Estudos da Torá
Parashá nº 28 – Metsorá (Afligida)
Vayicrá/Levítico Lv 14:1-15:33,
Haftará (Separação) 2Rs 7:3-20; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Mt 9:20-26; Mc 5:24-34 e Hb 13:4
Tema: Buscando santificação como Yeshua
RELEMBRANDO
Na semana passada falamos sobre as impurezas do ser humano em suas diversas formas e o meio de purificação. E vimos como a justiça do messias Yeshua pode fazer a diferença e trazer a purificação. Essa semana a porção da Torá continua falando sobre purificação da tsaraát, e do fluxo do homem e da mulher, por isso, trataremos do assunto da santificação, que anda junto com a purificação.
A PARASHÁ DA SEMANA
No resumo da Parashá Metsorá, vemos que essa porção continua a discussão de tsaraat, detalhando o processo de purificação de três partes da metsorá, ministrada por um cohen, completa com imersões, Corbanot, e a raspagem de todo o corpo. Após uma demorada descrição da tsaraat em casas e a ordem de demolir toda a residência caso a doença tenha se espalhado, o capítulo final da porção discute várias categorias de emissões humanas naturais, que tornam uma pessoa impura em graus variáveis.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Metsorá é uma palavra de origem hebraica que significa literalmente afligida, mas leva ao entendimento de “aquele que tem a praga de tsaraát”, que conforme mencionamos na parashá passada, muitos traduzem erradamente como lepra, por isso metsorá também pode ser encontrado como leproso.
De acordo com o que temos estudado aqui, vimos que o Eterno estabeleceu a sua morada entre os filhos de Yisrael, e que sua verdadeira intenção é habitar dentro dos filhos de Yisrael. Como sua presença é santa exige que estes filhos vivam uma vida santa. O santuário terreno, o Mishkan, que é um apontamento para o nosso corpo, pode ser contaminado pelas impurezas rituais dos filhos de Yisrael, e para evitar, eles precisam conhecer todas as normas acerca daquilo que produz impureza e como se ver livre disso, conforme vimos na semana passada.
Por esse motivo, nos capítulos 11 até ao 15 de Levítico, a Torá desenvolve um ensino profundo relativamente à impureza ritual, e a forma de se purificar, o que permite, dessa forma, o povo poderá viver num acampamento onde habita a presença divina.
Vimos que no capítulo 11 fala-se da proibição de comer animais impuros. O tipo de impureza que é produzida através da alimentação não pode ser simplesmente eliminado através de rituais de meros banhos, mas de purificação verdadeira, pois é mais grave que o restante. Afinal, explicamos que o que comemos se torna um conosco, e assim, se comemos coisas impuras ou que não são alimentos nos tornamos impuros como eles. Portanto, dependentes de uma purificação mais profunda, que vem de dentro para fora, através de arrependimento e pela vida justa de Yeshua, mas também, para completar, pelo banho de purificação, como já ensinamos. Ao tocar nos cadáveres dos animais impuros produz-se a impureza ritual nos homens, mas esta impureza pode ser eliminada através de rituais de purificação. O capítulo 12 fala da impureza produzida na mulher por um parto. O capítulo 13 fala da impureza produzida pela praga tsaráat, traduzida como “lepra”. No capítulo 14 fala-se da purificação de tsaráat numa pessoa e como tratá-la. E no capítulo 15 a Torá ensina sobre a impureza ritual produzida pelos fluidos que vêm dos órgãos sexuais masculino e feminino.
Essas instruções, como já dissemos, foram dadas com o propósito de evitar que o tabernáculo fosse contaminado e o povo prejudicado pela santidade da presença divina que está no meio deles, tanto no deserto como na terra prometida. Todas essas regras têm a ver com a santidade relativamente à presença do Eterno entre o povo de Yisrael, no tabernáculo e no templo. Algumas destas regras são aplicáveis somente quando existia um santuário, como por exemplo, as que requerem sacrifícios. O que por si só já aponta para a vida justa de Yeshua ter sido tomada como sacrifício no lugar dos animais. Outras porém, destas regras são aplicáveis mesmo na ausência do santuário, como as de kashrut e as de nidá. Visto que não temos templo, e ao mesmo tempo nós somos o templo, não podemos guardar as leis que têm a ver com os sacrifícios, mas podemos guardar as leis de não comer animais imundos e a purificação do nosso corpo numa mikvé, ou de tevilá como vimos na semana passada também.
