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quinta-feira, 12 de junho de 2025

O Shemáh é apenas uma oração? Entenda mais sobre...

 


Shalom caro leitor!!

Com este pequeno estudo, quero falar sobre o Shemáh, ele é apenas uma oração? Entenda mais sobre isso.

Inicialmente, você precisa entender que o Shemáh é composto de três trechos da Torá, que estão em Dt 6:4-9, 11:31-21 e Nm 15:37-41, veremos cada um destes trechos. Claro, não tenho a pretensão de esgotar a profundidade do tema, pois há muitos mistérios e segredos nessa oração, mas iremos aprender algumas coisas e você poderá à partir daqui, se aprofundar ainda mais.

Primeiro entenda que o Shemáh não é apenas uma oração, mas uma declaração eterna da unicidade e soberania do Eterno, o Elohim de Avraham, Yitzchak e Yaakov. De acordo com o Chumash Plaut as palavras do Shemáh se tornaram as palavras mais conhecidas na liturgia judaica, a palavra de ordem da fé de Yisrael. Todos os que desejam ser servos do Eterno devem observar esta oração, os que estão em teshuvah devem observar esta oração. 

As palavras que compõem o Shemáh são encontradas no Sefer Devarim 6:4-9, para o primeiro trecho, e estão entre as mais poderosas e profundas afirmações da aliança entre o povo de Yisrael e o Eterno.

שְׁמַע יִשְׂרָאֵל, ה' אֱלֹהֵינוּ, ה' אֶחָד׃

Shemáh Yisrael, HaShem Eloheinu, HaShem Echad.

וְאָהַבְתָּ אֵת ה' אֱלֹהֶיךָ בְּכָל־לְבָבְךָ וּבְכָל־נַפְשְׁךָ וּבְכָל־מְאֹדֶךָ׃
Ve'ahavta et HaShem Eloheicha b’chol levavcha u'vechol nafshecha u'vechol me’odecha...

Vamos aprofundar um pouco alguns dos muitos segredos do Shemah.

1. שְׁמַע יִשְׂרָאֵל – Primeiro Trecho - “Ouve, Yisrael” (Dt 6:4-9)

Esta expressão é o início desse texto, e um chamado à atenção espiritual, ou seja, obediência. Ouvir, nas Escrituras Sagradas, é sinônimo de obedecer, conforme lemos em Devarim 5:1. O Eterno não quer apenas que escutemos com os ouvidos, mas com o coração e com as ações, isto é, com nossas atitudes.

“E será que, se ouvires atentamente a Minha voz, guardando e obedecendo a todos os Meus mandamentos que entrego a vocês hoje, o Eterno, seu Elohim, os estabelecerá acima de todas as nações da terra;...” (Devarim 28:1)

No hebraico, Shemáh significa muito mais que escutar com os ouvidos. Significa obedecer, atender, responder com ação

“E será que, se ouvires (תשמע) atentamente à voz de HaShem teu Elohim, e fizeres o que é reto aos Seus olhos...” (Shemot 15:26)

Assim, dizer “Shemáh Yisrael” é um clamor do Eterno a que o povo o ouça com entendimento e reverência, e responda com obediência.

Este nome carrega a identidade de um povo que luta com Elohim e prevalece (Bereshit 32:28). Portanto, este chamado é para todos os descendentes espirituais e físicos de Yisrael, aqueles que estão dispostos a lutar pela verdade do Eterno.

2. ה' אֱלֹהֵינוּ – “HaShem é nosso Elohim”

O termo Eloheinu indica relacionamento de aliança, quer dizer nosso Elohim, dando-nos o aspecto de pertencimento. Não é qualquer divindade; é o Elohim que nos tirou da terra de Mitsrayim (Egito), da casa da servidão. Ele é nosso Elohim porque nos chamou pelo nome, conforme lemos em Yeshayahu 43:1. 

Mas, agora, eis que o Eterno diz, o seu criador, Yaakov, o seu formador, Yisrael: Não tenha medo, pois eu o redimi; eu o chamo pelo nome, você é meu.

