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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Estudo Parashá nº 3 - Lech Lechá

 

Estudos da Torá


Parashá nº 3 – Lech Lechá (Vá por ti)

Bereshit/Gênesis 12.1-17.27

Haftará (separação) Is 40.27-41.16 e B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 5.1-48



1 - INTRODUÇÃO

Vimos no estudo da parashá passada que o Eterno viu a vida reta que Nôach escolheu viver, em obediência a sua vontade. E por causa disso, quando resolveu destruir todos os seres vivos, devido ao grande crescimento da iniquidade, deu a Nôach e sua família a redenção por meio da Arca que mandou-lhe construir. Não somente para escapar do juízo, mas para que, com a estrutura e proteção do Pai, ser capaz de enfrentar tudo e quando saísse da arca, pudesse contemplar novos céus e uma nova terra na época, conforme lemos em Hb 11.7. Ele e sua família e todos os animais viveram em uma terra renovada salvos da corrupção, ou seja, com uma oportunidade de viverem conforme a vontade do Eterno. Sendo assim, quando aquele homem e sua família entraram na embarcação, juntamente com os animais, Elohim fechou a porta e enviou o dilúvio, que levou a todos os pecadores. E repare que em Mt 24.37-42, conforme mencionamos na semana passada, o termo levouindica o julgamento e morte dos transgressores.

Também, na porção passada pode ser visto a cronologia das dez gerações de Nôach à Avram, e o início de sua peregrinação de Ur dos Caldeus a Haran, em direção à terra de Canaã, mas eles param em Haran quando era para ter seguido em frente até Canaã, lemos isso em Gn 11.27-32.

Agora, entraremos na terceira parashá, onde iniciaremos o estudo sobre a vida de Avraham, nosso pai na emunáh (fé, confiança, firmeza). Essa parashá é considerada uma das porções mais importantes da Torá, pois ela trata do chamado de Avram(Abrão), o primeiro patriarca da nação de Israel. E nela temos a oportunidade de aprender muitas coisas a respeito da promessa que o Eterno fez a este patriarca e de sua repercussão para as nações do mundo, através de seus descendentes, e principalmente de Yeshua HaMashiach, que iniciou a concretização dessas promessas.

Vejamos então, o que a Torá tem a nos ensinar através dessa parte da porção Lech Lechá.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS

Segundo o que podemos ler no Midrash Bereshit (comentário rabínico do livro de Gênesis), a história de Avram começa antes do que podemos ler no texto dessa parashá, ela começa ainda na parashá passada. E cabe relembrar que, os comentários rabínicos podem ser considerados se as informações neles contidas refletem o que o texto da Torá aponta, ou complementa o mesmo. Caso alguma informação vinda destes comentários forem contra a Torá, ou levar a transgredir a mesma, não deverão ser considerados. Assim, o referido midrash começa a contar a história de vida de Avram em meio a um povo pagão e transgressor. Um povo idólatra e sem amor, cujo líder era Nimrod. E temos a oportunidade de comparar com o texto de Bereshit/Gênesis 11, onde vemos a Torá nos informar sobre a corrupção das pessoas. Através do midrash, fica mais claro para nós o nível de corrupção das pessoas nesse período. De acordo com o mencionado comentário rabínico, na época da construção da torre de Bavel (Torre de Babel), as pessoas estavam tão fanáticas em seu fervor para terminar a torre, que se um tijolo caísse e se quebrasse eles choravam dizendo - Como será difícil substituí-lo! No entanto, quando uma pessoa caía e morria, ninguém se preocupava em olhar para ela. As pessoas tinham se afastado da justiça novamente, os descendentes de Shem já eram poucos e haviam se espalhado. E no meio dessas pessoas transgressoras havia nascido Avram, filho de Terah.

Os sábios contam que o jovem Avram, com 48 anos de idade passava pela área da construção da torre, e ele era conhecido por ter se oposto à construção da torre, pois quando as pessoas o abordaram para convidá-lo, dizendo junte-se a nós para construir a torre, já que você é um homem forte e será muito útil para nós, ele recusou, dizendo que eles haviam abandonado HaShem que é a Torre, e em seu lugar eles escolheram uma torre de tijolos. Assim, nos conta o midrash que quando Abram passou e viu a construção lhes amaldiçoou em nome de HaShem dizendo “Destrói-os, oh senhor, confunde sua língua.”, palavras que David HaMelech usou no Salmo 55:9(10). Porém, as pessoas não lhe deram atenção, e haviam pessoas que lhe respondiam, olhe para esta mula inútil, é estéril. Abram tentava persuadir as pessoas a obedecerem o Eterno, porém elas refutavam dizendo que não valia a pena servir a HaShem, pois recompensava seus servos com esterilidade. Eles falavam isso pelo fato de ainda não ter filhos.

Apesar de ser da descendência de Shem, provavelmente Avram, assim como muitos em sua região, já não viviam de acordo com a justiça da Torá oral, mas ele também não era totalmente corrupto, deveria ter um nível mínimo de justiça, por isso o Eterno o chama.

Além de Avram, outras três pessoas não se envolveram com a construção da torre, Noach, seu filho Shem e seu neto Ever. E de acordo como midrash, Shem repreendeu seus filhos e netos por participarem da construção, porém eles não levaram em conta a repreensão, exceto um de seus filhos, seu nome era Ashur, que abandonou o projeto e partiu se estabelecendo em um lugar distante de Bavel. E ali construiu quatro cidades, entre elas a grande cidade de Nínive.

Há ainda muitas outras informações a respeito da vida de Avram contada pelos sábios nos midrashim, sua conduta em relação à idolatria e a consequente perseguição que sofreu por parte do rei de Bavel, bem como algumas outras provas que o Eterno lhe impôs. Continuemos no entanto, a estudar sobre a vida desse homem que se tornou o patriarca da nação sacerdotal.

Nessa porção, conforme mencionamos na introdução, encontramos Avram (Abrão), que apesar de as tradições e midrashim (plural de midrash, comentários rabínicos) judaicos falarem que ele era um homem que se afastava do mal e da idolatria, a Torá nos mostra que o Eterno diz para ele: “...caminhe adiante de mim e seja perfeito”. (Gn 17:1) O que pode nos apontar que ele precisasse corrigir algumas coisas em sua vida, ou seja, confirma para nós que ele precisava aprender a viver segundo os mandamentos da Torá. Isso pode ser comprovado com algumas atitudes que ele toma em sua caminhada após começar a seguir a D’us. Mas também, podemos ver muitos atributos de seu caráter que foram observados pelo Eterno, como por exemplo: sua emunáh (fé, confiança, firmeza) e obediência naquilo que Adonai lhe falava. Tanto que ao receber a determinação: “...Sai da sua terra e da sua parentela, e da casa de seu pai e vá para a terra que eu te mostrarei.” Gn 12:1, o patriarca obedece e sai. Mas esta, segundo alguns rabinos, não foi a primeira vez que HaShem teria falado com Avram. Segundo essa linha de raciocínio, quando em Gn 11:31, Teráh pega seu filho, seu sobrinho e suas esposas e sai de Ur em direção a Canaã, mas para em Charan, o Eterno já tinha falado com Avram, porém ele não deu ouvidos. E somente depois de um tempo, o Eterno o chama uma segunda vez, que é nesse verso 1 do capítulo 12. Voltaremos a falar sobre isso mais à frente.

Lembremos que Avram descende de uma linhagem de homens que invocavam o Senhor. Vemos isso desde o final do capítulo 4 de Gênesis, quando a Torá fala que Shet (Sete), filho de Adam, teve um filho a quem chamou Enosh(Enos), e que dali em diante voltou-se a invocar o Senhor. Da geração de Shet veio Noach (Noé), que gerou a Shem (Sem), de onde se originam todos os povos semitas, incluindo Israel filho de Ytschak, filho de Avraham. No entanto, conforme vimos na parashá passada e na introdução desse estudo, as gerações foram se corrompendo antes de Noach, e depois do dilúvio também, tanto que iniciam a idolatria ao construir a Torre de Bavel, quando o Eterno separa as línguas.

O Midrash Bereshit diz que o Eterno estava buscando um homem mais justo para ser o antecessor de uma nação temente a D’us. No entanto, não encontrou esse homem na família dos outros dois filhos de Noach, apenas em Shem, mas que ainda assim, preferiu esperar dez gerações até encontrar Avram (Abrão).

