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sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Estudo da Parashá Ki Tetsê - A cativa vira noiva, uma profecia linda!

 


Estudos da Torá

Parashá nº 49Ki Tetse (Quando saíres)

Devarim/Deuteronômio DT 21:10-25:19,

Haftará (Separação) Is 54:1-10; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) 1Co 9:4-18 e 1Tm 5:17,18.


Tema: A cativa vira noiva, uma profecia linda!


Na Parashá Ki Tetse, somos confrontados com um mandamento que, à primeira vista, pode parecer puramente circunstancial, restrito às realidades dos tempos de guerra antigos. No entanto, as palavras do Eterno nunca são vazias, e compreendemos que cada um de Seus mandamentos carrega uma profundidade de sabedoria, verdade e profecia que vai além do óbvio, tocando nos aspectos mais profundos do coração e necessidades humanas.

O mandamento que instrui o tratamento de uma mulher cativa em Devarim/Dt 21:10-14, é um exemplo claro de como o Eterno, até mesmo em meio às situações mais adversas, nos chama a um padrão de justiça e compaixão. Ele revela que o caminho do Eterno não é simplesmente de conquista externa, mas de transformação interior. O verdadeiro guerreiro, conforme mostrado aqui, não é apenas aquele que vence no campo de batalha, mas aquele que governa sobre si mesmo e, mais ainda, sobre suas inclinações. E todo esse ensino é ampliado profundamente por meio de uma profecia que relaciona o messias e os remanescentes. Vamos estudar esse aspecto maravilhoso da parashá juntos.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


No resumo da parashá desta semana, vemos que a porção Ki Tetsê começa discutindo o caso de uma mulher quando capturada por um soldado judeu durante uma batalha. Pelo resto da Porção, a Torá continua com uma lista de várias mitsvot cobrindo vasta gama de tópicos. Relata então os direitos especiais de herança do primogênito, o caso do filho teimoso, a importância de respeitar-se a propriedade de outras pessoas, a obrigação de enxotar a ave mãe do ninho antes de pegar seus filhotes, e que não se deve vestir shatnez, mescla de lã e linho na mesma peça de roupa.

O caso da difamação da mulher casada é então discutido, seguido pela proibição de adultério e outros casamentos proibidos, bem como a ordem de manter o acampamento do exército como local santificado. Após mencionar brevemente o divórcio e o requerimento de um guet (carta de divórcio), a Torá discute o sequestro, a mitsvá de pagar os trabalhadores no tempo apropriado, e o conceito da responsabilidade do indivíduo por suas próprias ações.

A Torá descreve então a consideração especial que deve ser dada a um órfão e a uma viúva, o casamento levirato e a mitsvá de ser honesto nos negócios. Esta Porção da Torá conclui com uma exortação para recordar as atrocidades que a nação de Amalek cometeu contra nós após o Êxodo. (Introdução extraída do site chabad.com.br)


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


Quando vocês guerrearem contra os seus inimigos e o Senhor, o seu Deus, os entregar em suas mãos e vocês fizerem prisioneiros, um de vocês poderá ver entre eles uma mulher muito bonita, agradar-se dela e tomá-la como esposa. Leve-a para casa; ela rapará a cabeça, cortará as unhas e se desfará das roupas que estava usando quando foi capturada. Ficará em casa e pranteará seu pai e sua mãe um mês inteiro. Depois você poderá chegar-se a ela e ser o seu marido, e ela será sua mulher. Dt 21:10-13


Sabemos pela Torah que o Eterno estabelece a união física e emocional entre o homem e a mulher, estabelecendo assim, a aliança do casamento. Para seu povo, ele determina que, não se casem com pessoas de outros povos, como um princípio geral. O que nunca impediu que pessoas de outros povos pudessem se tornar sinceros servos de D’us, tornando-se também povo do Eterno e consequentemente possibilitando a união do casamento. Vemos isso em todo o decurso da história do povo de Yisrael, pessoas de outras nações aceitando o Eterno e sua Torah como autoridade sobre suas vidas e casando-se com israelitas.

Nessa parashá, há dois anos atrás, mencionei que a Torah proíbe o casamento de servos do Eterno com pessoas de outros povos, e já vimos também, que apesar disso, D’us permitiu em alguns casos tais casamentos, desde que a pessoa demonstrasse que queria servir ao Eterno. Vemos também na Torah instruções a respeito da auto disciplina, responsabilidade e controle, então pode parecer estranho nessa porção a Torah trazer ensinamentos sobre um homem querer se casar com uma mulher cativa.

Naquele estudo eu mencionei que um homem que passa pelos horrores de uma guerra, está emocionalmente desequilibrado, pois pode estar há muito tempo longe de casa, sendo ele casado ou não, e por isso estar no limite de suas forças em resistir à inclinação para o mal (Yetser hará), que a Torah tanto preza, e satisfazer seus instintos naturais. E sabe-se historicamente, que em muitos povos as mulheres eram preparadas para atrair os soldados inimigos através da sedução, como ocorreu com as midianitas que foram orientadas por Bilam. Sendo assim, a Torah o protege de se precipitar em uma relação apenas passageira, pois ele vendo uma mulher cativa, bela e formosa, que influenciada pelos conselhos de Bilam (Nm 25:1-4; 31:16) de seduzir os soldados, por meio de belas roupas e penteados, poderia ele ser tentado a prevaricar com a tal mulher, e mesmo precipitadamente, tomá-la em casamento. E no intuito de colocar alguns empecilhos a um ato desencadeado por desejos passageiros, a Torah cria um roteiro para que o soldado que, temente a D’us e obediente as Suas leis, não fosse traído por seus impulsos, e se conscientizasse de seus atos precipitados. Ou seja, o Eterno entende isso, e permite que nessa situação ele despose uma mulher não israelita, ao invés de a violar como era habitual (e na verdade ainda é, infelizmente) nas guerras.

Disse ainda que, para se casar com ela, o israelita deveria seguir algumas orientações prescritas na Torah, que estão nestes versos que estamos analisando, Dt 21:11-13. A prescrição era que, se um homem desejasse casar com uma mulher que trouxe cativa de entre o povo com quem guerreou, esta deveria rapar a cabeça e deixar as unhas crescerem. Na verdade, há nessa passagem uma mensagem importante, pois o propósito dessa instrução é que o homem não se engane pelas aparências físicas ou pelo desgaste emocional provocado pela guerra. Quando ele visse a mulher em um estado lastimável, literalmente, destruída pelo sofrimento de perda de entes queridos, com cabelo rapado e unhas crescendo, ou seja, sem qualquer sinal de beleza feminina, o homem olharia para ela de forma diferente, e perceberia se de fato a ama ou se seria apenas uma ilusão. Contudo, se depois de tudo isso, continuasse a desejar se casar com ela, mesmo não tendo a aparência física agradável de antes, o casamento poderia se realizar. Para mais informações sobre esse estudo busque a parashá Ki Tetse de 2022 em “souperegrinonaterra.blogspot.com.br.

No entanto, no estudo de hoje, vamos observar este assunto sob a ótica profética, buscando o que o Eterno estabeleceu como mensagem sobre o futuro neste mandamento.


A visão Profética

Na parashá Ki Tetsê, em Devarim 21:10-13, encontramos um princípio que, à primeira vista, pode causar estranheza. O Eterno instrui sobre a conduta do soldado israelita que, ao conquistar uma cidade inimiga, sente desejo por uma mulher cativa. O texto detalha um processo que envolve um tempo de espera, a remoção de sinais externos da antiga vida da mulher, e uma reflexão profunda antes que o soldado realmente pudesse se casar com ela. Esse fundamento, apesar de surgir em um contexto de guerra e conquista, é carregado de uma profunda lição sobre paciência, domínio sobre os desejos, e o respeito pela dignidade humana. O Eterno não permite que o instinto ou a pressa guiem o coração do soldado, mas exige um tempo de pausa e consideração, refletindo a maneira como o próprio Eterno trata o Seu povo.

Os profetas no TaNaK reforçam continuamente essa ideia de que o Eterno busca não apenas obediência externa, mas uma transformação interna, que se manifesta em justiça e misericórdia. O profeta Hoshea/Oseias, por exemplo, utiliza a metáfora do casamento para descrever a relação entre o Eterno e Yisrael, mostrando que mesmo quando o povo se desvia e se entrega a outros "amores", o Eterno busca redimi-los. Assim como o soldado é chamado a transformar o desejo bruto em um relacionamento que respeita o processo e o tempo, o Eterno age com paciência, desejando que o coração de Yisrael se volte para Ele de forma sincera e voluntária.

Esse mandamento do Ki Tetsê também pode ser entendido à luz do papel do Mashiach, o ungido do Eterno, que também vem para redimir aqueles que estão "cativos" – não de guerras terrestres, mas dos desejos e inclinações desordenadas do coração e sistemas religiosos. Assim como uma mulher cativa precisa de um tempo de transformação antes de ser integrada à família do Eterno, o Mashiach convida o povo a passar por uma transformação espiritual, se adequando aos mandamentos de HaShem e se submetendo à vontade do Criador. Ele não impõe uma mudança brusca, mas oferece um caminho de retorno ao Eterno, a teshuvah, que envolve reflexão, arrependimento e purificação. O messias é a representação da paciência e a misericórdia que o Eterno sempre demonstrou em Suas relações com Yisrael.

Os profetas, como Yeshayahu, falam de um tempo em que o Mashiach traria as nações para a luz do Eterno, tornando possível que pessoas, até mesmo aquelas de fora do povo de Yisrael conseguissem se juntar a essa aliança, desde que aceitassem os mandamentos e seguissem os caminhos do Eterno. Da mesma forma que uma mulher cativa poderia ser integrada ao povo de Yisrael após um processo de purificação e acessibilidade, as nações também são chamadas a se unirem ao povo do Eterno por meio do Mashiach, em humildade e respeito pela vontade do Eterno.


O Noivo e a noiva

A metáfora do noivo e da noiva é profundamente enraizada nas Escrituras, particularmente no relacionamento entre o Eterno e Yisrael, muitas vezes descrita como um casamento. No contexto de Devarim 21:10-13, onde o soldado é orientado sobre o tratamento de uma mulher cativa, essa metáfora ganha uma nova dimensão, especialmente quando relacionada ao papel do Mashiach e à redenção do povo de Yisrael e dos remanescentes espalhados pelo mundo.

O Mashiach, como o noivo, é aquele que vem buscar aqueles que estão "fora", aqueles que ainda não fazem parte do povo do Eterno. Assim como o soldado é instruído a dar à mulher cativa um tempo de luto e reflexão, o Mashiach, o noivo de Yisrael, não impõe sua vontade ou força uma mudança imediata. Ele oferece um tempo e um caminho de retorno ao Eterno que passa pela transformação voluntária, pelo arrependimento e pelo entendimento de que uma nova vida está sendo oferecida. A mulher cativa é a representação de todos os remanescentes da casa de Yisrael espalhados pelo mundo. O gentio que se aproxima do Eterno, por meio do Mashiach, é convidado a abandonar seus antigos caminhos, a rejeitar o que é contrário aos mandamentos do Eterno, e a adotar uma nova forma de vida, guiada pela Torah e pelos mandamentos.

O Eterno, em Sua infinita sabedoria, sempre manifestou um desejo de redimir não apenas Yisrael, mas também as pessoas das nações. O profeta Yeshayahu declara que Yisrael seria uma luz para as nações conforme lemos em Yeshayahu 42:6:


Eu, o Eterno, o chamei em retidão; segurarei firme a sua mão. Eu o guardarei e farei de você um mediador para o povo e uma luz para os gentios,...


E vemos pelo texto que o Mashiach é o agente dessa redenção, aquele que traz as pessoas que estavam distantes do Eterno e de seus mandamentos, para perto. No contexto do critério em Ki Tetsê, essa proposta é feita com respeito, paciência e uma profunda consideração pelo processo individual de teshuvah de cada pessoa que se aproxima do Eterno. Mas é preciso ficar claro que o Eterno sonda a kavanah ou intenções, se a pessoa realmente está disposta a viver segundo sua vontade.

Aqui é interessante esclarecer que toda profecia tem níveis diferentes de interpretação, pelo menos dois níveis principais. O primeiro é o nível de baixo ou nível humano, e nesse nível percebemos as profecias no nível humano, nas coisas relacionadas com o ser humano. O segundo é nível de cima ou nível do Eterno, que é o nível em que se percebe as profecias no nível de HaShem, nas coisas que se relacionam ao Eterno ou com Ele. Por exemplo, neste texto que acabamos de ler vemos esses dois níveis. O primeiro nível é que o Eterno chama Yisrael para ser luz às nações, e o segundo é que o Eterno chama o Mashiach como seu representante para ser luz para as nações. Outro exemplo se enquadra exatamente nessa parashá, a situação do noivo e da noiva. Há textos no TaNaK que revelam o Eterno como o noivo ou marido e Yisrael como a noiva. E há textos no chamado Novo Testamento que revelam ser Yeshua o noivo ou marido e Yisrael ou a congregação a noiva. Será que há uma contradição? Claro que não! O que acontece é que devemos entender os textos proféticos pelo menos nesses dois níveis. Sendo assim, no primeiro nível o humano vemos Yeshua como o noivo, pois está se relacionando aos homens, a coisas que acontecem aqui, no caso o relacionamento e o chamado das pessoas para serem parte do reino, ou seja, casarem com o noivo. E o segundo nível é o Eterno sendo o noivo de Yisrael em um sentido mais amplo, pois é o criador que foi quem designou este povo como eleito, por isso representa o relacionamento com o Eterno.

