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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Estudo Parashá nº 3 - Lech Lechá

 

Estudos da Torá


Parashá nº 3 – Lech Lechá (Vá por ti)

Bereshit/Gênesis 12.1-17.27

Haftará (separação) Is 40.27-41.16 e B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 5.1-48



1 - INTRODUÇÃO

Vimos no estudo da parashá passada que o Eterno viu a vida reta que Nôach escolheu viver, em obediência a sua vontade. E por causa disso, quando resolveu destruir todos os seres vivos, devido ao grande crescimento da iniquidade, deu a Nôach e sua família a redenção por meio da Arca que mandou-lhe construir. Não somente para escapar do juízo, mas para que, com a estrutura e proteção do Pai, ser capaz de enfrentar tudo e quando saísse da arca, pudesse contemplar novos céus e uma nova terra na época, conforme lemos em Hb 11.7. Ele e sua família e todos os animais viveram em uma terra renovada salvos da corrupção, ou seja, com uma oportunidade de viverem conforme a vontade do Eterno. Sendo assim, quando aquele homem e sua família entraram na embarcação, juntamente com os animais, Elohim fechou a porta e enviou o dilúvio, que levou a todos os pecadores. E repare que em Mt 24.37-42, conforme mencionamos na semana passada, o termo levouindica o julgamento e morte dos transgressores.

Também, na porção passada pode ser visto a cronologia das dez gerações de Nôach à Avram, e o início de sua peregrinação de Ur dos Caldeus a Haran, em direção à terra de Canaã, mas eles param em Haran quando era para ter seguido em frente até Canaã, lemos isso em Gn 11.27-32.

Agora, entraremos na terceira parashá, onde iniciaremos o estudo sobre a vida de Avraham, nosso pai na emunáh (fé, confiança, firmeza). Essa parashá é considerada uma das porções mais importantes da Torá, pois ela trata do chamado de Avram(Abrão), o primeiro patriarca da nação de Israel. E nela temos a oportunidade de aprender muitas coisas a respeito da promessa que o Eterno fez a este patriarca e de sua repercussão para as nações do mundo, através de seus descendentes, e principalmente de Yeshua HaMashiach, que iniciou a concretização dessas promessas.

Vejamos então, o que a Torá tem a nos ensinar através dessa parte da porção Lech Lechá.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS

Segundo o que podemos ler no Midrash Bereshit (comentário rabínico do livro de Gênesis), a história de Avram começa antes do que podemos ler no texto dessa parashá, ela começa ainda na parashá passada. E cabe relembrar que, os comentários rabínicos podem ser considerados se as informações neles contidas refletem o que o texto da Torá aponta, ou complementa o mesmo. Caso alguma informação vinda destes comentários forem contra a Torá, ou levar a transgredir a mesma, não deverão ser considerados. Assim, o referido midrash começa a contar a história de vida de Avram em meio a um povo pagão e transgressor. Um povo idólatra e sem amor, cujo líder era Nimrod. E temos a oportunidade de comparar com o texto de Bereshit/Gênesis 11, onde vemos a Torá nos informar sobre a corrupção das pessoas. Através do midrash, fica mais claro para nós o nível de corrupção das pessoas nesse período. De acordo com o mencionado comentário rabínico, na época da construção da torre de Bavel (Torre de Babel), as pessoas estavam tão fanáticas em seu fervor para terminar a torre, que se um tijolo caísse e se quebrasse eles choravam dizendo - Como será difícil substituí-lo! No entanto, quando uma pessoa caía e morria, ninguém se preocupava em olhar para ela. As pessoas tinham se afastado da justiça novamente, os descendentes de Shem já eram poucos e haviam se espalhado. E no meio dessas pessoas transgressoras havia nascido Avram, filho de Terah.

Os sábios contam que o jovem Avram, com 48 anos de idade passava pela área da construção da torre, e ele era conhecido por ter se oposto à construção da torre, pois quando as pessoas o abordaram para convidá-lo, dizendo junte-se a nós para construir a torre, já que você é um homem forte e será muito útil para nós, ele recusou, dizendo que eles haviam abandonado HaShem que é a Torre, e em seu lugar eles escolheram uma torre de tijolos. Assim, nos conta o midrash que quando Abram passou e viu a construção lhes amaldiçoou em nome de HaShem dizendo “Destrói-os, oh senhor, confunde sua língua.”, palavras que David HaMelech usou no Salmo 55:9(10). Porém, as pessoas não lhe deram atenção, e haviam pessoas que lhe respondiam, olhe para esta mula inútil, é estéril. Abram tentava persuadir as pessoas a obedecerem o Eterno, porém elas refutavam dizendo que não valia a pena servir a HaShem, pois recompensava seus servos com esterilidade. Eles falavam isso pelo fato de ainda não ter filhos.

Apesar de ser da descendência de Shem, provavelmente Avram, assim como muitos em sua região, já não viviam de acordo com a justiça da Torá oral, mas ele também não era totalmente corrupto, deveria ter um nível mínimo de justiça, por isso o Eterno o chama.

Além de Avram, outras três pessoas não se envolveram com a construção da torre, Noach, seu filho Shem e seu neto Ever. E de acordo como midrash, Shem repreendeu seus filhos e netos por participarem da construção, porém eles não levaram em conta a repreensão, exceto um de seus filhos, seu nome era Ashur, que abandonou o projeto e partiu se estabelecendo em um lugar distante de Bavel. E ali construiu quatro cidades, entre elas a grande cidade de Nínive.

Há ainda muitas outras informações a respeito da vida de Avram contada pelos sábios nos midrashim, sua conduta em relação à idolatria e a consequente perseguição que sofreu por parte do rei de Bavel, bem como algumas outras provas que o Eterno lhe impôs. Continuemos no entanto, a estudar sobre a vida desse homem que se tornou o patriarca da nação sacerdotal.

Nessa porção, conforme mencionamos na introdução, encontramos Avram (Abrão), que apesar de as tradições e midrashim (plural de midrash, comentários rabínicos) judaicos falarem que ele era um homem que se afastava do mal e da idolatria, a Torá nos mostra que o Eterno diz para ele: “...caminhe adiante de mim e seja perfeito”. (Gn 17:1) O que pode nos apontar que ele precisasse corrigir algumas coisas em sua vida, ou seja, confirma para nós que ele precisava aprender a viver segundo os mandamentos da Torá. Isso pode ser comprovado com algumas atitudes que ele toma em sua caminhada após começar a seguir a D’us. Mas também, podemos ver muitos atributos de seu caráter que foram observados pelo Eterno, como por exemplo: sua emunáh (fé, confiança, firmeza) e obediência naquilo que Adonai lhe falava. Tanto que ao receber a determinação: “...Sai da sua terra e da sua parentela, e da casa de seu pai e vá para a terra que eu te mostrarei.” Gn 12:1, o patriarca obedece e sai. Mas esta, segundo alguns rabinos, não foi a primeira vez que HaShem teria falado com Avram. Segundo essa linha de raciocínio, quando em Gn 11:31, Teráh pega seu filho, seu sobrinho e suas esposas e sai de Ur em direção a Canaã, mas para em Charan, o Eterno já tinha falado com Avram, porém ele não deu ouvidos. E somente depois de um tempo, o Eterno o chama uma segunda vez, que é nesse verso 1 do capítulo 12. Voltaremos a falar sobre isso mais à frente.

Lembremos que Avram descende de uma linhagem de homens que invocavam o Senhor. Vemos isso desde o final do capítulo 4 de Gênesis, quando a Torá fala que Shet (Sete), filho de Adam, teve um filho a quem chamou Enosh(Enos), e que dali em diante voltou-se a invocar o Senhor. Da geração de Shet veio Noach (Noé), que gerou a Shem (Sem), de onde se originam todos os povos semitas, incluindo Israel filho de Ytschak, filho de Avraham. No entanto, conforme vimos na parashá passada e na introdução desse estudo, as gerações foram se corrompendo antes de Noach, e depois do dilúvio também, tanto que iniciam a idolatria ao construir a Torre de Bavel, quando o Eterno separa as línguas.

O Midrash Bereshit diz que o Eterno estava buscando um homem mais justo para ser o antecessor de uma nação temente a D’us. No entanto, não encontrou esse homem na família dos outros dois filhos de Noach, apenas em Shem, mas que ainda assim, preferiu esperar dez gerações até encontrar Avram (Abrão).

Mas por quê D’us esperou dez gerações?

De acordo com o Midrash, o Eterno está querendo nos mostrar que passou uma peneira e somente no final encontrou sua joia, Avram. Com isso, podemos notar que o Eterno contempla nosso interior, e age para conosco de acordo com o que Ele vê em nós. O dez também é um número profético no texto que aponta para os mandamentos do Eterno.

No entanto, é muito importante lembrarmos que a chamada de Avram se dá na verdade antes do capítulo 12, que é o início dessa porção, conforme mencionamos anteriormente. Ele inicia no verso 31 do capítulo 11 de Gênesis/Bereshit, quando seu pai, Terach (Tera), sai de Ur em direção a Canaã, conforme lemos em Neemias 9:7:


"Tu és o Senhor, o Deus que escolheu Abrão, trouxe-o de Ur dos caldeus e deu-lhe o nome de Abraão.”,


E também no relato de Estevão em Atos 7:2-4:


A isso ele respondeu: "Irmãos e pais, ouçam-me! O Deus glorioso apareceu a Abraão, nosso pai, estando ele ainda na Mesopotâmia, antes de morar em Harã, e lhe disse: ‘Saia da sua terra e do meio dos seus parentes e vá para a terra que eu lhe mostrarei’. "Então, ele saiu da terra dos caldeus e se estabeleceu em Harã. Depois da morte de seu pai, Deus o trouxe a esta terra, onde vocês agora vivem.”

Esses textos de Neemias e de Atos comprovam para nós o que os midrashim nos informam, pois eles complementam o que o capítulo 12 de Gênesis não mostra claramente.

O Midrash conta antes da chamada de Avram, várias ocasiões em que ele demonstra sua fé no D’us criador de todas as coisas, através de livramentos de perigos impostos por idólatras daquela terra. É por esse motivo que Terach (Tera), pai de Avram, decide sair de Ur, a fim de proteger seu filho, terminando por parar em Charan. Naquele momento o Eterno já tinha se manifestado a Avram uma vez, chamando-o. Com isso podemos aprender que podemos evitar alguns problemas se dermos ouvidos ao Eterno, quando ele nos chama, e com isso começarmos a colher as bençãos da obediência o quanto antes.

É interessante que muitos crentes, pregadores repetem o que dizem os livros cristãos sobre Abraão, dizendo que ele era idólatra, por morar em Ur dos Caldeus, que era uma cidade muito idólatra. Contudo a Torá, e os comentários rabínicos nos mostram que ele já era temente ao Eterno Criador do céu e da terra, antes mesmo de o conhecer, e jamais se dobrou à idolatria, por isso fora escolhido pelo Senhor. Apesar de ter nascido em uma terra idólatra, no meio de uma família idólatra, pois seu pai era comerciante de imagens, ainda assim, ele não se corrompeu. Isso nos aponta para os remanescentes que vivem em meio à idolatria e ao paganismo, mas não se misturam e o Eterno os chama para viver segundo a sua vontade expressa na Torá, em observância à vida justa do messias Yeshua.

Então no capítulo 12, que é o início dessa parashá(porção), temos a oportunidade de ler sobre o chamado desse patriarca, na verdade o segundo chamado. Onde o Eterno lhe faz promessas que seriam condicionais à sua obediência. Avram não era perfeito como nós não somos, mas HaShem ao se revelar pela segunda vez a ele, estabelece a maneira com a qual ele deveria lhe obedecer ao iniciar sua caminhada com o Elohim, a quem tinha sido fiel até aquele momento. Desta maneira, podemos entender o motivo de o Eterno falar para Avram “andar na presença dele e ser perfeito.”

O Eterno lhe determina a forma tripla de cumprimento da ordem, para que tivesse meios de se elevar e buscar andar em justiça, onde o patriarca teria que:

- Sair da terra dele (que agora era Charan)

Isso significa que era preciso deixar de lado tudo o que o ligava a sua terra de nascimento, onde havia muita idolatria e pecados diversos;

- Sair do meio da parentela

Renunciar aos parentes e familiares que estão vivendo no erro, cujas transgressões lhes são agradáveis, mas afrontam a D’us. Renunciar aqui significa não viver nas mesmas práticas;

- Sair da casa de teu pai

Sair da casa do pai aqui significa assumir responsabilidades de um homem, ou seja, viver de forma independente de seu pai, da mesma forma que um homem sai da casa de seu pai para se unir a sua mulher, mas essa independência o levaria a dependência de D’us. Quando somos dependentes do Eterno demonstramos nosso amor e dedicação, é o cumprimento do primeiro mandamento, que é reconhecer o poder e a soberania de HaShem, amando-o de todo o coração.

Ur e Charan eram terras repletas de idolatria, conforme já mencionamos anteriormente, e de acordo com o site “Emunáh a Fé dos Santos”, essa foi uma das razões pela qual o Eterno lhe ordenou que saísse de lá. A congregação do Eterno (a Noiva, a Israel de HaShem), estava sendo estruturada, e estava começando com uma ordem direta que se mantém e ecoa até aos dias de hoje, para todos os que vivem na Babilônia, ou que ainda têm no seu coração vestígios dela: “SAI DELA POVO MEU”. Perceba que todos os crentes no Elohim de Avrahan, Ysaac e Yaacov, e que mais tarde receberam o testemunho de Yeshua, recebem a mesma ordem para saírem desse sistema idólatra e devasso, que é a Babilônia, conforme podemos ler em Jer 51:45 e Ap 18:4.


"Saia dela, meu povo! Cada um salve a sua própria vida, da ardente ira do Senhor. Não desanimem nem tenham medo quando ouvirem rumores na terra; um rumor chega este ano, outro no próximo, rumor de violência na terra e de governante contra governante. Portanto, certamente vêm os dias quando castigarei as imagens esculpidas da Babilônia; toda a sua terra será envergonhada, e todos os seus mortos jazerão caídos dentro dela. Então o céu e a terra e tudo o que existe neles gritará de alegria por causa da Babilônia, pois do norte destruidores a atacarão", declara o Senhor. Jeremias 51:45-48


Então ouvi outra voz do céu que dizia: "Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam! Pois os pecados da Babilônia acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou dos seus crimes. Apocalipse 18:4,5


Podemos perceber que há uma ligação entre a saída de Avram de Charan, que é a região da posterior Babilônia, e as passagens de Jeremias e Apocalipse. O Eterno não poderia formar uma nação e um povo seu dentro de uma nação idólatra, e por isso chama aquele que seria o pai de uma grande nação, e benção para as famílias da terra, a sair dela. E da mesma forma a voz de Elohim clama até ao dia de hoje, para que os que ouvem sua voz saiam do meio do erro, do engano e da idolatria, da anomia, a fim de fazer parte do Reino e da família do Eterno.

Nessa porção semanal, também, encontramos informações maravilhosas, contidas nas palavras em hebraico e precisamos extraí-las para compreendermos o que o Eterno nos deixou.

Conforme disse acima, Abrão atendeu a voz de Adonai e iniciou sua peregrinação à terra de Canaã de Ur dos Caldeus ou Mesopotâmia, mas eles param em Haran quando era para ter seguido em frente até Canaã, lemos isso em Gn 11.27-32. Quando lemos o capítulo 12 parece para nós que o chamado do Eterno a Abrão foi ali, mas na verdade o chamado foi em Ur, e no capítulo 12 ele está em Haran. Há em outra parte das Escrituras algum texto que nos comprove isso? Sim, leia Atos 7.2 e 3:

“e Estevão disse: “Irmãos e pais, ouçam-me! O Deus da Glória apareceu a Avraham avinu na Mesopotâmia, antes de morar em Haran, e lhe disse: Deixe sua terra e sua família e vá para a terra que eu lhe mostrarei.” (Bíblia Judaica Completa)

Sendo assim, o que podemos aprender?

Em primeiro lugar, que as Escrituras nos trazem as informações que precisamos saber, basta que meditemos nela com muito cuidado.

Em segundo lugar, que devemos obedecer aos mandamentos de Deus seguindo os princípios que Ele estabeleceu. No caso de Abrão, quando o Eterno lhe chamou deu-lhe uma determinação, deixar a terra e a parentela, mas ele saiu com seu pai Terah e seu sobrinho Ló. Os rabinos dizem que Terah era idólatra, então Abrão já estava levando um problema, pois o Eterno estava tirando ele de uma terra idólatra, então como ele iria levar consigo a idolatria de seu pai?

E em terceiro lugar, era para sair da terra e ir para onde Deus mostrasse, no entanto, eles pararam em Haran, que era uma cidade ainda nas terras de Ur. Por isso, no capítulo 12 lemos algumas especificações importantes, como: um resumo da chamada ou uma repetição dela, a promessa de fazer dele uma grande nação, a promessa de engrandecer o nome dele, a determinação de que ele fosse uma benção, benção e maldições para os que abençoassem e amaldiçoassem a ele e a seus descendentes, respectivamente, e finalmente, a promessa para as famílias da terra.

Passaremos agora a ver algumas informações dentro do texto original que podem nos trazer uma edificação espiritual e um conhecimento mais profundo da Torá.