Mas por quê D’us esperou dez gerações?

De acordo com o Midrash, o Eterno está querendo nos mostrar que passou uma peneira e somente no final encontrou sua joia, Avram. Com isso, podemos notar que o Eterno contempla nosso interior, e age para conosco de acordo com o que Ele vê em nós. O dez também é um número profético no texto que aponta para os mandamentos do Eterno.

No entanto, é muito importante lembrarmos que a chamada de Avram se dá na verdade antes do capítulo 12, que é o início dessa porção, conforme mencionamos anteriormente. Ele inicia no verso 31 do capítulo 11 de Gênesis/Bereshit, quando seu pai, Terach (Tera), sai de Ur em direção a Canaã, conforme lemos em Neemias 9:7:


"Tu és o Senhor, o Deus que escolheu Abrão, trouxe-o de Ur dos caldeus e deu-lhe o nome de Abraão.”,


E também no relato de Estevão em Atos 7:2-4:


A isso ele respondeu: "Irmãos e pais, ouçam-me! O Deus glorioso apareceu a Abraão, nosso pai, estando ele ainda na Mesopotâmia, antes de morar em Harã, e lhe disse: ‘Saia da sua terra e do meio dos seus parentes e vá para a terra que eu lhe mostrarei’. "Então, ele saiu da terra dos caldeus e se estabeleceu em Harã. Depois da morte de seu pai, Deus o trouxe a esta terra, onde vocês agora vivem.”

Esses textos de Neemias e de Atos comprovam para nós o que os midrashim nos informam, pois eles complementam o que o capítulo 12 de Gênesis não mostra claramente.

O Midrash conta antes da chamada de Avram, várias ocasiões em que ele demonstra sua fé no D’us criador de todas as coisas, através de livramentos de perigos impostos por idólatras daquela terra. É por esse motivo que Terach (Tera), pai de Avram, decide sair de Ur, a fim de proteger seu filho, terminando por parar em Charan. Naquele momento o Eterno já tinha se manifestado a Avram uma vez, chamando-o. Com isso podemos aprender que podemos evitar alguns problemas se dermos ouvidos ao Eterno, quando ele nos chama, e com isso começarmos a colher as bençãos da obediência o quanto antes.

É interessante que muitos crentes, pregadores repetem o que dizem os livros cristãos sobre Abraão, dizendo que ele era idólatra, por morar em Ur dos Caldeus, que era uma cidade muito idólatra. Contudo a Torá, e os comentários rabínicos nos mostram que ele já era temente ao Eterno Criador do céu e da terra, antes mesmo de o conhecer, e jamais se dobrou à idolatria, por isso fora escolhido pelo Senhor. Apesar de ter nascido em uma terra idólatra, no meio de uma família idólatra, pois seu pai era comerciante de imagens, ainda assim, ele não se corrompeu. Isso nos aponta para os remanescentes que vivem em meio à idolatria e ao paganismo, mas não se misturam e o Eterno os chama para viver segundo a sua vontade expressa na Torá, em observância à vida justa do messias Yeshua.

Então no capítulo 12, que é o início dessa parashá(porção), temos a oportunidade de ler sobre o chamado desse patriarca, na verdade o segundo chamado. Onde o Eterno lhe faz promessas que seriam condicionais à sua obediência. Avram não era perfeito como nós não somos, mas HaShem ao se revelar pela segunda vez a ele, estabelece a maneira com a qual ele deveria lhe obedecer ao iniciar sua caminhada com o Elohim, a quem tinha sido fiel até aquele momento. Desta maneira, podemos entender o motivo de o Eterno falar para Avram “andar na presença dele e ser perfeito.”

O Eterno lhe determina a forma tripla de cumprimento da ordem, para que tivesse meios de se elevar e buscar andar em justiça, onde o patriarca teria que:

- Sair da terra dele (que agora era Charan)

Isso significa que era preciso deixar de lado tudo o que o ligava a sua terra de nascimento, onde havia muita idolatria e pecados diversos;

- Sair do meio da parentela

Renunciar aos parentes e familiares que estão vivendo no erro, cujas transgressões lhes são agradáveis, mas afrontam a D’us. Renunciar aqui significa não viver nas mesmas práticas;

- Sair da casa de teu pai

Sair da casa do pai aqui significa assumir responsabilidades de um homem, ou seja, viver de forma independente de seu pai, da mesma forma que um homem sai da casa de seu pai para se unir a sua mulher, mas essa independência o levaria a dependência de D’us. Quando somos dependentes do Eterno demonstramos nosso amor e dedicação, é o cumprimento do primeiro mandamento, que é reconhecer o poder e a soberania de HaShem, amando-o de todo o coração.

Ur e Charan eram terras repletas de idolatria, conforme já mencionamos anteriormente, e de acordo com o site “Emunáh a Fé dos Santos”, essa foi uma das razões pela qual o Eterno lhe ordenou que saísse de lá. A congregação do Eterno (a Noiva, a Israel de HaShem), estava sendo estruturada, e estava começando com uma ordem direta que se mantém e ecoa até aos dias de hoje, para todos os que vivem na Babilônia, ou que ainda têm no seu coração vestígios dela: “SAI DELA POVO MEU”. Perceba que todos os crentes no Elohim de Avrahan, Ysaac e Yaacov, e que mais tarde receberam o testemunho de Yeshua, recebem a mesma ordem para saírem desse sistema idólatra e devasso, que é a Babilônia, conforme podemos ler em Jer 51:45 e Ap 18:4.


"Saia dela, meu povo! Cada um salve a sua própria vida, da ardente ira do Senhor. Não desanimem nem tenham medo quando ouvirem rumores na terra; um rumor chega este ano, outro no próximo, rumor de violência na terra e de governante contra governante. Portanto, certamente vêm os dias quando castigarei as imagens esculpidas da Babilônia; toda a sua terra será envergonhada, e todos os seus mortos jazerão caídos dentro dela. Então o céu e a terra e tudo o que existe neles gritará de alegria por causa da Babilônia, pois do norte destruidores a atacarão", declara o Senhor. Jeremias 51:45-48


Então ouvi outra voz do céu que dizia: "Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam! Pois os pecados da Babilônia acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou dos seus crimes. Apocalipse 18:4,5


Podemos perceber que há uma ligação entre a saída de Avram de Charan, que é a região da posterior Babilônia, e as passagens de Jeremias e Apocalipse. O Eterno não poderia formar uma nação e um povo seu dentro de uma nação idólatra, e por isso chama aquele que seria o pai de uma grande nação, e benção para as famílias da terra, a sair dela. E da mesma forma a voz de Elohim clama até ao dia de hoje, para que os que ouvem sua voz saiam do meio do erro, do engano e da idolatria, da anomia, a fim de fazer parte do Reino e da família do Eterno.

Nessa porção semanal, também, encontramos informações maravilhosas, contidas nas palavras em hebraico e precisamos extraí-las para compreendermos o que o Eterno nos deixou.

Conforme disse acima, Abrão atendeu a voz de Adonai e iniciou sua peregrinação à terra de Canaã de Ur dos Caldeus ou Mesopotâmia, mas eles param em Haran quando era para ter seguido em frente até Canaã, lemos isso em Gn 11.27-32. Quando lemos o capítulo 12 parece para nós que o chamado do Eterno a Abrão foi ali, mas na verdade o chamado foi em Ur, e no capítulo 12 ele está em Haran. Há em outra parte das Escrituras algum texto que nos comprove isso? Sim, leia Atos 7.2 e 3:

“e Estevão disse: “Irmãos e pais, ouçam-me! O Deus da Glória apareceu a Avraham avinu na Mesopotâmia, antes de morar em Haran, e lhe disse: Deixe sua terra e sua família e vá para a terra que eu lhe mostrarei.” (Bíblia Judaica Completa)

Sendo assim, o que podemos aprender?

Em primeiro lugar, que as Escrituras nos trazem as informações que precisamos saber, basta que meditemos nela com muito cuidado.

Em segundo lugar, que devemos obedecer aos mandamentos de Deus seguindo os princípios que Ele estabeleceu. No caso de Abrão, quando o Eterno lhe chamou deu-lhe uma determinação, deixar a terra e a parentela, mas ele saiu com seu pai Terah e seu sobrinho Ló. Os rabinos dizem que Terah era idólatra, então Abrão já estava levando um problema, pois o Eterno estava tirando ele de uma terra idólatra, então como ele iria levar consigo a idolatria de seu pai?

E em terceiro lugar, era para sair da terra e ir para onde Deus mostrasse, no entanto, eles pararam em Haran, que era uma cidade ainda nas terras de Ur. Por isso, no capítulo 12 lemos algumas especificações importantes, como: um resumo da chamada ou uma repetição dela, a promessa de fazer dele uma grande nação, a promessa de engrandecer o nome dele, a determinação de que ele fosse uma benção, benção e maldições para os que abençoassem e amaldiçoassem a ele e a seus descendentes, respectivamente, e finalmente, a promessa para as famílias da terra.

Passaremos agora a ver algumas informações dentro do texto original que podem nos trazer uma edificação espiritual e um conhecimento mais profundo da Torá.

Essa parashá têm início com uma palavra, um comando ou uma ordem do Eterno, e alguns rabinos até consideram que possa ser um teste.


וַיֹּאמֶר יְהוָה אֶל-אַבְרָם, לֶךְ-לְךָ מֵאַרְצְךָ וּמִמּוֹלַדְתְּךָ וּמִבֵּית אָבִיךָ, אֶל-הָאָרֶץ, אֲשֶׁר אַרְאֶךָּ

vaiomer Adonai El-Avram lech lecháh mearetseka umimoladetekha umibeyt aviykha El-haarets asher arêeka

E disse Adonai a Avram vá por ti da sua terra, e do meio da sua parentela(pátria/origem), e da casa de seu pai (ancestral) para a terra que te mostrarei.

Quando Avraham completou 75 anos recebeu a ordem do Eterno: “Vá por ti!” É como se D’us dissesse pra ele, agora que já viveu e completou suas explorações e conquistou seus objetivos pessoais, volte-se para dentro de ti mesmo e inicie nessa jornada até o seu próprio ser. De acordo com um artigo do site Chabad.org, “paradoxalmente, quanto mais pessoal é a jornada, mais necessitamos de auxílio e conselhos.” E Abrão estava nesta condição, de quem precisa de conselhos, talvez por isso ele saiu de Ur com alguns parentes. Então, após refletirmos e meditarmos nesse texto, devemos nos perguntar, por que deixar sua cidade natal? E por que isso seria um teste? Para responder a isso devemos mais uma vez recorrer a tradição do povo de Israel, os descendentes de Abrão, e pela tradição oral, conforme já mencionamos no início deste estudo. Avram não era uma pessoa muito popular onde nasceu. Os sábios de Israel afirmam que Ele foi desprezado, perseguido, atacado e quase morto – até que foi milagrosamente salvo de uma fornalha ardente. Por que deixar esse lugar seria considerado um “teste”?

Era um teste porque ele precisava decidir viver ali em meio à idolatria e a perseguição ou sair e salvar sua vida, vivendo para o Eterno. Porque a tradição também diz que quando ele era pequeno Teráh tinha uma loja de estátuas dos deuses mesopotâmicos, e um dia precisou sair deixando a loja sob a responsabilidade do jovem Avraham, que na ausência do pai destruiu todas as estátuas. Quando Teráh voltou e viu tudo destruído perguntou o que tinha acontecido e o jovem respondeu que as estátuas começaram a brigar entre si e a si destruírem. O pai olha para o jovem e diz: “o que é isso garoto, as estátuas não se mexem.” Então o jovem Avram pergunta: “se é assim, então porque o senhor ora a elas e confia nelas?”

Podemos então entender, com o termo “lech lechá” (Vá por ti), que o Eterno estava chamando Abrão para cumprir um propósito, e o próprio D’us mostra esse propósito no texto que lemos em Gn 12. 1-3. O propósito de HaShem para ele era abandonar tudo para seguir as orientações do Senhor, era ser uma grande nação e ser uma benção, inclusive para as famílias da terra. Assim, podemos aprender com esta parashá que devemos buscar o propósito do Eterno para nossas vidas, porque ele sempre tem propósitos para cada um de nós. Reflita em sua vida e nos propósitos que o Senhor tem para você nesta terra e nesta época.

