Estudos da Torá
Parashá nº 27 – Tazría (Conceber)
Vayicrá/Levítico Lv 12:1-13:59,
Haftará (Separação) 2Rs 4:42-5:19; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mc 7:1-19; 8:1-4; 11:2-6; Lc 5:12-16
Tema: A purificação pela Justiça de Yeshua
RELEMBRANDO
Na semana passada estudamos acerca dos alimentos que são permitidos e dos alimentos que não são permitidos, ou seja, não são alimentos. Vimos como comer com obediência e servir ao Eterno com alegria. Ela tratava de purificação assim com a parashá dessa semana. Essa porção da Torá que estamos estudando fala sobre as impurezas do ser humano em suas diversas formas e o meio de purificação. E veremos como a justiça do messias Yeshua pode fazer a diferença e trazer a purificação.
A PARASHÁ DA SEMANA
Veremos agora no resumo da parashá, que após a discussão ao final da porção da semana passada, a respeito da tumá (impureza) resultante de animais mortos, a Parashá Tazría introduz as várias categorias de tumá emanando de seres humanos, começando com uma mulher dando à luz. O restante da porção descreve com riqueza de detalhes as várias e numerosas manifestações da doença chamada tsaraat. Embora tenha sido traduzida erroneamente como lepra, esta doença de pele tem pouca semelhança com qualquer moléstia corporal transmitida através do contato normal. Ao contrário, tsaraat é a manifestação física de uma doença espiritual, ou seja, devido à desobediência, uma punição enviada por D'us, primeiro pelo pecado da maledicência, entre outras transgressões e comportamento anti-social.
Conhecida como metsorá, que será a parashá que estudaremos semana que vem, a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele, está sujeita a uma série de exames por um cohen (sacerdote), que declara se o paciente está tahor ou tamê. Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.
O que essas impurezas significam nas vidas dos servos de HaShem. Poderemos ver que muito do que é falado e ensinado pela Torá é profético, e parte já se cumpriu na vida de Yeshua, e se cumprirá na vida de todos os que lhe são fiéis.
Estudo do Texto da Parashá
E ao cumprirem-se os dias de sua purificação, pelo filho ou pela filha, trará um cordeiro de idade de um ano por oferta de elevação, e um pombinho ou uma rola por sacrifício de pecado à porta da tenda da reunião, ao sacerdote. Lv 12:6
Ao iniciar no estudo da parashá Tazría, quero relembrar um texto que mencionei no ano passado, no estudo dessa mesma parashá, recomendo que você depois retorne nela, no Blog ou na biblioteca da Kahal Teshuvah Brasil. O mencionado texto fala sobre Dores do Parto - Por Yoel Spotts, do site chabad.org. E tem grande influência em nosso estudo do tema de hoje. Ele começa dizendo que, ao escrever um romance, o escritor certamente será cuidadoso para arranjar a trama de maneira lógica e ordenada, fazendo as transições de um tópico a outro de maneira suave. Da mesma forma, poder-se-ia esperar que a Torá, sendo a fonte da vida para o povo de Yisrael e tendo muito mais importância que um romance, seguisse a mesma linha. Entretanto, a seção introdutória da porção desta semana da Torá parece divergir desta consistência requerida.
Segundo o mencionado artigo, a Parashá Tazría começa com uma discussão das leis sobre o status de uma mulher que acaba de dar à luz, e os vários procedimentos que devem ocorrer com ela e a criança, a fim de serem purificados. A Torá então imediatamente prossegue com uma descrição detalhada dos diferentes tipos de manchas e descolorações que podem tornar um indivíduo um metsorá (afligido). Estes dois assuntos – a mulher que acaba de dar à luz e uma pessoa que está sofrendo de tsaráat – poderiam parecer totalmente desconectados. Por que então estão colocados tão próximo um do outro? Porque estão na mesma parashá?
Lembre-se que nada nas Palavras do Eterno (Hakadosh Baruch hu) estão soltos ou são sem propósitos. Sendo assim, o autor continua seu artigo, afirmando que para responder esta pergunta, seria lógico examinar primeiro os detalhes destas duas leis. Em Vayicrá/Levítico 12:7, lemos que uma mulher que teve um filho deve trazer uma oferenda, veja:
“O Cohen oferecê-la-á perante D'us e expiará por ela, e ela ficará purificada da fonte de seu sangue; esta é a lei para aquela que dá à luz um menino ou uma menina.”
Esta lei provoca uma pergunta óbvia: Qual foi o pecado desta mulher que necessita de expiação?
O artigo continua, e nos diz que os rabinos do Talmud fornecem uma resposta interessante a este problema: enquanto está sob a tensão e dor do parto, pode ser que esta mulher tenha jurado jamais retornar a seu marido, a fonte e causa de seu sofrimento atual. Portanto, quando a mulher se recobra totalmente, volta para seu marido e assim negligencia seu juramento anterior, na verdade está quebrando este voto. Embora a Torá reconheça que este juramento foi feito sob grande angústia e dor, mesmo assim a mulher não pode ser totalmente absolvida de realizar qualquer tipo de penitência. Afinal, fez um juramento e isso não pode ser desprezado. Portanto, a Torá possibilita à mulher a oportunidade de obter completo perdão ao trazer uma oferenda.
Mas é preciso também entendermos que na prática, há mais um motivo pelo qual a Torá manda fazer expiação. A mulher ao dar a luz verte mais sangue do que o estado de nidá mensal, e já que sangue é vida, há a necessita da referida expiação e purificação.
Se mudarmos nossa atenção, agora ao segundo ponto em questão, aponta o autor do artigo, a aflição da tsaráat, descobrimos que a Torá inicia sua discussão da pessoa atacada por esta doença sem nenhum tipo de introdução; o leitor é lançado imediatamente numa discussão abrangente das várias formas e manifestações da tsaráat. A Torá não menciona a causa do tsaráat em lugar algum, dessa forma deixando a pessoa imaginar qual pecado poderia precipitar esta doença no corpo ou na propriedade de alguém. Rashi oferece uma resposta baseada sobre o Talmud, de que a causa primária do tsaráat é o grave crime de lashon hará (língua maliciosa).
A fim de avaliar a gravidade de suas ações, aquele que fala lashon hará é afligido com tsaráat. Não apenas a pessoa afetada deve lidar com lesões cobrindo seu corpo, como também é forçada a separar-se da comunidade em geral, e suportar um longo processo de cura, assinalado por repetidas visitas do Cohen, para determinar o status e o desenvolvimento da doença.
Espera-se que toda esta angústia e tormento ajudarão a reconhecer seu mau procedimento e leve-a ao arrependimento, explica o autor. Neste ponto, podemos facilmente entender a justaposição destes assuntos aparentemente tão desconexos. A Torá aqui deseja nos ensinar o poder da palavra. Enquanto a sociedade ocidental professa crenças como "as pedras podem quebrar meus ossos, mas as palavras não podem ferir-me", segundo o autor, o Judaísmo atribui muito mais importância e significado à palavra falada. E de fato é o que podemos aprender com essa porção da Torá.
O artigo do mencionado site conclui dizendo que, toda palavra pronunciada deve ser cuidadosamente medida. Mesmo um juramento feito em meio as dores do parto deve ser contabilizado. Até um comentário aparentemente inofensivo sobre alguém deve ser tratado. As palavras têm um significado. Não podemos permitir que nossa boca aja livremente, sem qualquer preocupação quanto ao resultado. Assim como a Torá nos foi outorgada no Monte Sinai, não por um rolo que caiu do céu, mas através da palavra sagrada de D'us, assim também devemos nos purificar e santificar nossas palavras.
Veja, começamos nosso estudo falando sobre purificação e santificação. Mas afinal, o que é purificação? O que é tornar-se puro, ou manter-se puro? E mais importante! Purificar de quê? Porquê? A acima de tudo, como?
São muitas perguntas e todas elas têm respostas. Porém, infelizmente, devido à teologia da graça sem a Torá do Eterno, muitos acham que basta acreditar no nome do messias ou aceitar que ele morreu no lugar deles e pronto. Tudo está resolvido!
No entanto, olhando para toda a Bíblia, seja nas Escrituras Sagradas ou na Brit Hadashah, conhecido como Novo Testamento, percebemos que não é bem assim. A purificação é um processo que precisa ser seguido, de acordo com as instruções que o Eterno passou para nós.
Purificação nas Escrituras
A palavra purificação é derivada de purificar, um verbo que mostra a ação de tornar limpo. Segundo o dicionário on line, purificação é o ato ou efeito de tornar puro, livrar de impurezas. Em um sentido, digamos espiritual, é o ato ou efeito de se livrar de pecados, de máculas morais, é uma expiação, uma purgação.
De forma geral, na bíblia, purificação é tornar limpo ou puro, é ser purificado. Assim, ser limpo ou purificado significa ficar livre de defeitos que poderiam desqualificar para a atividade ou serviço ao Eterno, que quer dizer culto.
As purificações ordenadas pelo Eterno na Torá eram observadas em vários momentos da vida das pessoas, como no caso da porção atual, quando uma mulher dava à luz aos filhos, quando alguém contraísse tsaraat, quando a mulher estivesse em seu período menstrual ou nidá, quando um homem tivesse corrimento de fluxo seminal, e ao cumprir votos, entre outros. E isso não era somente para aqueles tempos, pois as instruções do Eterno são válidas sempre, por exemplo, hoje ainda fazemos banho de purificação para recebermos o shabat ou quando vamos ao cemitério. Falaremos mais sobre isso à frente.
Os banhos de purificação faziam e fazem parte dos ritos e celebrações ao Eterno, mas a purificação, na sua simplicidade, de acordo com os sábios judeus, tinham por objetivo principal separar os filhos de Yisrael dos ritos supersticiosos e pagãos dos povos vizinhos. O Eterno não permitia ninguém se aproximar dele sem serem purificados, Conforme lemos nos textos abaixo:
Tendo Moisés descido do monte, consagrou o povo; e eles lavaram as suas vestes. Disse ele então ao povo: "Preparem-se para o terceiro dia, e até lá não se acheguem a mulher". Êxodo 19:14,15
"Faça uma bacia de bronze com uma base de bronze, para se lavarem. Coloque-a entre a Tenda do Encontro e o altar, e mande enchê-la de água. Arão e seus filhos lavarão as mãos e os pés com a água da bacia. Toda vez que entrarem na Tenda do Encontro, terão que lavar-se com água, para que não morram. Quando também se aproximarem do altar para ministrar ao Senhor, apresentando uma oferta preparada no fogo, lavarão as mãos e os pés para que não morram. Esse é um decreto perpétuo, para Arão e os seus descendentes, geração após geração". Êxodo 30:18-21
A purificação deles será assim: você aspergirá a água da purificação sobre eles; fará com que rapem o corpo todo e lavem as roupas, para que se purifiquem. Números 8:7
Dessa forma purifiquei os sacerdotes e os levitas de tudo o que era estrangeiro, e designei-lhes responsabilidades, cada um em seu próprio cargo. Neemias 13:30
Segundo o artigo Pureza ritual em Israel no Antigo Oriente Médio, da Bíblia de Estudo Arqueológica, da Editora Vida, antes de entrar na presença do Eterno, era exigido dos sacerdotes um estado de pureza ritual, ou seja, eles precisavam estar “limpos”. Isso porque, se o “santo”, referindo-se ao Eterno, viesse a entrar em contato com o “impuro”, os resultados poderiam ser devastadores, conforme vimos na parashá passada, em Lv 10:8-11, referindo-se aos filhos de Aharon.
Por isso, o Eterno exigia que os sacerdotes, por exemplo, que estavam todo o tempo em contato com as coisas sagradas, deveriam se purificar duplamente, no altar e na bacia de cobre. Esses eram atos simbólicos que apontavam para a realidade da vida justa (separada ou santa e pura) e do espírito ou mover que compelia a Yeshua. A lavagem de todo o corpo, conhecida como imersão ou tevilah, que muitos chamam de batismo, conforme já dissemos antes, era usada em vários momentos da vida de todos os que desejavam servir ao Eterno, tanto antes, como também hoje, de acordo com o que vimos em cada um dos textos acima.
A purificação podia se dar de formas diferentes, dependendo do nível. Podia-se derramar água nas mãos e nos pés, ou também fazer aspersão, ou seja, jogar água ou borrifar água sobre a pessoa.
Arão e seus filhos lavarão as mãos e os pés com a água da bacia. Êxodo 30:19
A purificação deles será assim: você aspergirá a água da purificação sobre eles; fará com que rapem o corpo todo e lavem as roupas, para que se purifiquem. Números 8:7
Nos sacrifícios solenes a aspersão era feita com sangue, algo que era indispensável, pois é um apontamento para a expiação perfeita que seria feita pela vida justa do Cordeiro de D’us, o messias. E algumas vezes também se utilizava a unção com óleo para a purificação, a separação dos servos do Eterno, conforme lemos em Ex 30:26-28.
Ainda segundo o mencionado artigo, as leis de purificação de Yisrael, que lemos principalmente em Lv 11-15, cujos detalhes não encontram paralelos em nenhuma outra literatura do antigo Oriente Médio, lembravam os israelitas do abismo que os separava da santidade do Eterno, e isso demonstra o desejo de D’us de que o povo se tornasse puro como ele, mesmo entendendo que isso é impossível. Mas o que aprendemos é que devemos atender ao máximo as orientações e instruções da Torá, a fim de nos aproximar do criador e Pai. E nesse ponto, a vida justa de Yeshua é um dos meios para isso, ou seja, ele mostrou como fazer para nos aproximarmos do Eterno.
A impureza se dá principalmente, devido à desobediência à Torá de HaShem, e isso é algo que ocorre devido à natureza humana, então é por esse motivo que é tão importante buscar a purificação.
A teshuvah ou arrependimento e conversão é uma forma de iniciar a purificação, mas não é só isso. Ela precisa estar acompanhada de atos verdadeiros e de purificações reais, com água e etc. Por isso, falo mais uma vez, nos banhamos sempre antes de receber o shabat semanal e festivos, ou quando vamos a algum lugar que sabemos haver impurezas, como é o caso de cemitérios, entre outros. O importante, é estarmos atentos ao perigo de neglicenciarmos a seriedade deste assunto, e deixarmos cair na banalidade, como muitos fazem, pensando não ser mais necessário buscar a santidade e purificação. Dessa forma, não podemos deixar de mencionar a importância também do Yom Hakipurim, conhecido como Yom Kipur, que é o dia da expiação, o dia do perdão ou o dia da purificação, onde dez dias antes começamos a olhar para nós mesmos buscando nossos erros e falhas para assim, clamar pelo perdão, e fazemos a imersão para perdão de pecados, ou seja, purificação.
Vimos até agora o que é purificação, e a importância de buscar e nos mantermos puros, pois só assim, poderemos estar em contato com o Eterno.
Estamos vendo que a purificação ordenada pelo Eterno na Torá não foi anulada e nem pode ser, pois é uma exigência do criador, e foi ensinada pelos profetas, por Yeshua e pelos apóstolos. Vejamos então, alguns exemplos de textos indicando e recomendando a purificação.
Lavai-vos, e purificai-vos. Tirai a maldade dos vossos atos de diante dos meus olhos!Cessai de fazer o mal, Is 1:16
Vejam que o verbo do Eterno falando através da boca do profeta Yeshayahu estava instruindo o povo a se purificarem. E como eles deveriam fazer isso? Tirando a maldade das atitudes deles, parando de praticar o que era mal. Vemos claramente que a impureza estava vindo das atitudes das pessoas, ou seja, da transgressão à Torá do Eterno. Por esse motivo a ordem é que se lavem, se purifiquem, e isso é feito através da observância da Torá. Veremos mais adiante, que é o mesmo ensino de Yeshua, pois o verbo do Eterno também estava em sua boca e a Torá era a mesma.
Lava o teu coração da malícia, ó Yerushalaym, para que sejas salva. Até quando permanecerão no meio de ti os teus maus pensamentos? Jr 4:14
Aqui há algo bem interessante! Ainda vemos a instrução ou a ordem para que haja uma purificação por meio de lavagem, perceba que o verbo do Eterno diz às pessoas de Yerushalaym, “...lava o teu coração…” a transgressão ou desobediência vem de dentro do homem. Note que aqui é usado o mesmo termo que foi usado pelo Eterno quando mandou construir o Mishkan, “no meio de ti” , o Eterno viveria no meio do povo, ou seja, dentro do homem, à partir do momento em que o tabernáculo fosse erguido. Agora, o mesmo verbo falando pelo profeta, diz que no meio deles vinham os maus pensamentos, ou seja, de seus corações, de seus interiores. Estão percebendo e fazendo a ligação que Yeshua também falou algo parecido com isso, em vários momentos? É porque o Ruach, o verbo é o mesmo! Veja abaixo:
Fariseu cego! Limpe primeiro o interior do copo e do prato, para que o exterior também fique limpo. Mt 23:26
O mestre da Galil estava aqui falando aos fariseus hipócritas, religiosos, que o interior deles, ou seja, seus corações e mentes estavam repletos de impurezas, e nada adiantava eles demonstrarem pureza limpando copos e pratos por fora, ou lavando as mãos ritualmente, se seus copos e pratos, ou seja, suas vidas, estavam repletas de impurezas. O ensino de Yeshua é tal e qual o ensino dos profetas, e principalmente, igual ao da Torá, pois é de lá que ele tirava-os. E sua vida demonstrava isso pela justiça com que vivia, e sabemos que justiça é um apontamento para a prática da Torá.
Respondeu Yeshua: Quem já se banhou precisa apenas lavar os pés; todo o seu corpo está limpo. Vocês estão limpos, mas nem todos. Jo 13:10
A prática da Torá que um talmid demonstra em sua vida cotidiana mostra que ele está puro, contudo é preciso ter vigilância, por isso ele diz que precisa lavar os pés, isso é uma indicação de que se deve observar o caminho que trilhamos constantemente, sempre pelo crivo da Torá. E com isso, fica claro que não basta acreditar em Yeshua ou confessá-lo, devemos ter as mesmas práticas dele diariamente, e isso só é possível cumprindo Torá.
E agora, o que está esperando? Levante-se, faça a imersão e lave os seus pecados, invocando o nome dele. At 22:16
O Rav Shaul, o apóstolo Paulo, em seu discurso de defesa, contando como o Eterno o chamou através da visão que teve com Yeshua fando com ele, e como Ananias foi enviado para curá-lo da cegueira, disse que este lhe falou para se erguer e fazer a imersão a fim de que ele fosse purificado dos pecados que havia cometido. O invocar o nome de Yeshua aqui, é uma representação de praticar as mesmas obras que o messias, seguir seu exemplo de vida justa e santificada.
Tevilá ou imersão, é um termo hebraico para identificar a imersão de purificação em águas, e as águas são apontamento para a Torá, que é o que torna o homem puro para se aproximar de HaShem. A raiz dessa palavra vem do verbo “taval” que significa mergulhar ou imergir, dando a idéia de imergir um corpo ou um objeto em um líquido. Nas traduções em grego, geralmente se utilizam a palavra “bapto” em relação ao termo hebraico tevilah. No TaNaK não há uma tradução literal para o português da palavra “tevilah” para “batismo”. O termo que melhor expressa o significado é imergir (banhar, lavar, derramar, cobrir e principalmente purificar).
Isso nos prova que imersão ou como dizem, batismo, é um conceito toraísta de purificação ou tevilah, e esta idéia ou conceito, conforme temos apontado aqui, é claramente mostrado por Yochanan o imersor em Jo 3:25-26, veja:
suscitou-se uma contenda entre alguns discípulos de Yochanan e um judeu, aceerca da purificação. Foram a Yochanan e disseram: Mestre, aquele homem que estava contigo no outro lado do Jordão, do qual deste testemunho, está batizando (imergindo), e todos vão ter com ele.
À propósito, o judeu mencionado no texto que estava realizando imersões era Yeshua. Assim, podemos entender que o conceito de purificação expresso pelas Escrituras Sagradas trata a imersão como objeto de uma legislação rigorosa, já que dela depende o estado de pureza do contato entre o homem com o Eterno para a manutenção do bom funcionamento da aliança com HaShem.
Mais uma vez chamo a atenção, ao fato de termos como importante, a necessidade dessa legislação rigorosa, a fim de que não venhamos apenas cumprir aos mandamentos como um mero ritual de purificação, pois aí se torna em legalismo, mas que possamos buscar verdadeiramente a santidade, isto é, com a verdadeira kavanah, intenção do coração, a fim de que sejamos realmente limpos.
Vejamos mais um texto:
Ora, amados, visto que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a impureza tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santificação no temor de D’us. 2Co 7:1
Mais uma vez o apóstolo Paulo fala a respeito da purificação nos mesmos termos dos profetas e de acordo com a Torá. Ele afirma que, para que a promessa se cumpra na vida dos nazarenos da cidade de Corínto, eles deveriam se purificar de todas as impurezas, ou seja, transgressões a Torá que estivessem por ventura cometendo. Perceba que ele especifica da carne, que são atos cometidos pelo corpo, como do espírito ou mover, que são pensamentos maus. E purificando-se, eles aperfeiçoariam a santidade, ou seja, ficariam cada dia mais purificados e próximos ao Eterno.
De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Eterno, e preparado para toda boa obra. 2Tm 2:21
Neste verso, o contexto é a orientação de Rav Shaul, o apóstolo Paulo a um jovem judeu, filho de mãe judia e pai grego, mas que servia ao Eterno fielmente, cumprindo Torá, de acordo com o testemunho do próprio Paulo a respeito dele. Nesse verso, o apóstolo está orientando o rapaz a se manter firme na confiança, ou seja, obediência ao Eterno, através dos passos do testemunho da vida justa de Yeshua. E é usado uma alegoria como metáfora, ele fala de vasos que são utilizados dentro de uma casa. Uns são usados para coisas honrosas como para guardar alimentos e água para beber e cozinhar ou para banhos de purificação, já outros vasos são usados para coisas desonrosas, como por exemplo, limpeza de dejetos humanos, entre outros. Essa metáfora de Paulo nos aponta para os diversos tipos de atividades que os servos de D’us exercerão no reino do Messias durante e após o milênio. Alguns que se mantiverem firmes e fiéis em cumprir todos os mandamentos que lhe cabem, se mantendo puros e limpos pela água que é a Torá, serão usados como vasos de honra, enquanto outros que resvalam e não seguem atentamente os passos do messias, serão usados como vasos de desonra, exercendo atividade não honrosas, se conseguirem chegar a entrar no reino.
Chegai-vos a D’us, e ele se chegará a vós. Lavai as mãos, pecadores, e vós de duplo ânimo, purificai os corações. Tg 4:8
Aqui vemos outro discípulo de Yeshua, se irmão de sangue, que veio a confiar em seu testemunho tardiamente, mas foi um servo fiel ao Eterno. Yaakov, conhecido como Tiago, por causa de uma tradução do chamado Novo Testamento para o inglês. Nesse verso, Yaakov mostra o mesmo contexto de purificação que cada um dos anteriores. O contexto de se aproximar a D’us com a vida purificada, e a lavagem das mãos que é um apontamento para a purificação das obras ou atitudes, e a decisão de servir somente ao Eterno aos que vivem em cima do muro, com muitas dúvidas. Você pode entender como o entendimento a respeito da purificação é único dentro das Escrituras, pois os escritores das epístolas corroboram com elas, principalmente porque era o que Yeshua ensinava.
E todo que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro. 1Jo 3:3
Finalmente, o último texto, este do apóstolo Yochanan, e neste fechamos com chave de outro o entendimento a respeito de purificação através da justiça de Yeshua, e de nossas atitudes de obediência. Aqui o apóstolo mostra que todas as pessoas que tem em Yeshua a esperança de viver no reino do Eterno, devem se purificar a si mesmos, e ele vai mais fundo ao dizer que a purificação dos seguidores deve ser como a dele, já que ele é puro. Yeshua viveu uma vida de obediência à Torá, conforme sempre dizemos, e por isso sempre buscou ser puro, e era purificado pela água que é a Torá, é por esse motivo que João diz que ele é puro, e os seguidores devem buscar essa pureza também.
Assim, vimos nesse estudo da Parashá Tazría, que o Eterno fornece a Moshê, para que ele passe ao povo as leis da purificação, seja para o caso da mulher após o parto, seja para os tenham problemas de pele, e para tantos outros casos. Vimos que a purificação é o ato de se limpar das transgressões à Torá de HaShem. Também tivemos a oportunidade de compreender através de todos os textos que vimos a importância da purificação. Entendemos que devido a vida justa de Yeshua e a justiça que ele conquistou, cada pessoa que se achega ao Eterno para buscar cumprir a sua Torá, que é a vontade do Eterno para nós, consegue se purificar através da justiça dele. Porém, não basta isso! Cada um a cada momento de sua vida precisa continuar purificando a si mesmo, já que devemos obedecer ao Eterno por nós mesmos. A tutela da vida justa de Yeshua pode agir sobre a vida da pessoa purificando-a durante o tempo em que ainda estiver aprendendo a viver segundo a Torá, depois de um tempo, a responsabilidade de buscar a purificação e se manter puro é de cada um. Pois a aliança com o Eterno é individual, pois cada um precisa buscar a aliança com HaShem, e para isso deve haver purificação.
Que cada um de nós venhamos compreender e buscar purificação todos os dias de nossas vidas, a fim de termos contato real com HaShem, fazer parte da aliança e viver no reino de D’us.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr./Rav Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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