Ele não é apenas o Elohim dos céus, mas o nosso, o Elohim que fez aliança com nossos pais. A palavra “Eloheinu” (nosso Elohim) mostra relacionamento, posse e compromisso mútuo.

“Eu serei o vosso Elohim, e vós sereis o Meu povo.” (Vayicrá 26:12)

3. ה' אֶחָד – “HaShem é Echad (Um)”

Este é o coração do Shemáh: a declaração absoluta da unicidade indivisível do Eterno. "Echad" não significa unidade composta, mas unidade singular e total. Ele é o único, não há outro além Dele, conforme pode ser lido em Devarim (Dt) 4:35; 32:39.

Estes termos no início do primeiro trecho desmentem e quebram vários dogmas e filosofias religiosas inventadas. O Eterno é um, único e indivisível. Ele não é formado por três pessoas e nem é três divindades que forma uma divindade superior. O texto é claro ao dizer "Echad" ou seja um.

Conforme mencionamos acima, a palavra “Echad” declara a indivisibilidade absoluta do Eterno. Ele não é muitos, não se divide, não muda, não encarna, não compartilha Sua glória. Observe os textos abaixo:

“Vós me fostes mostrados para saberdes que HaShem é Elohim; nenhum outro há além Dele.” (Devarim 4:35)


“Vede agora que Eu, Eu sou Ele, e nenhum Elohim há comigo.” (Devarim 32:39)


4. Amar com todo o coração, alma e força

A sequência do Shemáh ordena que amemos o Eterno com tudo, observe que fala em três partes de nossa vida e para isso usa o termo "todo":

  • Coração (levav) – isto quer dizer com nossas intenções, pensamentos e desejos.

  • Nefesh (alma/vida) – isto significa com toda nossa existência, mesmo até o ponto de entregar a própria vida.

  • Me'od (muito/força) – quer dizer com tudo o que temos, incluindo recursos, energia e vigor. A tradução mais correta aqui, direto do hebraico é "...com todo o seu tudo." Veja como isso fica mais forte e poderoso. A mensagem que está sendo passada é que seu serviço e obediência ao Eterno precisa ir além do contexto da idéias, mas deve seguir pelos seus bens, tudo o que tem, já que é o Eterno quem provê, e você deve servir ajudando a outros que precisam.

Resumidamente, este amor ao Eterno se manifesta em obediência aos mandamentos, conforme lemos em Devarim 11:1.

Portanto, amem o Eterno, seu Elohim, e sempre obedeçam às suas ordens, aos seus regulamentos, às suas regras e às suas mitzvot.

5. “Estas palavras estarão no teu coração”

Nesta parte da oração, devemos entender que o Shemáh é uma instrução viva para ser interiorizada, ou seja, absorvida. É como se a comêssemos e ela passasse a fazer parte de nós, assim como o que nos alimenta passa a fazer parte de nós. Devemos ensiná-la aos filhos, falar dela em todo tempo, conforme Devarim 6:7. O Eterno deseja que Sua Palavra habite em nós como sinal eterno de nossa fidelidade.

6. Tefilin e Mezuzáh

Como expressão física de compromisso, o Shemáh menciona:

  • Atar como sinal na mão e entre os olhos – lembra que toda ação (mão) e pensamento (testa) devem estar submissos ao Eterno. Por isso, os judeus e muitos que estão em teshuvah fazem uso do Tefilim em suas orações.

  • Escrever nas ombreiras das portas (mezuzot) – para que nossas casas estejam sob a lembrança constante da aliança. Ao entrar em nossas casas e vermos a mezuzá lembramos dos mandamentos e sempre estaremos alerta. 

Na gematria a palavra Shemáh tem valor numérico 410, igual ao número de anos em que o Mishkan (santuário) e o primeiro Beit HaMikdash funcionaram juntos, de acordo com a tradição judaica. O Shemáh é, portanto, uma espécie de santuário verbal do Eterno em nossas bocas.

A palavra Echad termina com a letra dalet, que é ampliada nos manuscritos. Isto simboliza as quatro direções do mundo, declarando que o Eterno é Um em todo o universo.

Outra coisa importante, o uso de três vezes o Nome (HaShem Eloheinu HaShem) representa o passado, presente e futuro – Ele é sempre o mesmo, imutável, conforme lemos em Malachi (Ml) 3:6.

