Estudos da Torá
Parashá nº 51 e 52 - Nitsavím (De pé)/Vaiêlech (E ele vai/ Ele foi)
Devarim/Deuteronômio Dt 29:9-30:20 e Dt 31:1-30
Haftará (Separação) Is 61:10-63:9; Os 14:2-10, Jl 2:11-27 e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 16:1-17:22; e Jo 18:1-19:42.
1 - INTRODUÇÃO
Essa semana estudaremos duas porções, e estarão faltando agora duas parashot (porções) para terminar o ciclo de estudo da Torá desse ano. E nessa porção, a Nitsavím, Moshê continua suas orientações ao povo, e lembra ao povo a Aliança que o Eterno fez com eles. Podemos aprender muito ao estudar essa porção.
2 - ESTUDO DAS PALAVRAS
Para iniciar o estudo dessa porção quero trazer um comentário das seleções do Midrash do site Chabad, que relembra acerca da parashá passada, que Moshê advertiu os israelitas sobre os diferentes castigos que receberiam se pecassem. O texto afirma que a nação tremeu de medo, e se perguntaram como sobreviveriam a tantos sofrimentos, pensaram que pereceriam como nação. No entanto, Moshê viu seus semblantes transtornados de pânico e os consolou com as palavras dessa porção dizendo: “Não temam! A nação sobreviverá neste mundo e no olam habá (mundo vindouro). As demais nações sofrerão menos neste mundo, mas serão destruídas por causa de sua perversidade.”
Com isso, o Midrash ensina que, segundo o site, “às vezes, o dia começa escuro e nublado. Então, o sol surge dentre as nuvens, aquecendo e iluminando. Similarmente, por vezes, sua vida pode parecer difícil. Porém, sempre pode almejar à duradoura felicidade do olam habá (mundo vindouro).”
Vejamos então o que o texto nos diz:
“Vós todos estais hoje perante o Eterno, vosso D’us; os cabeças de vossas tribos, vossos anciãos, os vossos oficiais, todo o homem de Israel.”(Dt 29:9)
Esta é uma renovação do pacto ou aliança, antes do povo entrar na terra prometida, e de acordo com o que Moshê fala, todos estão incluídos, assim como aquelas pessoas pertencentes a outras nações, que tinham saído do Egito e que não tinham nascido dentro povo de Israel, conforme lemos em Êxodo 12:38a.
“E subiu também com eles uma mistura de gente,”
Vemos então, que todos estão de pé diante do Eterno, ou seja, que mesmo em meio a tantas lutas eles estavam vencendo. Mas não era apenas o povo de Israel, outros também estavam vencendo, por estarem juntos com Israel, por crerem no Deus de Israel e principalmente, por participarem da aliança de D’us com Israel. Acerca dessas pessoas, veja o que diz no verso 10:
“as vossas crianças, as vossas mulheres e o peregrino que está no meio de teus acampamentos, desde o rachador de tua lenha até o tirador da tua água,”
Neste verso temos “até o tirador de tua água”, veja o que o comentário da Torá diz sobre isso:
“Nesta parashá, deparamos com um magno e imponente quadro: todo o povo reunido, dede os altos dignitários, anciãos e policiais, até os rachadores de lenha e tiradores de água. Até mesmo as mulheres e as crianças, todo o povo de Israel, pois, perante D’us, todos são iguais. A união de um povo sem distribuição de classe mostra a solidariedade dos indivíduos que o compõem, e esta é uma das condições de sua existência, pois o povo não é uma aglomeração de células, mas um organismo com vida própria, que possui como ser uma alma própria e é com este espírito que Moisés reuniu a todos, sem nenhuma exceção. Cada pessoa tem um objetivo em sua própria existência e forma uma parte da comunidade. Foi esta solidariedade que converteu o povo israelita em povo imortal. “Vós todos estais hoje presentes!” (atém nitsavim haiom culchem). Quantos povos não estão mais, enquanto vós o estareis para sempre, desde que sejais solidários uns com os outros e reconhecerdes a aliança que o Eterno, vosso D’us, faz