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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Estudo da Parashá Vaetchanan - O Amor nos leva além da letra.

 

Estudos da Torá

Parashá nº 45 – Vaetchanan (Supliquei)

Devarim/Deuteronômio 3:23-7:11

Haftará (separação) Is 40:1-26 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Mt 4:1-11, 22:33-40, Rm 3:27-31.


O Amor nos leva além da letra.


Entre os muitos tesouros encontrados na Torá, nesta porção há um que muitas vezes é lido, mas raramente é compreendido em sua profundidade: “E farás o que é reto e bom aos olhos de HaShem”. Esta frase, tão simples em aparência, carrega dentro de si um chamado poderoso, ou seja, não apenas cumprir as palavras do Eterno, mas de viver conforme a intenção e o coração dEle. Não basta seguir os mandamentos como quem segue uma lista de tarefas, é preciso se deixar transformar por eles. Temos que fazer mais do que a literalidade. Isso é andar no caminho do amor, pois é o amor que nos leva além da letra.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Nesta porção, Moshê relembra ao povo de Yisrael suas súplicas diante do Eterno, rogando permissão para atravessar o Yarden e entrar na terra prometida. Contudo, HaShem, em sua justiça, não concedeu o pedido, mas ordenou que Moshê preparasse Yehoshua para conduzir o povo.

Moshê então ergue sua voz com firmeza e ternura, exortando Yisrael a obedecer plenamente às instruções do Eterno, sem acrescentar nem retirar delas, pois a vida na terra prometida depende de fidelidade absoluta. Ele recorda ao povo a revelação única no Monte Horev, quando ouviram a voz do Eterno do meio do fogo, uma experiência que deve ser guardada no coração e ensinada diligentemente às gerações futuras.

O povo é advertido sobre os perigos da idolatria, da autossuficiência e da negligência espiritual, sendo avisado de que o afastamento dos mandamentos traria exílio e sofrimento. No entanto, Moshê também anuncia a misericórdia do Eterno, se, mesmo no exílio, buscarem ao Eterno de todo o coração e alma, Ele os ouvirá e os trará de volta.

Após designar as três cidades de refúgio além do Yarden, Moshê proclama novamente as Dez Palavras (Dez Mandamentos), reafirmando sua centralidade na aliança entre HaShem e Yisrael. Ele reforça a necessidade de temer, amar e servir ao Eterno com inteireza de coração.

Moshe ensina então o Shemah: “Ouve, Yisra’el, HaShem é nosso Elohim, HaShem é um”, e o mandamento de amar HaShem com todo o coração, alma e força. Ele ordena que estas palavras sejam guardadas no coração, ensinadas aos filhos, faladas no lar, no caminho, ao deitar e ao levantar, e gravadas nas portas das casas.

A porção conclui com exortações claras, para não se esquecerem que foi o Eterno quem os tirou de Mitsrayim (Egito) com sinais e poder, e que a prosperidade futura pode se tornar armadilha se não for acompanhada de gratidão e temor. Moshê instrui que os filhos devem ser ensinados sobre os feitos do Eterno, para que a memória da redenção e os mandamentos jamais se apaguem de Yisrael.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

O povo de Yisrael foi instruído a guardar fielmente os mandamentos do Eterno, os estatutos, juízos e preceitos que moldam a vida. No entanto, a Parashá Va’etḥanan, ao reafirmar as Dez Palavras e destacar o Shemah Yisrael, apresenta algo além da simples obediência externa: “Farás o que é reto e bom aos olhos de HaShem” (Devarim 6:18). Esta frase exige reflexão. Encontramos o Eterno falando algo parecido a Avram em Bereshit (Gênesis) 17:1:


E sendo Avram da idade de noventa e nove anos, apareceu HaShem a Avram, e disse-lhe: Anda na minha presença e sê perfeito.”


O que é “reto e bom”? O que é ser perfeito? Se a Torá já contém as instruções detalhadas, por que Moshê adiciona essa expressão aparentemente vaga?

Antes de seguir em frente em nosso estudo, vamos refletir um pouco sobre esses questionamentos. Muitos acreditam que ser perfeito é não ter erros, e que ser reto e bom é nunca falhar e sempre agir com bondade. Mas e o que realmente as Escrituras dizem dentro do contexto original? Começando pelo que o Eterno falou a Avram, precisamos entender que nas Escrituras, “andar na presença do Eterno” significa viver com integridade, consciência constante de que Ele vê todas as ações, e obediência fiel aos Seus mandamentos. E o termo “perfeito” aqui não se refere à ausência de erro humano, mas à inteireza de coração, ou seja, um coração não dividido, que serve a HaShem com sinceridade e sem duplicidade. O contexto é muito importante, pois o Eterno está estabelecendo uma aliança com Avram, e como parte dessa aliança, o patriarca é instruído a viver de uma maneira específica. No verso original em transliteração direta temos: ...hithalekh lefanay vehyei tamim.

Observe o significado de cada parte:

- “Anda na minha presença” – התהלך לפני (hithalekh lefanai)

A raiz da palavra התהלך hithalekh é הלך halakh, que significa literalmente “andar”, e o modo reflexivo usado aqui sugere um andar contínuo e voluntário. O termo לפני lefanai (na minha presença ou diante de mim) indica uma vida vivida abertamente, sem disfarce, perante o Eterno. Isso não é uma metáfora mística, o Eterno estava dizendo a Avram para que viva constantemente consciente de Sua presença e sob Sua autoridade. É um convite para uma relação de intimidade e proximidade com HaShem. Encontramos outros textos que demonstram esse entendimento, comprovando um princípio das Escrituras:


Minha presença irá contigo, e te darei descanso.” Shemot (Êxodo) 33:14


Bem-aventurados os íntegros no caminho, que andam na Torá de HaShem.” Tehilim (Salmos) 119:1


- “Se tamim” - וֶהְיֵה תָמִים

A palavra tamim (תָמִים), em toda a Torá, carrega um significado muito claro e objetivo, como algo que está completo, inteiro, sem defeito ou mácula. Nas Escrituras, essa palavra é usada principalmente para sacrifícios sem defeito (Vayicrá 22:21), Caminho reto diante do Eterno (Tehilim 18:13) e Coração indiviso, inteiro (Devarim 18:13). Portanto, dizer que “tamim” apenas significa “sincero” ou “moralmente íntegro” reduz sua real importância. Tamim é completude diante de HaShem, ou seja, sem divisão, dúvidas, não vacilante, sem partes ocultas ou reservas. Tamim não significa perfeição no sentido de ser impecável ou sem erros, como costumam entender. Avram não estava sendo instruído a ser impecável, mas a ser completo em sua kavanáh (intenção) em servir ao Eterno.

Devemos aplicar o mesmo entendimento ao texto da Parashá: 'Farás o que é reto e bom aos olhos de HaShem' (Devarim 6:18). O termo hebraico Yashar significa reto, direto, íntegro, alguém que anda corretamente diante do Eterno. Já Tov significa bom, aquilo que é moralmente correto. Juntos, esses termos apontam para um viver íntegro e coerente com a vontade de HaShem. Não é à toa que aprendemos na Torá que o amor ao Eterno é a fonte de todo o princípio encontrado nas Escrituras, conforme lemos em Dt 6:5 e Mc 12:30, em um midrash feito por Yeshua:


...Amarás o Eterno teu Elohim de todo o teu coração, de toda a tua vida e de todas as tuas forças...


Este princípio nos leva a viver agradando ao nosso criador. Podemos expandir a ideia de andar com HaShem relacionando com outros personagens que foram chamados “tamim” ou “yashar”. Veja por exemplo:

- Noach – “Noach era homem justo (tzadik) e íntegro (tamim) entre os seus contemporâneos” (Bereshit 6:9).

- Iyov (Jó) – “Havia um homem na terra de Uz... íntegro (tam v’yashar), temente a HaShem e que se desviava do mal” (Iyov 1:1).


Com isso, podemos reforçar a universalidade do princípio, pois confirmamos que não é uma exceção ou uma doutrina nova de Yeshua, mas algo que existe desde os primórdios. Assim, torna-se claro que a resposta para as perguntas feitas acima é que o Eterno deseja mais do que ações mecânicas, Ele busca corações moldados pela compaixão, pelo amor e pela justiça verdadeira. Avancemos então um pouco mais o assunto explorando a profundidade do mandamento e vejamos como o amor nos leva além da letra.


1. A Torá como caminho de vida, não apenas de regras

É impressionante como a visão da maioria das pessoas que de alguma forma conhecem algo sobre a Bíblia acreditam que as leis do Eterno são regras que não podem ser obedecidas devido ao seu elevado número. E também acreditam que não devem ser obedecidas, pois era para um tempo e um povo do passado. No entanto isso é um grandioso engano, a Torá não é um código seco, nem é um conjunto de leis que não conseguimos obedecer, tão pouco é um peso. Você acredita que o criador do universo iria dar um conjunto de leis impossíveis de serem cumpridas para o homem? A troco de quê ele faria isso? Faz algum sentido para você?

Cada mandamento, regra e instrução na Torá é uma expressão da vontade viva do Eterno. Em Devarim 4:6, Moshê afirma que ao Yisrael guardar os mandamentos, os povos diriam: “Certamente este povo é sábio e entendido”. A sabedoria não está apenas em fazer meramente o que está escrito, mas em discernir o momento, a intenção e a aplicação. Quer dizer por exemplo, que não basta não trabalhar no shabat, não é apenas seguir regras ou ficar parado sem se mexer nesse dia. É entender que esse é um dia que deve ser dedicado para o Eterno, onde você não vai pensar em nada que indique as coisas comuns do dia a dia que envolvem trabalho. Isso exige o coração, ou seja, uma kavanáh (intenção) verdadeira. O amor é a lente que dá vida às palavras do Eterno, não é sentimentalismo, mas prática com razão. No tópico a seguir veremos que fazer o que é reto e bom não é algo subjetivo, é além.


2. Fazer o que é “reto e bom” não é subjetivo

Quando Moshê disse para o povo fazer o que é “reto e bom” não era para o povo escolher como fazer as coisas do jeito deles, pois o Eterno já definiu em suas palavras, a Torá, o que é “reto e bom”. Fazer o que é “reto e bom” não é subjetivo, ou seja, os conceitos de retidão e bondade não se baseiam em opiniões pessoais ou culturais, mas em um padrão moral objetivo estabelecido previamente, isso é coerente com o caráter de HaShem demonstrado na Torá.

Moshê exorta: “Guarda-te para que não te esqueças” (Devarim 4:9). O esquecimento não é apenas mental, mas também moral. A idolatria, por exemplo, é muitas vezes o resultado de corações endurecidos que ainda obedecem externamente, mas se afastaram internamente. Agir com retidão é refletir o caráter de HaShem que é justo, misericordioso e paciente entre muitas coisas. É não usar a Torá como escudo para o ego ou a indiferença. É refletir em tudo que se vai fazer e em cada decisão relacionada aos mandamentos. Veremos que Yeshua viveu e ensinou dessa maneira.


3. Yeshua e a intensificação da Torá no coração

Yeshua HaNotzri (o nazareno), ao ensinar, não revogou nenhum mandamento, mas revelou seu alcance mais profundo. Em toda a sua vida ele obedeceu a cada mandamento que lhe cabia, sempre de maneira racional e ampliada ou melhorada. Isto quer dizer que ele não agia como muitos religiosas de sua época, que davam mais ênfase em leis humanas do que nas próprias leis divinas. Em Devarim, está dito: “Não matarás” e Yeshua mostra que a raiva ou uma palavra mal falada contra o irmão já fere esse princípio conforme lemos em Matityahu (Mateus) 5. Isso não é criar nova lei, e nem é torná-la legalista por uma cerca, mas é mostrar que a Torá exige pureza de intenção verdadeira. Não é só evitar ou prevenir o ato, mas o veneno que o antecede. O mesmo vale para o adultério e a questão do divórcio, onde ele chama o povo de volta à pureza da aliança original. Em relação ao divórcio, mesmo quando a Torá o permite por causa da dureza de coração das pessoas, conforme Devarim 24:1 e Matityahu 19:8, se há meios possíveis de reconciliação, isso é muito melhor.


4. Amor e justiça caminham juntos na prática dos mandamentos

De acordo com o que já vimos até aqui, podemos compreender firmemente que o amor e a justiça, ou seja, a obediência, caminham juntos na prática dos mandamentos de forma plena. Devarim 6:5 manda amar HaShem com todo o coração, alma e força. E em 6:18 vem a ordem de fazer o que é “reto e bom”. O amor é a base sobre a qual todo o edifício da obediência se sustenta. Um mandamento cumprido sem amor pode se tornar opressivo e legalista. Mas quando o amor está presente, mesmo o mais difícil dos mandamentos se transforma em alegria. O amor nos faz considerar o próximo, buscar a reconciliação antes da oferta conforme Matityahu 5:24, e agir com justiça mesmo quando temos direito ao contrário.

Há pessoas que se apegam aos mandamentos por legalismo ou por religiosidade não por amor a que os deu. Há outros que se apegam tanto ao mandamento que criam cercas para protegê-lo e o torna pesado de se obedecer. Isso é uma coisa desnecessária. Existem cercas ou halachá que são boas, mas são as que não tornam o mandamentos pesados. Esse equilíbrio em saber discernir como cumprir os mandamentos além da letra sem ficar preso a uma cerca ou legalismo é obtido através do amor verdadeiro ao Eterno e a seu caráter.

Concluindo nosso estudo, vemos que o coração que busca agradar ao Eterno obedece além da letra sem extremismos ou religiosidade. A Parashá Vaetcḥanan não é apenas um chamado à lembrança dos mandamentos, mas uma convocação à maturidade espiritual. Fazer o que é “reto e bom” significa andar no caminho do Eterno com discernimento, misericórdia, humildade e verdade. É entender que a Torá não é um fim em si mesma, mas um meio para que vivamos como povo santo, entendendo que não precisamos seguir leis criadas ou acrescentadas para agradar ao Eterno.

Quem ama HaShem não se contenta com o mínimo, vai além da letra. Busca o centro da instrução ou mandamento e age com a razão e com a kavaná verdadeira no coração. Serve com alegria. Perdoa com generosidade. Guarda o shabat com reverência e amor. Cuida dos pais, dos pobres, da justiça, da verdade, tudo de forma plena, como Yeshua ensinou. O amor é o fio que tece todos os mandamentos num só manto de retidão. Por isso foi dito para os servos do Eterno fazerem o que é “reto e bom”, e por isso eu digo que o amor nos leva além da letra. Portanto, quem ama a HaShem: Conhece os seus mandamentos, discerni seu espírito, e cumpre com inteireza de coração. Isso é fazer o que é reto e bom. Isso é viver além da letra. Isso é andar com o Eterno.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!

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Moshê Ben Yosef


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