No entano, pelo fato de eu, HaShem, não mudar, vocês, filhos de Yaakov, não serão destruídos.

Este verso é um selo eterno da aliança entre Yisrael e o Eterno. Recitá-lo não é apenas declarar crença, mas comprometer-se com exclusividade e lealdadeA lealdade a HaShem exclui toda forma de idolatria e desobediência. A declaração de que “HaShem é Um” é a negação de todo ensino que sugira multiplicidade no Ser do Eterno.

Sendo assim, Se o Eterno é Um, e é meu Elohim, então não darei ouvidos a vozes estranhas, nem seguirei os caminhos dos povos, mas me entregarei por inteiro à obediência dos Seus mandamentos.

Então, vamos aos próximos versos do primeiro trecho do Shemáh, que nos ensinam como guardar e transmitir a instrução do Eterno com toda diligência.


7. Devarim 6:6-7

וְהָיוּ הַדְּבָרִים הָאֵלֶּה אֲשֶׁר אָנֹכִי מְצַוְּךָ הַיּוֹם עַל-לְבָבֶךָ.
“E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão sobre o teu coração.”

וְשִׁנַּנְתָּם לְבָנֶיךָ וְדִבַּרְתָּ בָּם בְּשִׁבְתְּךָ בְבֵיתֶךָ וּבְלֶכְתְּךָ בַדֶּרֶךְ וּבְשָׁכְבְּךָ וּבְקוּמֶךָ.
“E as ensinarás diligentemente a teus filhos e delas falarás quando te sentares em tua casa, quando andares pelo caminho, ao deitares-te e ao levantares-te.”

 

- וְהָיוּ הַדְּבָרִים – “E estas palavras... estarão sobre o teu coração”

Observe que as “palavras” aqui referem-se aos mandamentos do Eterno, a ToráEstar “sobre o coração” (al-levavecha) implica que devem ser o centro de nossa mente, lembrança constante, meditação diária. Toda a nossa intenção deve estar em volta da Torá. Observe o que diz Sh'lomoh HaMelech.

“Guarda-os no meio do teu coração.” (Mishlei 4:21)

וְשִׁנַּנְתָּם לְבָנֶיךָ – “E as ensinarás diligentemente a teus filhos”

A palavra ve’shinantam vem de “shanan”, que significa afiar, repetir com firmeza. Da mesma forma que uma lâmina é afiada repetidas vezes, devemos repetir a instrução do Eterno até que esteja firmemente cravada nos nossos filhos. Observe o que está escrito em provérbios.

“Ensina ao menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Mishlei 22:6) 

- וְדִבַּרְתָּ בָּם – “E falarás delas...”

Podemos entender que a obediência não deve ser apenas interna. A ordem é que devemos falar constantemente das palavras do Eterno, com naturalidade e prioridade, em todos os aspectos do cotidiano. Para que isso possa ocorrer elas devem estar bem firmadas em nosso coração e vida, conforme já vimos anteriormente.

Quatro momentos mencionados:
  1. בְּשִׁבְתְּךָ בְבֵיתֶךָ – Quando estiveres sentado em tua casa:
    A Palavra do Eterno deve governar nosso lar, nossas conversas familiares. A Torá deve reger nossas vidas de tal forma que as conversas possam ser sobre coisas que agradem ao Eterno. 

  2. וּבְלֶכְתְּךָ בַדֶּרֶךְ – Quando andares pelo caminho:
    A instrução deve acompanhar nosso caminho, viagens, negócios, jornada diária. Sempre pensando se o que eu estou decidindo está de acordo com a Torá.

  3. וּבְשָׁכְבְּךָ – Ao deitares-te:
    Ao encerrar o dia, a Palavra deve ser nossa última meditação. 

  4. וּבְקוּמֶךָ – Ao levantares-te:
    Ao iniciar o dia, a Palavra do Eterno deve ser a primeira lembrança, antes mesmo de qualquer preocupação.

A instrução do Eterno não é para ocasiões especiais, mas para a vida inteira. O verdadeiro amor por HaShem se revela em nossa constância em guardar, repetir, ensinar e viver Seus mandamentos.

Com isso, para que possamos entender ainda mais, vamos prosseguir com a última parte do primeiro trecho do Shemáh em Devarim 6.

8 Devarim 6:8-9

וּקְשַׁרְתָּם לְאוֹת עַל-יָדֶךָ, וְהָיוּ לְטוֹטָפֹת בֵּין עֵינֶיךָ.
“E atarás estas palavras como sinal na tua mão, e serão por totafot entre os teus olhos.”

וּכְתַבְתָּם עַל-מְזוּזוֹת בֵּיתֶךָ וּבִשְׁעָרֶיךָ.
“E as escreverás nos umbrais da tua casa e nas tuas portas.”


וּקְשַׁרְתָּם – “Atarás como sinal sobre tua mão”

A “mão” simboliza nossas ações, obras e decisões práticas. Atar a Palavra do Eterno à mão é submeter tudo o que fazemos aos mandamentos.

 “Tudo quanto fizer a tua mão para fazer, faze-o conforme a tua força...” (Kohelet 9:10)

- וְהָיוּ לְטוֹטָפֹת בֵּין עֵינֶיךָ – “Serão por totafot entre teus olhos”

A região entre os olhos representa o centro da mente e da visão, ou seja, nossos pensamentos e direção da vida.

 “Escreve-as na tábua do teu coração.” (Mishlei 7:3)

Aqui temos um princípio de ter a Torá sempre em nossas lembranças, muito mais que amarrar na testa, vemos o mandamento nos chamando para que a Torá esteja à nossa memória constante, e estejamos nos caminhos do Eterno, de modo que nossos olhos não se desviem para vaidades, como está escrito:

“Não seguireis os desejos do vosso coração e dos vossos olhos, após os quais andais adulterando.” (Bamidbar 15:39)


- וּכְתַבְתָּם עַל-מְזוּזוֹת בֵּיתֶךָ – “Escreverás nas ombreiras da tua casa”

O termo mezuzot plural de mezuzá refere-se às ombreiras das portas, pois elas devem marcar que na sua casa existe obediência. A casa é o lugar da intimidade, da família, da verdade interior.

Escrever os mandamentos nas ombreiras é um ato de dedicar toda a casa ao Eterno, tornando-a um santuário da obediência.

- וּבִשְׁעָרֶיךָ – “E nas tuas portas”

As portas são limites e acessos. Representam os lugares de influência pública, os limites da comunidade, a entrada e saída da vida.

Colocar as palavras do Eterno nos portões significa que tudo que entra e sai de nossas vidas deve passar pela autoridade de Sua instrução, a Torá.

Por isso, podemos perceber que esta parte ensina que  a instrução do Eterno deve marcar visivelmente todas as áreas da nossa vida, a Mente (entre os olhos) – onde está o nosso foco, a Ação (mão) – o que fazemos com nossas escolhas, a Família (casa) – como conduzimos nosso lar e por último a Sociedade (portas) – como influenciamos e somos  influenciados no mundo.

Agora caro leitor, vamos prosseguir com o segundo trecho do Shemáh, que está em Devarim 11:13-21. Esta seção amplia os temas do amor, obediência e recompensas da fidelidade, mostrando que a obediência aos mandamentos traz bênçãos à terra e à vida, enquanto o afastamento conduz à destruição.

9 - Shemáh – Segundo Trecho (Devarim 11:13-21)

Versos 13-14: A Promessa da Chuva e da Sustentação

וְהָיָה אִם-שָׁמוֹעַ תִּשְׁמְעוּ אֶל-מִצְוֺתַי...

“E será que, se ouvirdes diligentemente os Meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar HaShem vosso Elohim e de servi-Lo com todo o vosso coração e com toda a vossa alma...”

וְנָתַתִּי מְטַר-אַרְצְכֶם בְּעִתּוֹ...

“Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a chuva temporã e a serôdia...” 

