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sábado, 19 de novembro de 2022

Estudo da Parashá Chayei Sara (A vida de Sara) - Inferno ou Sepultura?

 


Estudos da Torá


Parashá nº 5 – Chayêi Sará (A vida de Sara)

Bereshit/Gênesis Gn.23:1-25:18

Haftará (separação) 1Rs. 1:1-31 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 8:1-9:38, Lc 9:57-62


Tema: Inferno ou Sepultura?


RELEMBRANDO


No estudo passado em meio à parashá Vayera vimos, além do resumo da própria porção semanal, também o tema das duas circuncisões, a da carne e a do coração. E nessa porção vemos logo no início, a morte de Sara, esposa do patriarca Avraham e sua busca para conseguir um lugar para sepultá-la, e vamos aproveitar para falar sobre o tema: Inferno ou Sepultura?.


A PARASHÁ DA SEMANA


A parashá dessa semana é chamada de Chayêi Sara, e começa com a morte de Sara na idade de 127, e a busca de Avraham por um local apropriado que fosse digno de sua grandeza. O patriarca recusa-se a aceitar a generosa oferta de Efron, um membro da nação hitita que vivia na terra de Kena’am, de dar-lhe Mearat Hamachpela – a caverna de Macpela, na cidade de Hebron, sem custo algum, e Avraham termina por pagar uma enorme soma de dinheiro pelo lote, onde finalmente sepulta sua amada esposa.

Avraham envia seu fiel servo, Eliezer, de volta a seu país de origem e à sua família, a fim de encontrar uma esposa conveniente para Yitschac. Chegando à cidade de Charam, Eliezer alinhava um plano pelo qual conseguiria selecionar uma moça recatada e generosa, apropriada para o filho de seu amo.

Eliezer ora a D'us para que Ele lhe conceda sucesso nesta missão, fazendo o plano funcionar. Decide ficar à beira do poço da cidade, esperando que uma moça lhe ofereça e a seus camelos, água para beber. Esta pessoa, que dar-se-ia ao trabalho de puxar água para um estranho e seus dez camelos, indo além do cumprimento do dever, certamente possuiria um grande caráter.

Rivka passa pelo teste, e após receber presentes enviados por Avraham, ela leva Eliezer à casa de seu pai. Eliezer conta os eventos do dia à família da moça e pede a Rivca que volte com ele para desposar Yitschac. Ela aceita, e eles se casam.

Com o papel de Avraham como pai do povo judeu completado, e o manto da liderança passado à próxima geração, a porção se encerra com uma breve genealogia dos outros filhos de Avraham com sua esposa Keturá, que muitos comentaristas afirmam ser na verdade Hagar, e sua morte com a idade de 175. Ele é enterrado ao lado de Sara pelos seus dois filhos mais velhos, Yitschac e Ishmael.


Estudo do Texto da Parashá


Depois Abraão deixou ali o corpo de sua mulher e foi falar com os hititas: "Sou apenas um estrangeiro entre vocês. Cedam-me alguma propriedade para sepultura, para que eu tenha onde enterrar a minha mulher". Responderam os hititas a Abraão: "Ouça-nos, senhor; o senhor é um príncipe de Deus em nosso meio. Enterre a sua mulher numa de nossas sepulturas, na que lhe parecer melhor. Nenhum de nós recusará ceder-lhe sua sepultura para que enterre a sua mulher". Abraão levantou-se, curvou-se perante o povo daquela terra, os hititas, e disse-lhes: "Já que vocês me dão permissão para sepultar minha mulher, peço que intercedam por mim junto a Efrom, filho de Zoar, a fim de que ele me ceda a caverna de Macpela, que lhe pertence e se encontra na divisa do seu campo. Peçam-lhe que a ceda a mim pelo preço justo, para que eu tenha uma propriedade para sepultura entre vocês". Efrom, o hitita, estava sentado no meio do seu povo e respondeu a Abraão, sendo ouvido por todos os hititas que tinham vindo à porta da cidade: "Não, meu senhor. Ouça-me, eu lhe cedo o campo e também a caverna que nele está. Cedo-os na presença do meu povo. Sepulte a sua mulher". Novamente Abraão curvou-se perante o povo daquela terra e disse a Efrom, sendo ouvido por todos: "Ouça-me, por favor. Pagarei o preço do campo. Aceite-o, para que eu possa sepultar a minha mulher". Efrom respondeu a Abraão: "Ouça-me, meu senhor: aquele pedaço de terra vale quatrocentas peças de prata, mas o que significa isso entre mim e você? Sepulte a sua mulher". Abraão concordou com Efrom e pesou-lhe o valor por ele estipulado diante dos hititas: quatrocentas peças de prata, de acordo com o peso corrente entre os mercadores. Assim o campo de Efrom em Macpela, perto de Manre, o próprio campo com a caverna que nele há e todas as árvores dentro das divisas do campo, foi transferido a Abraão como sua propriedade diante de todos os hititas que tinham vindo à porta da cidade. Depois disso, Abraão sepultou sua mulher Sara na caverna do campo de Macpela, perto de Manre, que se encontra em Hebrom, na terra de Canaã. Assim o campo e a caverna que nele há foram transferidos a Abraão pelos hititas como propriedade para sepultura. Gn 23:3-20


Já mencionamos logo no início, que esta porção se inicia com a morte de Sara, a primeira matriarca do povo hebreu. E por conta disso, vemos também Avraham indo até os filhos de Het para adquirir um lugar a fim de sepultar sua esposa. A sepultura era e ainda é um lugar de repouso dos mortos. Sejam os mortos justos ou não, todos são colocados em sepulturas.

Porém há um entendimento errôneo a esse respeito, pois muitas pessoas se utilizam de textos isolados, sem conhecimento do sentido correto das línguas originais, para explicar a respeito de um lugar de mortos chamado “inferno”. Então, eis a pergunta do tema do nosso estudo, “Inferno ou Sepultura?

Como já falei antes, muitas pessoas têm entendimento errado, e acreditam na existência de um local de mortos, onde o fogo nunca cessa e a dor e o sofrimento nunca acabam. Isto é repetido muitas vezes e para muitos líderes este é quase que um foco principal em suas doutrinas. A realidade é que muitos utilizam do “inferno” como uma ferramenta para manipular as pessoas através de sua fé. Através do medo de ir pro “inferno”, muitos lideres religiosos doutrinam os seus seguidores, e a maioria das pessoas não questionam por acreditarem e terem medo do “inferno”. Mas precisamos então perguntar, o que o TaNaK fala a respeito do inferno? Será que as Escrituras ensinam a respeito desse lugar de tormento? Ou realmente há ensinos errados?

Nesse estudo veremos algumas informações importantes tiradas das Escrituras, que trarão luz e entendimento sobre o assunto. Para compreender melhor e responder as perguntas, temos que compreender as palavras hebraicas e gregas que foram traduzidas por “inferno” na maioria das versões bíblicas e verificarmos seus conceitos e aplicações em alguns textos.

No Hebraico a palavra שְׁאוֹל – she’ol vem traduzida como “inferno”, porém, esta não é a única forma de se traduzir, também temos os seguintes significados: sepultura, cova ou morte. O dicionário expositivo das palavras da Bíblia explica que, “Por conseguinte não há nenhuma referência a destino eterno, mas simplesmente à sepultura como local de repouso dos corpos das pessoas...” Refletindo o seu verdadeiro significado, muitas traduções mais recentes da Bíblia traduzem esta palavra simplesmente por “a sepultura” ou deixam-na no original “Sheol”.

Podemos ver no TaNaK, entre os servos do Eterno, os que sabiam que iriam para o “sheol”, ou seja, para a sepultura, e não para um inferno de fogo eterno. Dentre eles destacamos homens de fé como:

1) Jacó (Gênesis 37:35)

Todos os seus filhos e filhas vieram consolá-lo, mas ele recusou ser consolado, dizendo: "Não! Chorando descerei à sepultura (sheol) para junto de meu filho". E continuou a chorar por ele.”

2) Jó (Jó 14:13)

"Se tão-somente me escondesses na sepultura (sheol) e me ocultasses até passar a tua ira! Se tão-somente me impusesses um prazo e depois te lembrasses de mim!”


3) Davi (Salmos 88:3)

Tenho sofrido tanto que a minha vida está à beira da sepultura (sheol)!”


4) Ezequias (Isaías 38:10)

Eu disse: No vigor da minha vida tenho que passar pelas portas da sepultura (sheol) e ser roubado do restante dos meus anos?”


Quando traduziram as Escrituras para a língua grega, a palavra “sheol” foi traduzida para “hades”, que também quer dizer sepultura. Apesar de o termo “hades” na cultura grega ser usado na mitologia, para se referir a uma divindade do mundo subterrâneo onde os mortos tinham uma sombria consciência, este não é o uso nas Escrituras, pois tal pensamento é completamente antagônico ao pensamento do Eterno, Santo e Bendito D'us de Yisrael.

Encontramos quatro versículos dos escritos nazarenos, chamados Novo Testamento, que citam passagens do TaNaK, conhecido como Antigo Testamento, contendo a palavra “hades” que é traduzida por “sheol”. Vejamos os versos:


E você, Cafarnaum: será elevada até o céu? Não, você descerá até ao Hades! (sheol, sepultura) Se os milagres que em você foram realizados tivessem sido realizados em Sodoma, ela teria permanecido até hoje.” Mateus 11:23


E você, Cafarnaum: será elevada até o céu? Não; você descerá até ao Hades! (sheol, sepultura) Lucas 10:15


porque tu não me abandonarás no sepulcro (sheol, hades), nem permitirás que o teu Santo sofra decomposição. Tu me fizeste conhecer os caminhos da vida e me encherás de alegria na tua presença’. "Irmãos, posso dizer-lhes com franqueza que o patriarca Davi morreu e foi sepultado, e o seu túmulo (sheol, hades) está entre nós até o dia de hoje. Mas ele era profeta e sabia que Deus lhe prometera sob juramento que colocaria um dos seus descendentes em seu trono. Prevendo isso, falou da ressurreição do Messias, que não foi abandonado no sepulcro (sheol, hades) e cujo corpo não sofreu decomposição.” Atos 2:27-31


Podemos ver que nas traduções bíblicas mais recentes, assim como a palavra "sheol", e "hades" também é traduzida para o português como “a sepultura” ou “morte” ou então é simplesmente deixada no original, "hades".

Encontramos outra palavra grega, que também é traduzida como “inferno” nos escritos nazarenos, a palavra é “Tártaro”, esta palavra é usada apenas uma vez na Bíblia, em 2 Kefas (2Pedro) 2:4, onde faz referência ao lugar onde os mensageiros (anjos) caídos, aguardam em restrição, pelo seu julgamento. O Dicionário Expositivo de Termos Bíblicos explica que “Tártaro” significa “confinar-se a “Tártaros” e que este era o nome grego para o mitológico abismo onde os deuses rebeldes eram confinados”. Segundo alguns estudiosos Kefa (Pedro) usou esta palavra para fazer esta referência à mitologia contemporânea, a fim de mostrar que os mensageiros (anjos) que pecaram foram “entregues às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo”.

Uma rápida observação para não sairmos do tema, esses anjos mencionados por Kefas não são seres espirituais ou demônios, como muitos pensam, mas sim homens que serviam a D'us e se desviaram! Estes anjos caídos (homens que se desviaram da verdade) aguardando o julgamento final de sua rebelião contra D´us e de sua influência destrutiva sobre a humanidade.

Permanecendo ainda nos conceitos das palavras, há também, uma outra palavra que se refere a queimar, isto é, consumir pelo fogo, ela é “Gehena”. Com esta quarta palavra é traduzida como “inferno”, podemos ver alguns elementos vulgarmente associados com a tradicional ideia de tormento dos mortos. Contudo, esta palavra também tem diferenças significativas do conceito popular com sua ideia original. “Gehena” é uma palavra derivada da expressão hebraica “ge-Hinom”, isto é, Vale de Hinom. Este vale foi um local de sacrifícios idólatras e humanos durante um tempo na antiga história de Yisrael. Lemos que, para pôr fim a estas abominações, Josias profanou-o com ossadas humanas e outros materiais em decomposição. Veja o texto:


Josias trouxe todos os sacerdotes das cidades de Judá e, desde Geba até Berseba, profanou os altares onde os sacerdotes haviam queimado incenso. Derrubou os altares idólatras junto às portas, inclusive o altar da entrada da porta de Josué, o governador da cidade, que fica à esquerda da porta da cidade. Embora os sacerdotes dos altares não servissem no altar do Senhor em Jerusalém, comiam pães sem fermento junto com os sacerdotes, seus colegas. Também profanou Tofete, que ficava no vale de Ben-Hinom, de modo que ninguém mais pudesse usá-lo para queimar seu filho ou filha em sacrifício a Moloque. 2 Reis 23:8-10


Quando Josias olhou em volta e, viu os túmulos que havia na encosta da colina, mandou retirar os ossos dos túmulos e queimá-los no altar a fim de contaminá-lo, conforme a palavra do Senhor proclamada pelo homem de Deus que predisse essas coisas. 2 Reis 23:16


Graças em grande parte à sua má reputação, este vale que rodeia Jerusalém veio a ser usado como lixeira da cidade já antes dos tempos de Yeshua. Nesse lugar, o lixo era queimado juntamente com os corpos dos animais mortos e de criminosos mortos pelo império romano. O lixo era consumido dia e noite pelo fogo.

A palavra "gehena" é usada doze vezes na Bíblia e onze dessas vezes foi usada por Yeshua. Quando Yeshua falou de “gehena”, os seus ouvintes sabiam que este “inferno” era um fogo consumidor no qual lixo e corpos de pessoas más eram destruídas, ou seja, era também como uma sepultura. Yeshua avisou abertamente que este fogo destruidor seria o destino dos malvados incorrigíveis, conforme podemos ver no texto abaixo:


Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco! ’, corre o risco de ir para o fogo do inferno (gehena).” Mateus 5:22


A primeira referência encontrada em todo o TaNaK da palavra “Sheol” em sua raiz é em Devarim 32.22.


"Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arderá até ao mais profundo do inferno (she’ol), e consumirá a terra com a sua colheita, e abrasará os fundamentos dos montes." Devarim/Dt 32.22

Vamos analisar o texto acima da seguinte forma. Observe que pelo contexto, o Eterno está enfurecido com o Povo na terra, e ele vem com o seu fogo consumir a nação, ou seja, aqui mesmo na terra dos viventes. Agora a pergunta: Por que o Eterno vai lançar fogo aqui na terra e ainda lá no inferno, onde já teria fogo até demais? Afinal, a ira do Eterno se acendeu contra os viventes que pecaram, ou seja, transgrediram aos mandamentos. Logo, não faz o menor sentido HaShem dizer que vai lançar fogo naqueles que estão no “inferno” por causa dos pecados dos que estão vivos.

Antes de seguirmos em busca do entendimento do que se trata o “she’ol” no texto de Devarim acima, vejamos um outro versículo onde podemos ver a mesma palavra, she’ol, porém, com uma tradução alternativa.


"O Eterno é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura (she’ol) e faz tornar a subir dela." Shemu’el Aleph/1 Samuel 2:6


Observemos que she’ol aqui foi traduzido como “sepultura”, ou também poderia ser “cova”. Esta tradução faz todo o sentido, e é nesta forma de traduzir que vamos focar a nossa análise. Uma vez que o contexto é claro, pois se o autor está falando a respeito de vida e morte, logo, descer ao she’ol é descer à sepultura, e voltar do she’ol é voltar da sepultura.

Uma vez que podemos analisar uma alternativa para traduzir o termo “she’ol”, será que esta tradução vai se adequar ao texto que já estávamos vendo anteriormente, que é Devarim 32.22?


"Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arderá até a mais profunda sepultura (she’ol), e consumirá a terra com a sua colheita, e abrasará os fundamentos dos montes." Devarim/Dt 32.22


Perceba que todos os elementos que o autor está descrevendo estão no plano físico e material (colheita e montes), portanto, é muito mais sensato traduzir “she’ol” com uma tradução que descreva algo que também está no plano físico e material, que no caso é a sepultura. O que o autor quer descrever é que, a ira do Eterno é tão grande, que este “fogo” queimará todas as coisas, e não haverá para onde fugir, pois até mesmo abaixo da terra, o “fogo” irá consumir.

Conforme estamos vendo, a palavra “sepultura” se adéqua muito mais ao texto, do que a palavra “inferno”, mas será que 1Samuel é a única passagem que traduz “she’ol” por “sepultura”? Já viemos mostrando desde o início e continuaremos analisando por exemplo uma outra passagem, que também traduz como “sepultura”.


"Mas agora não o tenhas por inculpável, pois és homem sábio, e bem saberás o que lhe hás de fazer para que faças com que as suas cãs desçam à sepultura (she’ol) com sangue." Melakhim Alef/1 Reis 2.9


O contexto é claro e não deixa dúvidas de que “she’ol” é “sepultura”. O objetivo aqui não é trazer todas as passagens onde encontramos “she’ol” como “sepultura”, pois isto faria este estudo ser muito extenso, mas apenas reforçar o conceito, trazendo aqui alguns pontos onde o compreendimento acaba ficando um pouco difícil para quem já está acostumado com a ideia de “inferno”. Então vejamos mais um texto.


"Porque me cercaram as ondas de morte; as torrentes dos homens ímpios me assombraram. Cordas do inferno (she’ol) me cingiram; encontraram-me laços de morte." Shemu’el Beth/2 Samuel 22.5-6


Note que David/Davi era um homem justo, apesar de seu pecado, o Eterno teve misericórdia dele e ele foi perdoado. E além do perdão, ele foi tido como um homem reto e íntegro perante o Eterno. Se Davi era reto e íntegro, por que as cordas do inferno o cingiram? Estaria ele sendo tragado para o inferno? Ou estaria ele sendo levado ao inferno por causa dos homens ímpios falado no verso 5? Observe que não faz o menor sentido interpretar “she’ol” como “inferno” e que fica mais correto entender como “sepultura”.


"Porque me cercaram as ondas de morte (quem morre vai ser sepultado); as torrentes dos homens ímpios me assombraram (aqueles que o desejavam matar). Cordas da sepultura (she’ol) me cingiram; encontraram-me laços de morte." Shemu’el Beth/2 Samuel 22.5-6


Perceba portanto, como faz todo o sentido, quando lemos o primeiro verso deste mesmo capítulo.


"E Falou David ao Eterno as palavras deste cântico, no dia em que o Eterno o livrou das mãos de todos os seus inimigos e das mãos de Sha’ul/Saul." Shemu'el Beth/2 Samuel 22.1


Segundo o site Yeshua Melekh, o primeiro verso mata toda a charada ao mostrar que o contexto era de um homem que estava louvando ao Eterno por ter sido liberto da mão do seus inimigos. Isto mostra claramente como o termo “she’ol” seria mais corretamente traduzido como “sepultura” do que “inferno”.

Por fim, analisemos apenas mais um verso onde também temos uma certa dificuldade quando estamos enraizados num conceito falho.


"As águas roubadas são doces, e o pão tomado às escondidas é agradável. Mas não sabem que ali estão os mortos; os seus convidados estão nas profundezas do inferno (she’ol)." Mish'lê/Provérbios 9.17-18


Estes versos trazem um pouco de resistência daqueles que querem acreditar na existência do inferno. Mas para entendermos melhor esta passagem, precisamos adentrar um pouco mais no pensamento semita.

Em todo o TaNaK, não existe em lugar algum a descrição deste “inferno” como um lugar de fogo e enxofre, que haverá tormento eterno, etc. Veja bem, se você nunca ouviu falar que “she’ol” é um lugar de fogo e enxofre e tormento eterno, ao ver ali escrito “she’ol”, no que você vai pensar? Numa sepultura ou no inferno? A dificuldade de interpretação do texto acima não está no texto em si, mas sim, em um conceito pré-concebido, ao qual, quando removemos este conceito, tudo começa a fazer muito mais sentido.

Outro ponto em que temos que prestar atenção é que, no pensamento semita, a morte era um castigo. Vejamos a Torá por exemplo.


"E aquele que blasfemar o nome do Eterno, certamente morrerá; toda a congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome do Eterno, será morto." Vayikra/Levítico 24.16


A morte não era apenas uma consequência do pecado, também era um castigo vindo do Eterno. Conforme podemos ver em outro texto:


"E os filhos de Aharon, Nadav e Avihu, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o Eterno, o que não lhes ordenara. Então saiu fogo de diante do Eterno e os consumiu; e morreram perante o Eterno." Vayikra/Levítico 10.1-2


Perceba como a morte era um castigo, e nada se refere à um lugar de sofrimento eterno. Então veja como fica muito mais coerente interpretarmos “she’ol” como “sepultura” do que como inferno.


"As águas roubadas são doces, e o pão tomado às escondidas é agradável. Mas não sabem que ali estão os mortos; os seus convidados estão nas profundezas da sepultura (she’ol)." Mish'lê/Provérbios 9.17-18


Percebemos assim que no TaNaK não existe um conceito de “inferno”, ou seja, um lugar de fogo e sofrimento eterno, a morte era vista como um castigo pelo pecado e até mesmo uma punição vinda do Eterno e She’ol é uma palavra que designa sepultura e que, quando trocamos a palavra “inferno” por “sepultura”, o entendimento fica muito melhor.

Que HaShem lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- El Midrash Dice Bereshit – O Midrash disse

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- https://www.yeshuamelekh.com.br/o_conceito_tanaico_de_inferno

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771008/jewish/Resumo-da-Parash.htm

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