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sexta-feira, 29 de março de 2024

Estudo da Parashá Tzav - A urgência em obedecer.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 25 – Tsav (Ordena)

Vayicrá/Levítico Lv 6:1-8:36,

Haftará (Separação) Jr 7:21-8:3, e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Rm 12:1,2 1Co 10:14-23


Tema: A urgência em obedecer.


No estudo dessa semana falaremos sobre urgência de se obedecer aos mandamentos do Eterno.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


A Parashá Tsav começa com D'us continuando a ensinar Moshê muitas das várias leis relativas ao serviço no Mishcan, Santuário. Entretanto, enquanto a Porção da semana passada descreveu os corbanot, sacrifícios, da perspectiva do doador, nesta semana a Torá concentra-se mais diretamente nos Cohanim, fornecendo mais detalhes sobre seu serviço.

Após descrever primeiro a manutenção do fogo que ardia sobre o altar, a Torá discute em detalhes os vários tipos de corbanot que Aharon, seus filhos e as gerações seguintes de Cohanim estariam oferecendo. As oferendas deveriam ser trazidas com as intenções apropriadas, e comidas em um estado de pureza espiritual.

Finalmente, Moshê realiza os prolongados melu'im, serviço de consagração do Mishkan , e Moshê unge e introduz Aharon e seus filhos para o serviço deles no Mishkan, em frente de toda a congregação de Israel.

ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


Falou mais o Eterno a Moshê,dizendo: Ordena a Aharon e a seus filhos, dizendo: Esta é a lei do holocausto; o holocausto será queimado sobre o altar toda a noite até pela manhã, e o fogo do altar arderá nele. Lv 6:1 e 2


A palavra hebraica geralmente traduzida como “lei” é “toráh”, que significa “instrução”, “ensino” ou “doutrina”. Neste caso vemos que a palavra toráh também pode aparecer limitada a uma instrução específica acerca da oferta de ascensão, também chamada “holocausto”, (do latim “tudo queimado”). Nesta parte há instruções específicas para Aharon e seus filhos - os sacerdotes.

O site Emunah a fé dos Santos informa que as instruções que foram dadas na parashá anterior, sobre as diferentes ofertas são para o povo em geral, mas nesta parashá há instruções específicas e complementares para os sacerdotes relativamente aos mesmos sacrifícios que foram mencionados anteriormente. Daqui aprendemos também que quando vem a revelação divina às nossas vidas, não vem toda de uma vez. Primeiro é dada uma imagem geral, e logo o Eterno volta a dar mais detalhadamente as coisas que foram descritas de forma geral.

Segundo o site, a Torá foi escrita para se harmonizar com a mente humana, e a mente não trabalha de forma linear, mas sim de forma circular. Ou seja, não segue um esquema linear, mas sim circular/espiral. Avança num determinado tema para logo voltar a ele observando outros detalhes. Neste caso específico, já tinha sido dada uma visão geral no capítulo 1 de Levítico sobre a oferta de ascensão e agora este tema é destacado novamente nesta parashá para dar detalhes complementares sobre essa oferta. O mesmo sucede-se com as outras ofertas.

De acordo com Bruno Summa, em seu comentário dessa parashá, no livro Sha’arei Torah Vayikra 1, a maneira como as ofertas são apresentadas nessa parashá não apenas se distingue da forma como foram apresentadas anteriormente, como também se distingue da maneira como a Torah se dirije a Moshê e ao Povo de Yisrael. Ele ainda diz que, de forma geral, a Torah utiliza os verbos לדבר - LEDABER - “falar” e לאמור - LE’EMOR - “dizer” quando o Eterno diz algo a Moshê, ou תצוה - TETZAVEH – “ordenarás”, quando ordena algo a Moshê de forma mais concisa. Contudo, sobre como as ofertas deveriam ser feitas pelos sacerdotes, HaShem se dirige a Moshê dizendo צַו - TZAV, uma forma mais categórica de se dar uma ordem. O uso do Tzav implica algumas coisas que deveriam ser levadas em consideração por Moshê e Aharon e que diferencia o que será dito quando comparado às outras formas em que HaShem se comunica com Moshê.


Tzav implica três aspectos: urgência, imediatismo e gerações futuras. Rashi, Vayikra 6:2


O autor nos mostra que Rashi ao dizer Tzav a Moshê, o Eterno está lhe dizendo o que seria dito a seguir demanda urgência, deve ser feito imediatamente e é algo que será observado por todas as futuras gerações. Segundo o autor há tantos comentários rabínicos a respeito dessas palavras de Rashi sobre o termo Tzav que daria para escrever um livro a respeito do assunto. No entanto, essa “urgência” serve para que os sacerdotes dessem prioridade às ofertas que seriam levadas por Yisrael, que deveriam iniciar os trabalhos imediatamente e que deveriam observar essa lei por todas as gerações, algo difícil, dado que muitas das gerações futuras da Yisrael, como a que estamos no presente momento, não mais observam essas leis por conta da inexistência do templo. E apesar dessas explicações serem válidas, podemos interpretá-las por outro ponto de vista, o psicológico, tornando essas leis em leis eternas que podem e devem ser observadas por todos nós em nossos dias.

A urgência mencionada é a capacidade de perceber que a vontade de HaShem possui precedência absoluta sobre qualquer tipo de ação que desejamos fazer em nome do Eterno de forma voluntária e que HaShem não ordenou. Isso é um ato bom desde que não preceda os mandamentos da Torah.

Devemos ter em mente que não podemos nos levar pelo imediatismo. O mencionado autor afirma que a melhor forma de expressar esse erro se encontra no tempo das mitzvot. Um homem sabe que há um dia santo para HaShem na semana, mas ele não deseja observá-lo no Shabat, então ele troca o dia pelo domingo ou por qualquer outro dia da semana, ou talvez, deixa para depois algum mandamento que deve ser observado em um determinado momento estabelecido pela Torah. Os mandamentos da Torah não podem ser obedecidos conforme nossa disposição. O que o Eterno nos ordenou deve ser observado imediatamente no momento propício e jamais ajustado de acordo com nossas conveniências.

Lembre-se que estamos falando sobre a urgência em se obedecer aos mandamentos de HaShem e isso precisa ser passado para as gerações futuras. Baruch HaShem que estamos obedecendo isso, mas precisamos também fazer isso para com nossos filhos, familiares e amigos. Falar sobre os mandamentos do Eterno e ensinar todas as vezes que houver oportunidade, afinal quem toca é o próprio Eterno. Já que estamos falando sobre os mandamentos e em como eles devem ser observados, entendemos que o que é eterno às gerações futuras não trata dos mandamentos dados somente aos sacerdotes, mas sim aos que são para todos. Eles devem ser ensinados de pais para filhos, e esse é um mandamento com profundo mistérios proféticos por trás.

Com isso, é importante mencionar o perigo que as pessoas correm ao relativizar os mandamentos do Eterno dizendo que ele permitiu que sua vontade fosse deixada de lado, ou que seus mandamentos fossem abolidos. Isso ocorre por falta de entendimento dos ensinos da Torah e dos profetas. Eles duvidam da validade da Torah em nossos dias. E um dos pontos que mais lhes atrapalham ao pegar textos de forma isolada como base para seus entendimentos errados se encontram em dois versos.

- Shemot/Êxodo 34:7

נֹצֵ֥ר חֶ֨סֶד֙ לָאֲלָפִ֔ים נֹשֵׂ֥א עָוֹ֛ן וָפֶ֖שַׁע וְחַטָּאָ֑ה וְנַקֵּה֙ לֹ֣א יְנַקֶּ֔ה פֹּקֵ֣ד׀ עֲוֹ֣ן אָבֹ֗ות עַל־בָּנִים֙ וְעַל־בְּנֵ֣י בָנִ֔ים עַל־שִׁלֵּשִׁ֖ים וְעַל־רִבֵּעִֽים

Notser chesed laalafym nose avon vafesha vechataah venaqeh lo yenaqeh poqed avon avot al-banym veal-bney vanym al-shileshym veal-ribeym.

Crescente em bondade à mil gerações, perdoa transgressões, iniquidades e pecados, mas não isenta todas as punições, pois visita a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta gerações.



- Bamidbar/Números 14:18

יְהוָ֗ה אֶ֤רֶךְ אַפַּ֨יִם֙ וְרַב־חֶ֔סֶד נֹשֵׂ֥א עָוֹ֖ן וָפָ֑שַׁע וְנַקֵּה֙ לֹ֣א יְנַקֶּ֔ה פֹּקֵ֞ד עֲוֹ֤ן אָבוֹת֙ עַל־בָּנִ֔ים עַל־שִׁלֵּשִׁ֖ים וְעַל־רִבֵּעִֽים

O Eterno erekh apaym verav-chesed nose avon vafasha venaqeh lo yenaqeh poqed avon avot al-banym al-shileshym veal-ribeym.

O Eterno, tardio em se irar e crescente em bondade, perdoa os pecados e as iniquidades, mas não isenta todas as punições, pois visita a iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta gerações.


Bruno Summa diz que os dois textos falam que o Eterno visita a iniquidades dos pais nas gerações seguintes. Para alguns a dificuldade que há nesses versículos os tornou questionáveis porque, posteriormente, o TaNaK dá a entender através do profeta Jeremias que HaShem “mudou de idéia”.


Assim, naqueles dias não mais dirão: os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos apodreceram. Ao contrário, cada um morrerá por causa do seu próprio erro e pecado. Jr 31:29 e 30


Sem dúvida alguma a impressão inicial é que HaShem não agirá mais da forma como Ele disse que agiria, gerando uma falsa ideia de mudança comportamental. Se uma mudança de ideia ocorre, o que garante que não haverá uma mudança total? Isso é, se HaShem aboliu uma forma de agir, por que não aboliria Ele toda a Torah? Em sua reflexão o autor faz esse questionamento já trazendo a resposta em seguida, acompanhe comigo.

Esse pensamento herege causado por uma extrema falta de entendimento da Torah dos profetas e do D’us de Yisrael, levou muitos a acreditarem na abolição da Torah e na mudança de D’us.

É preciso ter em mente duas coisas importantes, primeiro, HaShem não muda conforme Ml 3:6, e toda e qualquer interpretação dos livros dos profetas deve ser feitas com base na Torah, se a Torah diz X e aparentemente o profeta diz Y, é sinal que necessitamos estudar mais a Torah para podermos interpretá-la da mesma forma que o profeta. Nunca podemos assumir que o que eles dizem seja alguma forma de refutação da Lei de HaShem, que Ele não permita! Com isso esclarecido, vamos entender a ligação das iniquidades com as gerações.

Segundo o autor, tanto o texto de Ex 34:7 e Nm 14:18 tratam basicamente dos mesmos atributos de HaShem, tardio em irar, abundante em bondade, misericordioso e que visita os pecados dos pais nos filhos. Em ambos os versos, a palavra “visita” é a mesma poked - פֹּקֵ֞דpalavra a qual também aparece em um vesículo posterior no próprio livro Números, mas dessa vez com um significado um pouco diferente de “visita”:



וַיֹּֽאמְרוּ֙ אֶל־מֹשֶׁ֔ה עֲבָדֶ֣יךָ נָֽשְׂא֗וּ אֶת־רֹ֛אשׁ אַנְשֵׁ֥י הַמִּלְחָמָ֖ה אֲשֶׁ֣ר בְּיָדֵ֑נוּ וְלֹא־נִפְקַ֥ד מִמֶּ֖נּוּ אִֽישׁ

Vayomeru el-mosheh avadeykha naseu et-rosh aneshey hamilechamah asher beyadenu velo-nifqad mimenu ysh.

Eles disseram a Mosheh, seus servos checaram os guerreiros sob nosso comando e nenhum foi diminuído (faltava).


Nesse verso, o autor mostra a palavra NIFKAD - נִפְקַ֥דda mesma raiz de POKED - פֹּקֵ֞ד, que nesse caso significa “absentista”, um tipo de ausência, uma diminuição nos ranks. Dessa forma é possível lê-lo da seguinte forma:


פֹּקֵ֞ד עֲוֹ֤ן אָבוֹת֙ עַל־בָּנִ֔ים עַל־שִׁלֵּשִׁ֖ים וְעַל־רִבֵּעִֽים

poqed avon avot al-banym al-shileshym veal-ribeym.

Mas diminui as iniquidades dos pais até a terceira e quarta gerações. Nm 14:18


HaShem é tardio em se irar, abundante em bondade, misericordioso e, se os pais colocarem seus filhos, netos e bisnetos em Seus caminhos, Ele não cobrará pelos seus pecados, apagará os erros individuais e todos os tipos de maldições hereditárias serão extintas. Sendo assim, vemos que a Torah não diz que HaShem punirá os filhos por causa dos pais, pelo contrário, ela diz que HaShem é tão bom que Ele não cobrará os pecados dos pais graças aos méritos dos filhos, isso é o contrário do que muitos interpretam erroneamente. E aí, percebemos mais uma vez a importância de se estudar as Escrituras no contexto original. Não faz sentido algum os filhos serem castigados pelos pecados dos pais, mesmo que a criança siga no mesmo caminho pecaminoso, seria apropriado apenas que ela sofresse por essa sua decisão e não por causa da decisão de seus pais. Aprendemos assim, que quando os pais, mesmo que tenham praticado pecados, colocam seus filhos nos caminhos de HaShem, os méritos que eles gerarão limparão as iniquidades dos pais, isso é maravilhoso!!!

Dessa forma, para finalizar nosso estudo, pensemos que de acordo com o mencionado autor, podemos interpretar a palavra Tzav como:

“Tudo que HaShem nos ordena (tzav) serve para que possamos resistir ao yetser harah e para que não sejamos acusados por satan, algo que apenas é possível quando observamos sua vontade conforme ele a estipulou e para que tenhamos méritos pelas gerações futuras ao ensiná-las os caminhos da Torah.”

Que possamos viver a prática da Torah conforme o Eterno nos ordena e não como nós desejamos ou estipulamos, e que venhamos ser exemplo para nossos filhos e amigos.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


sexta-feira, 15 de março de 2024

Estudo da Parashá Pekudei - A fidelidade e o caráter do servo.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 23 – Pekudei (Registros)

Shemôt/Êxodo Ex 38:21 – 40:38,

Haftará (Separação) 1Rs 7:51-8:21, e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Ap 15:5-8


Tema: A fidelidade e o caráter do servo.


No estudo dessa semana entenderemos um pouco a respeito da fidelidade e do caráter do servo do Eterno. Falaremos sobre Moshê e sobre os servos do Eterno na atualidade. O que levou o servo do Eterno a prestar contas das coisas que o povo doou para o Mishkan? E qual a importância dessa atitude em sua época e em nossa?

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


No site Chabad encontramos o resumo dizendo que, esta semana lemos a Porção final de Shemot, um livro que começa com o povo judeu escravizado pelo faraó no Egito e agora termina com o término da construção do Mishkan (tabernáculo) no deserto.

Os comentaristas referem-se a este segundo livro como o Livro da Redenção, e este é seu tema desde o início da Parashá Shemot até o final de Pecudê. A Redenção não foi conseguida somente ao escapar da escravidão; receber a Torá no Monte Sinai deu um propósito a esta liberdade, e o repouso da Presença de D'us entre Sua nação (o resultado da conclusão do Mishkan) assinala o clímax da salvação.

A Parashá Pecudê começa com uma contabilidade completa do ouro, prata e cobre doados pelo povo para uso no Mishkan. A Torá prossegue descrevendo os tecidos e a confecção das várias vestes a serem usadas pelo Cohen Gadol (Sumo-sacerdote) durante o serviço. Após a inspeção de Moshê e aprovação dos muitos utensílios e partes desmontadas, Moshê estabelece o Mishkan em Rosh Chôdesh Nissan, ou seja, início do mês de Nissan, enquanto cada parte é ungida e colocada no lugar que lhe foi destinado. E como D'us havia prometido, Sua glória preenche o Mishkan.

ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


Esta é a contagem das coisas para o tabernáculo, a saber, o tabernáculo do Testemunho, segundo, por ordem de Moisés, foram contadas para o serviço dos levitas, por intermédio de Itamar, filho do sacerdote Arão. Shemot/Ex 38:21


O site Emunah a fé dos santos, em seu comentário dessa parashá nos diz que, Moshê ordena que se faça uma contagem de todo o material que se utilizou para a construção do tabernáculo. O serviço dos levitas estará sob a direção de Itamar filho de Aharon. Betzalel juntamente com Aholiabe fazem conforme aquilo que o Eterno diz a Moshê. A quantidade de ouro empregado em toda a obra foi de 29 talentos e 730 siclos. Foram usados 100 talentos e 1775 siclos de prata, que correspondem a uma beka por cabeça dos 603.550 homens contados, de 20 anos para cima. Os 100 talentos foram usados para as 100 bases das tábuas do santuário e as colunas do véu. Os 1775 siclos foram usados para os ganchos e demais detalhes dos pilares do átrio. A contribuição do cobre foi de 70 talentos e 2400 siclos, com os quais se fez as bases dos pilares para a entrada da tenda, o altar e os seus utensílios, as bases dos pilares do átrio e todas as estacas. Também foram feitas as vestes para o serviço sacerdotal.

Mos deu a ordem para fazer contas diante de todo o povo de como se tinha utilizado o material doado para a obra do Eterno. Não só o povo de Israel podia ver essas contas, mas sim todo aquele que tem acesso à Torá pode ver como Moisés administrou o ouro, a prata, o cobre, as pedras preciosas e os demais objetos de valor. Isto ensina-nos sobre a importância de ser sério na congregação e na administração pública de qualquer organização, bem como em nossa vida cotidiana. Em todas as nossas decisões e ações a seriedade, o caráter e a clareza no trato das coisas, principalmente relacionado a valores monetários.

Moshê tomou a iniciativa para apresentar as contas diante do povo, para que ninguém o acusasse de ser corrupto. E isso não era apenas para se defender ou se justificar. Em momento algum deu a oportunidade para que o povo pensasse que ele tinha enriquecido à custa das doações para a obra do Eterno, como lemos em Números 16:15b:


nem um só jumento levei deles e a nenhum deles fiz mal”.


O propósito de Moshê era ainda mais importante, e o midrash fala sobre isso. Bruno Summa em seu comentário dessa parashá aborda o que o midrash diz a esse respeito observe a seguir alguns trechos que trago junto com minhas próprias observações.

O citado autor diz que a parashá PEKUDEI inicia apresentando a contabilidade de todo material utilizado para a construção do Mishkan. Tudo tinha sido fielmente contabilizado em seus pequenos detalhes. Para o autor a decisão de Moshê em fazer a contabilidade do material é claramente uma decisão que partiu dele próprio, ou seja, não foi um mandamento do Eterno. O autor nos leva a refletir em algumas coisas importantes.

O que Moshê fez, de acordo com o autor, apesar de ter sido uma decisão compreensível, já que nada seria mais justo do que apresentar aos investidores onde seus investimentos foram aplicados, levanta muitas dúvidas, pois o povo de Yisrael não sabia que Moshê era um homem santo e justo? Não sabiam que se caso Moshê desviasse algo, o Eterno não falaria mais com ele face a face e que o tornaria passível de punição? Sendo assim, por que o homem de D’us se deu ao trabalho de apresentar ao povo de Yisrael a contabilidade?

Conforme o relato de Bruno Summa, isso chama muita atenção de diversos sábios, os quais abordam a decisão de Moshê por diversos pontos de vista, indo do mais racional ao mais espiritual, e quando falamos espiritual estamos nos referindo a interpretações que envolvem conceitos da kabalah bíblica. Vejamos abaixo um midrash:


Rabbi Chama disse: “o povo poderia dizer: olhe o quão gordo e bem nutrido está o filha de Amram. E outros diriam: é claro, você não esperaria que o homem responsável pela construção não enriquecesse? Quando Moshê ouviu isso, ele os disse: pelas vossas vidas, assim que o Mishkan estiver terminado, eu vos apresentarei a contabilidade detalhada.” Shemot Rabbah 51:6

Ainda conforme o autor, apesar dos maledicentes que haviam entre o povo de Yisrael não formarem a maioria do povo, Moshê sabia que se permitisse que suas maledicências não fossem imediatamente refutadas, ela poderiam, com o tempo, se espalhar pelo acampamento e fazer com que muitos pensassem que Moshê estaria desviando o dinheiro doado pelo povo para si mesmo. O Midrash, quando diz que o povo começou a ver quão bem nutrido estava Moshê, não explica de forma direta o que realmente estava acontecendo.

Perceba que havia mais coisas acontecendo que as pessoas não conheciam, mas o mal costume de falar o que não se sabe ou de falar mal dos outros leva muitos à transgressão, podendo levar a morte. E pelo que vemos, o autor está nos dizendo que Moshê queria evitar isso. Mas o que então levou as pessoas a pensarem que Moshê estava enriquecendo. Vamos seguir com o relato de Bruno Summa.

Antes que Moshê subisse pela terceira vez ao monte sinai, HaShem o ordenou a talhar duas pedras onde a Torah seria escrita, duas tábuas de safira, e HaShem permitiu que Moshê mantivesse para si todas as rebarbas que caíssem de seu trabalho. Como a safira é uma pedra com alto valor agregado, o status financeiro de Moshê mudou repentinamente. Ao ter terminado de talhar o segundo par de tábuas, Moshê havia se tornado um homem muito rico. E aqui interrompo o relato para chamar sua atenção. Sempre haverá pessoas que falarão ou encontrarão motivos para apontar o dedo. Por isso nossa fidelidade ao Eterno e a sua palavra devem sempre estar em primeiro lugar, por mais ridículo que isso possa parecer para quem está de fora.

Notem que quando o povo de Yisrael deixou o Egito, antes eles saíram de casa em casa pedindo bens, como ouro, prata, pedras preciosas, tecidos, etc. E assim, saíram levando consigo grande riqueza, no entanto, enquanto eles estavam fazendo isso, Moshê estava procurando o corpo de Yosef a fim de cumprir o que havia sido prometido de levá-lo para a terra que o Eterno os daria. Ou seja, Moshê não teve tempo de pedir riquezas para si, e saiu do Egito mais pobre que os demais. E depois de passarem pelo mar, mais uma vez o povo se preocupou em pegar os espólios do exército egípcio, enquanto Moshê e Miriam se preocuparam em louvar e agradecer ao Eterno pela salvação que lhes tinha dado.

Por isso, quando HaShem tornou Moshê rapidamente um homem rico através das rebarbas de safira que caíram do segundo par de tábuas, algo que ocorreu em pouco tempo à construção do Mishkan, muitos entre o povo não entendiam como ele, um homem que não pegou nada no Egito e nem no mar, poderia ter enriquecido tão rápido, e isso, somado ao fato dele estar recebendo riquezas para a construção do Mishkan, foi mais que natural a associação entre o rápido e estranho enriquecimento de Moshê com o fato dele estar recebendo grandes quantidades de materiais preciosos. O autor diz que esse tipo de coincidência não costuma passar em branco perante os olhos dos homens e mulheres de corações maus e propensos à maledicência e ao rápido julgamento.

Outro fato importante que lemos na Torah é que Moshê colocou uma tenda fora do acampamento correto? Vemos isso em Ex 33:7:


Mos costumava montar uma tenda do lado de fora do acampamento; ele a chamava Tenda do Encontro. Quem quisesse consultar a D’us ia à tenda, fora do acampamento. Êxodo 33:7


Conversando com o Rav Yochanan essa semana sobre esse midrash, ele me disse que a Torah oral confirma isso, que foi mostrado acima, e que essa tenda que Moshê ficava era em cima de uma grande pedra de safira não lavrada, e disse também que depois das pedras terem sido lavradas a safira ficou ainda mais valiosa.

Assim, podemos perceber que, conforme o autor já mencionado continua comentando que, Moshê quando decidiu prestar conta de tudo que havia recebido, gasto e sobrado, não estava defendendo seu caráter, mas estava impedido que os fofoqueiros entre o povo cometessem mais um pecado grave, o pecado da maledicência. O que Moshê fez não foi para si mesmo e nem para “esfregar” na cara de seus acusadores que ele não roubou nada, mas foi para que mais pessoas não se tornassem vítimas da Lashon Harah.

Claro que há muitos outros pontos de vista a respeito do que ocorreu nessa parashá e como podemos aprender com ela, afinal a Torah não tem fim em seus ensinos, nem eu pretendo esgotar o entendimento nesse aspecto, mas apenas refletir nessa possibilidade e nos aprendizado que ele nos trás.

E refletindo ainda nesse ponto de vista, podemos aprender que Moshê nos ensina que devemos tomar cuidado com nossa imagem. Se falamos de santidade devemos dar exemplos em nossos comportamentos, pois esses devem ser santos, ele deve andar lado a lado com a fé que nos professamos. E isso não porque devemos prestar contas perante os homens, mas para que possamos evitar que outras pessoas cometam o pecado da maledicência. Então, de certa forma, devemos nos preocupar com o que podem vir a pensar de nós, sabemos que quem nos justifica é o Eterno, mas nunca podemos agir de forma a que pensem mal de nós. E completando assim essa parte, reparem o que diz a Mishnah:


Assim como um homem deve estar limpo perante os olhos do santo, Bendito Seja, o homem também deve estar limpo perante os olhos dos outros homens. Mishnah Shekalim 3:2


O Caráter Fiel de Moshê: Um Modelo para a Nossa Vida

A parashá Pekudei, conforme já vimos no início desse estudo, marca o ápice da construção do Mishkan, o Tabernáculo Sagrado. Moshê, após árduo trabalho e mediação divina, apresenta ao povo um relatório detalhado de tudo que foi utilizado na construção (Êxodo 38:21-31), de acordo com o que comentamos até agora. Essa atitude do homem de D’us, aparentemente simples, revela um caráter admirável de Mos e nos ensina valiosas lições sobre fidelidade, responsabilidade e gestão de recursos. Assim, vejamos algumas dessas lições e o que a sabedoria do povo de Yisrael tem a dizer.


1. Transparência e Prestação de Contas:

    • Midrash: O Midrash Shemot Rabbah (53:3) destaca a meticulosidade de Mos ao apresentar um "relatório final" (Êxodo 38:28). Cada talento de ouro, cada siclo de prata, cada fio de lã, tudo era contabilizado com precisão. Essa atitude demonstrava transparência e responsabilidade para com o povo e com D’us.

    • Lição para nós: A transparência é fundamental em qualquer relacionamento. Devemos ser honestos e responsáveis com os recursos que nos são confiados, seja em projetos pessoais, profissionais ou na administração de bens públicos.

2. Gratidão e Reconhecimento:

    • Midrash: O Midrash Tanhuma (Pekudei 4) interpreta a repetição da frase "todas as coisas que foram feitas para o serviço do Mishkan" (Êxodo 38:28) como um hino de gratidão de Mos a D’us pela provisão divina durante a construção.

    • Lição para nós: A gratidão é uma virtude essencial para uma vida plena. Devemos reconhecer as bênçãos que recebemos, grandes ou pequenas, e agradecer a D’us e às pessoas que nos rodeiam.



3. Liderança Exemplar:

    • Midrash: O Midrash Bamidbar Rabbah (17:3) compara a liderança de Moshê à de um bom pastor que conta suas ovelhas com cuidado.

    • Lição para nós: A atitude de Mos nos ensina sobre liderança autêntica. Um bom líder é responsável, transparente, grato e se preocupa com o bem-estar daqueles que guia.


A história de Mos em Pekudei nos convida a cultivar a fidelidade, a responsabilidade e a gratidão ao Eterno em nossas vidas. Que possamos ser exemplos de transparência, reconhecendo as bênçãos que recebemos e liderando com sabedoria e amor.


Hazak, Hazak, v’nit’chazek! Seja forte, seja forte, e sejamos fortalecidos!


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)