Muitas pessoas se perdem com coisas desse mundo, distante de Deus e de seus mandamentos, e principalmente sem cumprir em suas vidas o propósito do céu. Imagina um jovem que morre nas drogas, cujo propósito de Deus na vida dele seria ser um cientista ou um médico, e uma jovem que se perde pela prostituição, quando o propósito para ela era ser uma enviada às nações, e assim são tantos propósitos que são impedidos de serem cumpridos.

Finalmente, um dos propósitos de Abrão, era ser benção para as famílias da terra, e isso se daria pela sua linhagem, através do nascimento do messias, por meio do qual os homens encontrariam o caminho para servir ao Eterno e ser aproximado à família desse valoroso personagem.

Simon Jacobson, em seu artigo do site Chabad,org diz que:

O chamado “Lech Lecha” ressoa através da história enquanto convoca cada um de nós: você levará uma vida impulsionada por interesses existenciais, ou uma vida aspirando transcendência?

A cada momento de nossas vidas, em cada encontro que temos, há duas escolhas: ser medíocre ou ser grande. Você seguirá suas necessidades egoístas e imediatas, ou vai transcender seu ser natural e ir além de si mesmo – para a sua essência, para quem você realmente é? Para você será suficiente ficar nos confins das forças que o moldaram, ou você pretende ir além do seu ser?

À medida que cada um de nós passa pela jornada da vida, chegamos a uma encruzilhada na rodovia e enfrentamos muitas vezes essa questão. Ler a história de Avraham pode ser uma tremenda inspiração. A história de nosso pai Avraham é a nossa história. Ele é o “pai de todas as nações” – o primeiro homem a descobrir a transcendência – e nos ensina que a única reação verdadeira às dúvidas e à confusão é abraçar nosso chamado imutável. Avraham começou a jornada há 3747 anos (Lech Lecha ocorreu no 75º aniversário de Avraham); somos levados a concluí-la. Lech lecha é o chamado imortal a Avraham para empreender uma jornada que desafiaria a própria natureza da existência – atingir céu e além, e trazê-lo de volta para a terra.

No espírito de Avraham, eis aqui uma humilde sugestão: vamos todos pensar e então anotar qual a jornada que estamos adotando em nossa vida? Estamos encurralados em nossas zonas de conforto? Que temores e incertezas nos mantêm paralisados? E então pergunte a si mesmo: qual é a coisa mais certa em sua vida? O que você sabe é real com certeza absoluta e incondicional?

Se não pode encontrar a resposta, comece olhando agora. Ouça o chamado “Lech Lecha” e inicie sua jornada. Se você tem a resposta, acalente-a e apegue-se a ela com cada fibra do seu ser – e acima de tudo, faça jus a ela.

Toda experiência em nossas vidas nos oferece a oportunidade de atingir a grandeza. Você vai chegar a essa ocasião?

Assim como foi prometido a Avraham quando ele embarcou em sua jornada, também recebemos a promessa na nossa: “Eu farei de ti uma grande nação. Eu te abençoarei e te farei grande, e te tornarás uma bênção. Eu abençoarei aqueles… todas as famílias da terra serão abençoadas através de ti.”

E se a parte cética em você se pergunta se vai ser abençoado dessa maneira, considere isto: Esta bênção foi concedida a Avraham há mais 3747 anos, e nos milênios que se seguiram desde então até agora, vimos sua concretização – apesar de todas as dificuldades. Alguém pode duvidar que a mesma bênção pode ser cumprida hoje em nossas jornadas?

Essas palavras extraídas do site Chabad.org, nos fazem refletir em nossa situação como seguidores do messias Yeshua, que é o nosso modelo de vida dentro do propósito Lech Lechá do Eterno para todos os que aceitam o desafio de viver uma vida de obediência. Sair do meio do sistema, do erro, do pecado e caminhar seguindo a trilha que a luz da Torá nos conduz é seguir os passos de Yeshua, e com certeza, isso nos levará ao encontro de pessoas que precisam também conhecer o chamado. Afinal, em Yeshua somos descendência de Avrham, e por isso devemos ser benção para as famílias da terra.

Que o Eterno lhes abençoe!


Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- El Midrash Dice Bereshit – O Midrash disse

- httpshttps://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/820899/jewish/Uma-Jornada-a-essencia

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771006/jewish/Resumo-da...

- http://shaareishalom.net.br/o-universal-e-o-particular-parashat-lech-lecha/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

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