Essa parashá têm início com uma palavra, um comando ou uma ordem do Eterno, e alguns rabinos até consideram que possa ser um teste.


וַיֹּאמֶר יְהוָה אֶל-אַבְרָם, לֶךְ-לְךָ מֵאַרְצְךָ וּמִמּוֹלַדְתְּךָ וּמִבֵּית אָבִיךָ, אֶל-הָאָרֶץ, אֲשֶׁר אַרְאֶךָּ

vaiomer Adonai El-Avram lech lecháh mearetseka umimoladetekha umibeyt aviykha El-haarets asher arêeka

E disse Adonai a Avram vá por ti da sua terra, e do meio da sua parentela(pátria/origem), e da casa de seu pai (ancestral) para a terra que te mostrarei.

Quando Avraham completou 75 anos recebeu a ordem do Eterno: “Vá por ti!” É como se D’us dissesse pra ele, agora que já viveu e completou suas explorações e conquistou seus objetivos pessoais, volte-se para dentro de ti mesmo e inicie nessa jornada até o seu próprio ser. De acordo com um artigo do site Chabad.org, “paradoxalmente, quanto mais pessoal é a jornada, mais necessitamos de auxílio e conselhos.” E Abrão estava nesta condição, de quem precisa de conselhos, talvez por isso ele saiu de Ur com alguns parentes. Então, após refletirmos e meditarmos nesse texto, devemos nos perguntar, por que deixar sua cidade natal? E por que isso seria um teste? Para responder a isso devemos mais uma vez recorrer a tradição do povo de Israel, os descendentes de Abrão, e pela tradição oral, conforme já mencionamos no início deste estudo. Avram não era uma pessoa muito popular onde nasceu. Os sábios de Israel afirmam que Ele foi desprezado, perseguido, atacado e quase morto – até que foi milagrosamente salvo de uma fornalha ardente. Por que deixar esse lugar seria considerado um “teste”?

Era um teste porque ele precisava decidir viver ali em meio à idolatria e a perseguição ou sair e salvar sua vida, vivendo para o Eterno. Porque a tradição também diz que quando ele era pequeno Teráh tinha uma loja de estátuas dos deuses mesopotâmicos, e um dia precisou sair deixando a loja sob a responsabilidade do jovem Avraham, que na ausência do pai destruiu todas as estátuas. Quando Teráh voltou e viu tudo destruído perguntou o que tinha acontecido e o jovem respondeu que as estátuas começaram a brigar entre si e a si destruírem. O pai olha para o jovem e diz: “o que é isso garoto, as estátuas não se mexem.” Então o jovem Avram pergunta: “se é assim, então porque o senhor ora a elas e confia nelas?”

Podemos então entender, com o termo “lech lechá” (Vá por ti), que o Eterno estava chamando Abrão para cumprir um propósito, e o próprio D’us mostra esse propósito no texto que lemos em Gn 12. 1-3. O propósito de HaShem para ele era abandonar tudo para seguir as orientações do Senhor, era ser uma grande nação e ser uma benção, inclusive para as famílias da terra. Assim, podemos aprender com esta parashá que devemos buscar o propósito do Eterno para nossas vidas, porque ele sempre tem propósitos para cada um de nós. Reflita em sua vida e nos propósitos que o Senhor tem para você nesta terra e nesta época.

Muitas pessoas se perdem com coisas desse mundo, distante de Deus e de seus mandamentos, e principalmente sem cumprir em suas vidas o propósito do céu. Imagina um jovem que morre nas drogas, cujo propósito de Deus na vida dele seria ser um cientista ou um médico, e uma jovem que se perde pela prostituição, quando o propósito para ela era ser uma enviada às nações, e assim são tantos propósitos que são impedidos de serem cumpridos.

Finalmente, um dos propósitos de Abrão, era ser benção para as famílias da terra, e isso se daria pela sua linhagem, através do nascimento do messias, por meio do qual os homens encontrariam o caminho para servir ao Eterno e ser aproximado à família desse valoroso personagem.

Simon Jacobson, em seu artigo do site Chabad,org diz que:

O chamado “Lech Lecha” ressoa através da história enquanto convoca cada um de nós: você levará uma vida impulsionada por interesses existenciais, ou uma vida aspirando transcendência?

A cada momento de nossas vidas, em cada encontro que temos, há duas escolhas: ser medíocre ou ser grande. Você seguirá suas necessidades egoístas e imediatas, ou vai transcender seu ser natural e ir além de si mesmo – para a sua essência, para quem você realmente é? Para você será suficiente ficar nos confins das forças que o moldaram, ou você pretende ir além do seu ser?

À medida que cada um de nós passa pela jornada da vida, chegamos a uma encruzilhada na rodovia e enfrentamos muitas vezes essa questão. Ler a história de Avraham pode ser uma tremenda inspiração. A história de nosso pai Avraham é a nossa história. Ele é o “pai de todas as nações” – o primeiro homem a descobrir a transcendência – e nos ensina que a única reação verdadeira às dúvidas e à confusão é abraçar nosso chamado imutável. Avraham começou a jornada há 3747 anos (Lech Lecha ocorreu no 75º aniversário de Avraham); somos levados a concluí-la. Lech lecha é o chamado imortal a Avraham para empreender uma jornada que desafiaria a própria natureza da existência – atingir céu e além, e trazê-lo de volta para a terra.

No espírito de Avraham, eis aqui uma humilde sugestão: vamos todos pensar e então anotar qual a jornada que estamos adotando em nossa vida? Estamos encurralados em nossas zonas de conforto? Que temores e incertezas nos mantêm paralisados? E então pergunte a si mesmo: qual é a coisa mais certa em sua vida? O que você sabe é real com certeza absoluta e incondicional?

