Estudos da Torá
Parashá Especial de Pêssach (Passagem)
Shemot/Êxodo 12:1-51
Vayicrá/Levítico Lv 23:4-8,
Haftará (Separação) Ez 45:21-25, e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 26:19-30; Lc 22:7-20; Jo 2:13-22
Tema: Pêssach e Hamatzot, o início da liberdade
INTRODUÇÃO
Pêssach, como você já sabe, marca um ponto muito importante do plano de redenção de HaShem para as Casas de Yisrael e Yehudá, bem como com pessoas das nações que se acheguem ao povo, pois esta festa foi instituída como uma sombra da vida e morte de Yeshua como sacrifício, o Verdadeiro Cordeiro do Eterno, que tira o pecado do mundo.
DESENVOLVENDO O ESTUDO
Pêssach, que literalmente significa passagem, foi erroneamente traduzido para o português como "Páscoa", enquanto no inglês, a palavra foi traduzida para "Passover", que etimologicamente é uma palavra bem mais apropriada que "páscoa", como referência a essa festa específica. Isto porque a palavra "Passover" traduzida literalmente, significa "passar por cima" à semelhança do hebraico "Pêssach", que significa "passagem", pois de acordo com o site Emunah a fé dos santos, o Anjo da Morte passou por cima da terra do Egito, tirando a vida de todos os primogênitos que não estavam protegidos pelo sangue do cordeiro. Pessach portanto, mais do que uma solenidade, representa um sacrifício, e não somente um dia, pois aponta para o sacrifício de uma vida justa, que foi feito num período específico de um dia, a tarde do dia catorze de Aviv. Sendo assim, essa festa aponta para a liberdade, primeiro dos israelitas do Egito, e principalmente da vida de transgressão e afastamento do Eterno.
Quando estudamos sobre Pêssach e Hamatzot e seus significados literais e proféticos devemos distinguir também o significado do Dia das Primícias, que é outra moed (encontro/festa) do Eterno e está intimamente ligada às duas primeiras e com a próxima que é Shavuot, e ocorre quando se começa a contar o ômer nos 49 dias. Em primícias que é junto com hamatzot, o Sumo-Sacerdote movia o primeiro molho de cevada colhida que já estava em estado de aviv, ou seja, estava maduro, pronto para fazer farinha para pão, o qual sempre ocorre durante a semana de pêssach e hamatzot, no shabat semanal. Se perceberes bem o sentido profético de tudo isso, Yeshua é morto após viver e a Torá e é ressuscitado no intervalo entre essas três festividades. Ter sido ressuscitado no período de primícias, já que foi no final do shabat semanal, que é o período de primícias e início da contagem do ômer, nos mostra como ele se torna a primícia dos que hão de ser ressuscitados para a vida eterna.
Dentro do ponto de vista histórico literal, vemos o Eterno instituindo essas moedim, iniciando o ano festivo de testemunho aos mandamentos do Eterno e celebrando a liberdade dada ao povo da escravidão. No sentido literal, liberdade da escravidão no Egito e no sentido profético liberdade da escravidão do pecado, que é a transgressão aos mandamentos do Eterno, conforme lemos em 1 Jo 3:4. O que significa dizer que depois disso, a pessoa que deseja servir ao Eterno e fazer parte do seu Reino, basta cumprir os mandamentos e cumprir com a aliança do Eterno, pois agora nada a impede, já que está livre. O problema é que muitos não entendem isso e continuam presos ao pecado ou desobediência aos mandamentos, mesmo já sendo livres. As correntes da escravidão foram rompidas pelo Eterno através da obra justa do messias, mas as pessoas permanecem pecando como se ainda estivessem acorrentadas ao pecado.
Vimos antes que Pêssach significa passagem, a passagem do mensageiro (anjo) da morte por cima das casas dos hebreus e de todos que obedeceram, não ferindo os seus primogênitos, devido a estarem marcados pelo sangue do cordeiro, e sabemos que sangue é vida, a vida justa do cordeiro, que é um apontamento para o messias Yeshua. Assim, como você já conhece foram feridos os primogênitos egípcios e de todos que não obedeceram ao mandamento. Vejamos o texto:
Passem, então, um pouco do sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas nas quais vocês comerão o animal. Naquela mesma noite comerão a carne assada no fogo, juntamente com ervas amargas e pão sem fermento. Não comam a carne crua, nem cozida em água, mas assada no fogo: cabeça, pernas e vísceras. Não deixem sobrar nada até pela manhã; caso isso aconteça, queimem o que restar. Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Pessach do Eterno. "Naquela mesma noite passarei pelo Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Eterno! O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito. "Este dia será um memorial que vocês e todos os seus descendentes o comemorarão como festa ao Eterno. Comemorem-no como decreto perpétuo. Ex 12:7-14
O que vemos através do texto da Torá, a instrução do Eterno para seu povo, é que o cordeiro ou cabrito sacrificado, não apenas em pêssach mas em outros momentos ou moedim (encontros/festas) eram apontamentos para o verdadeiro cordeiro de D’us, Yeshua o messias, conforme lemos em Jo 1:29:
No dia seguinte Yochanan viu Yeshua aproximando-se e disse: Vejam! É o cordeiro de D’us, que tira o pecado do mundo!
E também vemos outro apóstolo atestando isso, veja o texto:
Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue do Messias, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês. 1 Pedro 1:18-20
Repare que o texto fala “...conhecido antes da criação do mundo,…” e a teologia cristã com todos os seus dogmas e interpretações distantes do contexto original, afirmam que essa passagem é uma prova que Yeshua já existia desde antes da criação do mundo. No entanto, essa não é a ideia aplicada pelo apóstolo Pedro. Os sábios de Yisrael ensinam que antes da criação do mundo e da realidade vivida por nós o Eterno criou sete coisas. Veja o que diz o Midrash Mishlei 5:22
Disse rabi Chaninah: venham e vejam quantas coisas boas HaKadosh Baruch Hu criou em seu mundo antes que criasse o mundo. São elas a Torah, o Torno da Glória, o Templo, a Tshuvah, o jardim do Éden, o Gehinom e o nome de Mashiach.
Segundo Bruno Summa, autor do livro Pirkei Shimon, devemos ter em mente que apesar de os sábios de Yisrael chamarem a sétima criação de NOME DE MASHIACH, D’us não apenas definiu seu nome, mas criou toda a sua concepção, alma, espírito, ser, missão e reinado. Ou seja, de acordo com esse autor, o que o Eterno criou anteriormente foi a ideia de messias, seu caráter e como deveria agir.
Ainda segundo o referido autor, com base nesse entendimento é que Pedro afirma que Mashiach foi conhecido antes da criação do mundo, foi conhecido por D’us e então, no tempo em que essa carta foi escrita, tinha sido revelado ao mundo, por amor aos gentios (casa de Yisrael espalhada entre as nações), abrindo assim a possibilidade a todas as pessoas que desejarem serem enxertadas no povo de Yisrael. Vejamos o seguinte verso:
יְהִי שְׁמוֹ לְעוֹלָם לִפְנֵי־שֶׁמֶשׁ יָנִין שְׁמוֹ וְיִתְבָּרְכוּ בוֹ כָּל־גּוֹיִם יְאַשְּׁרוּהוּ ׃
O seu nome permanecerá eternamente; o seu nome se irá propagando de pais a filhos, enquanto o sol durar; e os homens serão abençoados nele: todas as nações lhe chamarão bem-aventurado. Salmos 72:17
De acordo com o mencionado autor, este é um salmo que claramente fala sobre o mashiach (messias) e o poder que está em seu nome, ele também declara o desejo que D’us tem para que todos os homens (não apenas judeus de sangue) invoquem Seu nome. O Talmud faz um comentário bem interessante tomando esse salmo como base, veja:
A respeito de Mashiach, a Gemarah pergunta: Qual é o seu nome? A escola de Rabbi Hanina responde: Yinnom é seu nome, pois está escrito, que seu nome dure para sempre, que seu nome continue (Yinnon) tanto quanto o sol e que todos os homens sejam abençoados nele. Talmud da Babilônia, Tratado Sanhedrin 98b
Vemos nesse trecho do Talmud acima, que segundo o rabino Hanina, o nome de Mashiach é Yinnon (ינון), porém a gematria feita sobre essa palavra pode revelar algo bem interessante:
Yinnon = 8
Yeshua = 8
Assim, vemos que na verdade, Yinnon, segundo o autor, é um termo oculto para o nome de Yeshua, nome o qual foi criado e conhecido por D’us antes da criação do mundo. E é sobre isso que Kefa/Pedro estava falando. Por isso, vemos que o ensino da teologia cristã não combina com o que na verdade o apóstolo queria expressar. O Eterno já havia pensado na redenção ou libertação e isso bem além da mera libertação da escravidão física, mas uma libertação com amplitude de vida eterna.
Com isso, a mencionada proteção de D’us em relação aos seus filhos, no tempo do fim, será manifestada durante o tempo da grande tribulação que virá. Da mesma forma, neste tempo os filhos serão protegidos das pragas do Egito, ou seja, do mundo, que serão derramadas no tempo do fim.
Por esse motivo afirmamos que há diversos sentidos que a Pêssach do Eterno pode assumir, tanto no seu significado histórico e literal (a libertação do povo de Yisrael da escravidão no Egito) como vimos acima, também da nossa libertação do pecado (dos poderes deste mundo que vivemos, o Egito atual, que é a transgressão aos mandamentos do Eterno), através da morte e de Yeshua, feito filho do Eterno por causa de sua vida justa, e seu significado profético.
Segundo o estudo no site Emunah a fé dos santos, a Torá nos faz saber que Yeshua é a verdadeira Pêssach, pois:
• é através dele e do testemunho de sua vida justa que passamos da morte para a vida;
• é através dele e do Seu sacrifício que os nossos pecados são perdoados; e
• é nele que devemos iniciar um novo caminho, de santificação, sem o que, se não o percorrermos, não poderemos ver a D’us (Heb. 12:14).
Então mostramos que é através do messias Yeshua que recebemos a liberdade e começamos a ter meios de obedecer aos mandamentos do Eterno e assim, buscar santificação, e a partir daí adentramos ao povo deixando de sermos gentios distantes de D’us. O início da liberdade é quando nos libertamos da força da transgressão aos mandamentos de HaShem, o pecado, e passamos a viver em novidade de vida, obedecendo à Torá.
Veja o que Paulo fala sobre isso:
O orgulho de vocês não é bom. Vocês não sabem que um pouco de fermento faz toda a massa ficar fermentada? Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova e sem fermento, como realmente são. Pois o Messias, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado. Por isso, celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da perversidade, mas com os pães sem fermento da sinceridade e da verdade. Já lhes disse por carta que vocês não devem se associar com pessoas imorais. 1 Coríntios 5:6-9
Devemos deixar de lado as práticas antigas e pecaminosas, que são os fermentos, e passarmos a viver de acordo com a vida justa que o Messias nos demonstrou.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr. Marcelo Santos da Silva (Rav Marcelo Peregrino – Moshê Ben Yosef)
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