Assim a metáfora ou podemos dizer profecia do noivo e da noiva, se encaixa perfeitamente com essa instrução. O Mashiach, como noivo, não busca uma noiva que se preocupe ou sem escolha. Ele, da mesma forma que o soldado no mandamento, deseja que a “noiva” ou a “mulher cativa” venha a ele por sua própria vontade, após ter passado pelo tempo de reflexão e purificação, a teshuvah. E esse processo é carregado de dignidade e respeito, pois o Eterno não impõe um fardo impossível, e assim, consequentemente o messias também não, mas oferece a oportunidade de uma nova vida, com base no amor e no compromisso com os mandamentos.

Portanto, esse mandamento aparentemente simples sobre o tratamento de uma mulher cativa antes dela aceitar se casar com o soldado, na verdade, reflete a profunda sabedoria do Eterno sobre o coração humano e o processo de redenção. Ele não busca forçar a obediência ou impor uma mudança repentina, mas chama para um caminho de transformação voluntária, que respeita o tempo e o processo de cada indivíduo. O Eterno vê a intenção de cada pessoa. O soldado deve aprender a esperar, a desejar o bem da mulher, e não apenas satisfazer seus próprios desejos. E é isso que Yeshua, o messias, faz como o noivo. O Eterno acompanha nosso amadurecimento, sempre nos dando a oportunidade de retornar, de transformar nossos corações e, finalmente, de nos tornarmos parte do Seu povo.

Concluindo, o mandamento de Devarim 21:10-13 é uma bela ilustração do caráter do Eterno. Ele deseja que sejamos mais do que conquistadores exteriores, mas conquistadores de nossos próprios corações. Assim como o soldado precisa aprender a dominar seus impulsos e tratar a mulher cativa com dignidade e paciência, o Mashiach veio para nos ensinar a conquistar o Yetzer harah e a nossa união ao Eterno em verdadeira submissão e confiança. Assim como uma mulher cativa encontra um lar em Yisrael, nós também podemos encontrar nosso lugar no coração do Eterno, quando aceitamos Seu processo de redenção e transformação. O mandamento do soldado e da mulher cativa reflete profundamente o relacionamento entre o Mashiach e as duas casas acompanhado dos gentios que se aproximam do Eterno. Assim como uma mulher cativa pode se tornar parte do povo de Yisrael após um processo de transformação, o gentio, por meio do Mashiach, é convidado a entrar na aliança do Eterno, a abandonar seus antigos caminhos, e a se unir ao povo de Yisrael, com o mesmo respeito, paciência e dignidade que o Eterno sempre demonstrou em Sua relação com Yisrael e com as nações. Portanto, se você ainda não aceitou que é cativo e precisa de redenção, perceba sua situação e volte-se para o noivo que está lhe propondo casamento, aceite as instruções inicie seu processo de teshuvah para no fim fazer parte da aliança.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Estudo da Parashá Shoftim - Yeshua é o profeta prometido? Reflexão em Shoftim.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 48Shoftim (Juízes)

Devarim/Deuteronômio DT 16:18-21:9,

Haftará (Separação) Is 51:12-52:12, 53:12; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) 1Co 5:9-13, 1Tm 5:17-22.



Tema: Yeshua é o profeta prometido? Reflexão em Shoftim.


Nesta semana, quando estudamos a Parashá Shoftim tivemos a grata oportunidade de refletir um pouco sobre a realidade da profecia sobre o messias, o profeta prometido. Esse tema destaca tanto a relação quanto a continuidade entre Moshê e Yeshua quanto a renovação que Yeshua trouxe à mensagem do Eterno apresentada por Moshê. Nesse estudo tive a oportunidade de explorar como Yeshua, em sua humanidade e fidelidade absoluta ao Eterno, se apresentou como o profeta que não apenas reafirmou os mandamentos de Moshê, mas também os aprofundou ao revelar a intenção e o coração por trás das instruções divinas.

A ideia de "continuidade" mencionada acima, reconhece que Yeshua não veio abolir a Torá, conforme sempre mostramos em nossos estudos, mas sim cumprir e aprofundar ou ampliar seus ensinamentos, enquanto o termo "renovação" aborda como ele trouxe uma visão mais profunda sobre a obediência interna ao Eterno, mostrando que a justiça e os mandamentos não são apenas sobre ações externas, mas sobre a transformação do coração e da mente. Portanto, este tema também nos permite examinar o papel contínuo das profecias e como o Eterno, ao longo das gerações, continua a guiar Seu povo por meio de líderes e mensageiros que falam Sua verdade, sempre chamando o povo de volta ao caminho da retidão.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


A parashá Shoftim trata primeiramente dos mandamentos a respeito da criação de um sistema de liderança na Terra de Yisrael, começando com a designação de cortes, juízes e oficiais em cada cidade.

O povo de Yisrael recebe ordens de requisitar um rei assim que estiver instalado em Israel. São relacionados alguns dos presentes especiais que devem ser dados aos kohanim, sacerdotes.

Após descrever a natureza da profecia, a Torá repete as leis do Ir Hamiklat, cidade de refúgio para assassinos acidentais, e descreve o caso judiciário especial de Edim Zomemim, testemunhas conspiratórias.

A Toráh então fala de vários aspectos da conduta da nação durante a guerra, dizendo-lhes para não temer os inimigos, e relacionando aquelas pessoas que estão isentas do serviço militar. Deve-se primeiro dar ao inimigo a oportunidade de paz, e o povo judeu deve ser cuidadoso para não destruir nenhuma árvore frutífera durante a batalha.

A porção da Toráh conclui com o caso do assassinato não resolvido e com o ritual da eglá arufá, a novilha decapitada, que serve como expiação para o povo das cidades vizinhas por não terem impedido o assassinato.

A parashá Shoftim trata principalmente a respeito da justiça dentre o povo de D’us. Juízes e oficiais ou policiais deveriam ser apontados dentre as tribos, e os procedimentos judiciais são estabelecidos, a fim de que o povo de Israel trilhasse o caminho que os tornariam uma “nação de sacerdotes e um povo santo”, de acordo com Shemot/Êxodo 19:6.

Moshê estava agora instruindo o povo como eles deveriam agir para que isso acontecesse, mostrando que a justiça é o ingrediente essencial para se atingir este objetivo, e alerta Yisrael de que a “justiça, e somente a justiça seguirás” (Devarim/ Dt 16:20). Esse texto quer dizer que o povo de Adonai deveria perseguir a justiça, ou seja, ansiar por agir de acordo com os preceitos do Senhor. Vejamos então nesse estudo o que a Torá, por meio de Moshé nos instrui a esse respeito.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


Em primeiro lugar, dentro do contexto histórico, a porção inicia com a ordem de designar juízes e oficiais (shoftim e shotrim) em todas as cidades de Yisrael, essa seria a liderança do povo, para que a justiça fosse preservada em toda a nação. A justiça é vista como o alicerce sobre o qual a sociedade deveria ser construída. Podemos considerar como verso principal o que diz: "Justiça, justiça seguirás", destacando que a busca pela justiça não é uma tarefa passiva, mas uma ação constante e ativa do povo. Sendo assim, o conceito de "justiça" não se limita às leis civis, mas envolve também a busca pela equidade e retidão nas relações humanas e na vida comunitária, não apenas naquela época, mas também na atualidade. Devemos buscar aplicar o princípio de perseguir a justiça estabelecido pela Torah, em nossas vidas hoje.

Podemos observar textos no TaNaK que nos dão esse entendimento, vejamos:


A retidão e a justiça são os alicerces do teu trono; o amor e a fidelidade vão à tua frente. Sl 89:14


Entretanto, esse conceito de justiça está intimamente ligado com outro conceito também estabelecido pela Torah, o conceito de messias, o profeta prometido pelo Eterno. A Torah e os profetas instruem sobre o profeta que o Eterno enviaria no devido tempo, um homem que estabeleceria a justiça baseada nos preceitos divinos, ainda mais amplamente do que o que fora feita por Moshê. Passemos então a observar o que podemos aprender com essas instruções.


A promessa de enviar o profeta

Em Devarim 18:15-19 lemos:


O Senhor, o seu Deus, levantará do meio de seus próprios irmãos um profeta como eu; ouçam-no. Pois foi isso que pediram ao Senhor, ao seu Deus, em Horebe, no dia em que se reuniram, quando disseram: "Não queremos ouvir a voz do Senhor, do nosso Deus, nem ver o seu grande fogo, se não morreremos! " O Senhor me disse: "Eles têm razão! Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. Se alguém não ouvir as minhas palavras, que o profeta falará em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas.


O Eterno, por meio de Moshê, promete levantar, no futuro, um profeta dentre o povo de Yisrael, repare que o texto diz “do meio de ti”. Esse profeta, que o povo de Yisrael deveria ouvir, desempenharia um papel fundamental na condução da nação de volta à obediência aos mandamentos do Eterno. Ao longo da história de Yisrael, muitos profetas surgiram, como Yeshayahu, Yirmeyahu, e Eliyahu, que falaram em nome do Eterno, buscando conduzir o povo à justiça, cumprindo a profecia em parte, mas nenhum deles cumpriu-a plenamente. No entanto, a promessa desse profeta singular se destaca por sua similaridade com Moshê, não apenas como um líder, mas como aquele que seria a voz viva do Eterno entre o povo. Yeshua HaNotzri se apresenta como uma figura que cumpre essa profecia, chamando Yisrael ao arrependimento e à restauração da aliança com o Eterno. Ainda que a profecia se cumpriu em parte, pois está em pleno desenvolvimento, já que o tempo e deve ser levado em conta e as profecias são atemporais. Ele falava com autoridade, não em seu próprio nome, mas em nome do Eterno, como vemos em passagens como Matityahu 7:29, quando as pessoas se admiraram da forma como ele falava, e também, Matityahu 5:17-19, onde Yeshua reafirma a validade e a eternidade dos mandamentos, assim como o profeta prometido deveria fazer.

A semelhança que há entre Yeshua e Moshê é clara não apenas na mensagem, mas também na forma como ambos conduziram o povo. Assim como Moshê liderou Yisrael da escravidão no Egito para a liberdade, Yeshua também ofereceu um caminho de libertação do peso da desobediência ao Eterno, guiando Yisrael de volta ao arrependimento sincero. Ambos enfrentaram resistência dentro de Yisrael e, ao mesmo tempo, trouxeram revelações transformadoras. No entanto, Yeshua vai além ao focar a restauração, não apenas na observância dos mandamentos externos, mas também na transformação interior, conforme vemos em Matityahu 22:37-40, onde ele resume os mandamentos como amar ao Eterno e ao próximo. Isso não diminui os mandamentos de Moshê, pelo contrário os aprofunda, mostrando o que há por trás de cada mandamento: a lealdade ao Eterno e o compromisso com a justiça. A essência de Devarim 18:18-19 é que o profeta transmitiria palavras que não eram suas, mas do Eterno. Isso se cumpre em Yeshua, que repetidamente afirmou: “Minhas palavras não são minhas, mas daquele que me enviou” Yochanan 7:16. Por isso, se torna tão errado quando alguém afirma que Yeshua veio para abolir os mandamentos, da mesma forma, quando alguém diz que Yeshua não pode ser esse profeta prometido porque não cumpriu todas as profecias. Há profecias que estão se cumprindo ainda hoje e Yeshua faz parte delas.


A gematria confirma a profecia

Ao observar a gematria de alguns termos-chave dessa profecia, podemos ver mais camadas de significados que apontam para a relação entre Moshê e Yeshua, confirmando o que dissemos até o momento. A palavra "נביא" - navi, profeta, tem um valor gemátrico de 63, cuja raiz é 9, falamos sobre esse valor no último estudo.

Curiosamente, o valor de "משה" - Moshê é 345 com raiz 3, enquanto "יהושע" Yehoshua, o nome completo de Yeshua é 391 com raiz 4. E tem ainda uma outra palvra interessante nesse contexto, "מֵאֵל" – meEl com valor 71 e raíz 8, que significa "de El", ou "vindo do Eterno". Isso sugere que, assim como Moshê um profeta, foi enviado pelo Eterno, Yeshua também o foi, como aquele que traria a mensagem de retorno aos mandamentos e ao caminho do Eterno.

A conexão entre as duas figuras não se baseia apenas em seu papel profético, mas em sua missão compartilhada de reconectar Yisrael ao seu chamado original. A relação gemátrica reforça a continuidade da missão de Moshê em Yeshua, aquele que veio para guiar a nação no caminho da retidão, da justiça.


A profecia através dos tempos

Em nossos dias, vivemos em tempos de grande turbulência espiritual e confusão, onde muitas vozes competem por atenção e fidelidade. Assim como nos dias de Moshê e de Yeshua, o povo de Yisrael e as nações são chamados a ouvir a voz do profeta que fala em nome do Eterno. A promessa de Devarim 18:18-19 ressoa com renovada força, pois vivemos em tempos de retorno à essência dos mandamentos e à pureza do relacionamento com o Eterno. Yeshua, como o profeta prometido, não apenas aponta o caminho para o passado, a fidelidade aos mandamentos, mas também abre as portas para o futuro, onde a casa de Yisrael e a humanidade será restaurada sob o reinado do Eterno. Como ele disse em Matityahu 24:35: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão". Esse futuro não é apenas uma promessa distante, mas um chamado urgente para a restauração desde hoje, um convite para voltarmos ao Eterno com firme confiança e obediência, preparando-nos para o cumprimento final de todas as promessas reveladas nas Escrituras.

Yeshua cumpriu várias profecias contidas no TaNaK de maneira profunda e significativa, revelando como sua vida e missão estavam enraizadas nas promessas e nas previsões dos profetas de Yisrael. Diversas dessas profecias que apontam para a vinda de um líder especial que restauraria Yisrael ao caminho da justiça e fidelidade ao Eterno, encontram seu cumprimento na pessoa e nos atos de Yeshua. Essas profecias não apenas moldaram sua missão, mas continuam a guiar e inspirar o povo do Eterno hoje, pois indicam o papel contínuo da revelação profética.

Uma das profecias mais claras sobre o papel de Yeshua é encontrada em Yeshayahu 53, onde o profeta descreve o "servo sofredor", alguém que seria desprezado e rejeitado pelos homens, alguém que carregaria o peso da desobediência de muitos e traria a cura por meio de suas aflições. Dentre o judaísmo propaga-se que esta profecia refere-se ao povo de Yisrael, mas ela é claramente uma profecia acerca do messias e de sua obra. Yeshua, em sua vida, refletiu diretamente essa profecia ao ser rejeitado por grande parte da liderança do povo de Yisrael de seu tempo, causa que o levou à ser preso injustamente e morrer numa estaca de execução. Sua disposição em sofrer pelas injustiças do povo, enquanto mantinha total obediência ao Eterno, demonstrou como ele encarnou esse papel profético. A mensagem de Yeshayahu 53 é que esse servo, ao se submeter ao sofrimento, abriria caminho para a reconciliação de Yisrael com o Eterno. Em Yeshua, vemos essa reconciliação sendo oferecida, não apenas por meio de palavras, mas por seu exemplo de humildade, arrependimento e obediência total à vontade de HaShem.

Outra profecia que Yeshua cumpriu está relacionada ao papel de "luz para as nações", mencionado em Yeshayahu 49:6, onde o servo do Eterno seria levantado não apenas para restaurar as tribos de Yaakov, mas também para ser uma luz para as nações, levando a redenção até os confins da terra, já que a casa de Yisrael ainda encontra-se em diáspora. Yeshua, com seu ensino e exemplo, chamou tanto Yisrael quanto as nações a retornar ao Eterno, mostrando que a missão do povo escolhido não era apenas interna, mas também um testemunho para as nações do poder e da glória do Eterno. A expansão da mensagem de Yeshua para além do povo Yisrael, envolvendo gentios que também desejavam seguir os mandamentos do Eterno, mostra o cumprimento dessa promessa, enxertando assim os gentios desejosos de servir ao Eterno no povo de Yisrael. Em Matityahu 28:19, Yeshua comissiona seus seguidores a ensinar todas as nações a guardar os mandamentos do Eterno, estabelecendo a continuidade de sua missão profética.

Mais profecias que Yeshua cumpriu ao longo de sua vida:

- Nascimento em Belém: O profeta Miquéias previu que o Messias nasceria em Belém (Miquéias 5:2). Yeshua nasceu em Belém, conforme registrado em Mateus 2:11.

- Linha de Davi: Diversas profecias indicam que o Messias viria da linhagem de Davi (Jeremias 23:5). Yeshua é descrito como descendente de Davi em Mateus 1:11.

- Curar os doentes: Isaías 35:5-6 fala sobre o Messias curando os cegos, surdos, coxos e mudos. Yeshua realizou muitos milagres de cura, como registrado em Mateus 11:4-51.

- Morte e Ressurreição: O Salmo 22 e Isaías 53 descrevem o sofrimento e a morte do Messias. Yeshua foi morto no madeiro e ressuscitado pelo Eterno ao terceiro dia, conforme descrito em Mateus 27-28.

- Entrada triunfal em Jerusalém: Zacarias 9:9 profetiza que o Messias entraria em Jerusalém montado em um jumentinho. Yeshua cumpriu essa profecia em Mateus 21:1-11.

A profecia tem um papel contínuo hoje, por isso é importante entender que, no pensamento judaico, a profecia não é apenas predição de eventos futuros, mas uma chamada à ação e ao retorno ao caminho do Eterno. Em Amos 3:7, somos lembrados de que o Eterno sempre revela Seus planos por meio de Seus profetas, o que implica que as palavras proféticas têm um impacto contínuo no curso da história e na forma como Yisrael e o mundo devem se comportar. As profecias não apenas previam a vinda de Yeshua, mas também apontam para um futuro de restauração plena, onde a justiça será estabelecida sobre a terra e todas as nações reconhecerão a soberania do Eterno. As promessas de Yeshayahu 11:1-9, onde o Mashiach trará paz e justiça para o mundo, ainda aguardam seu cumprimento final. Yeshua iniciou esse processo, mas ele nos ensinou que a plenitude da restauração ainda está por vir.

As profecias continuam a desempenhar um papel significativo na fé e na vida espiritual. Elas servem para:

- Guiar e Inspirar: As profecias bíblicas fornecem orientação e inspiração, lembrando-nos das promessas de Deus e de Seu plano para a humanidade.

- Confirmar a Fé: O cumprimento das profecias fortalece a fé dos crentes, mostrando que Deus é fiel e cumpre Suas promessas.

- Preparar para o Futuro: Muitas profecias ainda aguardam cumprimento, especialmente aquelas relacionadas ao retorno de Yeshua e ao estabelecimento do Reino de Deus. Elas nos incentivam a viver de maneira vigilante e preparada.

- Chamado ao Arrependimento: Assim como os profetas antigos, as profecias atuais podem chamar as pessoas ao arrependimento e à renovação espiritual.

Ao finalizarmos nosso estudo sobre a parashá Shoftim, é essencial refletirmos sobre a importância fundamental da busca pela justiça, conforme Moshê e os profetas ensinaram ao povo em suas respectivas épocas, da mesma maneira também Yeshua. A justiça revelada nas Escrituras, não é algo meramente técnico, nem se limita ao cumprimento mecânico de regras ou normas. Na Torá, a justiça é um princípio espiritual profundo, que atravessa todas as esferas da vida. Ela envolve uma dedicação contínua, uma forma de viver que está intimamente ligada à obediência aos mandamentos do Eterno. Essa busca não se trata de perfeição externa, mas de um compromisso sincero com a retidão, a equidade e o zelo em fazer o que é correto, tanto nas relações com o próximo quanto no nosso relacionamento com o Eterno.

O profeta prometido, é um lembrete claro de que o Eterno, em Sua infinita misericórdia, nunca abandonou o Seu povo, mesmo os que estão em diáspora misturado aos gentios. Ao longo das gerações, Ele levantou mensageiros que nos chamaram de volta aos Seus caminhos. Esse profeta, semelhante a Moshê, veio para reafirmar a centralidade dos mandamentos do Eterno e nos alertar para o perigo do desvio. Yeshua HaNotzri cumpriu esse papel de maneira brilhante, não apenas ensinando, mas vivendo uma vida de justiça, verdade e obediência total ao Eterno. Sua mensagem nos chama a um retorno ao que é puro e verdadeiro, não uma justiça superficial, mas uma justiça enraizada na transformação do coração, na firme confiança no Eterno e no amor genuíno pelos mandamentos.

Em nossos dias, a busca pela justiça é mais relevante do que nunca. O mundo ao nosso redor está clamando por verdade e por retidão, embora muitos reneguem. As palavras da Torá nos desafiam a sermos agentes dessa justiça, tanto em nossas comunidades quanto em nossas vidas pessoais. A justiça começa com pequenas ações, mas tem um impacto eterno. Ela se reflete na honestidade, no respeito pelos outros, no cuidado pelos menos favorecidos, e na preservação da criação do Eterno.

Portanto, a busca pela justiça ensinada pelo messias é um caminho que todos somos chamados a trilhar diariamente. A justiça do Eterno é uma justiça compassiva, que se preocupa tanto com o bem-estar do indivíduo quanto com a santidade da comunidade. Yeshua, o profeta prometido nos lembra de que o Eterno continua a guiar Seu povo, chamando-nos constantemente de volta ao Seu caminho de vida e de paz. É nossa responsabilidade, como Yisrael, ouvir essa voz, seguir os Seus mandamentos e viver de acordo com a vontade do Eterno. Que possamos perseguir a justiça, ansiar por ela e agir com retidão em tudo o que fazemos, até que o mundo inteiro seja restaurado sob o domínio do Eterno, conforme as promessas dos profetas. Essa é a justiça que transforma o coração e nos aproxima do Eterno.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)