Se não pode encontrar a resposta, comece olhando agora. Ouça o chamado “Lech Lecha” e inicie sua jornada. Se você tem a resposta, acalente-a e apegue-se a ela com cada fibra do seu ser – e acima de tudo, faça jus a ela.

Toda experiência em nossas vidas nos oferece a oportunidade de atingir a grandeza. Você vai chegar a essa ocasião?

Assim como foi prometido a Avraham quando ele embarcou em sua jornada, também recebemos a promessa na nossa: “Eu farei de ti uma grande nação. Eu te abençoarei e te farei grande, e te tornarás uma bênção. Eu abençoarei aqueles… todas as famílias da terra serão abençoadas através de ti.”

E se a parte cética em você se pergunta se vai ser abençoado dessa maneira, considere isto: Esta bênção foi concedida a Avraham há mais 3747 anos, e nos milênios que se seguiram desde então até agora, vimos sua concretização – apesar de todas as dificuldades. Alguém pode duvidar que a mesma bênção pode ser cumprida hoje em nossas jornadas?

Essas palavras extraídas do site Chabad.org, nos fazem refletir em nossa situação como seguidores do messias Yeshua, que é o nosso modelo de vida dentro do propósito Lech Lechá do Eterno para todos os que aceitam o desafio de viver uma vida de obediência. Sair do meio do sistema, do erro, do pecado e caminhar seguindo a trilha que a luz da Torá nos conduz é seguir os passos de Yeshua, e com certeza, isso nos levará ao encontro de pessoas que precisam também conhecer o chamado. Afinal, em Yeshua somos descendência de Avrham, e por isso devemos ser benção para as famílias da terra.

Que o Eterno lhes abençoe!


Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- El Midrash Dice Bereshit – O Midrash disse

- httpshttps://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/820899/jewish/Uma-Jornada-a-essencia

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771006/jewish/Resumo-da...

- http://shaareishalom.net.br/o-universal-e-o-particular-parashat-lech-lecha/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

Estudo Parashá Noach - 2021-2022

 Estudos da Torá


Parashá nº 2 – Nôach (Noé)

Bereshit/Gênesis 6.9-11.32

Haftará (separação) Is 54.1-55.5 e

B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 3.1-4.25


1 - INTRODUÇÃO


No final da primeira porção semanal, a parashá Bereshit, vimos no início do capítulo 6, que Adonai estava muito insatisfeito com o ser humano, pois a maldade do seu coração era muito grande e aumentava a cada dia. Por isso, o Eterno resolveu reduzir o tempo de vida do homem a um limite de cento e vinte anos. E a corrupção do homem estava tão grande e cada vez mais aumentava, somado a isso havia também o fato de os Filhos de Deus se encantarem pelas filhas dos homens, por isso Adonai resolveu eliminar todos os homens da terra, e não somente os homens, mas também todos os seres vivos.

Nesta segunda porção ou parashá falaremos sobre Noach (Noé) e sua vida justa, falaremos também um pouco de sua geração, a geração que viveu antes do Mabul (dilúvio), olhando para o que a tradição judaica nos diz a respeito, e com base no que vamos ver na Torá veremos como podemos viver de forma justa em tempos como os atuais, que muito se igualam aos tempos de Noach. Qual deve ser nossa conduta como servos do Eterno, Hakadosh Baruch Hu, redimidos pelo Messias Yeshua? Poderemos refletir um pouco sobre isso e levar o aprendizado para nossas vidas diárias.

Como já temos aprendido a Torá tem informações nas entrelinhas de seus textos, e muitas vezes há mensagens escondidas em letras ou palavras, e essas mensagens são proféticas, nos encaminhando para a compreensão de coisas que iriam acontecer no futuro de quem as escrevia, para o futuro dos contemporâneos de Yeshua e dos talmidim, bem como, algumas são para o nosso futuro também, e assim podemos saber mais sobre o nosso porvir com o Messias.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS


Para que possamos compreender bem o contexto histórico desse período ou época, devemos procurar analisar o que estava acontecendo, como as pessoas viviam nesse período e como afetaram o ambiente em que estavam. Assim, vejamos o que podemos encontrar dentro dos conhecimentos do nosso povo sobre esse tempo.

No Midrash Bereshit (O Midrash disse - El Midrash Dice, em espanhol), nessa parashá os rabinos nos dizem que, apesar de os seres humanos já não viverem mais no Gan Éden, seu estilo de vida anterior ao dilúvio ainda se assemelhava ao que tinham no Gan Éden. A vida era boa. Na verdade era muito boa, diz o midrash. Era uma vida de ininterrupta serenidade e prazer. Por exemplo, ainda segundo o midrash, os filhos eram concebidos e nasciam no mesmo dia, e um recém nascido se levantava e começava a caminhar imediatamente, bem como era capaz de falar. Além disso, nenhuma criança morreu enquanto seus pais estavam vivos; na verdade, todos os pais viveram para ver, não apenas seus filhos, mas também seus netos.

Talvez por isso, a Torá nos conte com tanta clareza, na parashá passada, sobre a morte de Hébel (Abel), porque isso era algo que não era comum quando aconteceu, e nem mesmo tempos imediatamente depois.

Essa geração anterior ao dilúvio possuía uma força física enorme, como diz o verso 4, “...os gigantes estavam na terra naqueles dias...”. Eles eram capazes de extrair a raiz de cedros inteiros e consideravam leões e panteras tão inofensivos quanto pulgas. Sua força não diminuía, ao invés disso, aumentava com a idade. E daí nós podemos entender, como Noach e seus filhos construíram uma Arca tão grande.

Eles viviam centenas de anos, conforme pudemos ver nos textos bíblicos da parashá passada, no capítulo 5 de Bereshit, porém quando começaram a pecar HaShem proferiu as palavras do verso 3 do capítulo 6, e daí em diante o homem viveria cento e vinte anos.


Então disse o Eterno: Por causa da perversidade do homem, meu ruach (espírito) não contenderá com ele para sempre; e ele só viverá cento e vinte anos.” Gn 6:3


E à partir daí eles passaram a viver menos tempo a cada dia.

O referido midrash diz também que, os homens daquela época semeavam o solo uma vez a cada quarenta anos e a terra produzia a quantidade suficiente para os quarenta anos seguintes. Eles não precisavam suportar nem calor e nem frio excessivo, já que não havia variação de estações e o estado do tempo era como uma contínua primavera suave e prazerosa, somente após o dilúvio que passou a ter variações nas estações como podemos ver no verso 22 do capítulo 8.


Enquanto durar a terra, plantio e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite jamais cessarão.” Gn 8:22

De acordo com os relatos do midrash podemos perceber que o ser humano, mesmo depois que foi expulso do Gan Éden ainda era muito forte, era de alta estatura, com uma inteligência muito acima do que vemos atualmente, e até mesmo a natureza era bem diferente do que vemos hoje. Mas se eles tinham todas essas condições favoráveis, então o que levou o Eterno a tomar a decisão de reduzir o tempo de vida, que vimos no verso 3, mencionado anteriormente? Que espécie de corrupção ou transgressão os homens cometeram para gerar tal reação de HaShem?

Para responder essas questões, e ainda continuar a compreender o contexto, precisamos continuar nos debruçando sobre o que os antigos nos falaram, sobre o que vem sendo passado de pai para filho, dentro do povo de Israel. E perceba que o conteúdo do midrash, vem sendo confirmado com o texto da Torá.

Segundo o midrash, como consequência de todos os benefícios que os homens tinham, abandonaram a autoridade de HaShem, dizendo que não precisariam do Eterno, pois eles conseguiam tudo o que precisavam sem a ajuda do Senhor, eles se perguntavam porque precisariam de chuva se podiam dispor de toda água que precisavam das fontes, dos rios e poços da terra.

Outras transgressões maiores eles cometiam. Ainda de acordo com os midrashim, os antigos nos contam que aquelas gerações começaram a dizer ao Eterno para se apartar deles, pois não sentiam necessidade de conhecer os “caminhos do Eterno”, e sabemos que “caminhos” é uma alusão clara à Torá de HaShem, e sendo assim, estavam rejeitando a viver de acordo com a vontade do Eterno. E pioravam ainda mais, questionando quem era o “Todo Poderoso para que lhe servissem?” ou “porque devemos rezar a ele?” E se afastavam ainda mais de HaShem adquirindo experiências com feitiçaria, segundo o midrash.

Eles se tornaram muito violentos, por isso o texto hebraico fala de “chamás” ou violência no verso 11 do capítulo 6.


Ora, a terra estava corrompida aos olhos de D’us e cheia de violência.”Gn 6:11


O mesmo midrash Bereshit nos diz que eles eram assassinos, e que sua depravação era similar ao que leremos sobre a perversa cidade de Sodoma, mais tarde. Eles eram imorais, haviam rechaçado o mandamento dito a Adan, para crescer e multiplicar. Tanto que suas metas eram agradar seus instintos mais primitivos, e por isso reduziram o número de filhos ao mínimo, aumentando assim, as atrocidades que faziam naqueles tempos, como algumas mencionadas abaixo:

- Os homens tomavam as esposas da seguinte forma: uma com o propósito de criar filhos, e outra para prazer;

- Eles trocavam de esposas;

- Arranjavam contratos matrimoniais entre seres humanos e animais, legalizando desta forma relações proibidas; e

- Os juízes eram corruptos.

A situação estava tão deturpada que a natureza estava corrompida pelo homem, e os animais já estavam seguindo o caminho de corrupção dos seres humanos, misturando as espécies entre si, de forma que por exemplo, o cachorro se unia sexualmente ao lobo e o galo ao pato. E muitas outras coisas cita o midrash a respeito das gerações antes do dilúvio, a geração de Noach.

Agora que compreendemos um pouco o contexto histórico da época e o que levou ao dilúvio, vamos prosseguir e ver um pouco sobre Noach.

A Torá nos relata em Bereshit/Gênesis 6:9, que Noach foi um homem justo, perfeito nas suas gerações, diz também que ele andou com D’us. Sabemos que foi o fato de ser ele temente a Elohim, e seu padrão de vida, que permitiu que a humanidade fosse salva da morte e da completa extinção. Foi sua vida e conduta que levaram ao Eterno escolhê-lo para, através da arca, ele e sua família fossem preservados a fim de darem continuidade à raça humana.

Sabendo de tudo isso sobre Noach e que a Torá nos diz que ele era justo, podemos meditar acerca do contraponto. Vemos que o testemunho da Torá é que ele era justo nas suas gerações, e já sabemos como eram as pessoas da geração antes do dilúvio. Aprendemos o que eles fizeram para que o Eterno considerasse que eles deveriam ser condenados à morte e somente Noach e sua família vivessem para renovar à humanidade.

Assim, lemos o seguinte no texto da Torá:

E o Eterno viu que era grande a maldade do homem na terra, e que todo impulso dos pensamentos do seu coração era exclusivamente mau todo dia. E arrependeu-se o Eterno de ter feito o homem na terra, e pesou-lhe em seu coração. E disse o Eterno: Farei desaparecer o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até o quadrúpede, até o réptil e até a ave dos céus; porque Me arrependi de os haver feito. E Noé achou graça aos olhos do Eterno.” (Gn 6:5-6)


Continuando nosso assunto, vamos nos aproximar mais do texto para que vejamos com um pouco mais de detalhes, algumas partes dos textos dessa porção. Voltemos um pouquinho nos últimos versos da parashá passada mais uma vez e observemos primeiro o termo “arrepender” que aparece nos versos acima.

Talvez você se questione: D’us pode se arrepender de algo?

O Eterno não se arrepende, mas a Torá é muito didática, e nos traz essa expressão que conhecemos bem, para que possamos ter uma clara compreensão do que Ele quis dizer. O objetivo de Elohim é sempre se revelar para nós, por isso se preocupa em como passar as informações para o homem entender através de suas próprias linguagens. Esse é um texto figurativo. Elohim procede ou age de acordo com as atitudes dos homens, segundo as decisões que eles tomam, e as ações que praticam, conforme lemos em Ezequiel 18:1-4


Esta palavra do Senhor veio a mim: "Que é que vocês querem dizer quando citam este provérbio sobre Israel: " ‘Os pais comem uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotam’? "Juro pela minha vida, palavra do Soberano Senhor, que vocês não citarão mais esse provérbio em Israel. Pois todos me pertencem. Tanto o pai como o filho me pertencem. Aquele que pecar é que morrerá.” Ezequiel 18:1-4


Com tudo o que foi exposto até aqui, podemos entender o porquê de Noach se opor à forma de vida de sua época, e o motivo de Adonai ter agido com graça para com Ele. Noach vivia de forma justa, conforme a vontade de D’us.

Em Gn 6:8 lemos que, “Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor” Apesar de muitos hoje pensarem que a graça vem apenas no chamado Novo Testamento, vemos que o Eterno sempre ofereceu graça (chessed - misericórdia) aos homens que se arrependem do mal e O buscam. Um midrash diz: “Noach foi salvo, não porque merecia, mas sim por causa da graça do Eterno.” O conceito de graça, como favor imerecido, é um dos pilares mais importantes da fé no Eterno, embora o próprio texto da Torá nos mostre o Eterno dando testemunho da vida justa de Noach, conforme veremos um pouco adiante.

Também nós devemos em nossa época viver diferente da forma como as pessoas vivem, nos afastando da vida pecaminosa e nos prevenindo de transgredir a Torá de HaShem. Devemos obedecer as palavras do Eterno, a Torá, e viver de forma justa, pois também fomos alcançados pela graça. A arca que é um apontamento profético para Yeshua, livrou Noach e sua família da morte, e também nos livrará da morte que tocará esse mundo, e isso é a graça ou misericórdia do Eterno para nós.


Segundo o site judeu.org, podemos comparar esses dois textos:


E viu YHWH que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.” (Bereshit/Gênesis 6:5)


E YHWH sentiu o suave cheiro, e YHWH disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz.” (Bereshit/Gênesis 8:21)


Reparemos que o motivo de o Eterno enviar o dilúvio foi a maldade do homem que se multiplicou, conforme apontamos acima. E de acordo com esse site, podemos nos questionar: Como pode o mesmo motivo que fez com que o Eterno destruísse a terra ser alegado para afirmar que o Eterno não mais destruiria a terra?

A resposta deles é que:

Quando comparado com o 6:5, a linguagem está consideravelmente modificada, e não é mais totalmente inclusiva. A afirmação não é um juízo, mas uma observação de que uma inclinação para o mal, tecida no pano da natureza humana.

Em outro lugar encontramos:

A frase chave é ‘desde a sua juventude’, não desde o nascimento ou desde a concepção, implicando que a tendência ao mal pode ser refreada e redirecionada através da disciplina das leis. Assim, a próxima seção lida com a imposição de leis sobre a humanidade pós-diluviana.” (Nahum Sarna, Comentário da JPS sobre Gn. 8:21)


Com isso, é nos ensinado a importância de criar um ambiente saudável, e de promoção da disciplina, para que o ser humano possa sujeitar suas paixões. Desde cedo podemos fazer isso com nossos filhos, isto é, ensinando-os a guardar a Palavra do Eterno, e a viver não segundo o curso deste mundo. Nós mesmos devemos nos esquivar da Yetser Hará (inclinação para o mal), que a todo tempo nos rodeia de perto, devemos ir para os pés do Senhor, e como fez Noach, caminhar com Elohim.

E a grande lição da Torá é que, após um certo ponto de estabelecimento da barbárie, torna-se quase impossível voltar atrás e consertar a situação. E o resultado é que o ímpio será destruído perpetuamente, conforme lemos em Salmos 92:7:


Quando o ímpio cresce como a erva e quando florescem todos os que praticam a iniquidade, é que serão destruídos perpetuamente.”


Em Bereshit (Gênesis) 6.9, que é o verso inícial da parashá desta semana, encontramos o seguinte texto, e repare no grifo em vermelho:


“9 Estas são as gerações de Noach(Noé). Noach homem justo e perfeito nas suas gerações; com Adonai andou Noach.”


Note que o nome de Noach repete três vezes, e isso não é algo comum de acontecer em textos da Torá. Os rabinos afirmam que quando isso ocorre devemos parar e observar, pois com certeza haverá uma mensagem escondida. E nesse caso, quando paramos para olhar mais de perto, realmente encontramos algo.

Lembra o que o pai de Noach disse quando ele nasceu, ao falar seu nome?


Aos 182 anos, Lameque gerou um filho. Deu-lhe o nome de Noach e disse: "Ele nos aliviará do nosso trabalho e do sofrimento de nossas mãos, causados pela terra que o Eterno amaldiçoou".” Gênesis 5:28,29


Noach significa consolo, conforto, alívio. Por isso seu pai disse que “...ele nos aliviará do nosso trabalho e do sofrimento…”, e isso é um apontamento profético para o messias, veja o que diz o profeta Yeshayahu/Isaías:


“Escutem! Suas sentinelas erguem a voz; juntas gritam de alegria. Quando o Senhor voltar a Sião, elas o verão com os próprios olhos. Cantem juntamente de alegria, vocês, ruínas de Jerusalém, pois o Senhor consolou o seu povo, ele resgatou Jerusalém.” Isaías 52:8,9


“Eu vi os seus caminhos, mas vou curá-lo; eu o guiarei e tornarei a dar-lhe consolo,” Isaías 57:18


Agora observe o texto do capítulo 7:1, onde encontramos este texto, e repare no grifo em vermelho e no que ele diz:


א ויֹּאמֶר יְהוָה לְנֹחַ, בֹּא-אַתָּה וְכָל-בֵּיתְךָ אֶל-הַתֵּבָהכִּי-אֹתְךָ רָאִיתִי צַדִּיק לְפָנַי בַּדּוֹר הַזֶּה


1 vayo’mer Adonay lenoach bo’-‘attâh vekhol-bêythkha’el-hattêvâh kiy-‘othekha râ’iythyi tsaddyk lephânay baddor hazzeh


1 Depois disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque tenho visto que és justo diante de mim nesta geração.

Note que a porção começa com as qualificações de Noé, a Torá afirma que ele era homem justo e perfeito nas suas gerações. E aí está algo que devemos observar, pois enquanto em 6:9 fala das gerações, em 7.1 fala da geração. Será que há algo mais aí?

O texto nos mostra as gerações anteriores de Noé, ou seja, desde seu pai, bem como as gerações durante sua vida até que ele tem seus próprios filhos. E veja que Lameque declara uma profecia que nos coloca exatamente onde estamos estudando, o fato de Noé ser um homem justo e que seria usado por Adonai para trazer redenção à humanidade caída. O exato apontamento para o messias Yeshua, conforme falamos antes. Também devemos perceber que nas gerações posteriores a Noé, este também era a referência, pois dele a raça humana voltaria a se propagar na terra. Assim como acontecerá após a volta de Yeshua, a qual trará glorificação para os justos que viveram seguindo os seus princípios, e também redenção para os que viveram sem o messias.

Dos descendentes de Set, filho de Adão, quando se começaram a invocar o nome do Eterno até Noé, a geração humana foi crescendo, pois também cresciam os descendentes de Caim, e estes eram maldosos e começaram a se misturar com os descendentes de Set, bem como a destruí-los. Os seres humanos justos foram diminuindo, enquanto aumentavam os corruptos, até que chega em Noé, que agora era o único homem justo, junto com seu pai Lameque, que ainda deveria estar vivo.

No entanto, ainda temos mais a observar no texto em estudo, o verso 1 do capítulo 7, que no grifo em vermelho diz: “tsaddiyq lephânay baddor hazzeh”, ou seja, “justo diante de mim nesta geração”. O foco da Torá agora é específico na geração contemporânea de Noé. Ele estava vivendo em justiça em uma época corrompida, e a torá nos diz que ele andava com Adonai (Gn 6.9). Isso levou ao testemunho de sua justiça e ao reconhecimento de sua vida reta, como podemos ler em Ezequiel 14:13-14.


Filho do homem, se uma nação pecar contra mim por infidelidade, estenderei contra ela o meu braço para cortar o seu sustento, enviar fome sobre ela e exterminar seus homens e seus animais. Mesmo que estes três homens — Noé, Daniel e Jó — estivessem nela, por sua retidão eles só poderiam livrar a si mesmos, palavra do Soberano Senhor.” Ezequiel 14:13-14


E o mais interessante é que não testemunha somente de Noé, mas o Eterno testemunha também de Daniel e Jó. Aprendemos com este trecho da Torá, que precisamos andar nos princípios do Eterno, pois nossas atitudes testemunharão a nosso respeito, conforme vemos Yeshua declarar em Jo 8.13-18, veja:


Os fariseus lhe disseram: "Você está testemunhando a respeito de si próprio. O seu testemunho não é válido! " Respondeu Yeshua: "Ainda que eu mesmo testemunhe em meu favor, o meu testemunho é válido, pois sei de onde vim e para onde vou. Mas vocês não sabem de onde vim nem para onde vou. Vocês julgam por padrões humanos; eu não julgo ninguém. Mesmo que eu julgue, as minhas decisões são verdadeiras, porque não estou sozinho. Eu estou com o Pai, que me enviou. Na Torá de vocês está escrito que o testemunho de dois homens é válido. Eu testemunho acerca de mim mesmo; a minha outra testemunha é o Pai, que me enviou". João 8:13-18

O testemunho válido é o que deixamos para que outros vejam, e o Pai testifica de nós, conforme podemos ver neste estudo.

O fato da vida prática de Noé ser justa diante de D’us é o que deu-lhe a redenção, pela misericórdia, em hebraico, “chessed”, também conhecido por graça, como disse antes. Também, redimiu a sua família, naquele momento de tribulação que viria sobre o mundo. E esse fator é profético, pois o observamos no sermão do Mashiach Yeshua em Mt 24.37-39 e Lc 17.26 e 27.


Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem.” Mateus 24:37-39


Assim como foi nos dias de Noé, também será nos dias do Filho do homem. O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio e os destruiu a todos.” Lucas 17:26,27


Ao contrário do que muitos pensam, na comparação que Yeshua faz sobre os tempos de Noé, no sermão profético, não é para dizer que haverá um arrebatamento de alguém para o céu, mas o termo “levou” em Mt 24:39 é uma referência aos que foram levados pelas águas do dilúvio, ou seja, foram mortos, está intimamente ligado ao “destruiu” de Lc 17:27. O arrebatamento aqui é para a morte, para a destruição, pois os que ficaram vivos estavam na arca. Assim também será no futuro, quando Yeshua viver, os justos estarão vivos e glorificados com ele, enquanto muitos serão levados para a morte, por não terem vivido segundo os padrões da Torá de HaShem.

Que possamos aprender com essa parashá a viver de acordo com os decretos do Eterno.


Que HaShem lhes abençoe!


Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- El Midrash Dice Bereshit – O Midrash disse

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- http://shemaysrael.com/parasha-noach/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/02_noah_no.pdf

- http://judeu.org/pdfs/parashiyot/noah/noahmaldade.pdf

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771005/jewish/Resumo-da-parasha-noach

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1985154/jewish/Minimiza-o-milagre