Estudos da Torá
Parashá nº 30 – K’doshím (Santos)
Vayicrá/Levítico Lv 19:1-20:27,
Haftará (Separação) Ez 20:2-20; 22:1-19; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 3:1-4:44
1 - INTRODUÇÃO
Depois de termos celebrado e estudado sobre Pessach e Hamatzot, essa semana, enquanto comíamos pães ázimos cada dia, e refletíamos sobre nossa vida e relação com o Eterno, começamos a leitura da parashá Kedoshim. Ela inicia-se com a ordem de D’us para toda a nação de Israel para ser santa, imitando a suprema santidade do próprio Criador. A Torá prossegue delineando uma infinidade de mitsvot através das quais podemos atingir a santidade, abrangendo uma grande variedade de assuntos, tanto mandamentos positivos como inferências negativas, lidando com nosso relacionamento ímpar com D’us e com nosso próximo.
Recebemos ordens de temer nossos pais, guardar o Shabat e abstermo-nos da adoração de ídolos. D’us nos instrui a deixar vários presentes de nossa colheita para os pobres e oprimidos, incluindo o canto dos campos e os feixes que caíram por acaso ao serem juntados. Devemos manter a justiça, fazer negócios honestos com nossos vizinhos, não praticar a maledicência, e de forma geral ter pelos outros a mesma consideração que temos por nós mesmos.
Segue-se uma descrição de várias categorias de kilayim (misturas proibidas) – hibridação de animais e plantas, e vestir shatnez (uma mistura de lã e linho em uma mesma peça de roupa) – a Torá discute orlá, a proibição de consumir frutas nos primeiros três anos após o plantio de uma árvore. A porção continua com uma lista das punições a serem impostas às pessoas que transgridem e participam das várias relações proibidas relacionadas na porção da semana anterior. A Parashá Kedoshim conclui com o mandamento, mais uma vez, para que sejamos um povo santo e distinto dentre as nações do mundo.
Daniel Lasar, em seu texto intitulado “Valores que perpetuamos”, no site Chabad.org, afirma que há uma importante correlação entre a porção kedoshim e a anterior, a Acharei Mot. Na porção anterior, D’us ordena ao povo de Israel:
“Não use a prática da terra do Egito na qual você habitou, e não use a prática da terra de Canaã à qual Eu o trouxe, e não siga as tradições deles” (Vayicrá/Levítico 18:3).
Já na porção atual, a porção kedoshim, o Eterno se dirige ao povo hebreu: “Sereis santos, pois Eu Sou Santo, HaShem, vosso Deus” (Vayicrá/Levítico 19:2). Estes dois versículos fornecem uma ênfase esclarecedora sobre não apenas como vivemos como servos de Adonai, mas do modo que vivemos no contexto de onde vivemos.
Nesta parashá abordaremos alguns fatos que nos demonstram que a qualidade de vida tem a ver com a santidade do homem. E sendo assim, poderemos perceber que há vários mandamentos, que quando obedecidos, conduzem-nos a um padrão de santidade cada vez maior. E teremos a oportunidade de entender que viver segundo os mandamentos do Eterno é melhor para nós, não apenas no âmbito físico, mas também no âmbito da Santidade.
Ainda, poderemos ver também nessa porção a questão do amor ao próximo, que muitos pensam ser algo apenas do Novo Testamento.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
Leiamos o seguinte texto da Torá:
“O Eterno disse a Moshe: “Fale a toda a comunidade de Israel; diga-lhes: Sejam santos, pois eu, Adonai, o Deus de vocês, sou santo.” (Lv 19:1,2)
Esse mesmo texto em hebraico é conforme na imagem abaixo, com transliteração:
Essa porção se chama “kedoshim”, que significa literalmente santos, o plural de “kadosh” (santo). Interessante que o Eterno tenha mandado Moisés dizer estas palavras a toda a congregação dos filhos de Israel.
Veja que a palavra “congregação” no hebraico pode ser:
- עֵדָה edah - comunidade, público, congregação, assembleia;
- קָהָל qahal - público, povo, comunidade, congregação, multidão, assembleia, igreja.
No verso em questão, o termo que aparece no texto em hebraico é “edah”, e o que a diferenciará das outras é o seu contexto, ou seja, a mensagem que o texto deseja transmitir. Aqui, ela está indicando “comunidade ou congregação”, e no Novo Testamento a traduziram como “sinagoga”. Sendo assim, fica claro, através do texto e de seu contexto, que o povo de Israel deveria receber e encarar estas instruções como algo que lhes conduziria à santidade, pois o Eterno aqui declara sua santidade e convoca seu povo para ser santo como Ele é! A congregação, a assembleia, o povo estava recebendo as instruções ou mandamentos do Eterno como um conjunto, como uma unidade. Estes versículos também nos ensinam que a santidade não era apenas para os sacerdotes e levitas, mas sim para toda a congregação dos filhos de Israel, assim como para os que o servem hoje.
A santidade consiste em ser separado dos costumes que são praticados pelos povos que estão afastados do Eterno, e dedicar-se a Ele em obediência à Sua instrução (mandamentos e estatutos). É viver e agir diferente, demonstrando essa diferença nas práticas da vida cotidiana, em seus mínimos detalhes. Vimos isso na semana passada na celebração de Pessach. E tudo isso se intensifica ainda mais, quando demonstramos ou repercutimos a vida justa de nosso messias em nossas próprias vidas, Pois ele era um cumpridor fiel da Torá de HaShem.
O Mandamento sobre os pais e mães e sobre o sábado
“Cada um respeitará a sua mãe e o seu pai e guardará os meus sábados. Eu sou o Eterno vosso Elohim.” (Lv 19.3)
À santidade estão ligados dois fatores importantes, que já tinham sido apresentados aos israelitas nas “Dez Palavras” (Dez Mandamentos Ex 20). O primeiro fator é o que fala sobre reverenciar os pais. Embora isso possa parecer um pouco antiquado na modernidade, mas este mandamento está ligado à uma vida longa nesta terra. Honrar aos pais refere-se ao respeito e ao cuidado que devemos ter à eles como autoridades sobre nossas vidas.
A palavra hebraica que foi traduzida como “respeitará” é “yaré” e ela significa também “temer e reverenciar”. Há uma diferença entre este mandamento e o de Ex 20:12 onde está escrito: “Honra a teu pai e tua mãe para que se prolonguem o seus dias na terra que o Eterno teu Elohim te dá.” Aqui está escrito que devemos honrar o nosso pai e a nossa mãe, e em Levítico 19 está escrito “temer”, “reverenciar” o pai e a mãe. Observe que honrar e temer são conceitos diferentes. Honrar aos pais tem a ver com o suprir a suas necessidades, como lemos em Mt 15:3-6:
“Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Porque Elohim ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Mas vós dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta ao Eterno aquilo que poderias aproveitar de mim; esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim, invalidastes a palavra de Elohim por causa da vossa tradição.”
Veja que a honra aos pais passa pela ajuda econômica, principalmente na velhice, mas também implica em obediência, conforme lemos o que Sha’ul HaShaliach escreveu em Ef 6:1-3.
“Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa) para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.”
Em Shemot/Êxodo aparece primeiro o pai e depois a mãe relativamente ao honrar, mas no texto de Levítico aparece primeiro a mãe e depois o pai relativamente ao temor e reverência. Será que há uma razão para isso?
De acordo com os rabinos, geralmente é mais fácil temer, no sentido de respeitar e reverenciar o pai, por se uma figura masculina, pois a criança tem tendências para se aproveitar da doçura de sua mãe e do seu caráter suave. Por isso, é mais fácil faltar com respeito à mãe do que ao pai, e talvez seja por isso que a Torá põe a mãe em primeiro lugar, para que não deixemos de mostrar respeito às nossas mães, e respeitemos o pai e a mãe de forma igual.
No estudo desta parashá do site “emunah a fé dos santos”, encontramos o seguinte sobre esse assunto:
“ao olharmos para o contexto, vemos que há uma escala de reverência, mãe, pai e ao Eterno. É uma escala invertida de autoridade. Segundo esta ordem, o menino vai aprender durante o crescimento quem está acima dele. Primeiro aprende a temer a mãe, que é quem passa a maior parte do tempo consigo durante os primeiros anos de vida. Logo aprende a reverenciar o seu pai, e finalmente aprende a reverenciar ao Eterno.
O segundo fator em relação à santidade, e que também está ligado à obediência aos pais é a guarda do sábado. Ele é a primeira das datas santas! O termo hebraico para “guardar” é “shamar” e significa “guardar, vigiar, observar, cumprir, esperar, cuidar, prestar atenção”. A guarda deste mandamento, deste dia, é um fator fundamental para a manutenção da unidade e da pureza na vida familiar. É o tempo em que os judeus e os que servem à Adonai se reúnem em família para celebrarem o shabat, e em obediência ao Eterno gozarem dos benefícios deste mandamento.
O Mandamento de amar o próximo
Dentre tantos outros mandamentos nesta parashá, ainda podemos nos ater ao que está escrito no verso 18: "veahavtá lereachá camocha – ame a seu companheiro como a ti mesmo".
Muitos pensam que este mandamento foi dado por Yeshua pela primeira vez quando ele pregava o Reino de Deus, e está registrado no evangelho de Marcos 12:28-31. Ou, para muitos, é conhecido como um bom slogan, que devem decorar paredes. No entanto, é um mitsvá, um mandamento, que exige a observância de cada pessoa, assim como todos os outros.
No tempo de Yeshua, havia uma discussão sobre a quem se estava a referir a Torá quando fala sobre o próximo. Em Levítico 19:18 parece que a expressão “teu próximo” somente faz referência aos “filhos de Israel”, ou seja, está limitado somente aos israelitas. Será que um membro da nação de Israel só está obrigado a amar os seus conterrâneos? E quanto a nós, será que devemos amar somente os nossos domésticos da fé?
Neste caso poderíamos aplicar a regra de interpretação número 5 do Rav Ishmael que diz que um preceito particular, “os filhos do teu povo”, é ampliado por um preceito geral que o segue, “teu próximo”. Yeshua também diz algo sobre isso no texto de Lucas 10:29:37, a parábola do bom samaritano.
Por isso, descobrimos que a expressão “o próximo” não se limita somente aos filhos de Israel, mas também aos estrangeiros, aos estranhos. No entanto, o amor deve ser demonstrado em primeiro lugar aos que estão mais perto. Aquele que não ama a seu irmão que vive com ele não pode amar o forasteiro que não conhece. O amor inicia com aqueles que estão próximos, se estende aos resto dos homens, conforme lemos em 2 Pe 1:5-7. Esse mesmo princípio deve se aplicar ao verso 34 de Levítico 19, onde se introduz a palavra hebraica “guer”, estrangeiro. Um “guer” pode ser um prosélito ou um estrangeiro que vive com os judeus. Veja parte do verso: “amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito”. Lembre-se que os filhos de Israel não foram convertidos no Egito, eram estrangeiros residentes. Assim, não se aplica a este mandamento, afirmar que “guer” se refere especificamente ao convertido, mas sim a todo o residente em Israel, e na sua extensão, no ensina também que temos que amar a todos os homens na terra. E isso se confirma com o que vimos no texto de Lucas 10:29-36, Yeshua demonstra que devemos interpretar a palavra “guer” no contexto da Torá, alinhado a esta porção.
Portanto, para concluir, o nosso próximo é aquele que está à nossa frente, não importa se é israelita ou estrangeiro, porque o amor não se limita somente aos que nos tratam bem, como podemos ler em Rm 5:6-10.
“De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, o Messias morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo; pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas D’us demonstra seu amor por nós: O Messias morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de D’us por meio dele! Se quando éramos inimigos de D’us fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!”
Que possamos viver nossas vidas como servos do Eterno, seguindo as instruções da Torá e do Messias Yeshua, nosso Rei e irmão mais velho, aquele que o Eterno separou para nos dar o exemplo.
Que o Eterno lhes abençoe!!!
Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
- http://shemaysrael.com/ieshua-e-azazel-em-acharei-mot-kedoshim/
- https://pt.chabad.org/parshah/article_cdo/aid/1186954/jewish/Mensagem-da-Parash.htm
- https://pt.chabad.org/parshah/article_cdo/aid/1186953/jewish/Resumo-da-Parash.htm
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