Estudos da Torá
Parashá nº 24 – Vayicrá (E chamou)
Vayicrá/Levítico Lv 1:1-6:7,
Haftará (Separação) Is 43:21-44:23, e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mc 11:1-12:44
1 - INTRODUÇÃO
O terceiro livro da Torá ou
Pentateuco chama-se Vayicrá (E chamou/E Ele chamou), palavra com a qual inicia
este livro e esta porção. A versão bíblica “Septuaginta” (versão dos setenta)
deu-lhe o nome de Levítico. Porém, esta denominação está em desacordo com o seu
conteúdo, pois o livro só trata dos Levitas esporadicamente, dedicando sua
maior parte aos “Cohanim” (Sacerdotes) e ao culto em geral. Talvez tenham
decidido chamá-lo assim, pelo fato de Aarão e seus filhos, os sacerdotes,
pertenciam à tribo de Levi.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
No final da Parashá da semana
passada, lemos que Moshê terminou a obra do Mishkan (tabernáculo), e logo
depois a Shekinah (presença) de Adonai encheu o lugar, de forma que Moisés não
podia entrar. E a parashá dessa semana começa exatamente onde a anterior termina,
ou seja, Moisés não podia entrar por causa da presença de Adonai que lá estava.
Porém, agora o Eterno o chama de dentro do Mishkan. Os sábios judeus dizem que
D’us honrou a Moshê mais do que a qualquer outro hebreu. Apenas ele foi
convidado por D’us a entrar no Mishkan e ouvir suas palavras. E a razão deste
proceder é que Moshê sempre se sentiu humilde e pouco importante. Ele não era
homem de perseguir honras, mas fugia de honrarias e elogios. Uma pessoa que é
modesta e se sente humilde, eventualmente irá receber de D’us a honra que
merece, mas aquela que está cheia de orgulho, no final não será honrada. Moshê
foi muito honrado por Deus, já que nunca se considerou grandioso ou importante.
Na porção desta semana
iniciaremos o estudo no livro de Vayicrá e conheceremos um pouco sobre os
sacrifícios e cada uma de suas funções no culto ao Eterno. A Torá nos diz como
e por que cada um daqueles sacrifícios deveriam ser feitos e qual a finalidade
deles.
Repare que anteriormente D’us
falava com Moisés no monte Sinai, não permitindo que ninguém se aproximasse,
agora porém, fala da tenda da congregação, da nuvem que estava em cima do
propiciatório no Santo dos Santos, permitindo que o adorador se aproxime dele
por intermédio das ofertas (Korban).
Sobre o termo Vayicrá
Na Torá vemos a palavra וַיִּקְרָא
(Vayicrá) e significa “e chamou” no texto propriamente
dito, esta palavra está escrita com a última letra o aaaaaaaaa (Aleph) em tamanho menor que as
outras letras. E segundo a hermenêutica judaica quando acontece algo assim,
devemos parar e procurar mais informações sobre o texto, pois se o Eterno fez
com que o escritor fizesse isso, é porque queria nos ensinar algo que está além
do texto, e é preciso sair da mera letra e entrar no segundo nível de
interpretação.
Nesse
sentido, os sábios de Israel, que receberam os textos e suas interpretações, e
passaram de pai para filho, afirmam o seguinte:
Moshê era muito humilde. E quando
D’us lhe disse para escrever “Vayicrá”. Ele respondeu: “Eu devo escrever que o
Senhor chamou apenas a mim para o Mishkan? Me parece muito arrogante. Me
permita retirar a letra alef do fim da palavra, assim a palavra será “vayiker,
que significa que o Senhor me chamou por acaso.” D’us teria ordenado a Moshê:
“Não, você deve adicionar a letra Aleph à palavra. No entanto, permitirei que você
a escreva menor do que as outras letras.”
Desta
forma, podemos aprender que aquela letra menor nos lembra quão humilde era
Moshê.
Entretanto,
há outra linha de entendimento a respeito dessa letra minúscula na palavra
Vayicrá. No comentário da Torá, traz a seguinte informação:
Os comentaristas da Torá, que
encontraram em cada palavra, às vezes em cada letra, pontos de apoio para os
seus ensinamentos éticos, chamam a nossa atenção para a palavra Vayicrá
com que começa este livro. Não apenas nos livros impressos, mas também na
própria Torá, a última letra da primeira palavra – a letra Aleph (a) – é minúscula (pequena), dando-nos neste contexto duas belíssimas
lições: 1) O prazer e a alegria de oferecer algo deve ser ensinado mesmo às
crianças pequenas na mais tenra idade. Se ela é favorecida pela sorte e tem
muitos livros ou brinquedos, deve aprender a dar aquilo que possui a mais ao
seu amigo ou amiga e a um pobre que não tem nada ou muito pouco. 2) Que cada
Aleph – e a letra Aleph vale um – cada qual, mesmo com recursos muito
limitados, não se pode excluir nem esquivar de contribuir, na medida de suas
posses, para objetivos nobres e caritativos...Portanto, podemos concluir que o
Aleph diminuto da palavra Vayicrá indica que, para se tornar um servo de Adonai
consciente de seus deveres e responsabilidades, para conhecer e para se
aprofundar nos eternos valores espirituais, é necessário estudar a Torá desde
pequeno, desde a tenra infância.
Perceba que, para que alguém
possa ser consciente a ponto de ser útil em sua comunidade, a ponto de ajudar a
quem precisa, sendo doador e se aproximando das pessoas, deve estudar a Torá em
seus detalhes desde muito cedo. Somando as duas tradições, podemos aprender que
a humildade e um caráter doador advém da observância da Torá.
Sobre os sacrifícios
ao Eterno
No verso 2, desse primeiro
capítulo, lemos: “Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: quando algum de vós
oferecer sacrifício ao Eterno...” À partir daqui, a Torá começa a enumerar as leis dos
sacrifícios e a missão dos Cohanim (sacerdotes). E faz isso de forma bem
explicada, oferta por oferta. No entanto, cabe ressaltar o grande erro que
podemos cometer ao confundir os sacrifícios enumerados nesse livro, com os dos
povos pagãos da Antiguidade, os quais faziam com os seus sacrifícios descer as
suas divindades ao nível das paixões humanas atraindo-as a seu favor, e
praticar algumas vezes atos abomináveis; sendo que os sacrifícios mosaicos têm como
base a adoração do Eterno, agradecer Suas bondades, pedir perdão por faltas
cometidas involuntariamente ou por uma falta voluntária após tê-la reparado. Os
sacrifícios dos israelitas tinham que ser acompanhados pela Cavaná (intenção)
de voltar ao bom caminho, e geralmente, por uma prece ou oração.
O
Eterno inicia usando a palavra “fala”. Esta palavra em hebraico é “dabar”
e significa “falar, declarar, ordenar, advertir”. Já a palavra “dizer” em
hebraico é “amar” e esta palavra significa “ordenar”. Aqui o termo
“amar” tem força de uma ordem dada a alguém. O termo “oferecerá” em
hebraico é “qarab” e significa “aproximar, chocar-se”. E isso demonstra
que devemos nos aproximar juntamente com a oferta do lugar onde será realizado
o sacrifício. E sabemos que o lugar onde isso acontece é o altar! Já o termo “oferta”
em hebraico é “korban” (sacrifício, imolação, oblação, oferta) e denota
aquilo que é trazido para perto. Nessa porção as ofertas são divididas em:
- Olá - Holocausto/ascenção
(queimadas) – Lv 1:1-17;
- Minhchá - Manjares (alimento) – Lv
2:1-16;
- Shlamim - Pacífica (paz, comunhão)
– Lv 3:1-17;
- Chatat - Pelo Pecado
(involuntário) – Lv 4:1-5:13;e
- Asham - Pela Culpa (voluntário) –
Lv 5:15-6.7.
Leia com cuidado cada uma das
referências acima, medite sobre elas e poderá perceber muitas minúcias da vida
e obra do Messias Yeshua.
A oferta “Olá” e a oferta
“minchá” são irmãs, assim como “chatat” e “asham” são irmãos, ou seja, são
oferecidos de forma similar, seguindo as mesmas orientações, e se assemelham
entre si.
As três primeiras são
voluntárias, e as outras são obrigatórias. O texto diz que o korban (oferta)
deveria ser trazida ao Senhor (Adonai). A palavra “Senhor” no texto
hebraico é o tetragrama, iiiiiiiihwhy((YHVH), que é o nome que o Eterno
se apresentou a Moshê no Sinai, significando “Eu sou o que sou ou eu me torno o
que me torno”. E isso nos mostra que o Eterno se tornaria para os ofertantes
aquilo que eles necessitassem, ou seja o perdão de seus pecados, o louvor ou o
agradecimento. Podemos aprender disso que, o propósito dos sacrifícios é
aproximarmo-nos do Eterno e apresentarmo-nos diante Dele. No entanto, não é
possível nos aproximar do eterno sem sacrifícios. O sacrifício é necessário
para nos aproximar e permanecer na sua presença, como lemos em Ex 23:15b;
34:20b e Deut 16:16b, que diz: “Ninguém se apresentará diante de mim com as mãos vazias”.
Sobre o Holocausto
No
verso 3 lemos: “Se a sua oferta for holocausto
de gado, oferecerá macho sem defeito; à porta da tenda da congregação a oferecerá [qarab], de sua própria
vontade, perante o IHVH” O Eterno agora, através
da Torá, nos fala sobre o holocausto, que em hebraico é “olá ou olâ”
e significa “oferta queimada”. Esta palavra vem da raiz “alâ” e
significa “subir, escalar”. O é o único meio de fazer o ofertante “subir” até a
presença de D’us. A fumaça da oferta queimada é o símbolo da vida do ofertante
que está sobre o altar e é queimada, devorada pelo fogo! “Olah” significa
também “oferta total ou oferta inteira”. O ato de queimar é secundário em
relação à entrega da criatura toda ao Senhor. O korban olâ ou holocausto é
voluntário e pode ser oferecido por qualquer homem ou mulher, israelita ou não.
Sobre
Qualidade versos a Quantidade
O Rabino Chaim Goldberger,
escreveu para o site chabad.org o seguinte:
De todos os sacrifícios
introduzidos na Porção desta semana da Torá, o único que não requer o
sacrifício de um animal é o corban minchá, uma oferenda de farinha misturada
com óleo e incenso trazido como uma alternativa de menor custo que as demais,
entre as quais as oferendas de novilho ou ave. Mesmo assim, quando a Torá
descreve as pessoas que levam cada uma das várias oferendas ao Templo, a única
que é destacada e identificada como sendo uma "nefesh - alma" é a
pessoa que traz o simples corban minchá.
O Talmud (Tratado Menachot
104b) desenvolve: "Por que o corban minchá recebe destaque e seu portador
é chamado de nefesh, alma? D'us declara: 'Quem geralmente oferece corban
minchá? O pobre. Considero seu ato como se ele sacrificasse sua alma por
inteiro.' "
Pode-se deduzir que para
alguém que está empobrecido, o ato de separar-se de boa farinha, que de outra
forma poderia alimentá-lo e aplacar sua fome, é um ato de sacrifício ainda
maior que aquele do homem rico doando um animal de alto preço. Para o pobre, a
farinha é mais que uma grande parte de suas posses: é sua própria vida. A Torá
está nos ensinando que não é o tamanho do presente que determina a importância
do sacrifício; pelo contrário, a importância está nas intenções do doador e nas
circunstâncias.
Quando Yaacov despachou seus
filhos para encontrar o misterioso governante do Egito, enviou com eles um
presente. Este tributo era de fato pequeno - "um pouco de bálsamo, cera,
lótus, pistache e amêndoas" - mas a importância não estava no tamanho.
Estes itens haviam sido cuidadosamente considerados e especialmente
selecionados. Eram iguarias não disponíveis no Egito àquela época. Sua mensagem
era de cuidadoso esmero e consciencioso interesse. E de forma bem apropriada,
Yossef chamou o presente de "um minchá".
De todas as nossas preces
diárias, a mais curta é Minchá, o serviço vespertino. Não contém o longo
segmento de introdução nem o de encerramento do serviço matinal de Shacharit,
nem as preces Shemá e Barchú do serviço noturno de Maariv.
Basicamente, é composto pelo
Shemonê Esrê, mesmo assim o serviço vespertino é o único que chamamos de
"Minchá". Por quê? Porque, por mais "pobre" como esse
serviço possa parecer, é o único que ocorre em meio a nosso dia de trabalho; é
o único que nos pede para deixarmos de lado aquilo que estamos fazendo e nos
lembremos de que somos apenas súditos de nosso Mestre Todo Poderoso.
Minchá é o único serviço de
prece que nos pede para desligar de nossa inclinação mundana e nos retirar para
um súbito e total encontro com o Divino. Pode levar apenas quinze minutos, mas
é um Minchá. Lembra-nos da motivação necessária para doações de todos os tipos,
e que não é o tamanho que importa; o significado e as intenções são igualmente
importantes.
Que possamos entregar nosso
minchá ao Senhor e que cada dia possamos estar diante dele com ações de graça,
mas acima de tudo confiando naquele que foi morto como korban pelas nossas
vidas, nosso amado Yeshua HaMashiah!
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/24-_vayikr_e_chamou.pdf
- http://shemaysrael.com/parasha-vayicra/
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822844/jewish/Mensagem-da-Parash.htm
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