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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Estudo da Parashá Nº 4 - Vaierá - 2021-2022

 

Estudos da Torá


Parashá nº 4 – Vaierá (E mostrou-se)

Bereshit/Gênesis Gn.18:1-22:24

Haftará (separação) 2Rs. 4:1-37 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 6:1-7:29


1 - INTRODUÇÃO

Na porção anterior vimos como o Eterno chamou Avram e lhe fez promessas, mas também lhe deu uma ordem, que ele fosse uma benção. Vimos ainda, que o Eterno era fiel ao patriarca e a aliança que fizera com ele, bem como o próprio Avram foi fiel ao Eterno em suas caminhadas.

Nessa parashá vamos ver HaShem se revelando a seu servo Avraham de outra forma, depois deste ter obedecido ao mandamento de realizar a circuncisão, como sinal carnal de sua aliança, de acordo com o que vimos em Gn 17. E aprenderemos como devemos nos comportar em vários momentos de nossas vidas, mesmo quando parecer que D’us não está conosco.

Veremos também Avraham (Avraham) recebendo a visita de três malachim (mensageiros) do Eterno e o que podemo aprender com esse patriarca. Outra coisa que aprenderemos é sobre a intercessão do patriarca pelas pessoas em Sodoma e Gomorra e nossa responsabilidade como servos de HaShem, o livramento de Lot (Lot) e a entrega de Yitz’chak (Ysaque) em sacrifício por Avraham.

Faremos também nesse estudo, uma rápida análise em alguns textos de B’rit Hadasha (Nova Aliança/Novo Testamento) que estão alinhadas com a parashá em estudo, a fim de buscarmos um entendimento ampliado dos ensinos das Escrituras.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS

O Eterno de Israel sempre quer nos mostrar algo dentro de sua Torá, a sua instrução para nós. E nessa porção não é diferente. Vemos a palavra que dá nome à parashá (porção semanal), vem sempre no primeiro verso da primeira aliá (porção diária de leitura), e ela trás em si o sentido principal que o Eterno quer que entendamos na porção. Nessa parashá a palavra é וַיֵּרָא (Vaierá – que quer dizer: “e mostrou-se” ou mais popularmente “e apareceu”. Veja no primeiro verso do capítulo 18.


 וַיֵּרָא אֵלָיו יְהוָה, בְּאֵלֹנֵי מַמְרֵא וְהוּא יֹשֵׁב פֶּתַח-הָאֹהֶל כְּחֹם הַיּוֹם.

VAIERÁ ELAYV ADONAY BEÊLONEY MAMREH VEHU YOSHEV PETACH HAOHEL KECHOM HAYOM

E mostrou-se Adonay para ele junto as planícies de Manre, estando ele assentado à porta da tenda na força (calor) do dia.

Um fato interessante nesse texto, é que ele está nos dando na primeira palavra do primeiro verso, um resumo do que aconteceu com Avraham. Naquela altura de sua caminhada com o Eterno, depois de ter passado pela brit milá (circuncisão), para cumprir sua parte na aliança divina, o patriarca demonstrava ser incansável em viver a plenitude do que D’us exigia-lhe, ou seja, ser uma benção para as pessoas. No entanto, ele ainda deveria estar sofrendo as sequelas da circuncisão. E aquela primeira palavra, “Vaierá” – “e mostrou-se”, nos apresenta Adonai revelando-se ao patriarca de forma diferente das vezes anteriores.

Mas como poderia ser essa revelação divina?

“...estando ele assentado…”(Gn 18:1) O comentário da Torá da Editora Sêfer diz que, é dever religioso visitar os enfermos, sejam estes parentes ou estranhos sem fazer diferença entre rico e pobre, maior ou menor de idade, respeito e consideração, pois segundo o Midrash, o Eterno, o misericordioso, desceu para visitar o patriarca Avraham enquanto este estava convalescendo de sua brit milá (circuncisão). Ainda segundo o comentário, a visita a um enfermo é feita com três coisas: com alma, com o corpo e com o dinheiro.

Com a alma significa elevar-lhe a moral e orar ao Eterno para seu pronto restabelecimento.

Com o corpo significa banhá-lo, limpá-lo, trocar sua roupa e servir-lhe a comida e os medicamentos, ou seja, ser-lhe útil no for preciso.

E com o dinheiro, proporcionar-lhe, se é pobre, o necessário para seu bem-estar material, a fim de ajudar na recuperação.

Segundo esse comentário, o Talmud (Guitin 61) recomenda assistir o pobre, independente se é israelita ou gentio, assim também quanto aos doentes sejam israelitas ou gentios, sepultar os mortos sejam um ou outro.

Assim, o que vemos no início dessa parashá é o Eterno vindo fazer uma visita ao seu servo, através daqueles malachim (mensageiros/anjos) em forma humana, pois o texto da Torá é claro ao nos informar em seu texto que eles eram homens. Aqui está o princípio da representatividade, onde o Eterno envia alguém que lhe representa totalmente, sejam anjos, profetas ou o messias. Nesse caso, um dos três mensageiros era esse representante de HaShem, pois segundo os sábios, seu rosto brilhava. Este ser, profeticamente, aponta para Yeshua, ele não é o próprio, mas aponta para ele.

Veja que na sequência, no verso 2, o texto continua:


E levantou os seus olhos, e olhou, e eis três varões estavam em pé junto a ele. E vendo-os, correu da porta da tenda ao seu encontro, e inclinou-se à terra,”


Perceba que o texto começa a indicar como foi essa revelação, ou seja, como o Eterno “mostrou-se” a Avraham, que foi através da vinda dos três varões até ele. É nos informado que “E levantou os seus olhos, e olhou, e eis três varões estavam em pé junto a ele...” a palavra hebraica da qual traduziram “junto” é עָלָיוalayv”, e significa também “em cima de”. Isso nos mostra que HaShem se revela a Avraham com os homens acima ou sobre o patriarca, mas ao mesmo tempo eles estavam longe ainda, pois vemos como ele se comportou no desenrolar desse episódio. O Eterno vem sobre o indivíduo e então se revela.

Note que ele correu até os homens de forma muito solícita, e oferece pouso, alívio do calor e alimento, pois isso era algo importante para Avraham. Ele gostava de ajudar as pessoas e ser útil, além de aproveitar para falar do Eterno que o chamou, e precisamos aprender algo aqui com ele, pois devemos agir da mesma forma se quisermos ser reconhecidos como representantes do Reino de D'us.

Percebemos na leitura que os homens aceitam a oferta do pai da Emunáh (Fé, confiança, firmeza). Com isso, aprendemos que o Eterno se agrada daqueles que são solícitos e prontos a oferecer ajuda para seus semelhantes. Aqui podemos devemos nos lembrar que Yeshua fala também sobre isso, em Mc 14:7: “Pois os pobres vocês sempre terão consigo, e poderão ajudá-los sempre que o desejarem…”

Alguns rabinos dizem que Avraham tinha o costume de na hora do almoço ficar à porta da tenda, para ver se passava algum viajante. O autor do texto “D'us Aparece para Avraham e lhe Envia Três Anjos” do site pt.Chabad.org, afirma que o patriarca “sentava-se à entrada de sua tenda e ali aguardava, pensando: ‘Se ao menos um viajante passasse… Queria convidá-lo para uma refeição!’” Os antigos dizem que ele tinha prazer em oferecer uma refeição para alguém faminto; pois era bondoso para todos. E quando seus convidados terminavam de comer, o patriarca ensinava-lhes a agradecer ao Eterno. Falava sobre HaShem, que criou o mundo e que cuida dele a cada instante. Podemos e devemos aprender com essa passagem a lição de estarmos sempre dispostos a fazer o bem, a ajudar ao próximo, a cuidar daquele que está necessitado.

Essa revelação de D’us a Avraham, era quase uma visita do criador a seu filho, a fim de ver como ele estava após o procedimento cirúrgico da b’rit milá (circuncisão). O midrash Bereshit nos diz que esse era o terceiro dia após a b’rit milá, o pior deles, pois era quando mais se sentia dores. E há mais um aprendizado aqui, assim como D’us o visitou em sua convalescênça, nós devemos visitar os doentes, pois isso pode levar conforto, alívio e demonstra amor e cuidado. Mas havia também outro propósito, pois os anjos sempre surgem com uma mensagem, afinal esse é o sentido da palavra “Malach” (mensageiro), eles vieram anunciar a concepção e o nascimento do herdeiro do patriarca, e já prometendo que voltaria dali a um ano e veria uma criança no colo de Sara.

O Eterno o visitou e prometeu voltar. Precisamos que o Eterno nos visite a cada momento, a presença dele em nossas vidas através do Ruach HaKodesh, nos inspira a cada dia viver segunda sua vontade. O Eterno sempre “mostra-se” aos seus servos de uma forma especial, o que vai garantir a revelação a nós é como nós o recebemos.

Dentro deste contexto o site “shemaysrael.com”, em seu estudo desta parashá, diz que Rabeinu Bachya destaca que, embora Avraham fosse um homem idoso e estivesse fraco por causa da circuncisão que fizera apenas três dias antes, e apesar de ter muitos servos que poderiam ter atendido os hóspedes, em sinal de respeito Avraham fez tudo sozinho, com grande zelo e entusiasmo. E da mesma forma, ao final dessa porção da Torah, segundo esse site, há uma outra situação, na qual Avraham demonstra seu caráter zeloso. Na manhã em que Avraham levantou-se para realizar a akeidá (o sacrifício), a Torah relata que “ele se levantou cedo” para cumprir a mitsvá (mandamento). Nesta difícil situação, quando Avraham recebeu ordem de levar o filho amado, pelo qual esperara ansiosamente por tantos anos, como uma oferenda, poder-se-ia pensar que a última coisa que a pessoa faria fosse acordar cedo para embarcar nesta missão! Mesmo assim, vemos que Avraham o fez.

Como é possível?

Com isso, fica claro mais uma vez, o exemplo da personificação de Avraham da qualidade de ser zeloso, rápido e entusiasta em cumprir as mitsvot (mandamentos) do Eterno. E vemos que o desenvolvimento do caráter desse patriarca foi a tal ponto que, mesmo nesta situação muito difícil e penosa, ainda assim foi capaz de superar o desejo natural de protelar chegando mesmo a levantar-se cedo para fazer a vontade de HaShem.

A lição que devemos aprender com tudo isso é, justamente quando a situação é desconfortável, ainda temos a capacidade de cumprir uma mitsvá com zelo e entusiasmo, e especialmente quando a mitsvá não é tão difícil.

Nessa parashá descobrimos como é importante obedecer as instruções de HaShem, a sua Torá, mesmo em detrimento de muitos dizerem ou agirem ao contrário. Vemos nos versos 17 a 19 uma das consequências de sermos obedientes, pois aqui Avraham tem reconhecimento por parte do Eterno, de suas práticas de justiça, a tal ponto de não lhe esconder o que faria com Sodoma e Gomorra, e dizendo no verso 19:

Porque o conheci, e sei que ordenará a seus filhos e à sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Eterno para fazer caridade e justiça, e realizar o Eterno sobre Avraham, o que falou com ele.”

O Eterno conhecia o caráter de Avraham, e por isso, passa a lhe revelar o que faria com aquelas cidades. Daí, mais uma vez é demonstrado uma outra faceta do caráter desse homem justo, o “amor ao próximo” contrariamente com as pessoas das duas cidades.

Agora ele começa a clamar ao Eterno pelas vidas das pessoas daquelas cidades, não somente pelas vidas de seus parentes que estavam ali, mas também por outros. E isso é característica de quem faz parte do Reino do Eterno. Embora muitos venham dizer que para fazer parte do Reino não é necessário nada a não ser emunáh (fé), devido a esses ensinamentos errôneos sobre graça e lei. Com essa parashá temos condições de entender que ambas andam juntas. Tanto que vemos ensinamentos de Yeshua sobre o Reino fazendo menção à parashá passada e a essa que estamos estudando.


Vejamos os seguintes versos:


"Assim como foi nos dias de Noach, também será nos dias do Filho do homem. O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia em que Noach entrou na arca. Então veio o dilúvio e os destruiu a todos. "Aconteceu a mesma coisa nos dias de Lot. O povo estava comendo e bebendo, comprando e vendendo, plantando e construindo. Mas no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu e os destruiu a todos. "Acontecerá exatamente assim no dia em que o Filho do homem for revelado. Naquele dia, quem estiver no telhado de sua casa, não desça para apanhar os seus bens dentro de casa. Semelhantemente, quem estiver no campo, não deve voltar atrás por coisa alguma. Lembrem-se da mulher de Lot! Quem tentar conservar a sua vida a perderá, e quem perder a sua vida a preservará. Eu lhes digo: naquela noite duas pessoas estarão numa cama; uma será tirada e a outra deixada. Duas mulheres estarão moendo trigo juntas; uma será tirada e a outra deixada. Duas pessoas estarão no campo; uma será tirada e a outra deixada". "Onde, Senhor? ", perguntaram eles. Ele respondeu: "Onde houver um cadáver, ali se ajuntarão os abutres". Lucas 17:26-37


Yeshua Hamashiach (Messias/Ungido) estava falando acerca da sua volta e do Reino de D’us, este é o mesmo assunto tratado por Mateus no capítulo 24, podemos perceber como algumas palavras estão sendo repetidas neste texto de Lucas e naquele de Mateus.

Qual era então o contexto? Ou porque Yeshua fala sobre Noach(Noé) e Lot (Ló)?

Yeshua foi interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Elohim, conforme lemos em Lc 17:20, e responde dizendo que “o Reino de Elohim não vem de forma visível, pois estaria dentro de cada um”. Assim ele inicia o discurso onde fala sobre a sua vinda, pois a vida de todo servo de Adonai deve ser em prol da preparação das pessoas para a vinda do Messias, e ele compara aqueles dias com os dias de Noach e Lot, quando as pessoas viviam normalmente suas vidas na desobediência aos mandamentos, sem querer saber qual a vontade de HaShem. Por isso, o Mashiach usa os termos “comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento”, pois são coisas costumeiras em uma sociedade. Ou seja, tudo parece muito normal, em meio às transgressões dos homens aos mandamentos de HaShem, mas repentinamente, como Yeshua fala, virá destruição sobre esses, e libertação para os obedientes, quando da ocasião da sua volta.

Um dos assuntos dessa porção é a salvação de Lot da destruição das duas cidades impenitentes, e como o patriarca Avraham intercedeu, é por isso que estamos ligando o que Yeshua falou com essa parashá, pois ela fala em um contexto de destruição de transgressores, mas também fala sobre livramento dos obedientes e a influência que estes podem e devem ter na vida cotidiana das pessoas, e acima de tudo, do domínio do Eterno sobre seu Reino, pois Ele vê tudo e todos. Esse é o Reino que Yeshua falou que deve estar dentro de nós, através da obediência e do acatamento das ordenanças do Eterno em nossas vidas diárias, através de ações e atitudes que o reflitam.

Vamos ver outro texto que também guarda uma ligação com essa parashá.


“Não pensemos que a palavra de D'us falhou. Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Avraham passaram todos a ser filhos de Avraham. Pelo contrário: "Por meio de Yits’chak a sua descendência será considerada". Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de D'us, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Avraham. Pois foi assim que a promessa foi feita: "no tempo devido virei novamente, e Sara terá um filho".” Romanos 9:6-9


Aqui Sha’ul HaShaliach (shaliach Sha'ul) está afirmando para alguns que se diziam juD'us e descendentes de Avraham, mas seguiam apenas dogmas humanos e legalismos, no lugar da Torá verdadeira. Ele estava dizendo que nem todos os que são descendentes de Israel são verdadeiramente Israelitas. Ele diz que não basta ser descendente, tem que obedecer a Torá, e isso é obtido através de seguir o padrão da vida justa de Yeshua.

Seguindo o mesmo viés do Messias a respeito de como devem viver os verdadeiros servos do Eterno, o shaliach Sha’ul (Sha'ul) fala nesse texto transcrito acima sobre os filhos naturais e os filhos da promessa. Nas porções da Torá, vemos o Eterno fazer uma promessa a Avraham a respeito de sua descendência através de um filho, e por serem velhos, ele e Sara decidem, de forma manipuladora e humana, fazer com que essa promessa se cumpra, colocando a escrava Hagar para se deitar com o Patriarca. Dessa relação nasce Ishmael (Ismael), e somente mais tarde quando D'us cumpre a promessa é que nasce Yitz’chak (Isaque). O primeiro é o natural, ou seja, pelas mãos e vontade humana, e o segundo o da promessa, no tempo certo de D'us.

Uma comparação semelhante também é feita por Sha'ul no seguinte texto:


“Digam-me vocês, os que querem estar debaixo de legalismos: Acaso vocês não ouvem a lei? Pois está escrito que Avraham teve dois filhos, um da escrava e outro da livre. O filho da escrava nasceu de modo natural, mas o filho da livre nasceu mediante promessa. Isso é usado aqui como uma ilustração; estas mulheres representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão: esta é Hagar. Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre, e essa é a nossa mãe. Pois está escrito: "Regozije-se, ó estéril, você que nunca teve um filho; grite de alegria, você que nunca esteve em trabalho de parto; porque mais são os filhos da mulher abandonada do que os daquela que tem marido". Vocês, irmãos, são filhos da promessa, como Isaque. Naquele tempo, o filho nascido de modo natural perseguia o filho nascido segundo o Espírito. O mesmo acontece agora. Mas o que diz a Escritura? "Mande embora a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava jamais será herdeiro com o filho da livre". Portanto, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre.” Gálatas 4:21-31


Nesse caso o shaliach está fazendo uma alusão aos verdadeiros filhos de D’us, pela analogia dos dois filhos de Avraham. Sabemos através das Escrituras que os filhos de Avraham na carne, são os que detém a promessa, mas não basta ser filho na carne, é preciso se unir a D’us através de Yeshua e da obediência aos mandamentos do Eterno, o dono do Reino, como disse acima e conforme lemos também Yeshua dizer em Jo 8:31-47:


“Disse, pois, Yeshua aos juD'us que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Avraham e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Yeshua: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. Bem sei que sois descendência de Avraham; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não está em vós. Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em vosso pai. Então, lhe responderam: Nosso pai é Avraham. Disse-lhes Yeshua: Se sois filhos de Avraham, praticai as obras de Avraham. Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de D'us; assim não procedeu Avraham. Vós fazeis as obras de vosso pai. Disseram-lhe eles: Nós não somos bastardos; temos um pai, que é D'us. Replicou-lhes Yeshua: Se D'us fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de D'us e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas, porque eu digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes? Quem é de D'us ouve as palavras de D'us; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de D'us.”


Também Yohanan o Imersor (João Batista) em Mt 3:9-12:


“e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Avraham; porque eu vos afirmo que destas pedras D'us pode suscitar filhos a Avraham. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.


E ainda Lc 3:7-20.


“Dizia ele, pois, às multidões que saíam para serem batizadas: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Avraham; porque eu vos afirmo que destas pedras D'us pode suscitar filhos a Avraham. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Então, as multidões o interrogavam, dizendo: Que havemos, pois, de fazer? Respondeu-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. Foram também publicanos para serem batizados e perguntaram-lhe: Mestre, que havemos de fazer? Respondeu-lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. Também soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo. Estando o povo na expectativa, e discorrendo todos no seu íntimo a respeito de João, se não seria ele, porventura, o próprio Messias, disse João a todos: Eu, na verdade, vos batizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. A sua pá, ele a tem na mão, para limpar completamente a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; porém queimará a palha em fogo inextinguível. Assim, pois, com muitas outras exortações anunciava o evangelho ao povo; mas Herodes, o tetrarca, sendo repreendido por ele, por causa de Herodias, mulher de seu irmão, e por todas as maldades que o mesmo Herodes havia feito, acrescentou ainda sobre todas a de lançar João no cárcere.”


Aquela alegoria ou midrash, falando de Sara e Hagar, usada pelo rabino Sha’ul (shaliach Sha'ul), de acordo com o site “Yeshua Chai.org”, é muito citada nos meios religiosos cristãos de forma errada, como a representação da distinção entre a “Lei” e a “Graça”, e do mesmo jeito a doutrina da “Lei versus Graça”. Infelizmente, muitos comentaristas e teólogos cristãos através dos séculos têm usado esta alegoria como um meio de rejeitar a importância do estudo e da prática da Torá para o crente. Podemos perceber isso claramente ao ler o seguinte comentário:


“Sha'ul estava usando o método alegórico comum dos judeus da época para defender seu ponto de vista. Ele usou essa figura de linguagem para fazer um forte contraste entre dois concertos bíblicos divergentes nas igrejas na Galácia: a promessa abraâmica (Gn 12.1-3) e a Lei de Moisés que D'us deu a Israel no monte Sinai.” (O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais, Editora Central Gospel, 1ª Edição: janeiro/2010, página 493)

O autor desse comentário citado, além de defender a contrariedade entre a Lei e a Graça em um texto que não trata desse assunto, ainda afirma que Sha'ul usa da alegoria comum aos juD'us, como se fosse para usar das mesmas ferramentas dos juD'us para revidar um ensino. Mas Sha'ul usa da alegoria simplesmente porque ele era judeu e essa era a forma de ensinar da época, usando-se de alegorias ou midrashim.

Perceba que o shaliach não usa desses meios para argumentar contra a Torá e sua importância em nossas vidas, mas para instruir contra o legalismo e contra o ensino errado dos religiosos da galácia, de que a salvação só poderia ser recebida por meio da obediência legalista aos mandamentos e pela circuncisão antes de começar a viver uma vida de obediência verdadeira.

Assim, conforme já mencionei acima e de acordo com o comentário no site “Yeshua Chai.org”, a concepção de Ishmael foi natural, ou seja, foi da carne, pois é resultado da intervenção humana, já a concepção de Yistz’chak foi sobrenatural, pois Sara já não tinha mais como ter filhos, e o resultado dessa intervenção foi divina. E de acordo com a interpretação de Sha'ul, as duas mães representam duas promessas distintas: Hagar a escrava, a aliança feita no Sinai, que resulta em filhos nascidos da escravidão. E Sara representa a aliança feita anteriormente com base na promessa do Eterno que resulta em filhos nascidos livres (Gl 4:24-27). O termo escravidão aqui não está ligado a Lei, mas ao fato de Hagar ser escrava ou serva, bem como os israelitas que tinham acabado de serem libertos do Egito, também o fato de os juD'us darem muito crédito a chalachot (aspecto legalista), e assim a escravidão é uma alusão ao que está aquém da promessa, ou seja, a intervenção humana.

A interpretação de Sha'ul pode se tornar mais clara para nós quando olharmos a distinção fundamental entre a ideia da Aliança e a Torá. Ainda, de acordo com o mencionado site, se observarmos o contexto geral da carta aos Gálatas, podemos compreender a alegoria como um meio de impugnar a autoridade dos “Legalistas” da época, que afirmavam serem os intérpretes exclusivos da Torá. Eles diziam que de acordo com suas interpretações da Lei, a salvação somente poderia ser conseguida por meio da circuncisão, ou seja, tornando-se judeu, sem nem mesmo observar o que fora determinado em Atos 15, pelos shaliachs.

E isso ocorre também hoje com o cristianismo, onde muitos dizem que somente pode-se obter a salvação se alguém se tornar cristão. Mas o que Sha'ul estava realmente dizendo era que, a circuncisão física (propósito de se transformar em judeu) não é um meio de salvação, e qualquer tentativa de “justificação” com base no mérito pessoal é um passo longe da justificação que vem livremente para aqueles que agarram rápido a promessa do Eterno de herança eterna. Com isso, entendemos que se alguém quer agir, como Sara e Avraham, tomando a frente, e colocando Hagar no meio, não surtirá resultado, pois ele somente pode ser conseguido por meio da esperança da promessa de Avraham e Sara pelo tempo de D'us para o cumprimento da promessa. Ou seja, agindo pela fé na promessa feita pelo Eterno através do Messias, sem tomar ação humana. Assim, como não se pode hoje ser salvo ou herdar a vida eterna alguém que se torna “cristão”, pois a salvação e a vida Eterna somente se conseguem pela fé na promessa de Yeshua e na obediência à Torá, não pela religião ou religiosidade.

O conceito de justificação pela “Hessed”(Graça) e pela “Emuná”(Fidelidade, fé) são fundamentalmente judaicos e perduraram por milênios, e foi amplamente demonstrado e ensinado na Torá, nos profetas e na tradição oral judaica, isso não é exclusividade dos textos do chamado Novo Testamento. Todos os atos de revelação do Eterno (incluindo aí, a revelação dada no Sinai, na Cruz no monte Moriá, em Noach e sua família, em Lot e sua família, em David, em Ruth e etc) são manifestações da “Hessed”(Graça) Divina.

Yeshua disse para a mulher samaritana que a salvação vem dos juD'us (Jo 4:22) e o Eterno prometeu que sempre haveria um remanescente do seu povo que iria ser fiel às suas Palavras (Isaías 1:9; 10:21, Jer 23:3; 31:7, Jl 2:32, Rm 9:27; 11:5), ele se referia ao messias e aos que seguem ao Eterno pelos passos dele. Entendemos que no fim, “todo o Israel será salvo” e todas as promessas que o Eterno fez ao povo de Israel através dos profetas serão cumpridas (Rm 11:26).

Nessa parashá (porção), que vai de Gênesis 18:1-22:24, encontramos muitos ensinamentos para nossas vidas como servos do Eterno, em Yeshua. Ao meditar nesta porção aprendemos com a hospitalidade de Avraham e com seu zeloso serviço ao Senhor, quando ele recebe os três “Malachim” (mensageiros, anjos) do Eterno, que devemos primar por servir ao Eterno. Somos instruídos a aguardar a promessa divina com firmeza e viver intensamente a Aliança do Senhor para conosco, ou seja, cumprindo os mandamentos que cabem a nós, assim como fez Avraham. Também aprendemos a ser benção para as pessoas e ainda sermos intercessores pelos que estão perdidos, pois temos o Reino dentro de nós para levar até essas pessoas e prepará-las para a volta do Messias. Através da instrução da Torá, nessa porção, podemos olhar para os Textos dos Escritos Nazarenos (chamado Novo Testamento) com mais clareza e entender o que Yeshua e os shaliachs disseram a respeito do Reino de D’us e dos que são filhos desse Reino, e como eles devem agir, e que a Lei de D’us é boa para o homem, não sendo fardo algum.

Aos que se achegam a D’us através de Yeshua, e passam a também fazer parte das promessas, conforme tudo o que disse acima, e de acordo com o que Sha'ul diz em Ef 2, é muito importante observar todo o ensinamento que foi dado aqui com cuidado. Por esse motivo, nós que antes não éramos povo, e agora passamos a ser povo, conforme Ef 2:11-13, nos tornando verdadeiros filhos de Avraham, não somente da carne, mas pela fé, devemos nos aprofundar na Torá, nos esforçar para obedecer aos mandamentos do Eterno, e a viver segundo os princípios do Senhor de acordo com Ef 2:10, pois eles são vida para nós.


Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sêfer

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/889030/jewish/Dus-Aparece-para-Avraham-e-lhe-Envia-Trs-Anjos.htm

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771007/jewish/Resumo-da-Parash.htm

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- https://shemaysrael.com/parasha-vayera/

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