-  “Se ouvirdes diligentemente” (שָׁמוֹעַ תִּשְׁמְעוּ)

A repetição da raiz shama mostra ênfase na obediência contínuaAmar e servir ao Eterno com todo o coração e alma é mais do que sentimento: é ação diária em fidelidade

A recompensa da obediência:

Chuva no tempo certo – símbolo da vida, fertilidade, bênção e dependência do Eterno, conforme lemos em Vayicrá 26:4.

Colheita abundante: grão, vinho e azeite – sustento completo, fruto de uma vida santa.

Erva no campo para os animais – até os rebanhos são abençoados pela fidelidade humana.

“Abre a Tua mão e satisfazes o desejo de todo ser vivente.” (Tehilim 145:16)

Versos 16-17: A Advertência Solene

הִשָּׁמְרוּ לָכֶם...
“Guardai-vos, para que o vosso coração não se engane e vos desvieis, e sirvais a outros elohim...”

וְחָרָה אַף-ה' בָּכֶם...
“Então a ira de HaShem se acenderá contra vós, e fechará os céus para que não haja chuva...”

Desobediência traz seca e exílio

O Eterno é justo e recompensa a obediência, mas também disciplina o desvioA seca é resultado do abandono dos mandamentos e da busca por falsos deuses.

“Escolhe, pois, a vida, para que vivas...” (Devarim 30:19)

Versos 18-21: Repetição e Ênfase no Ensino Constante

וְשַׂמְתֶּם אֶת-דְּבָרַי אֵלֶּה עַל-לְבַבְכֶם...
“Ponde estas Minhas palavras no vosso coração e na vossa alma...”

 Atar na mão e entre os olhos – já vimos isso na primeira parte: é a total submissão do pensar e do agir.

 Ensinar aos filhos, falar em todo tempo – a educação começa no lar, com constância e zelo.

 Escrever nas ombreiras e nas portas – reafirma o compromisso público e familiar com os caminhos do Eterno.

“E vossos dias e os dias de vossos filhos serão multiplicados sobre a terra...” (Devarim 11:21)


Este trecho do Shemáh ensina que a obediência aos mandamentos é a chave para a vida plena — tanto espiritual quanto material. O Eterno se revela não apenas como Elohim da nossa vida, mas também como o Provedor da terra, da chuva, da colheita, da paz.

Finalmente, falaremos agora do terceiro e último trecho do Shemáh, que está em Bamidbar 15:37-41. Esta seção fala da ordem do Eterno para que o povo use os tzitzit – franjas nos cantos das vestes – como sinal visível e constante da aliança, para lembrar e cumprir todos os mandamentos.

10 - Shemáh – Terceiro Trecho (Bamidbar 15:37-41)

Versos 37-39: O Mandamento dos Tzitzit

וַיֹּאמֶר ה' אֶל-מֹשֶׁה לֵּאמֹר:
“E HaShem disse a Mosheh, dizendo:”

דַּבֵּר אֶל-בְּנֵי יִשְׂרָאֵל וְאָמַרְתָּ אֲלֵהֶם, וְעָשׂוּ לָהֶם צִיצִת עַל-כַּנְפֵי בִגְדֵיהֶם...
“Fala aos filhos de Yisrael e dize-lhes que façam para si tzitzit nas bordas das suas vestes, por todas as suas gerações...”

וְנָתְנוּ עַל-צִיצִת הַכָּנָף פְּתִיל תְּכֵלֶת.
“E porão no tzitzit da borda um cordão de techelet (fio azul)”

Tzitzit – Lembrança Visível

Este treco inicia com o Eterno ordenando literalmente vestir os mandamentos ao fazer e usar nas roupas os tizitziot. Essa franjas colocadas nos cantos das vestes nos lembram que estamos cercados pela Toráh, guiados por ela em cada direção.

“Estes são os mandamentos que HaShem ordenou a Mosheh para os filhos de Yisrael.” (Vayicrá 27:34) 

- O fio de azul no meio

Esse fio azul celeste representa os céus (shamaym), um símbolo da realeza e da santidade do Eterno. Olhar para esse fio nos remete à majestade e à soberania de HaShem, para que não caiamos na vaidade dos olhos. E nem para acharmos que somos algo sem o Eterno, quando olhamos para as franjas brancas com o fio azul no meio entendemos que o Eterno está dentro de nós.

