Estudos da Torá
Parashá nº 42 – Matot (Tribos)
Bamidbar/Números 30:2-32:42
Haftará (separação) Jr 1:1-2:3 e
B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Mt 5:33-37
Parashá nº 43 – Massei (Estágios)
Bamidbar/Números 33:1-36:13
Haftará (separação) Jr 2:4-28; 3:4 e
B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Tg 4:1-12
O Eterno Está na Frente da Nossa Teshuvah.
O povo de Yisrael não caminhou quarenta anos no deserto por acaso, apesar de terem sido punidos pela sua transgressão. Cada jornada, cada parada, cada passo, foi dirigido pelo Eterno com propósito, disciplina e misericórdia. A parashá Massei nos mostra que não existe estrada sem sentido na vida daqueles que são guiados pelas instruções do Altíssimo. A teshuvah é um caminho de retorno ao Eterno, e não é fácil, mas é possível. Mas há um segredo mais profundo: em cada retorno, em cada arrependimento, em cada teshuvah verdadeira, o Eterno já está à nossa frente, esperando, preparando e conduzindo o caminho de volta.
Esta verdade ecoa desde as palavras dos profetas até os ensinos de Yeshua e dos talmidim: a teshuvah não é apenas um ato nosso em direção ao Eterno, mas um caminho que o próprio Eterno abriu antes mesmo que decidíssemos retornar. Este é o chamado eterno para sair da idolatria, do erro, da impureza, e voltar para uma terra de promessa e santidade.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
Esta semana, estudamos a parashá Matot e a Massei, que encerram o livro de Bamidbar. Ambas trazem orientações fundamentais dadas pelo Eterno ao povo de Yisrael antes de entrarem na terra prometida, e revelam aspectos profundos da nossa jornada no deserto, tanto literal quanto espiritualmente, em nosso caminhar com o Eterno.
A porção Matot começa com um princípio essencial: o poder da palavra. Moshe transmite ao povo as instruções do Eterno sobre os votos e juramentos. A palavra falada tem força de aliança diante do Eterno. Isso mostra que quem ama o Eterno, cumpre aquilo que promete a Ele.
Em seguida, vemos o Eterno mandar Moshê vingar os filhos de Yisrael dos midyanitas, pelo engano que provocaram anteriormente. A guerra é vencida com ordem, pureza e justiça, e há uma separação clara entre o que é santo e o que é impuro. Ao final, as tribos de Reuven, Gad e metade de Menasheh pedem para ficar do lado leste do Yarden, pois aquela terra era boa para seus rebanhos. Moshe adverte sobre não desanimarem os outros, mas, com o compromisso de guerrearem ao lado de seus irmãos, recebem permissão. Isso mostra que a unidade e o compromisso com toda a comunidade de Yisrael é prioridade diante do Eterno.
Massei abre com uma lista detalhada de todas as jornadas dos filhos de Yisrael desde a saída de Mitsrayim até os campos de Moav, às margens do Yarden. Isso mostra que cada passo foi conduzido pelo Eterno, nenhuma caminhada foi em vão.
Depois, o Eterno ordena que, ao entrar em Kena'an, o povo expulse todos os habitantes e destrua seus ídolos e altares falsos. Se não o fizerem, tais povos seriam como "espinhos em seus olhos". A terra é santa, e exige pureza. São delineadas as fronteiras da terra e designados líderes para repartir a herança. E há também a instituição das cidades de refúgio, onde aquele que matasse alguém por acidente poderia escapar da vingança. Isso ensina que a justiça do Eterno é equilibrada, protegendo a vida e punindo o mal com discernimento.
Por fim, as filhas de Tzelofechad recebem a instrução de se casarem dentro da sua tribo, para preservar a herança de seus pais. Isso reforça a importância da responsabilidade familiar e tribal dentro da ordem do Eterno.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Em tempos de retorno e restauração, muitos acreditam que teshuvah, o voltar sincero para o Eterno, é algo que parte apenas do coração humano, como se o homem, por si só, pudesse decidir buscar a presença do Altíssimo. Mas as Escrituras revelam algo muito mais profundo: o Eterno não apenas espera nossa teshuvah, Ele a prepara, a precede, a conduz.
Nas jornadas do povo de Yisrael pelo deserto, vemos uma verdade poderosa: o Eterno guiava cada passo, mesmo quando o povo não compreendia. Não havia caminho desperdiçado. Cada parada, cada provação, cada livramento, era parte de um plano maior, o plano de transformar um povo que tinha sido escravizado em uma nação livre e santa. O mesmo ocorre com cada um de nós, pois nada é por acaso ou aleatório, HaShem tem o controle de tudo e quer nos tornar santos.
Essa realidade não terminou no deserto. Os profetas reforçaram o chamado do Eterno ao retorno. Yeshua, com as palavras vivas do Altíssimo em sua boca, reafirmou essa mensagem, e seus talmidim continuaram o chamado à purificação e obediência. Hoje, mais do que nunca, precisamos compreender que a teshuvah não é apenas um ato nosso, é um caminho que o Eterno traçou desde o princípio. Ele está à frente, chamando e preparando Seus filhos para herdarem a terra da promessa.
1. Nenhuma caminhada foi em vão
A parashá Massei começa com uma lista extensa de 42 estações ou paradas pelas quais os filhos de Yisrael passaram desde que saíram de Mitsrayim até chegarem às planícies de Moav.
Moshe escreveu os seus pontos de partida, segundo as suas jornadas por ordem do Eterno; eis os pontos de partida de cada estágio: Bamidbar 33:2
Podemos nos questionar: Por que o Eterno mandou registrar cada parada? Entender isso revela que cada jornada, cada lugar, mesmo os mais difíceis e aparentemente insignificantes, foi determinado pelo Eterno. Não há aleatoriedade na caminhada de Yisrael. Isso não foi para memória apenas, foi como um sinal profético. Cada ponto de partida e de chegada representa uma lição da caminhada de retorno à obediência. E tem profundo valor profético, pois mostra que a formação do povo não se deu apenas com milagres, mas com processos, ou seja, escolhas e resultados.
E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Eterno teu Elohim te guiou estes quarenta anos no deserto, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração... Devarim 8:2
Assim como nossos pais, o povo de Yisrael, foram guiados por nuvens e colunas de fogo, o arrependimento ou teshuvah, também é um caminho feito de paradas e recomeços. As jornadas do povo de Yisrael no deserto representam o processo de purificação que antecede a posse da herança. O Eterno molda o caráter do povo para que esteja pronto a habitar uma terra santa com instruções santas. Isso é profético, vai além do tempo, pois diz respeito também ao futuro, quando estaremos no reino do Eterno. Como está escrito:
Farei passar a terça parte pelo fogo, e os purificarei como se purifica a prata, e os testarei como se faz com o ouro. Eles chamarão meu nome, e eu lhes responderei. Zekharyah 13:9
Mesmo quando pecamos, como em Refidim ou em Qivrot-Hataavah, o Eterno não se afasta, apesar de julgar e punir. Porém, Ele está na frente, esperando que aprendamos e voltemos ao caminho certo. Observe que Yeshua ensinou essa mesma visão em forma de parábola:
O filho ainda estava longe, e seu pai o viu e, movido de compaixão, correu ao seu encontro… Lucas 15:20
O pai da parábola não representa um sentimento humano, mas a postura do Eterno, pois Ele já está adiante, esperando, olhando para o retorno de seus filhos. E vemos ainda esse entendimento dito pelo profeta Malakhi:
Desde os dias de vossos pais vos desviastes dos meus mandamentos, e não os guardastes. Voltai a mim, e eu voltarei a vós, diz o Eterno Tsevaot. Malakhi 3:7
Portanto, as paradas ou dificuldades enfrentadas são lições vivas que revelam o cuidado e disciplina do Eterno. Elas nos ensinam que não há sofrimento ou atraso em vão quando se anda sob a direção do Eterno. Tudo visa a herança eterna.
2. O Eterno guia cada parte da nossa vida, mesmo quando não compreendemos
Muitas paradas no deserto foram difíceis, pois houve falta de água, fome, serpentes, confrontos. Porém, todas elas foram determinadas pelo Eterno:
Segundo a ordem do Eterno se acampavam, e segundo a ordem do Eterno partiam... Bamidbar 9:23
Quando olhamos para os relatos da Torá, vemos que a presença do Eterno se manifestava mesmo nos lugares de provação. Em Refidim (onde não havia água), o Eterno trouxe água da rocha (Shemot 17). Em Horev, onde o povo pecou, ainda assim a nuvem não os abandonou. A profecia de Yehezkel 20 mostra que mesmo no deserto o Eterno cuidava de Yisrael, embora corrigisse seus erros:
Então eu os retirei da terra do Egito e os trouxe para o deserto. Entreguei-lhes minhas leis e lhes mostrei meus estatutos; se alguém os obedecer, terá vida por meio deles. Entreguei-lhes meus shabatot como um sinal entre mim e eles, de maneira que eles soubessem que eu, Adonai, sou o único que os santifica. Yehezkel 20:10-12
Mesmo quando não entendemos o motivo do sofrimento, o Eterno está trabalhando para nos ensinar a confiar nEle completamente. Aprendemos com as dificuldades e crescemos, mesmo que não tenhamos ideia disso. Se não murmurarmos e não sairmos do caminho de obediência, seremos vitoriosos no final.
Eu sei os pensamentos que tenho sobre vós, diz o Eterno; pensamentos de paz e não de mal... Yirmeyahu 29:11
Devemos compreender que nossas lutas têm direção quando seguimos as instruções do Eterno. As paradas do povo de Yisrael nos ensinam a esperar e confiar em HaShem, mesmo sem respostas imediatas. No sistema religioso as pessoas são ensinadas que Deus sempre vai responder, e quando isso não acontece, eles se perdem. É preciso entender que há momentos que o Eterno fica em silêncio e nos observa para ver nossas atitudes, assim como um professor na hora da prova, mas nossa confiança em tudo que aprendemos deve ser demonstradas com atitudes justas. Isso confirma o caminho que estamos trilhando.
3. Expulsar os habitantes e destruir os ídolos e altares falsos
O Eterno ordena:
Lançareis fora todos os habitantes da terra... destruireis todos os seus ídolos... e desfareis todos os seus altos… Bamidbar 33:52
Este mandamento tem peso profético e espiritual. A terra de Kena’an era contaminada por idolatria, imoralidade e violência, como está escrito:
Porque a terra está contaminada; e eu visitei a sua iniquidade sobre ela... Vayicrá 18:25
O mandamento de expulsar e destruir é para purificar a terra, pois o Eterno não habita onde há impureza e rebelião. O caminho de teshuvah exige a eliminação radical da idolatria, tanto visível quanto oculta. Yisrael não poderia herdar a terra mantendo os altares falsos, porque o Eterno não divide sua presença com abominações. E se o povo não obedecesse, os habitantes restantes seriam laço e tropeço:
Se não expulsardes os moradores da terra... acontecerá que os que deixardes serão por espinhos nos vossos olhos… Bamidbar 33:55
Esse mandamento não é para sobre a terra, ele aponta profeticamente para a purificação interior de cada membro do povo. Os ídolos externos são reflexos de idolatria interna, como a busca por poder, ganância e desobediência. E também aponta para um tempo futuro, conforme escrito:
E tirarei da terra os nomes dos ídolos, e deles não haverá mais memória… Zekharyah 13:2
Lavai-vos, purificai-vos; tirai a maldade dos vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal! Yeshayahu 1:16
A conquista da terra prometida não é apenas geográfica, é uma conquista moral e espiritual. Só podemos herdar quando expulsamos da nossa vida tudo que nos afasta de HaShem, toda forma de idolatria, colocando o Eterno como único Rei.
Yeshua reafirmou essa mensagem profética, dizendo:
Bem-aventurados os limpos de coração, pois eles verão o Eterno. Matityahu 5:8
E Shaul HaShaliach (Apóstolo Paulo) escreveu com clareza aos irmãos:
Pois que ligação há entre o santuário do Eterno e os ídolos? Porque vós sois santuário do Elohim vivente... 2 Coríntios 6:16
Teshuvah verdadeira exige quebrar os ídolos do orgulho, da avareza, da rebelião e da religiosidade. Só assim o povo pode entrar e permanecer na herança que o Eterno prometeu. Por isso, cada parte da jornada de nossa vida tem um propósito, pois os processos moldam o caráter, e o Eterno conduz até mesmo as partes difíceis da nossa caminhada. Mesmo sem entender, confie no Eterno e em sua palavra, pois ele guia cada parte da nossa vida com fidelidade, devemos nos lembrar que ele é Melech Neeman, Rei Fiel. No fim, devemos ter em mente que purificação é inegociável, pois a herança só vem com santidade e remoção da idolatria, tanto externa quanto interna. Como disse o profeta:
O povo que andar em justiça, herdará a terra e possuirá para sempre... Yeshayahu 60:21
Concluindo nosso estudo, podemos compreender que a teshuvah começa no coração do Eterno. Não somos nós que abrimos o caminho de volta. É o Eterno quem guia, conduz, prepara e espera. O deserto que atravessamos é a escola onde aprendemos a depender apenas de HaShem. A terra prometida só pode ser herdada por corações puros, livres de idolatria, e dispostos a obedecer todas as suas instruções. O profeta Hoshea diz:
Volta, ó Yisrael, ao Eterno teu Elohim, porque caíste pela tua transgressão. Os 14:1
O chamado do Eterno é claro. No entanto, mais claro é a certeza: Ele já está à frente, preparando nosso retorno. O Eterno está na frente da nossa teshuvah. Que caminhemos com firme confiança, expulsando os ídolos e confiando no caminho que ele mesmo traçou para a nossa restauração.
Quem ama o Eterno, anda nos Seus caminhos, destrói os ídolos e prepara-se para herdar a terra que Ele prometeu. O tempo da teshuvah é agora, pois Ele já está à nossa frente. Caminhemos com zelo e temor!
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Hazak, hazak, v’nit’chazek! Seja forte, seja forte, e sejamos fortalecidos!
Moshê Ben Yosef
Nenhum comentário:
Postar um comentário