Estudo de Mateus 5 – Parte 2
Mt 5:11-16
O propósito desse estudo é continuar a trazer mais entendimento a respeito do que o messias Yeshua ensinou e mostrar que todos os seus ensinos tinham como base as Escrituras Sagradas, ou seja, em sua época o TaNaK (Torá, Neviím-profetas e os Ketuvim-escritos), que nada era meramente inventado para um suposto Novo Testamento que anularia os mandamentos do Eterno trazendo novos. Esses pensamentos advém de ensinos errados criados para dar base a dogmas inventados que nada tem com as Escrituras. Por isso mostraremos aqui os princípios claros e escriturísticos das palavras do mestre da Galil (Galiléia), Yeshua Natseret, HaMashiach.
Se você ainda não viu os estudos anteriores recomendo buscar e acessá-los para maior absorção do conteúdo, principalmente em relação ao capítulo 5, que estamos estudando, a parte 1 trouxe muitos entendimentos importantes.
Depois de termos visto na primeira parte do estudo de Mateus 5, que Yeshua não ensinava meramente as coisas que lhe vinha à cabeça e nada era aleatório, que seus ensinos vinham do TaNaK (Torá, Neviín e Ketuvim), conhecido como Antigo Testamento, bem como dos midrashim de seu povo. Vimos que cada uma das chamadas “bem-aventuranças” tinham raízes nas Escrituras Sagradas e continuaremos nesse estudo, entendendo seus ensinos, para que possamos melhor praticar os mandamentos de HaShem, a fim de sermos súditos do reino do Eterno.
Vamos então, a mais alguns versos do texto do Evangelho segundo escreveu Mateus.
"Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês". "Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.” Mateus 5:11-16
O início desse trecho é uma continuação das “bem-aventuranças”, no entanto, aqui Yeshua acrescenta o fato das pessoas serem perseguidas por causa dele, fazendo um resumo do que tinha dito antes para mostrar que os que passarem pelas situações mencionadas anteriormente por causa dele devem ficar alegres, por causa da recompensa que o Eterno dará aos fiéis.
“… grande é a recompensa de vocês nos céus...” o que isso quer dizer?
Para muitas pessoas esse trecho está mesmo falando em céus, ou seja, em receber a recompensa do Eterno lá no céu. No entanto, essa parte do verso 12, está enquadrada no tipo de informação que aparece em textos proféticos, conforme explicamos no último estudo, sobre o termo “Reino do Céu” ou reino de D’us. O termo que Yeshua usa é fundamentado em dois textos do livro de Daniel, veja:
"Na época desses reis, o Deus dos céus estabelecerá um reino que jamais será destruído e que nunca será dominado por nenhum outro povo. Destruirá todos esses reinos e os exterminará, mas esse reino durará para sempre.” Dn 2:44
“A ele foram dados autoridade, glória e reino; todos os povos, nações e homens de todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído.” Dn 7:14
Note que os versos falam do Reino que o D’us dos céus implantará, um reino na terra que não terá fim, por isso é chamado de Reino de D’us ou Reino dos céus, pois o reino vem de D’us ou dos céus onde é entendido que seja a habitação do Eterno. Não é um reino que será no céu, mas que vem do céu. Ou seja, quando o texto profético estiver se referindo a céu, estará na verdade fazendo menção ao reino. Assim, a compreensão correta desse verso é que “...grande é a recompensa de vocês no reino...”.
O Sal da Terra
Na continuação, Yeshua vai complementar o entendimento a respeito do reino e de pertencer ao reino usando outro termo muito conhecido pelos judeus da época. Ele fala sobre um elemento utilizado em algumas ofertas que eram oferecidas no templo, cujas ordenanças estavam prescritas na Torá, ele fala do sal. Veja o verso:
"Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens.” Mateus 5:13
Qual o entendimento verdadeiro de “sal” nesse contexto, ao qual Yeshua está discursando? O que ele quis dizer com ser sal da terra?
Vamos procurar nas Escrituras Sagradas esse entendimento.
Há um termo que aparece três vezes no TaNaK, “o pacto de sal” ou “aliança de sal”.
A Primeira ocorrência desse termo é no livro de Vayicrá/Levítico:
“Tempere com sal todas as suas ofertas de cereal. Não exclua de suas ofertas de cereal o sal da aliança do seu D’us; acrescente sal a todas as suas ofertas.” Levítico 2:13
Observe que as ofertas deviam ser temperadas com sal, que é identificado como o sal da aliança. E aliança é o pacto do Eterno com os que pertencem ao seu reino.
A Segunda ocorrência é em Bamidbar/Números:
“Todas as ofertas alçadas das coisas santas, que os filhos de Israel oferecerem ao Eterno, tenho dado a ti, e a teus filhos e a tuas filhas contigo, por estatuto perpétuo; aliança perpétua de sal perante o Senhor é, para ti e para a tua descendência contigo.” Números 18:19
Podemos perceber que este verso é uma referência ao estabelecimento do Sacerdócio Aarônico, e é um apontamento profético para o sacerdócio do messias e de seus seguidores.
E ainda a terceira ocorrência está no Segundo Livro das Crônicas dos Reis de Israel:
“Porventura não vos convém saber que o Eterno D’us de Israel deu para sempre a Davi a soberania sobre Israel, a ele e a seus filhos, por um pacto de sal?” 2 Crônicas 13:5
Note que este verso é uma referência ao estabelecimento da dinastia davídica, ou seja, está apontando para reino, e também um apontamento profético para o reinado do Eterno através de seu Messias, descendente da raiz de David.
Agora, antes de continuarmos a investigar o contexto profético de sal no contexto desse ensino de Yeshua devemos fazer uma pergunta: Qual o significado da aliança ou pacto de sal?
A origem desses termos remonta ao período da tabernáculo, e muitos estudiosos judeus entendem que a relevância reside além das funções do sal nas refeições. O que nos faz entender que Yeshua considerou muito mais que o mero sentido de dar sabor e conservar, mas o que essas características têm em si como apontamento para o reino do Eterno. Vejamos:
Aliança de Sal
De acordo com estudiosos, esta é uma frase que indica um acordo de mão dupla, cuja inviolabilidade era simbolizada pelo sal. Um ditado do Oriente Médio, “Há pão e sal entre nós”, que significa um relacionamento confirmado ao compartilhar uma refeição. O sal simboliza a vida e a natureza duradoura da aliança. Por isso, na Torá o sal aparece na relação entre o Eterno e o povo de Israel por meio dos corbanot (ofertas), conforme Lv 2:13 mencionado anteriormente. Segundo a Enciclopédia Baker da Bíblia, o sal também é um agente purificador e conservante na oferta de cereais, o sal simboliza a natureza indissolúvel da aliança entre o Eterno e Israel.
Como o sal era considerado um ingrediente necessário na refeição diária, e em todos os sacrifícios oferecidos a D’us, de acordo com o que vimos em Levítico 2:13, tornou-se clara a conexão entre o sal e a aliança. Quando os homens comem juntos, eles se tornam amigos. Note que as expressões “Há sal entre nós” ou “Ele comeu do meu sal” significam compartilhar a hospitalidade que foi confirmada por uma amizade, como vemos em Gn 14:18 quando Melktsedek comeu pão e vinho com Avraham, e é costume se colocar um pouco de sal no pão, esse é o significado do ditado.
Alianças ou pactos eram geralmente confirmados por refeições sacrificiais e o sal estava presente, como vimos. E como o sal é um excelente conservante, se tornou facilmente o apontamento para um pacto ou aliança duradoura.
Tendo em vista as concepções obtidas nos textos anteriormente mencionados, podemos ainda observar o que Yeshua fala em Mc 9:49 e 50 que diz:
“Cada um será salgado com fogo. E cada sacrifício será salgado com sal. O sal é bom, mas se deixar de salgar, como restaurar o seu sabor? Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros.”
Veja como esse trecho está ligado com o que estamos estudando, fazendo conexão com os versos antes mencionados e ainda ligando com Ez 43:24, que diz:
“E traze-o diante do Eterno; e os sacerdotes lancem sal sobre ele, e os ofereçam em holocausto ao Eterno.”
Assim, como vimos até aqui, quando observamos o termo sal, o entendimento que deve ser extraído é que as coisas que o Eterno aborda são eternas, duradouras, nunca mudando e permanecendo para sempre, como a Aliança e seu Reino. Todos os pactos de sal são eternos e obrigatórios para os filhos de Israel, independente de onde eles estejam e se há templo físico ou não.
Por isso, quando Yeshua diz: "Vocês são o sal da terra...” O que ele está querendo dizer é que os discípulos e os que o seguem são aliançados com o Eterno e seu Reino, e notamos claramente o apontamento profético da ação do sal dos alimentos em relação aos servos do Eterno com o Reino, ou seja, purificar vidas e conservá-las no caminho da santificação, sendo um agente transformador no mundo.
A luz do mundo
No mesmo entendimento do verso anterior Yeshua agora fala sobre a luz, afirmando que os candidatos a súditos do reino devem ser luz do mundo.
"Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.” Mateus 5:14
Essa afirmação de Yeshua está ligada com a anterior, pois assim como os talmidim deveriam ser sal, e isso representa ser aqueles que fazendo parte do reino de D’us deveriam temperar as ofertas, ou seja, as pessoas para o Eterno, ser luz significaria o mesmo que ser alguém que leva a Torá, que é luz, para as pessoas.
Em todo o TaNaK a luz faz referência à palavra do Eterno que ilumina a vida das pessoas, a luz é que ilumina o caminho, ou seja revela a Torá para pessoas. O caminho são as práticas de justiça dos servos do Eterno. Veja alguns textos;
“Disse o Eterno: Haja luz, e houve luz. D’us viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas.” Gn 1:2 e 4
Profeticamente este texto aponta para a Torá do Eterno, sendo criada.
“Por que se dá luz aos infelizes, e vida aos de alma amargurada,” Jó 3:20
“O que você decidir se fará, e a luz brilhará em seus caminhos.” Jó 22:28
“Muitos perguntam: quem nos fará desfrutar o bem? Faze, ó Eterno, resplandecer sobre nós a luz do teu rosto! Sl 4:6
“O Eterno é a minha luz e a minha salvação; de quem terei temor? O Eterno é o meu forte refúgio; de quem terei medo?” Sl 27:1
“Pois em ti está a fonte da vida; graças à tua luz, vemos a luz.” Sl 36:9
“A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho.” Sl 119:105
“A luz dos justos resplandece esplendidamente, mas a lâmpada dos ímpios apaga-se.” Pv 13:9
Todos esses textos mostram de onde Yeshua tira o entendimento, isso sem falar dos profetas, como Isaías:
“Venha, ó descendência de Jacó, andemos na luz do Eterno!” Is 2:5
“Respondam: À lei e aos mandamentos! Se eles não falarem conforme esta palavra, vocês jamais verão a luz” Is 8:20
Mas a frase de Yeshua dizia que a luz não poderia ser escondida sobre um monte. Porque ele falou isso?
Monte é um apontamento profético para o povo do Eterno, pois é onde ele se manifesta, é onde a cidade santa está estabelecida, em resumo é onde o povo de D’us estará. A luz não pode ser escondida sobre um monte porque ao longe se pode ver uma luz que está no alto de um monte. Isso significa que o povo do Eterno não deve deixar de mostrar sua luz. Ela é vista a cada momento por pessoas que estão até longe, e não devemos tentar impedir. O povo do Eterno como monte precisa fazer a luz ser visível.
Assim, vimos neste estudo a continuação dos ensinamentos de Yeshua no Monte, sobre como os servos do Eterno, que desejam fazer parte do Reino devem viver, bem como também as consequências de ser desse reino e as suas obrigações para com as pessoas deste mundo. Diferentemente do que muitas vezes somos ensinados o mestre sempre tirava seus ensinos das Escrituras Sagradas.
Estude as Escrituras corretamente, afaste-se dos dogmas e entenderá corretamente os princípios bíblicos.
Que o Eterno lhes abençoe! Até o próximo.
Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)
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