Verso 39-40: O Propósito dos Tzitzit

וְהָיָה לָכֶם לְצִיצִת וּרְאִיתֶם אֹתוֹ, וּזְכַרְתֶּם אֶת-כָּל-מִצְוֺת ה' וַעֲשִׂיתֶם אֹתָם...
“E vos servirá como tzitzit, para que, ao vê-lo, vos lembreis de todos os mandamentos de HaShem e os cumprais...”

וְלֹא-תָתוּרוּ אַחֲרֵי לְבַבְכֶם וְאַחֲרֵי עֵינֵיכֶם...
“...e não sigais após o vosso coração e após os vossos olhos, após os quais vos prostituís.”

Lembrar é guardar

Ver os tzitzitiot é um chamado diário a nos lembrar de que não pertencemos a nós mesmos, mas ao Eterno. O coração e os olhos são fontes de inclinação ao erro, por isso as franjas são barreiras visuais e físicas contra a má inclinação (yetzer harah).

Verso 41: O Elohim Libertador

אֲנִי ה' אֱלֹהֵיכֶם, אֲשֶׁר הוֹצֵאתִי אֶתְכֶם מֵאֶרֶץ מִצְרַיִם...
“Eu sou HaShem, vosso Elohim, que vos tirei da terra de Mitsrayim para ser vosso Elohim...”

אֲנִי ה' אֱלֹהֵיכֶם.
“Eu sou HaShem, vosso Elohim.”

- O motivo para obedecer:

A Libertação de Mitsrayim é o fundamento da aliança, pois está sempre em evidência. Fomos libertos para sermos servos, não do mundo, mas de HaShem.

“Porque fostes comprados por bom preço. Não vos façais servos dos homens.” (conforme lemos em Iyov 36:11 – analogia com a Toráh: quem serve ao Eterno vive em plenitude) 

Concluindo este estudo, esta última parte do Shemáh sela o compromisso com HaShem em todos os aspectos da vida: corpo, vestes, olhos, pensamentos e ações. O tzitzit é como o cordão da aliança visível entre o homem e seu Criador, lembrando que fomos tirados da escravidão para andar na liberdade dos mandamentos. E portanto, percebemos que o Shemáh é a declaração mais elevada da fidelidade ao Eterno e da obediência à Sua Toráh, anulando assim, com sua observância, toda idolatria e erro que possa haver em nossas vidas, pois nos leva a meditar constantemente nas palavras do Eterno.

Que você ao ler esse estudo, compreenda a verdade dessa oração e leve em sua vida constantemente.

Que o Eterno o abençoe!!

Moshê Ben Yosef

 



quarta-feira, 11 de junho de 2025

Estudo da Parashá Behaalotechá - Luz Contínua: Quando a Instrução do Eterno Ilumina Mesmo na Escuridão

 


Estudos da Torá

Parashá nº 36 – Behaalotechá (Quando você acender)

Bamidbar/Números 8:1-12:16

Haftará (separação) Zc 2:14-4:7 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Jo 19:31-37; Hb 3:1-6


Tema: Luz Contínua:

Quando a Instrução do Eterno Ilumina Mesmo na Escuridão


Ao iniciar a leitura e estudo da porção Behaalotechá, encontramos uma imagem profundamente simbólica: o acendimento contínuo da menoráh. Esta imagem não representa apenas uma ação ritualística e muito menos uma obediência legalista, mas um chamado prático e constante para manter a luz viva diante do Eterno. A Luz, que nas Escrituras representa as instruções divinas, e que deve permanecer acesa mesmo quando nossos olhos não veem mais nenhuma claridade ao redor. A pergunta que ecoa para todos os que desejam andar no caminho do Eterno é: “Onde em minha vida preciso da luz constante do Eterno?”

Neste estudo buscaremos compreender essa luz não apenas como símbolo, mas como realidade prática – que nasce da confiança firme na Palavra do Eterno e nos transforma. Veremos isso pela Torá, pelos Profetas, e pelos ensinos de Yeshua e seus talmidim.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

O Eterno ordena a Aharon que acenda as lâmpadas da menorá de forma que iluminem diante dela. A instrução aponta para a santidade contínua, a luz permanente que deve ser elevada diante do Eterno.

A porção também demonstra mais uma vez, que os levitas são separados para o serviço no Mishkan. E para isso passam por um processo de purificação com água, raspagem de todo o corpo e apresentação diante da congregação. Eles são os substitutos dos primogênitos para o serviço exclusivo ao Eterno.

Nessa parashá, ainda é apresentada a possibilidade, para aqueles que estavam impuros por contato com mortos e não puderam celebrar Pessach no tempo correto, de realizá-lo no segundo mês, o chamado Pessach Sheni – mostrando a misericórdia e justiça do Eterno

A Torá demonstra que o povo só se movia quando a nuvem sobre o Mishkan se levantava. Se a nuvem permanecesse, eles ficavam acampados, mesmo que fosse por dias ou anos. Isso ensina confiança total na condução do Eterno. E relata também que são feitas duas trombetas de prata para convocar a congregação e sinalizar os movimentos no acampamento, bem como nas batalhas. Eram usadas ainda em festas e momentos de alegria diante do Eterno.

No segundo ano após a saída do Egito, o povo parte do Sinai e segue jornada pelo deserto, com a Arca da Aliança indo adiante. O povo começa a reclamar por causa de dificuldades e falta de carne. O Eterno envia fogo em Taverá e depois codornizes em grande quantidade, mas os que reclamaram com avidez são punidos em Kivrot-Hataavá.

A porção conclui com Miryam e Aharon falando contra Moshê por causa de sua esposa cuxita. O Eterno os repreende, dizendo que com Moshê Ele fala claramente. Miryam é punida com lepra e fica isolada por sete dias até ser curada pela intercessão de seu irmão e líder Moshê.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Ao iniciarmos nosso estudo dessa semana, observemos primeiramente o que diz o texto que começa essa porção da Torá, Bamidbar 8:1-2:


O Eterno disse a Moshê: Fale a Aharon: Quando você acender as lâmpadas, as sete lâmpadas devem projetar a luz para a frente, diante da menoráh.


A menoráh é o símbolo da presença contínua do Eterno no meio do povo, e a chama que jamais se apaga representa nossa resposta à Sua presença: uma vida de obediência diária. No hebraico, o termo usado é “behaalotechá”בְּהַעֲלֹתְךָque vem da raiz העלה - haaláh, que significa "subir", "elevar", e não apenas “acender”. Ou seja, acender as lâmpadas é mais que produzir luz: é elevar a chama, trazer um movimento ascendente da alma rumo à instrução do Eterno. É um chamado para que a nossa vida não fique em escuridão nem seja conduzida pela instabilidade das circunstâncias.


1. A Luz da Instrução: Da Menorá ao Coração

A menoráh, cuja construção foi instruída com detalhes em Shemot 25:31–40, é feita de uma só peça de ouro puro – como uma única essência da vontade do Eterno. Isso demonstra que HaShem deseja que nós devemos ser moldados com um único material, a Torá. Suas sete lâmpadas não apenas iluminam o espaço físico do Mishkan, mas apontam para a permanência da instrução do Eterno. O salmista declara:


Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho. Tehilim 119:105


Aqui está a resposta: a luz do Eterno é a Sua Palavra, Sua Torá. Precisamos dessa luz nos momentos de incerteza, nas decisões silenciosas, nos becos da vida em que não vemos saídas. A firme confiança não nasce do que sentimos, como muitos pensam, mas da luz que permanece acesa em nós por causa da Palavra do Eterno.


2. A Luz que Exorta e Restaura

Vemos no TaNaK os profetas sempre repetindo as instruções do Eterno e orientando o povo a está na vontade de HaShem. Por exemplo o profeta Yeshayahu (Isaías) anuncia:


Ó casa de Yaakov, vinde, e andemos na luz de HaShem. Yeshayahu 2:5


E também:


O povo que andava em trevas viu uma grande luz; sobre os que habitavam na terra da sombra da morte resplandeceu a luz. Yeshayahu 9:2


A luz aqui é a restauração da instrução do Eterno, vinda em tempos de escuridão – idolatria, injustiça, exílio. Assim como a menoráh era limpa e reacendida diariamente, os profetas nos ensinam que mesmo em meio ao colapso da nação, a luz do Eterno pode brilhar, se buscarmos voltar à obediência.

Outro exemplo de orientação e menção à luz como apontamento para a obediência à Torá encontramos em Yirmeyahu (Jeremias) 4:22 e 23. Note que se lermos desde o início percebemos uma profecia que fala sobre as transgressões de Yehudah, sua queda e consequentemente sua falta de luz, e também fala que se mudarem seu posicionamento o Eterno os recebe novamente. Sugiro uma leitura e meditação do mencionado capítulo do profeta.


3. A Luz Encarnada em Obediência

Nos escritos dos emissários, conhecido por muitos como Novo Testamento, vemos o Messias Yeshua e seus Talmidim seguirem com essa mesma linha de interpretação e ensino. Yeshua ensina aos seus talmidim:


Vocês são a luz do mundo. A cidade construída sobre o monte não pode ser escondida. Da mesma forma, quando alguém acende uma candeia, não a cobre com uma vasilha, mas a coloca no suporte para iluminar a todos os que estão na casa. Assim, que sua luz brilhe diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos shamaym. Matityahu 5:14-16


Yeshua não se apresenta como “deus”, mas como um servo obediente que vive a Torá, ensinando que a luz se expressa em boas obrasmaasim tovim – que refletem a instrução do Eterno. Os talmidim, como Kefa (Pedro), declaram:


Vocês, porém, são o povo escolhido, os kohanim do rei, a nação santa, o povo pertencente a D’us! Por quê? Para louvar Aquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Kefa Alef (1Pedro) 2:9


Ou seja, somos chamados a levar essa luz – não de maneira teórica, mas por meio de atos que manifestam a instrução viva do Eterno em nós, mesmo quando o mundo está em trevas. Devemos seguir o exemplo do próprio Yeshua e de seus talmidim, e antes deles os profetas. Nossa vida, por mais difícil e atribulada que seja, deve manifestar essa luz, a obediência à Torá, a palavra de HaShem. A luz que guia quem está na escuridão.


4. Detalhe Hebraico de Aprofundamento

Antes de concluirmos, é importante destacar a importância do contexto original e do conhecimento da língua hebraica. A palavra “ner” נֵר (lâmpada/luz) aparece frequentemente com a ideia de transmissão de sabedoria e vida. Por exemplo em Mishlei 6:23, lemos:


Porque o mandamento é uma lâmpada (ner), e a instrução (torá) é luz...


Aqui, o paralelismo poético hebraico deixa claro: a lâmpada é o mandamento específico; a luz é o todo da Torá. Nesse entendimento, quando mantemos os nerot (lâmpadas) acesas, cada mandamento obedecido, a luz da Torá brilha de forma completa em nossas vidas. Por isso a Torá e os profetas chamam de justos os que vivem conforme os mandamentos de justos, como Yeshua disse que os talmidim são luz. Apagar um só mandamento é perder parte da claridade.

Concluindo nosso estudo, vamos refletir na pergunta que fiz no início desse estudo. “Onde em minha vida preciso de luz constante do Eterno?” A resposta deve sempre ser: em todo lugar onde ainda caminho com meus próprios olhos.

A luz do Eterno não depende do nosso entendimento ou emoções, mas da permanência diária na obediência. Ela não é uma filosofia com pensamentos humanos e religiosos, é luz verdadeira que advém da prática diária em amor ao Eterno. A menoráh era acesa mesmo em momentos de silêncio divino, em dias comuns do deserto, quando tudo parecia estar perdido. Assim também, nossa vida deve estar acesa mesmo quando não vemos milagres, pois a maior luz é a constância na fidelidade ao Eterno.

Leiamos juntos Tehilim 43:3


Envia a tua luz e tua verdade, para que sejam meu guia; deixa que me guiem a teu santo monte, aos lugares onde habitas.


Que a chama da instrução do Eterno jamais se apague em cada um de nós, mesmo quando não vemos raízes, mesmo quando não sentimos sua presença. Porque a luz verdadeira é aquela que vem da obediência.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef