Estudos da Torá
Parashá nº 32 – Behar (No Monte)
Vayicrá/Levítico Lv 25:1-26:2,
Haftará (Separação) Jr 32:6-27; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 7:1-8:56
1 - INTRODUÇÃO
Na parashá “kedoshim” (Vayicrá/Levítico 19:9) aprendemos que algumas porções da colheita deveriam ser deixadas para os pobres (os cantos dos campos e o que caía ou era esquecido no campo, etc.). Nesta porção, no entanto, o Eterno pede algo mais aos fazendeiros, donos de terra e plantações, ele pede algo que para nós pode parecer impossível, mas para os que obedecem representa receber as bênçãos da obediência. Estudaremos sobre o ano de “Shemitah”(liberação).
Mas em primeiro lugar, vamos ao nosso resumo dessa parashá, como de costume. A parashá Behar, concentra-se principalmente nas mitsvot referentes à terra de Israel, começando com a ordem de cumprir Shemitá - a mitsvá de deixar o campo sem cultivo a cada sete anos, abstendo-se de plantar e colher. Da mesma forma, a terra em Israel deve permanecer não cultivada no Yovel, ou 50º ano, quando então a propriedade de todas as terras retorna automaticamente à sua herança ancestral.
D'us promete que abençoará a terra no sexto ano, para que produza alimentos suficientes para durar por todo o período de Shemitá. Após descrever este processo, pelo qual os proprietários originais da terra podem redimir sua propriedade ancestral nos anos que precedem Yovel, a porção muda para falar sobre os pobres e oprimidos. Não apenas somos ordenados a dar-lhes tsedacá e fazer atos de bondade, como o ideal seria fornecer-lhes os meios para sair de seu estado de pobreza.
Somos proibidos de receber e pagar quaisquer juros em empréstimos feitos a outros judeus. A Torá então discute os vários detalhes a respeito de servos judeus e não-judeus que trabalham para judeus, e a mitsvá de redimir judeus que são servos de não-judeus. Todos os servos judeus devem ser libertados antes do início do ano Yovel.
A porção conclui repetindo a proibição da idolatria, e as mitsvot de guardar o Shabat da profanação e reverenciar os locais santificados de D'us
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
“E falou o Eterno a Moshê no monte Sinai, dizendo: Fale ao povo de Israel: Quando entrarem na terra que eu dou a vocês, a terra deverá guardar um descanso para o Eterno.” Lv 25:1-2
Inicialmente, vejamos o entendimento do nome da parashá, no caso a porção dessa semana é a porção “Behar”. A palavra “Monte” em hebraico é “Har”, e pode indicar “colina, outeiro, região montanhosa, monte, montanha”. O Eterno não falou com Moshê em qualquer lugar, mas no monte. Na Síria e países ao redor de Israel as montanhas eram adoradas e serviam de altares a cultos pagãos, daí podemos entender o que o salmista quer dizer no Salmo 121.1.
“Levanto os meus olhos para os montes e pergunto: de onde vem o meu socorro?”
É importante destacar que do ponto de vista profético nas Escrituras, os montes apontam para os servos do Eterno, aqueles que vivem em obediência à sua Torá. E representa também a autoridade do Eterno em relação aos reinos desse mundo.
HaShem se apresenta em uma montanha para mostrar aos seus filhos que ele é sempre a solução para qualquer que seja o problema apresentado, mas é preciso que também os seus filhos entendam que Ele é o D’us das alturas e é justamente ali, que Ele lhes dará a vitória. Enquanto os outros achavam que a montanha era um D’us, para os israelitas D’us aparecia na montanha.
O comentário da Torá da Editora Sêfer, sobre o descanso da terra para o Eterno, diz que os sábios indagam sobre “O que tem o assunto do ano sabático a ver com o monte Sinai?” “Por que está acentuado que as leis concernentes ao ano sabático e de jubileu (Yovel) foram dadas no Monte Sinai?” “Por acaso os outros mandamentos não foram dados no mesmo local?” E respondem: este fato pretende salientar que toda a Torá, com todas as Mitsvot, prescrições éticas e sociais, foram dadas pelo próprio D’us, nada do conteúdo da Torá tem origem nas fontes estranhas, e ninguém tem o direito de modificá-las ou de emendá-las. O comentário continua, dizendo que a Torá não é comparável a qualquer outra legislação popular, ela não é uma constituição elaborada por juristas versados nos diversos códigos da jurisprudência, a Torá não é uma compilação de regulamentos e estatutos aplicáveis em determinadas épocas, em ocasiões específicas ou em circunstâncias limitadas. Ela não é um manual legislativo com vigência restrita a um certo país, a um certo regime político. Ela é um código moral para a eternidade, para todas as gerações e épocas, dizem os sábios.
A parashá desta semana nos dá uma visão de um assunto delicado. A fé demonstrada na prática, a fé verdadeira, a confiança no Eterno e na sua provisão. Vemos a Torá introduzir um novo conceito, o do ano sabático. Da mesma forma como há semanas de dias, também há semanas de anos. E como o sétimo dia da semana é um dia de cessar qualquer atividade, assim também o Eterno estabeleceu que cada sétimo ano seja para cessar o trabalho agrícola e dar descanso à terra de Israel.
Mas porque o Eterno mandaria o povo guardar o sétimo ano, fazendo dele um ano sabático?
Como vimos na introdução acima, Adonai primeiro manda que os agricultores da terra de Israel deixassem os cantos e as porções caídas ou esquecidas para os pobres da terra e para os estrangeiros, vimos isso na parashá “kedoshim”, e podemos confirmar o cumprimento desse mandamento na história de Rute, em Rt 2.
Porém, nesta semana vemos algo ainda mais sério, eles teriam que observar o “Shemitah”, permitindo que seu campo permanecesse sem cultivo a cada sete anos. Isto com toda certeza não deveria ser algo fácil de se praticar, claro que, olhando com olhos meramente humanos, ou seja, celebrar o Shabat e se manter casher (puro) é uma coisa, mas sacrificar o próprio meio de vida por um ano inteiro parece loucura, mas aos olhos espirituais de quem vive a fé verdadeira, isso seria diferente, seria a demonstração de confiança no Eterno.
Mais uma vez, o comentário da Torá da Editora Sêfer, acerca do verso 4, nos diz que todo sétimo ano, desde o ano da criação do mundo, é um ano sabático, Shemitah em hebraico, durante o qual a terra deveria ficar em repouso. Os produtos que crescessem espontaneamente no campo eram socializados e pertenciam a todos, desde o servo ao estrangeiro, e até mesmo o gado e os animais selvagens da terra. A palavra Shemitah expressa a ação de largar e soltar. No ano da Shemitah, o credor renunciava cobrar o que lhe deviam (Dt 9:2). Além disso, todos eram obrigados a emprestar ao necessitado, dinheiro e alimentos sem juros (Lv 25:37), assim se mantinha o equilíbrio da fortuna, os ricos cobrindo o déficit dos pobres.
E com isso vemos como a sabedoria do Eterno age em sua Torá para instruir o homem a ser melhor e agir de forma a obedecer seus mandamentos enquanto ajuda ao que precisa.
Muitos comentaristas da Torá fazem várias interpretações acerca do mandamento da “Shemitah”, Keli Yacar discorda de muitas delas, mas explica que Adonai teria exigido a cessação de toda atividade agrícola com o objetivo de instruir o povo a confiar exclusivamente em Deus, pois se tivessem permissão de plantar e colher à vontade poderiam pensar equivocadamente que seu meio de vida e sustento deveriam ser atribuídos ao seu próprio esforço. As pessoas poderiam erroneamente pensar que seu próprio controle sobre as forças naturais do mundo estabeleceriam seu destino e sucesso. Por isso, o Eterno institui o ciclo “Shemitah” para que o povo perceba que suas conquistas e realizações dependem completamente da graça e boa vontade Dele. Quando ficassem diante da realidade da colheita inexistente, o povo não teria outra escolha a não ser voltar-se para D’us por sustento e apoio.
Mesmo que nós não sejamos uma sociedade agrícola, ou fazendeiros, e por isso, não possamos apreciar completamente a importância de um ano de “Shemitah”, mesmo assim podemos também tirar uma lição para nossas vidas. Muitas vezes nos tornamos presas do nosso próprio sucesso, e nos damos tapinhas nas costas e nos congratulamos por um trabalho bem feito. E acabamos deixando de perceber a verdadeira fonte de nossa prosperidade. Nos iludimos pensando que:
“minha força e o poder de minha mão trouxeram-me esta riqueza” (Devarim/Deuter 8:17).
O Eterno permite que passemos por tempos difíceis para percebermos nossa incapacidade e total dependência Dele.
Se fizermos uma analogia com o cumprimento do Shabat poderemos entender o princípio do ano de Shemitah. O Eterno não nos manda celebrar e guardar o Shabat apenas para que possamos recordar que Ele criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou. É muito mais que isso, quando cumprimos o Shabat, demonstramos que confiamos em D’us e compreendemos que HaShem cuida de nós e não deixará de cuidar. Aquele que guarda o Shabat demonstra que o D’us que ordenou descansar neste dia proverá suas necessidades. E esse princípio é ampliado para o ano de Shemitah.
Outra coisa importante que devemos levar em consideração sobre o Shemitah é que neste ano, de acordo com o site Emunah a fé dos santos, todos os israelitas e gentios, residentes nas terras de Israel, teriam o mesmo direito de se alimentar de tudo o que cresce nos campos. Isso porque todos os vegetais e os frutos que crescem no ano sabático, são santos. Por isso, devem ser tratados de forma digna.
Promessas de D’us para aqueles que guardassem o ano de Shemitah
O Eterno fez três promessas ao povo de Israel, se eles observassem a mitsvá (mandamento) de Shemitah.
1 - D’us prometeu que a colheita do ano anterior ao ano de Shemitá duraria três anos: “Não se preocupem. Abençoarei a terra, de modo que a colheita do sexto ano seja suficiente para o sexto, sétimo e oitavo anos.”
2 - D’us prometeu que “Durante o ano de Shemitá ficam satisfeitos, apesar de comerem pequenas quantidades de alimento. Assim, sua produção agrícola durará.”
3 - E a terceira promessa: “Se guardarem tanto os anos de Shemitá como os de Yovel (Jubileu), estarão seguros em Israel. Porém se não observarem nem Shemitá, nem Yovel, seus inimigos os forçarão ao exílio.”
Shemitah e Yovel e o exílio babilônico
Veja o que o comentário rabínico de Rambam diz: “...o povo de Israel celebrou o primeiro ano sabático, chamado “shemitah”, no ano 21 depois do início da conquista e da distribuição da terra sob a liderança de Josué. A conquista e a distribuição da terra durou 14 anos. O ano 15 foi o primeiro ano do ciclo de sete anos, e o ano 21 foi o sétimo. Segundo um cálculo, decorreram 836 anos desde o ano 15 depois da entrada na terra até à deportação para a Babilônia. Entre estes dois períodos, os anos sabáticos e de jubileu só foram observados 400 anos, e durante os 436 anos não foram respeitados. Durante 432 anos há 62 sabáticos e 8 anos de jubileu, os quais somam 70 no total (62+8=70). O cativeiro babilônico veio quando o povo de Israel tinha deixado de guardar 70 anos sabáticos, como lemos em Vayicrá/Levítico 26:35.
“Todos os dias da assolação descansará, porque não descansou nos vossos shabatot, quando habitáveis nela.”
O cativeiro babilônico durou 70 anos, como está escrito em Yermeyahu/Jeremias 29:10.
“Porque assim diz o Eterno: Certamente que, passados setenta anos na Babilônia, vos visitarei e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando-vos a trazer a este lugar.”
Nesse texto o Eterno relembra ao povo que se eles obedecessem aos mandamentos e guardassem os shabatot, as bençãos seriam sobre a vida deles. E aprendemos com isso que ao seguir corretamente aos preceitos de HaShem por amor, nós só temos a ganhar, mesmo que tudo esteja ruim ao nosso redor, ele estará conosco. Devemos ser firmes e constantes na decisão de servir ao Eterno e seguir suas instruções.
Que o Eterno lhes abençoe!
Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
- http://shemaysrael.com/parasha-behar/
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822852/jewish/Mensagem-da-Parash.htm
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771039/jewish/Resumo-da-Parash.htm
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/32-_behar_na_montanha.pdf
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