Filosofia Religiosa ou Escrituras Sagradas?
“Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não no Messias.” Cl 2:8
Há algum tempo venho refletindo no seguinte tema: “Filosofia Religiosa ou Escrituras Sagradas?” Saiba que essa pergunta não é descabida. A maior parte do que se tem de ensino teológico, desde os primeiros séculos da era comum, não vem puramente das Escrituras Sagradas, eles vem da filosofia. Apesar de a própria palavra “teologia” significar estudo de D’us, na prática os estudiosos desse área, se debruçam mais sobre temas deflagrados pelos homens de forma filosófica, do que propriamente sobre o Eterno. Daí, muitos desses ensinos se tornaram dogmas que de forma argumentativa, e totalmente filosófica solidificaram “sofismas”, ou ensinos que contém parte da verdade permeada de ensinos meramente humanos. Se buscar em um dicionário o significado do termo sofisma encontrará que ele é um argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa. E é exatamente isso que os dogmas apresentam, e infelizmente a maioria das pessoas desde o início, vem seguindo por desconhecerem a verdade.
A filosofia, como expoente do conhecimento racional pensado de maneira sistemática, surgiu na Grécia em meados do século VI a.EC. Essa nova ciência surgiu a partir da necessidade de explicar o mundo de maneira racional. Até o surgimento dessa maneira de pensar e compreender o mundo, as explicações eram dadas através dos mitos. (site: querobolsa.com.br) Note que o texto de Paulo mencionado no início, faz sentido olhando para esse conceito do nascimento da filosofia.
Muitos livros já foram escritos sobre teologia e sobre filosofia, e alguns deles sobre ambos juntos. Em minha época de faculdade de teologia adquiri um livro ao qual usei para a pesquisa da minha monografia. Era um livro muito aclamado na época, e ainda hoje é, dentro do ramo teológico cristão. O título do livro é para impressionar bem os acadêmicos, ele é “Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução à teologia cristã.” E logo no início da introdução desse livro percebemos o que mencionei no parágrafo anterior, a respeito de a teologia se utilizar da filosofia. Ele diz o seguinte:
“Ao refletir-se sobre as grandes questões da teologia cristã logo se percebe que muitas delas já foram tratadas. É quase impossível fazer-se teologia, como se isso nunca tivesse sido feito antes. Há sempre a atitude de se olhar para trás, para ver como as coisas foram feitas no passado e quais as respostas que foram dadas.”
Sabemos pelo conceito de filosofia, que ela é a busca por respostas às diversas perguntas feitas pelo intelecto humano. E é por isso, que o autor afirma que para se refletir sobre as questões da teologia deve-se buscar as respostas do passado. Perceba que não está se falando de refletir sobre questões bíblicas ou das Escrituras, mas sobre a teologia e para isso, segundo ele deve buscar as respostas que a teologia, que usa filosofia, forneceu.
Muitos teólogos antigos são também filósofos, e nessa mencionada introdução o autor cita alguns muito famosos dentro do cristianismo. Ele diz que:
“Parte da noção de “tradição” está na disposição de levar a sério a herança teológica do passado. Karl Barth expressa essa ideia de uma forma contundente à medida que nota, nos debates teológicos do presente, a contínua importância das grandes celebridades teológicas do passado: “Não podemos permanecer na igreja sem assumir tanto a responsabilidade pela teologia do passado, quanto pela teologia do presente. Agostinho, Tomás de Aquino, Martinho Lutero, Schleiermacher e todos os demais não estão mortos, mas vivem. Eles ainda falam e exigem ser ouvidos como vozes vivas, tão certo quanto sabemos que, eles como nós, pertencemos à mesma igreja.”
Veja como é normal para os autores e teóricos da religião tomarem por base os escritos e ensinos desses e de muitos outros filósofos e teólogos do que da própria Bíblia. Se dá mais ênfase nos seus pensamentos do que o que é ensinado nas Escrituras. E tudo isso é muito claro, não vê quem não quer. Há um outro livro, que também li nos tempos da faculdade de teologia, esse é um livro de apologética, que é uma disciplina teológica que ensina como defender a fé cristã, e para isso se utiliza muito da filosofia. O livro é o “Manual de Defesa da Fé – Apologética Cristã”, e em sua apresentação os editores falam o seguinte no terceiro parágrafo:
“Fazendo uso da lógica aristotélica e de argumentos racionais, e respaldados pela abordagem desses temas por pensadores cristãos clássicos e modernos(como Agostinho, Aquino, Pascal, C.S. Lewis e outros), Kreeft e Tacelli apresentam soluções equilibradas e bíblicas para as objeções e conduzem os leitores a uma reflexão profunda a cerca das bases do cristianismo, das religiões não-bíblicas e do ateísmo moderno.”
Note que, conforme já mencionei a base principal são as reflexões dos filósofos, desde Aristóteles aos cristãos, e seus ensinos vem permeados de lógica filosófica. E com isso, formam toda uma forma, muito própria do cristianismo, de defender seus dogmas. Vejam que eles não usam para defender as Escrituras, mas aos dogmas criados pelas reflexões filosóficas à partir de textos isolados das Escrituras. Outra coisa que deve ser percebida, Agostinho e Aquino foram citados nas duas referências que mencionei, isso porque são dois dos maiores expoentes antigos do cristianismo, e ambos antes de serem cristãos eram filósofos. Por isso toda a sua teologia vem com uma enorme influência da filosofia grega.
Veja o que podemos encontrar sobre Tomás de Aquino ao fazer uma rápida busca em sites de pesquisa: “Tomás de Aquino foi um padre católico e discípulo do grande escolástico Alberto Magno. Ele auxiliou na reintrodução da filosofia aristotélica no pensamento europeu e atualizou a teologia cristã junto à filosofia medieval, tendo escrito sobre os conflitos entre fé e razão existentes no período.” (site: brasilescola.uol.com.br)
Sobre Agostinho encontramos: “Agostinho é considerado por muitos o patriarca mais importante da Igreja e, provavelmente, o mais conhecido devido à sua obra Confissões, um relato pessoal de sua conversão ao cristianismo. Ele nasceu no norte da África, de pai pagão e mãe cristã. Quando jovem adulto, era um seguidor dos ensinamentos pagãos gregos.” (site: paodiario.org.br)
Diz-se que logo Agostinho se converteu, mas o fato é que sua filosofia influenciou sua teologia, e isso ocorre com todos os teólogos cristãos que tem envolvimento com a filosofia. Quanto a isso vejam o que os próprios autores “Kreeft e Tacelli”, que são também filósofos, afirmam sobre o motivo de terem escrito o livro, no início do capítulo um.
“Decidimos escrever este livro porque recebemos inúmeros pedidos para fazê-lo. Ambos ensinamos Filosofia da Religião na Universidade de Boston, e nossos alunos com frequência nos perguntam onde podem encontrar um livro com os principais argumentos para ensinamentos cristãos mais relevantes, sobre os quais são desafiados pelos descrentes atualmente. Nossos alunos querem um livro com ensinamentos sobre a existência de D’us, a imortalidade da alma, a confiabilidade das Escrituras e a divindade e a ressurreição de Cristo, bem como respostas para as objeções mais comuns e mais fortes a essas doutrinas.”
É impressionante a clareza com que demonstram que se utilizam mais da filosofia. Sua meta é conseguir argumentos para responder perguntas e objeções aos dogmas que a própria religião criou, e que nada tem em comum com as Escrituras em seu contexto verdadeiro e cultural.
As pessoas há muito tempo tem esquecido que as Escrituras Sagradas é uma coletânea de livros judaicos, escritos por judeus e que se utilizaram de conhecimentos e formas de interpretação judaicos. Os textos da Torá, compilado por Moisés, das palavras que lhe fora entregue pelo próprio Eterno não sofreram influências filosóficas. Da mesma forma as palavras dos profetas. E até mesmo os escritores do chamado Novo Testamento, a Brit Hadasháh, não sofreram influências filosóficas. Apenas os apóstolos João e Paulo mencionaram em seus escritos palavras que vieram da cultura helenista, mas não por influência destes, e sim ao falarem de algo judaico para pessoas que entendiam o grego.
Sendo assim, o que devemos entender é que no lugar de utilizarmos conhecimentos filosófico religiosos, deveríamos nos utilizar, a exemplo dos profetas e dos talmidim (apóstolos), da própria Escritura Sagrada. Uma base fundamental que tenho aprendido nos meus anos de estudo das Escrituras é de que a Escritura comprova ela mesma. Isso quer dizer que um texto dos profetas, dos escritos ou dos escritos da Brit Hadasháh precisam encontrar uma fonte na Torá, que são os primeiros cinco livros. O que passa disso, pode ser um erro.
Com isso, quando Shaul Hashaliach (apóstolo Paulo) diz:
“Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não no Messias.” Cl 2:8
Ele já estava vendo que a filosofia estava penetrando dentro da comunidade dos servos do Eterno e seguidores de Yeshua. Isso porque estavam ouvindo a ideias enganosas que não se fundamentavam nas Verdades das Escrituras, mas nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo. E por isso Yeshua já havia alertado: “E conhecereis a verdade, e a verdade os libertará.” Jo 8:32
A verdade é a palavra do Eterno, registrada nas páginas das Escrituras Sagradas, que foram dadas a um povo e com um propósito. E essa verdade não muda e não tem variação de pensamento ou ideais. Ela ilumina os pensamentos e caminhos do homem, muito antes de iniciar a filosofia. Por isso, apegue-se às Escrituras Sagradas e aos seus ensinos, e deixe a teologia repleta de filosofias que somente levam ao engano, porque são meramente humanas.
Mas a palavra de D’us é lâmpada que ilumina o caminho do homem e é luz que clareia os seus passos, conforme Sl 119:105.
Pense nisso!
Que o Eterno, Santo e Bendito, lhes abençoe!
Marcelo Santos da Silva (Sou Peregrino na Terra)
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