convosco. Este é o espírito do qualificativo “povo eleito”. A aspiração do povo judeu e da sua Torá é “instaurar no mundo o reino do Eterno”. Sua ideia central é conseguir a fraternidade e a igualdade entre os povos do mundo; mas isto não foi conseguido ainda e, por isso, pedimos três vezes por dia: “Por tudo isto esperamos de Ti, ó Eterno, nosso D’us, poder ver logo a glória do Teu poderio, varrendo as abominações da Terra, destruindo a idolatria e aperfeiçoando o mundo debaixo da soberania do Onipotente. Todas as criaturas invocarão Teu nome e todos os malvados da terra voltarão a Ti. Saibam e entendam todos os habitantes que existem no mundo, que todos os joelhos se dobrarão diante de ti e toda língua jurará a Ti obediência.” (Torá, Ed Sefer, Pag 590 e 591)
Podemos aprender com esse comentário que, para o povo de Israel seja realmente reconhecido como povo eleito deve viver segundo alguns preceitos. E estes estão baseados no princípio da solidariedade, igualdade e amor, o que em resumo é amor ao próximo. Ou seja, no meio do povo de Israel estavam, como disse acima, pessoas de outras nações, que ao se converterem ao Eterno e aprenderem de suas leis deveriam ser tratados exatamente um igual. Esse é o princípio desse ensinamento. E foi sobre isso que Yeshua falou ao dizer em Mt 19:16-22 e também e Mc 12:28-34. Leia esses textos e compare, perceba que o Eterno estabeleceu um princípio, e este é que o amar a D’us acima de tudo e ao próximo como a si mesmo é melhor do que sacrifícios e ofertas, mas veja que no verso 34 de Mc 12, Yeshua deixa uma reticência para aquele homem ao dizer-lhe, “você não está longe do Reino de D’us”. Ou seja, mostrou que para realmente ser do Reino tem que pôr em prática, pois conhecer ele já conhecia.
E tem mais, essa promessa divina e exigência de ser povo eleito, de acordo com os versos 13 e 14, inclui também aqueles que nem ainda tinham nascido, que podemos comparar com o que Yeshua disse em sua oração em Jo 17:20-21.
“Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.”
Com isso, verificamos e aprendemos que, como enxertados no povo de Israel através de Yeshua, o Eterno espera de nós o mesmo que esperou e espera de Israel. A solidadriedade e o amor devem ser marcas e o testemunho de vida de quem serve a Adonai.
Que possamos viver o amor que a Torá recomenda e espera de nós e que Yeshua ampliou o entendimento em seu ministério. Que sejamos instrumentos de restauração nas vidas das pessoas, e para o mundo, conforme o que disse o comentarista da Torá acima. E além de tudo, que nossa vida seja um testemunho vivo do amor do Eterno, através de Yeshua que nasceu com um propósito, restaurar o mundo caído e necessitado de Deus.
No estudo da parashá Vaielech estudaremos mais uma parte do discurso de Moshê antes de sua morte. Essa porção têm apenas um capítulo, mas carrega um aprendizado profundo para nossas vidas, principalmente em relação ao Messias.
Primeiramente, vejamos o termo do nome da porção. Como temos dito, e ocorre sempre no texto em hebraico, a primeira palavra do texto é "וַיֵּלֶךְ" “vaielech”, e significa literalmente “e foi”. Repare que o texto diz:
“E foi Moisés, e falou estas palavras a todo o Israel.”
A tradição judaica diz que Moshê em seu último dia de vida, que é justamente neste texto que estamos estudando, saiu do acampamento dos levitas, onde vivia, “e foi” ao acampamento onde ficavam as outras tribos para se despedir dos Israelitas e também consolá-los devido ao seu falecimento iminente. O autor do site “Chabad” diz que: “a humildade de Moshê era tão magnificente que ele considerava seu dever pessoal despedir-se do povo naquele momento.” Talvez, por isso a Torá nos traga essa palavra nessa porção.
No verso 2 lemos:
“E disse-lhes: Hoje completo cento e vinte anos de idade; já não poderei mais sair e entrar; e o Eterno me disse: “Não passarás este Jordão.””
Agora, examinemos nesse verso o significado de “já não poderei sair e entrar” no texto.
O comentário da Torá diz que, com estas palavras, Moshê queria dizer que não tinha mais permissão de ensinar ao povo, e que ele devia, por ordem de HaShem, ceder o seu lugar a Yehoshúa (Josué). De acordo com outra versão, a de Rashi, tendo completado os seus cento e vinte anos, Moshê sentia que lhe faltava aquele vigor intelectual para ensinar ao povo a palavra de D’us. Não podendo mais “sair e entrar” (nos caminhos da ciência sagrada), Moshê deveria ceder seu lugar a outro. Quanto ao vigor físico, este nunca lhe faltou, segundo lemos mais adiante em Dt 34:7.
Também podemos entender que Moshê manifesta a sua tristeza por não poder passar o Jordão. A sua jornada tinha se acabado, e aproximava-se o momento de sua morte. Por isso, primeiramente despede-se do povo, conforme podemos ler nos versos 1-6, depois apresenta-lhes Yehoshúa (Josué), o que seria à partir de então, seu sucessor, conforme lemos nos versos 7-8).
Moshê estaria passando a liderança, e isso é muito significativo para todos os que crêem em Yeshua como o Mashiach, vejamos o porquê disso.
Já mencionamos em uma outra porção da Torá a respeito da troca, por Moshê, do nome daquele veio a ser conhecido como Josué ou Yehoshúa em hebraico, mas foi bem resumido. Vejamos algo mais agora. O nome dele era Oshêa (Oséias) Nm 13:8 e 16, e significa “Salvação”, enquanto seu novo nome Yehoshúa, significa “o Eterno salva ou D’us salva”.
Agora repare, que assim como contraímos o nome “Carolina” para “Carol”, o nome Yehoshúa também pode ser contraído para Yeshua. E na verdade foi isso que aconteceu, durante a estadia do povo em terras babilônicas/persas durante seu exílio.
O nome do messias de Israel é Yeshua, que tem o mesmo significado de Yehoshúa, ou seja, “o Eterno salva”. O nome do messias não foi definido ou escolhido por Yosef (José) ou Miryam (Maria), mas foi dado pelo próprio Eterno, que enviou um anjo para o anunciar a Yosef, de acordo com o que podemos ler em Mt 1:20-21.
“Yosef [José], filho de David, não tenha medo de receber Miryam [Maria] em sua casa como mulher, pois o que foi gerado nela procede da Ruach HaKodesh [espírito de santidade ou Espírito Santo]. Ela dará à luz um filho, e você lhe chamará YESHUA, porque ele salvará seu povo dos pecados dele.”
Repare que o mensageiro de HaShem ao citar o nome, já contendo seu significado intrínseco, já dá o porquê dele. “...Yeshua, porque ele salvará...”. Assim, podemos entender o motivo de Moshê ter mudado o nome de Oshêa para Yehoshúa. O Eterno provavelmente o motivou a isso, pois quando Yehoshúa entrasse na terra prometida com o povo, tendo o nome de Oshêa (salvação), alguém poderia dizer que foi ele que os salvou. Daí trocando o nome, pelo significado, aponta para o fato de que “o Eterno salva”, assim quem os salvou e deu a vitória de entrar na terra fora o Eterno. Concluímos então, que pelo fato de Yeshua e Yehoshúa serem o mesmo nome e significando a mesma coisa, isso já apontava para o Mashiach que salvará o seu povo e o fará ocupar a terra prometida na sua totalidade, o que Josué, o tipo de Yeshua Hamashiach, o fez parcialmente.
Algumas pessoas na internet tem o costume de dizer que o nome do messias não seria Yeshua, e para isso dão muitas explicações mirabolantes, através de muitas teorias. Entretanto, o nome Yeshua está em alguns escritos como, os ketuvim netsarim, o manuscrito siríaco kuretoriano do século II, a peshita do século IV, o peshito do século V, nos manuscritos de Manser do século 16, no manuscrito hebraico de Shentor e Nutier, todos estes utilizam o nome Yeshua. Porém, acima de tudo, encontramos o nome Yeshua em diversos códigos na Torá em hebraico.
Sejam fortes e corajosos
No decorrer desta porção vemos Moshê instruindo o povo a serem “fortes e corajosos”. Isso é um encorajamento para que o temor seja destruído pela certeza de que o Eterno estaria com eles. E esse encorajamento de Moshê pode servir como um princípio para nossas vidas, pois se tivermos confiança da presença de D’us conosco seguiremos sempre em frente. E podemos ver essa certeza nas palavras do Salmo 23:4a.
“ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo.”
A palavra hebraica que foi traduzida é חִזְקוּ “chizeq” uma variação da palavra “chazak” que significa “forte, firme, duro ou poderoso”. A firmeza é uma força de resistência interior que permite ao homem não desanimar e ficar para trás nos momentos de crise. Essa força ou firmeza é necessária para possibilitar cumprir os mandamentos nos momentos de adversidades. Quando ocorre tentações em que possamos nos sentir desanimados, é necessário manter a firmeza para poder seguir em frente e ver a mão poderosa do Eterno. Veja como o Rabino Sha’ul (apóstolo Paulo) fala sobre isso em 1Co 15:58:
“Portanto, meus amados irmãos, sejam firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Eterno, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.”
Confira também em Ef 6:10-18; Mt 10:22; 24:13; Mc 13:13; e Hb 10:35-39.
Agora, o contrário de ter força ou firmeza é recuar e retroceder. O que retrocede, perde sua vida, confira o que Yeshua diz em Lc 9:62:
“Mas Yeshua lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Elohim.
É necessário que sejamos fortes e corajosos, ou seja, que mantenhamos a confiança o Eterno e mesmo em face de dificuldades tenhamos coragem de seguir em frente.
A leitura da Torá
No verso 9 inicia uma instrução sobre a leitura da Torá ao final de cada sete anos, no ano de “Shemitah”, durante a festa de Sucot (tabernáculos). E no contexto desse verso, a Torá nos mostra que Moshê foi quem a escreveu. E o comentário da Torá da Editora Sefer diz que, “esta Lei” quer dizer: desde o Gênesis até o fim do Pentateuco, que Moshê lhes entregou, antes da sua morte. Entretanto, “esta Lei” do verso 11 significa uma parte do Deuteronômio, segundo Rashi.
O comentário ainda fala sobre o verso 11, que este mandamento de ler a Torá cabia ao rei de Israel. Em Chol Hamoed Sucot (medianos da festa de tabernáculos), no começo do primeiro ano da Shemitah (ano sabático), tocavam-se trombetas em Yerushalayim para reunir o povo. Todos deveriam comparecer, homens, mulheres e crianças. E era erguida uma plataforma de madeira no ezrat nashim (átrio feminino) do Bet Hamikdash, onde o rei se senta.
É tempo de sair e gastar o que recebeu
Estamos quase encerrando o estudo da Torá desse ano, estão faltando duas porções, e durante esse tempo aprendemos muitas coisas sobre o Eterno, sobre seu povo, sobre o Messias, mas também aprendemos a como viver e como fazer parte do povo do Eterno. Aprendemos que devemos sair e praticar o que aprendemos. De acordo com o que lemos em Tg 2:8:
“Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: “Ame o seu próximo como a si mesmo”, estarão agindo corretamente.”
E também conforme está escrito em Tg 1:22:
“Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos.”
De nada nos adiantará sabermos da Torá, e do que ela ensina, mas não vivenciarmos o que aprendemos.
Está na hora de sairmos a campo e descarregarmos o nosso aprendizado, levando a teshuvah e a palavra do Eterno pelos ensinos do Messias a todas as pessoas, pois esse é o objetivo final de todo aprendizado da Torá.
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