãos e das viúvas. O Eterno não estava dizendo que não queria sacrifícios em cumprimento à sua palavra, mas que a vida dos ofertantes estivessem santificadas, que não estivessem agindo com hipocrisia. O profeta Mikhah resume toda a Torá em três palavras: justiça, misericórdia e humildade.


Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom, e o que o Eterno exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu D’us. Mq 6:8


Ele não reduz os mandamentos, mas mostra seu coração, demonstra que HaShem espera que façamos o que é correto, simplesmente porque é correto e por amor a ele. O que é correto está definido em suas palavras. Observe também o que diz Yirmeyahu


Não confiem em palavras enganosas: "Este é o templo do Senhor, o templo do Senhor, o templo do Senhor! " Mas se vocês realmente corrigirem a sua conduta e as suas ações, e se, de fato, tratarem uns aos outros com justiça, se não oprimirem o estrangeiro, o órfão e a viúva e não derramarem sangue inocente neste lugar, e se vocês não seguirem outros deuses para a sua própria ruína, então eu os farei habitar neste lugar, na terra que dei aos seus antepassados desde a antigüidade e para sempre. Jr 7:4-7


Vimos assim, que os profetas reforçam o que a Torá já ordenava: a santidade exige vida reta diante do Eterno e do próximo. Ser santo, portanto, não é fazer parte de um grupo exclusivo, mas viver de forma que o mundo veja, em cada ação nossa, o reflexo do Eterno.


3. Restaurando a santidade real e interior

Mais uma vez afirmo que Yeshua nunca contradisse a Torá. Pelo contrário, ele a levou à sua profundidade mais pura. Demonstrando em suas atitudes que sua obediência é na prática diária. Ele desmascarou o engano de viver a aparência do mandamento sem guardar sua essência. Ao dizer “não penseis que vim abolir a Torá”, observe:


"Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Torá a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus. Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus". Mt 5:17-20


Ele reafirma que a verdadeira santidade requer mais do que rituais e legalismos: ela exige coerência interior, justiça, misericórdia e firme confiança no Eterno.


Ai de vós, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas desprezais os preceitos mais importantes da Torá: justiça, misericórdia e confiança. Vocês devem fazer estas coisas, sem omitir aquelas. Mt 23:23


Veja ainda Yochanan 17:17:


Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.


Yeshua afirma que a santidade vem pela obediência à Palavra do Eterno. Quando ensina sobre perdoar, sobre reconciliar-se antes de trazer uma oferta, sobre tratar com honra até mesmo os inimigos, Yeshua está restaurando o que sempre esteve na Torá: que a obediência ao Eterno passa pelo modo como tratamos uns aos outros.


4. Santidade como identidade e missão

Kefa, que viveu com Yeshua e aprendeu diretamente dele, repete as palavras da Torá:


Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: "Sejam santos, porque eu sou santo". 1Pe 1:15-16.


Ele não se dirige a religiosos, mas a pessoas comuns como agricultores, pescadores, viúvas, estrangeiros. Ou seja, todos podem e devem viver em santidade.

Yaakov, conhecido como Tiago, outro enviado, diz que a verdadeira “religião” é visitar os órfãos e viúvas e guardar-se incontaminado do mundo (Yaakov 1:27). Ele entendia que a separação do mal e o amor prático são indissociáveis. Os enviados ensinaram que a santidade envolve separação dos caminhos mundanos e uma vida ativa de prática dos mandamentos. Veja o que Rav Sha’ul diz:


Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de D’us que apresentai os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável ao Eterno, que é o vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de D’us. Rm 12:1-2


A santidade, portanto, não é apenas um mandamento; é uma identidade que molda nossas escolhas, nossos relacionamentos e nossas prioridades.


5. Ecos de uma verdade eterna

Mesmo os sábios, ainda que por caminhos muitas vezes distantes da simplicidade da Torá, reconheceram que a santidade não se mede pelo saber ou pelo rito, mas pela vida íntegra.

Ramban, por exemplo, afirmou que alguém pode cumprir todos os mandamentos técnicos e ainda ser um “naval bereshut haTorá” (um devasso dentro dos limites da Torá). Assim, a santidade exige moderação, consciência, zelo, e temor do Eterno.

Rabi Akiva também resumiu: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" é um grande princípio da Torá. Isso demonstra que a santidade verdadeira se manifesta, inevitavelmente, em amor e justiça.

Concluindo nossa reflexão, a santidade não é um fardo, é um caminho. Um chamado de amor do Eterno para que sejamos reflexo da Sua luz em um mundo cheio de escuridão. Viver em santidade é viver com consciência, com justiça, com humildade, com temor ao Eterno e amor ao próximo.

Quem ama o Eterno, segue os Seus mandamentos. Quem anda em santidade, vive em retidão, não para ser visto pelos homens, mas para agradar Àquele que vê o coração.

Que possamos andar nesse caminho de obediência, dia após dia, até que toda a terra esteja cheia do conhecimento do Eterno, como as águas cobrem o mar.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef