Estudos da Torá
Parashá nº 31 – Emôr (Fala)
Vayicrá/Levítico Lv 21:1-24:23,
Haftará (Separação) Ez 44:15-31; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 5:1-6:49
1 - INTRODUÇÃO
Iniciando nosso estudo pelo resumo, como sempre fazemos e seguindo os passos da ordem dada na porção da semana anterior a toda a população dos filhos de Israel para ser santa, a Parashá Emor começa discutindo várias leis dirigidas especificamente aos Cohanim (sacerdotes) e ao Cohen Gadol (sumo sacerdote), cujo serviço Divino exige que mantenham um alto padrão de pureza. Ela contém a ordem para que o Cohen abstenha-se de ficar ritualmente impuro através do contato com um corpo morto (exceto parentes próximos) e aumenta as restrições sobre quem poderiam desposar.
A porção cita defeitos físicos que impedem um cohen de realizar seu trabalho no Templo Sagrado, a menos que se cure. O assunto então volta-se à nação inteira: qualquer um que esteja tamê (impuro), recebe ordens de afastar-se dos locais e coisas que sejam especialmente sagradas. Após discutir as leis de terumá (a pequena porcentagem de comida que deve ser separada da colheita na Terra de Israel e dada a um Cohen, antes que a porção restante possa ser comida) e as várias imperfeições que tornam uma oferenda inadequada, somos advertidos a ser cuidadosos para não profanar o nome de D’us e, ao contrário, santificá-Lo a todo custo.
A Torá continua a discutir as festas do ano (Pêssach, Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucot e Shemini Atsêret), seguidas pelas duas mitsvot constantes mantidas no Mishcan: o acendimento da menorá todos os dias e a exibição de lechem hapanim (pão da proposição) a cada semana. A porção termina com o horrível incidente de um homem que amaldiçoou o nome de D’us e foi punido com a pena de morte por ordem Divina.
No estudo da parashá desta semana veremos alguns aspectos da Torá a respeito dos sacerdotes e sobre as coisas santas. Teremos a oportunidade de observar mais uma vez como uma vida de santidade deve ser vivida e como isso exerce influência em nossas vidas.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
Inicialmente, vamos entender o significado da palavra que dá nome a essa porção.
Emôr
Essa palavra significa “fala” ou “dize”, são verbos no imperativo, que expressam ordem. Como “vá e fale” ou “vá e dize”.
“E disse o Eterno a Moshê: Fala aos sacerdotes, filhos de Aharon, e lhes dirás: O sacerdote, por um morto entre seu povo, não se fará impuro.” Lv 21:1
No primeiro verso do texto em estudo encontramos a frase: “emor el hakohanim beney aharon...” “...Fale aos sacerdotes, filhos de Aharon...”.
Na parashá anterior, a porção “kedoshim”, estudamos sobre a santidade do povo, agora nesta porção, Moshê recebe a ordem de D’us de falar só para os sacerdotes, por isso o termo “emôr” aparece, para intensificar que Adonai queria que Moisés falasse aos sacerdotes. Era uma ordem direta a esta classe dentro da comunidade dos filhos de Israel.
Claro que o povo precisa viver em santidade diante de D’us, porém os sacerdotes têm a responsabilidade de viver num nível de santidade superior ao povo, porque têm o direito de estar mais perto do Eterno no serviço do santuário. Como aprendemos que os mandamentos trazem santidade, aos sacerdotes são aplicados mais mandamentos do que ao povo.
“Adonai disse a Moshê: Fale aos kohanin, os filhos de Aharon; diga-lhes: Nenhum kohen se tornará impuro por nenhum membro de seu povo que morrer,” (Lv 21:1 – BJC)
Perceba que nessa parte, o Eterno está dando instruções aos sacerdotes para que possam se manter no seu estado de santidade, não tocando em um morto dos filhos de Israel. Aharon e seus filhos não deveriam contaminar-se por causa de um morto entre seu povo. Note que a palavra “contaminar-se” em hebraico é “tamé” e significa “ser (ficar) impuro, imundo”. A raiz dessa palavra é o termo “tumá” que significa “impureza”, estudamos sobre isso na parashá Metsorá, que falava sobre lepra. Mas o que então seria essa impureza? Porque um corpo morto é considerado uma impureza?
A impureza está justamente no contato com a morte, pois ao sacerdote havia sido delegado o ministério de ter contato com o Eterno, que é a fonte e a origem de toda a vida, e o sacerdote por consequência seria também o portador da vida, não podendo assim, ter contato com outra fonte (que não fosse a da vida) para não se contaminar ficando impuro, por causa da morte.
Encontramos ainda neste texto a palavra “nefesh” que significa vida, alma, criatura, mente, indivíduo, ser, pessoa. E também o termo “am” que é povo, específicamente para o povo de Israel. Ou seja, o sacerdote não deveria contaminar-se por qualquer alma, criatura, pessoa, mesmo que faça parte do seu povo. E podemos ainda entender que essa contaminação não fica somente a um nível físico e espiritual, mas também emocional. A nefesh do homem pode ser atingida e abalada de diversas formas e em vários momentos de sua existência. Por isso o Eterno cuida para o sacerdote não se contaminar ao se expor a determinadas situações, porque ele seria responsável pelo bem estar espiritual de todo o seu povo e por isso deveria receber cuidados especiais.
Mas temos ainda mais algumas coisa a aprender ainda com o verso 1 dessa porção. O comentário da Torá da editora Sefer, a respeito desse verso, diz que Rashi ao indagar a razão da repetição da ordem “Emor” e “Veamartá” (“fala” e “lhes dirás”), explica que é para advertir os grandes para que cuidem dos pequenos. Não somente os Cohanim adultos devem ser cautelosos para não se tornarem impuros; também os jovens Cohanim, os Ketanim, devem saber que chegará o dia em que substituirão os Guedolim nos serviços e obrigações sacerdotais; e para se tornarem dignos da missão sagrada, eles devem ser treinados, disciplinados e orientados para o alto e responsável cargo, desde a mais tenra infância. O referido comentário, ainda nos informa que grande educadores chegaram à conclusão de que falta de compreensão entre pais e filhos e o abismo que separa as gerações, tem sua origem na própria casa paterna, porque na corrida vertiginosa atrás de divertimentos fúteis, segue o comentário, e a ânsia constante de acumular maiores bens materiais, se desinteressam completamente da formação espiritual e intelectual de seus filhos, deixando de ser exemplos para eles e abandonando-os aos cuidados do seu pessoal doméstico, a amizades perniciosas, a um meio ambiente desajustado e cheio de vícios. Assim, percebemos que é exatamente isso que a Torá resumiu na frase: “...e as inculcarás a teus filhos, e delas falarás, sentados em tua casa…” (Dt 6:7), indicando assim, que a casa, o lar, é o pilar da educação, ou seja, o mesmo que Rashi destacou com outras palavras, mas com o mesmo sentido, conforme mencionamos antes: os maiores devem dedicar maior atenção aos menores. É interessante notar, diz o comentário, que só na língua hebraica a escola é denominada de Beit Sêfer (casa livro), nos mostrando que sem Bayit (casa) não pode haver Sêfer (livro). E o termo Sêfer em um sentido mais amplo pode significar cultura, educação, integridade de caráter. Assim, aprendemos que quando se unem a casa e o livro, criam uma geração que se torna uma felicidade para a própria família e uma bênção para a humanidade, finaliza o comentário.
O Entendimento que podemos ter de tudo isso, é a importância de ensinar aos nossos filhos através de nossas práticas de santidade e obediência à Torá de HaShem. Nossa vida prática fala mais que nossas palavras, e isso serve para nossos filhos, mas também para além dos limites das mezuzot em nossas portas, ou seja, para as pessoas que nos cercam e que estão fora das nossas casas.
“com exceção de seus parentes mais próximos – mãe, pai, filho, filha e irmão, ele poderá também tornar-se impuro pela irmã virgem que nunca se casou, e portanto, era dependente dele.” (Lv 21:2-3 – BJC)
O sacerdote somente poderia tocar em um morto se fosse um de seus seguintes familiares: esposa, mãe, pai, irmão, irmã solteira, filho e filha. Por estes ele poderia guardar luto e interromper o serviço no templo no dia do seu enterro.
Pela tradição judaica esta lei tem uma exceção chamada “met mitsvá”, ou seja, quando um cadáver é encontrado num lugar deserto ou quando aquele que morre não tem parentes que se possam ocupar do funeral, o primeiro a encontrar deverá fazer o sepultamento. Assim, quando não há outra pessoa para realizar o sepultamento, o sacerdote deve fazê-lo mesmo que se contamine. E isso não fará que perca seu ministério sacerdotal.
Pensando nisso, talvez possamos entender as reações do sacerdote e do levita na parábola do bom samaritano, em Lucas 10:30-35. É provável que eles não saberiam se o homem estava ferido ou morto, o texto nos dá uma ideia, ele diz que o homem foi deixado quase morto. Se o homem estivesse morto, de acordo com a Torá, tinham que evitar o contato com o seu cadáver para não se contaminarem e perderem seu ministério, e como era um caminho como muito tráfego de pessoal, não podia ser considerado um lugar deserto. Por esse motivo, de acordo com a tradição, não havia a responsabilidade ou obrigação de o enterrar segundo a lei do “met mitsvá”, já que não era um lugar deserto e nem eles poderiam ser os primeiros a vê-lo. E talvez, ainda, exatamente por isso Yeshua tenha usado tais exemplos nessa parábola, a fim de ilustrar, que devemos ter o verdadeiro amor ao próximo, um amor que venha da atitude correta. Ou seja, devemos ser mais observadores dos detalhes, veja o que segue.
Entretanto, caso o homem estivesse vivo, era o seu dever ajudá-lo. Parece que o sacerdote e o levita não estavam sequer interessados em saber se o ferido estava vivo ou morto, e isso por si só, já é uma falta muito grave. E caso soubessem que o homem estava vivo, seu delito seria mais grave ainda, por não o ajudarem, segundo o mandamento que lemos em Lv 19.16b onde diz:
“não ficarás sem reação perante o sangue do teu próximo. Eu sou o Eterno.”
O mais importante nesse contexto é que o sacerdote deveria ser santo a seu D’us, e a santidade implica em obedecer a mandamentos aplicáveis a cada um de nós, incluindo o amor ao próximo. Conforme já vimos em outras ocasiões, a palavra “santo” em hebraico é “kadosh” e significa ser consagrado, separado, ser santo, santificado, preparar, dedicar. Os kohanim deveriam manter-se consagrados, dedicados, santificados ao seu D’us! Uma das palavras que definem o Eterno é Elohim e significa que o sacerdote precisa obedecer ao seu Criador para não tornar-se “halal”, ou seja, profano, profanando assim o nome daquele que é seu Criador. Esta condição permitiria que eles assim pudessem continuar a oferecer as ofertas ao Senhor e o pão de seu D’us!
O sacerdote tinha também a função de receber o alimento no santuário! Um outro ponto interessante é que a palavra pão em hebraico é “lechem” e significa “comida”, “pão cereal” e o termo que define o Eterno em hebraico, novamente, Elohim. Isso nos aponta a respeito da provisão diária que viria sobre a vida dos sacerdotes que receberiam também o seu alimento enquanto estivessem oficiando ao Eterno. O Eterno não desampara nem abandona aos seus!
Talvez você se pergunte, porque o Eterno fez tanta questão de mostrar que os Sacerdotes deveriam ser diferentes? E quando vemos o motivo, podemos trazer a verdade e o princípio para nossas vidas. Veja abaixo o que um midrash fala a esse respeito.
Cohanim e Levitas
Na Parashá anterior, Moshê disse ao Povo de Israel que eles eram a nação santificada para D'us. Por isso, deveriam respeitar muitas leis que os não-judeus não precisam cumprir. Moshê continuou dizendo: "Uma tribo entre vós é mais santa que as outras: a tribo de Levi. E dentro da tribo de Levi, os cohanim são ainda mais santos que os demais levitas. Apenas os cohanim podem executar a avodá (serviço) dos corbanot (sacrifícios). Os levitas farão as demais tarefas do Bet Hamicdash."
Por que D'us elegeu a tribo de Levi para servi-Lo no Bet Hamicdash?
A resposta é que esta tribo foi leal a D'us, mesmo em tempos difíceis e perigosos.
Apesar de a maioria dos membros do Povo de Israel adorar ídolos no Egito, os levitas nunca o fizeram. A maioria do povo deixou de fazer berit milá (circuncisão) em seus filhos recém-nascidos quando o Faraó o proibiu. Em contrapartida, os levitas continuaram a fazê-lo, apesar do perigo que isto representava. Também no deserto os levitas se destacaram como tsadikim. Quando Aharon perguntou "Quem doará ouro para fazer uma imagem?", a maioria dos homens doou. Porém nenhum homem da tribo de Levi doou, nem se inclinou perante o bezerro. Por isso, D'us disse: "Elegerei esta tribo de tsadikim para realizar Minha avodá no Mishcan e no Bet Hamicdash."
Um Cohen Não Deve Tocar Num Corpo Morto
Como os cohanim são o grupo mais sagrado da tribo de Levi, devem observar leis especiais.
Moshê ordenou aos cohanim: "Não podereis tocar nem carregar o corpo de um morto. Não podereis sequer permanecer sob um teto onde haja um corpo, e não podereis entrar num cemitério nem assistir ao enterro de outro judeu; não vos será permitido caminhar sobre um túmulo, nem tocá-lo. Porém, é uma mitsvá enterrar vossos sete parentes mais próximos, mesmo que isto os torne impuros."
Os sete parentes mais próximos de um homem são:
Sua esposa
Sua mãe
Seu pai
Seu filho
Sua filha
Seu irmão
Sua irmã solteira (se a irmã do cohen for casada, este não pode enterrá-la)
Atualmente, essas leis especiais ainda se aplicam aos cohanim, devendo ser observadas por homens e meninos, porém não por mulheres e meninas.
Similarmente, os cohanim que oferecem os sacrifícios no Bet Hamicdash devem ser puros, sem impurezas que se impregnam em seus corpos.
Um Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) é ainda mais sagrado que um cohen comum. Ele não pode sequer enterrar seus sete parentes mais próximos. Existe uma única pessoa cujo enterro é uma mitsvá para ele: um met mitsvá. No trecho seguinte, mais detalhes sobre isto.
Até um Cohen Gadol Deve Sepultar um Met Mitsvá (o corpo de um judeu abandonado)
Se um Cohen Gadol ou cohen estiver andando por um caminho deserto e deparar-se com um judeu morto, deve proclamar: "Encontrei um judeu que necessita de sepultura! Por favor, se há alguém me ouvindo, que venha e o enterre!"
Se alguém escutar seu chamado, o cohen não deve sepultar o corpo. Contudo, se ninguém o escuta, o cohen deve enterrar este judeu morto. Um cohen que sepultar um met mitsvá ou um de seus parentes torna-se impuro. Na época do Templo, não lhe era permitido voltar ao Bet Hamicdash ou realizar a avodá até ser purificado com água misturada às cinzas da vaca vermelha.
Assim, podemos entender que devemos servir ao Eterno obedecendo sua instrução de sermos santos, de sermos puros, ou seja, não nos contaminando com coisas desse mundo. É importante, entender a referência que Yeshua fez na parábola do bom samaritano, entendendo que além de mostrar a atitude de amor ao próximo que o samaritano teve, estava também apontando a rígida observância de regras por parte do sacerdote e do levita. Mostrando dessa forma, que devemos observar, e praticar o amor que age.
Que possamos amar ao Eterno a ponto de deixar as coisas dessa vida que pode nos tornar impuros, e nos impedir de nos mantermos firmes na caminhada com HaShem. E para isso, precisamos seguir as instruções da Torá limpa que Yeshua ensinava.
O Eterno lhes abençoe!
Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771038/jewish/Resumo-da-Parash.htm
- https://shemaysrael.com/parasha-emor/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/31-_emor_fala.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário