Estudos da Torá
Parashá nº 34 – Bamidbar (No deserto)
Vayicrá/Levítico Nm 1:1-4:20,
Haftará (Separação) Os 2:1-22; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 1:1-12:59
1 - INTRODUÇÃO
Como sempre iniciamos nosso estudo com um resumo, veja a seguir um extraído do site “Chabad”.
A Parashá Bamidbar, a primeira porção do quarto livro da Torá, está principalmente envolvida com o recenseamento do povo judeu feito no segundo mês de seu segundo ano no deserto. Após relacionarem os líderes das doze tribos de Israel, a Torá apresenta os totais de homens entre as idades de 20 e 60 anos para cada tribo, sendo que a contagem totalizou 603.550.
A estrutura do acampamento é então descrita, com a tribo de Levi no meio, guardando o Mishcan, Tabernáculo, e cercada pelas doze tribos de Israel, cada uma na área que lhe foi designada. É feita a designação da tribo de Levi como os líderes espirituais do povo judeu, e seu próprio censo é realizado, à parte do restante de Israel.
A porção da Torá conclui com as instruções dadas à família de Kehat, o segundo filho de Levi, pelo seu papel em lidar com as partes mais sagradas do Mishcan.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
Nesta semana iniciamos o estudo no livro de Bamidbar (No deserto), o quarto livro da Torá foi assim intitulado em hebraico, porque nele é narrada a história dos israelitas em sua longa jornada no deserto. Um outro nome que o povo de Israel dá a esse livro é “Chumash Hapecudim” (Livro dos Censos), pelos diversos censos incluídos em seus primeiros capítulos. A bíblia na “Versão dos Setenta” chamou este livro de “Aritmói”, palavra grega que significa Números. O verdadeiro sentido que eles quiseram dar à palavra “Aritmoi” foi o dos censos.
Nesse livro é relatada a história dos B’nei Yisrael em sua longa estadia no deserto; quarenta anos da vida de um povo nômade num lugar estéril; a luta contra a natureza hostil e o desejo de chegar à Terra Prometida.
A Torá da Editora Sêfer, no texto de introdução desse livro, diz que Moisés
é o herói do livro e frequentemente se entrelaçam algumas lendas com dramáticas narrações. O livro de Números/Bamdbar pode ser dividido em três partes, na primeira, que trataremos aqui, narra os últimos acontecimentos ao pé do monte Sinai e as diferentes decisões tomadas por Moisés antes de realizar sua longa travessia pelo deserto; nos capítulos 1 e 2 encontramos ainda os censos das diversas tribos, das quais, como dissemos antes, deriva o título grego do livro.
Depois de conhecer um pouco sobre o livro, passemos ao texto em si.
“E falou o Eterno a Moshé no deserto de Sinai, na tenda da reunião, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da saída dos filhos de Israel da terra do Egito, dizendo:” Nm 1:1
Nessa parashá (porção) estaremos iniciando o livro de Bamidbar (Números) e as lições que podem ser aprendidas com o povo de Israel durante sua estadia no deserto. Na verdade esse é o motivo do nome desse livro, o povo estava no deserto recebendo as instruções do Eterno. Podemos perceber nesse primeiro verso que Israel serve a um D’us vivo, pois diz que Ele “falou a Moshe”. Neste período de caminhada do povo pelo deserto do Sinai esta é uma característica fundamental do Eterno, pois Ele como o Criador de todas as coisas poderá guiar o seu povo através de caminhos que Ele mesmo traçou e conhece. Enquanto o povo obedecê-lo não haverá erros.
A palavra que foi traduzida como deserto é “midbar”, e vem da raiz “davar”, que por sua vez significa “falar”. Porém “midbar” não significa somente “deserto” em todo o seu sentido literal da palavra em português, pois ela denota “uma área árida, geralmente cheia de areia e com muito pouca ou nenhuma vegetação”. A palavra original pode apontar para um sítio deserto no sentido de desabitado, e isso fará mais sentido na medida em que o povo de Israel trouxe muito gado consigo quando saiu do Egito.
Observe que a Torá não nos diz que os animais comeram o maná no deserto. Logo podemos inferir que haveria pasto suficiente para eles durante os 40 anos naquele lugar, conforme Números 32:1.
“E muito gado tinham os filhos de Rubem e os filhos de Gad, e era em grande quantidade; e viram a terra de Ya’zêr e a terra de Guilead, e eis que o lugar era lugar de gado.”
Como o “midbar” se encontra fora da civilização, constitui-se como um lugar adequado para falar em privado, sem ter que correr o risco de ser ouvido pelos outros povos. Portanto, este lugar, onde se pode falar em privado, chegou a ser chamado midbar que literalmente significa “conversação”. O midbar é o lugar onde se pode falar de coisas íntimas sem ser molestado por outros, como lemos em Oseias 2:14:
“Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração.”
Veja como o plano de HaShem de tomar uma noiva, Israel, segue desde a Torá, passando pelos profetas, como lemos em Oseias acima, e finaliza em Apocalipse 12:6:
“E ela fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali fosse cuidada durante 1.260 dias.”
Então porque razão o Eterno levou Israel ao deserto? Para falar pessoalmente com a sua noiva, entrar no pacto matrimonial com ela e ali entregar-lhe o contrato de casamento (ketubah), a Torá. É um excelente momento para lembrar que a outorga da Torá foi no deserto, na festividade de Shavuot (semanas), cinquenta dias depois de Pessach, e considerando tudo o que aconteceu nessa ocasião, conforme lemos em Ex 19:16-19; e 20:18, podemos perceber os mesmos sinais no que aconteceu em Atos 2.
Esse contrato de casamento (ketubáh), a Torá, não foi entregue na terra de qualquer um, mas sim na terra de ninguém, para mostrar que não pertence somente ao povo de Israel, mas sim a todos os homens da terra.
Em nossas vidas, quando passamos por um deserto, não devemos encarar isso como algo negativo, mas como uma possibilidade de podermos nos aproximar do Eterno, e receber as palavras e instruções do Pai que nos ama e cuida de nós. Nesses lugares, onde aprendemos a depender de D’us e não de nossas próprias forças e capacidades é onde temos mais contato íntimo com nosso Elohim.
Um Midrash na Parashá
De acordo com o site Chabad.org, na parashá desta semana, encontramos um Midrash (Ensino) fascinante no primeiro versículo: "E D'us falou a Moshê no deserto do Sinai.". Esse Midrash explica que a Torá foi outorgada em associação com três coisas - fogo, água e no deserto.
Esse site ainda diz que, Rabi Meir Shapiro dá uma bela explicação sobre a importância destas três coisas. Segundo ele, o traço de caráter que destacou o povo judeu desde o início é o espírito de auto-sacrifício. Isso tem sido sempre evidente no cumprimento das leis da Torá e em nossa aderência à sua fé.
Avraham, o primeiro dos Patriarcas, segundo a tradição judaica, permitiu-se ser atirado a uma fornalha ardente por ter quebrado os ídolos de seu pai, e foi salvo apenas por um verdadeiro milagre de D'us. Por este ato, ele conferiu a todas as gerações futuras a vontade e a força de morrer por seu judaísmo. Algumas pessoas poderiam argumentar que este foi um ato de heroísmo isolado de um indivíduo notável. Deveriam então considerar um segundo exemplo envolvendo todo o povo de Israel. Quando o Mar Vermelho foi dividido, o povo marchou como uma só nação para as águas enraivecidas, a um comando do Criador.
É claro que alguém poderia argumentar ainda que este teste ocorreu em um período de tempo relativamente curto. Deixemos então que considerem o terceiro exemplo, o fato de toda a nação israelita voluntariamente entrar no deserto sem comida ou bebida, não sabendo quanto tempo teriam de lá permanecer. Fizeram isso apenas por amor e lealdade a D'us, como está escrito em Yirmiyáhu/Jeremias "Lembro-Me da afeição de tua juventude... como seguiram-Me no deserto, numa terra que não era semeada" (2:1).
Foi em virtude destes três testes - pelo fogo, água e deserto - que a Torá foi outorgada ao povo judeu como sua possessão eterna. A disposição para desistir de suas vidas pela sua crença em D'us, assegurou nossa sobrevivência até os dias de hoje.
A passagem pelo deserto durante os 40 anos teve como um dos propósitos, preparar o povo para entrar na terra prometida, moldar e transformar os seus corações. Cada um de nós em algum momento da nossa vida, após reconhecermos Yeshua como nosso remidor e exemplo de vida justa, passamos pelo deserto, onde experienciamos o processo de santificação, de Teshuvá, isto é, o retorno ao caminho que nos leva ao Pai, caminho esse que foi reaberto pelo sangue de uma vida justa, derramado pelo Seu Filho, Yeshua.
A Torá nos relata ainda nesta parashá que, após o pecado do bezerro de ouro, o Eterno escolheu a tribo de Levi em substituição aos primogênitos, para servir ao Criador no Mishcan e no Beit Hamicdash. Essa tribo foi dividida em duas partes: os cohanim e os leviím. Eles serviram no Mishcan, no primeiro e no segundo Beit Hamicdash e servirão no futuro quando Yeshua vier e com ele a glória do Eterno.
Haverá um momento em que alguns serão escolhidos como reis e sacerdotes do Rei Yeshua, e isso nos levará ao ápice do fazer a vontade do Eterno depois de uma vida de obediência nesta vida que vivemos. Servir ao Eterno e obedecer a sua Torá aqui e agora é apenas o início para cada um de nós.
Que possamos a cada dia continuar a caminhada em busca de ouvir o que o Eterno quer falar conosco no deserto.
Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822854/jewish/Mensagem-da-Parash.htm
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771041/jewish/Resumo-da-Parash.htm
- http://shemaysrael.com/parasha-bemidbar/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/34-_bemidbar_no_deserto.pdf