O povo de Yisrael, e todo aquele que se considera parte dele, sejam naturais ou enxertados, continuam a guardar estas instruções, pois continuam a ser um povo santo e seu corpo é o templo do Ruach HaKodesh, por isso precisam continuar a buscar a santificação.
Atualmente, vários grupos religiosos, especialmente os evangélicos, têm se desviado do caminho ensinado por Yeshua, por menosprezarem a Torá, que ensina a caminhar em santidade, e é por meio da qual o Eterno D’us revela a sua vontade, já que o pecado é a transgressão da Torá.
David H. Stern, um judeu que cria em Yeshua como Mashiach de Yisrael, certa vez, fez a seguinte citação:
“O Novo Testamento sem o Antigo é tão impossível quanto o segundo, como o pavimento de uma casa sem o primeiro, o Antigo sem o Novo é tal e qual como uma casa sem teto”.
De acordo com o estudo no site Emunah a fé dos santos, a santificação é a essência da Torá. Podemos ler na Epístola aos Hebreus 12:14 o seguinte:
"Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Eterno;"
O conceito de Santificação
Assim, perguntamos: O que é santificação?
Logicamente que é desviarmo-nos do pecado. Porém, como dissemos acima, o que é pecado?
Pecado é transgressão aos mandamentos, de acordo com o que vemos o apóstolo Yochanan descrever:
Todo aquele que continua a pecar transgride a Torá, de fato, o pecado é a transgressão da Torá. 1Jo 3:4
O contrário de pecador é aquele que busca santificação, que quer dizer separação. A palavra “kadosh” em hebraico significa santo. A santidade consiste em ser separado dos costumes e práticas dos demais povos que estão afastados do Eterno, e que por isso, desobedecem suas Leis. Santificação é dedicar-se ao Eterno em obediência à suas instruções (mandamentos e estatutos). É viver e agir diferente, demonstrando essa diferença nas práticas da vida cotidiana em seus mínimos detalhes.
Portanto, entendemos que sem a Torá jamais conheceríamos aquilo que é pecado, conforme lemos em Rm. 3:20.
Portanto, ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na obediência legalista da Torá, pois é mediante a Torá que nos tornamos plenamente conscientes do pecado. Romanos 3:20
A Torá, muitas vezes traduzidas por Lei, revela o pecado. Por isso, na instituição da Torá existem sacrifícios para perdão de pecados, que apontavam para Yeshua, que faria o sacrifício perfeito, através de sua vida justa de obediência, porque Ele é o Verdadeiro Cordeiro de D’us que tira o pecado do mundo. Quando pecamos, é a vida justa dele (o sangue derramado por Ele) que nos perdoa conforme lemos nos textos que vemos a baixo:
Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Yeshua Hamashiach, o justo. 1Jo 2:1
Que diremos então? A Torá é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Torá. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a Torá não dissesse: “Não cobiçarás.” Rm 7:7
O que santifica o homem
A palavra Torá significa instrução, direção, ensino, doutrina, lei do Eterno; e é a instrução que consta nos cinco primeiros livros da Bíblia e que constituem o texto central da fé israelita. Os livros históricos, poéticos e proféticos, bem como os escritos apostólicos, isto é, toda a Bíblia, mostram a aplicação da Torá na vida do ser humano. Podemos dizer que a Torah é o contrato de casamento, a aliança firmada, entre D’us e o Povo de Yisrael, no Monte Sinai, e traz duas mensagens paralelas, a mensagem nacional para o Povo de Yisrael e a mensagem Universal que através do povo israelita deveria ser espalhada pelo mundo. Como nos diz a Palavra, a mensagem que se espalhou pelo mundo, foi o testemunho de Yeshua, conforme lemos em Mateus 24:14 e João 4:22, que nos exorta ao arrependimento, e que nos leva diretamente a aprender sobre aquilo que hoje chamam de Antigo Testamento, cujo um dos nomes verdadeiros é TaNaK.
Sendo assim, de acordo com o já mencionado site, a Torá possui uma ambivalência, visto que ensina a nos afastar de tudo aquilo que é contra à vontade do Eterno, ou seja, a nos santificar, nos separar para HaShem, e por outro lado ensina-nos a dedicarmo-nos a Ele a nossa vida através da obediência.
A santidade deve ser aplicada não apenas na fé, mas também nos valores morais em sua vida diária. Na fé, devemos negar todo o tipo de idolatria e adorar apenas o Único D’us Verdadeiro, o Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, o D’us de Avraham, Yitschak e Yaakov, o Pai do nosso Senhor Yeshua, o Todo-Poderoso. Da mesma forma, em relação aos valores morais e práticas diárias, é nosso dever resistir aos impulsos egoístas, aos maus pensamentos, às ações erradas; à tentação, e a valorizar e respeitar o ser humano, dado que este é feito à imagem e semelhança de D’us.
Por isso a Torá foi dada a Yisrael com dois propósitos, fé e adoração a D’us, e o propósito moral. E cada um deles é por sua vez dividido em dois, confirmando a dualidade, ou seja, o lícito e o ilícito, o positivo e o negativo. E santidade é o elemento comum a ambos, o lícito leva-nos à aproximação da santidade, o ilícito ao afastamento, e aí a diferença entre as chamadas leis religiosas e leis morais desaparece, pois combinam-se num ensino singular, que é a educação ou instrução para a santidade que o Eterno apresenta ao Povo de Yisrael.
Com isso, devemos entender que os preceitos positivos, que nos levam à santidade, foram dados para motivar o desenvolvimento de virtudes e de todas as coisas que poderiam ser capazes de promover as qualidades que formam o intelecto humano com princípios éticos. Já os preceitos negativos foram criados para combater vícios e toda a nossa má inclinação que nos afasta de Deus nos afastando da santificação.
O sistema de sacrifícios instaurado quando a Torá foi dada, tinha como propósito levar o pecador a reconhecer o seu erro, e humilhar-se diante de D’us, e esses sacrifícios também possuíam uma lição moral importante, pois representavam a santidade à qual o pecador se devia aproximar na sua vida pessoal e na sociedade. Por isso sempre dizemos que os sacrifícios eram apontamentos para a vida justa de Yeshua, assim como para a dos nazarenos. Dessa forma, devemos reconhecer que somos pecadores, arrependermo-nos por isso, e trilhar o caminho de transformação ou santificação, sem a qual, segundo o apóstolo Yochanan, ninguém verá a Deus.
E assim, a Torá está nos mostrando, através de várias instruções a respeito da santificação, que devemos entender a santidade como um dos pontos centrais das Festas Bíblicas, começando em especial pelo sétimo dia da semana como um Dia Santificado, um dia de descanso, o Shabat. Assim como cada um dos demais dias de festa que são também um dia santo de descanso. Nesses dias nos preparamos, nos separamos e nos dedicamos, ou seja, buscamos a santidade para nos encontrar com o Eterno. Lembremos que cada dia de festa é literalmente um encontro marcado com o Eterno, por isso nos santificamos e preparamos tudo para tal encontro.
As leis constantes na Torah surgiram desde o início, como um elemento de igualdade social, sendo pobres e ricos, nobres e plebeus, nativos e estrangeiros, todos iguais perante o Eterno, e os seus direitos inseparáveis da figura humana. Demonstrando que a santidade é necessária a todos. O conceito de Santidade deveria ser complementado por condutas morais a nível pessoal e familiar, como por exemplo, a proibição de relações incestuosas, sodomia e relações com animais, controle de desejos e de luxuria. Podemos assim, compreender a frase “não vos deixeis levar pelos vossos olhos”. E também nos leva a prática da castidade em pensamento, em palavra e em ações.
O mandamento de Santidade está claramente definido em Lev 19:2:
“e sereis santos, porque Eu, Eterno, vosso D’us, sou Santo”.
Pelo que aprendemos com a própria Torá, a santidade divina é o contexto dentro do qual devemos tentar formar e construir a santidade humana, ou seja, nossa santidade. No Eterno, a santificação está claramente definida e apresentada, pois Ele está separado, como ser Divino, de elementos naturais ou constituição física, sendo então, onipresente e independente de tudo que existe. Sua atividade e seus atos estão sempre de acordo com o seu caráter.
Em Êxodo 34:6 e 7 temos uma lista bem definida dos atributos morais do Eterno, que constituem basicamente, a Santidade de Deus.
E passou diante de Moshê, proclamando: "Senhor, Senhor, D’us compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade, que mantém o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado. Contudo, não deixa de punir o culpado; castiga os filhos e os netos pelo pecado de seus pais, até a terceira e a quarta gerações". Êxodo 34:6,7
Perceba que nenhum deles trata especificamente da essência divina, mas sim da relação entre D’us e os seres humanos. Aqui podemos falar também de justiça e retidão. Encontramos a justiça no fato de o Eterno ser intolerante com o mal e no seu castigo pelos pecados.
A Torá coloca então, diante dos homens um sistema de castigos que varia de acordo com a gravidade das ofensas e, o que é muito importante, com a intenção que foi cometida essa ofensa, sendo premeditada ou não, proposital ou acidental, sendo este elemento um dos pilares básicos da maioria dos códigos civis de hoje, no mundo civilizado. Essa justiça promete recompensas, ou seja, bênçãos temporais, nacionais e atemporais também, através da obediência da Lei. Isto quer dizer que todos que buscam obedecer a Torá, se santificando através dela, recebem as bênçãos da obediência.
Vejam: eu apresento a vocês hoje, por um lado, a vida e o bem: e por outro lado, a morte e o mal, eu ordeno hoje a vocês que amem o Eterno, seu D’us, sigam seus caminhos e obedeçam aos seus mandamentos, aos regulamentos e às regras: pois, se vocês fizerem isso, viverão e aumentarão em número, e o Eterno, seu D’us, os abençoará na terra em que estão entrando a fim de tomar posse dela. Dt 30:15 e 16
Os meios para reforçar a supremacia do desejo e intenção do Eterno, são expressos claramente na Torá. O Eterno deseja formar o nosso coração, incluindo todos os detalhes da vida individual e da comunidade, numa relação de serviço ou culto. Yisrael estava destinada pelo Eterno para ficar separada dos contatos que poderiam contaminar essa nação, evitando os relacionamentos com os povos vizinhos, suas culturas e especialmente os seus cultos idólatras. Porém, a missão de Yisrael como povo de sacerdotes era que eles deveriam levar para toda a humanidade. Essa missão deveria ser levada a cabo por homens que tinham passado séculos de dominação e cativeiro, que saíram de uma civilização que tinha os mais tremendos vícios e sua base era a opressão de seres humanos da forma mais degradante possível. Ser Luz para as nações era uma mensagem que deveria ser carregada não para alguns poucos escolhidos, ou super santos, ou visionários, era uma tocha que deveria ser levada ao mundo inteiro, às massas mais afastadas, aos homens comuns de todas as nações...
Yisrael tinha que estar separado do mundo, mas formando parte desse mesmo mundo. Tinha de se manter diferente, e ao mesmo tempo dedicar todo o seu esforço à todas as nações, elevando a vida humana a níveis mais elevados na sua existência através da santificação pela obediência. Não seria, assim como não é hoje, uma tarefa fácil.
No entanto, Yeshua nos ensinou de forma clara como agir da forma que o Eterno deseja, vemos isso através de seus ensinos no Sermão do Monte (Mt 5-7). E essa obrigação mencionada na Torá e demonstrada por Yeshua em todos os seus ensinos, está colocada sobre os ombros desse pequeno povo, composto por judeus natos e enxertados.
Porque D’us os escolheu para servi-lo em santidade, e porque a existência desse povo só tem um significado levar a palavra à humanidade, pois para isso foram chamados. Este era, e é ainda hoje, o significado da Aliança entre o Povo de Yisrael e o Eterno, no Monte Sinai, e foi assim que esse povo começou o seu caminho para se transformar numa nação, com o privilégio, único na historia, de ter um código de Leis, especial e diferente, ainda antes do nascimento dessa nação. Louvado Seja o Seu Nome.
Vemos então que a Santificação está relacionada com o nosso caminhar em santidade, isto é, separados do pecado. Então, caminhar em santidade é caminhar de acordo com a vontade de D’us, da mesma forma que Yeshua, nosso mestre caminhou, desviando-se do pecado, e já dissemos o que é pecado.
Reflita ainda no seguinte: O amor é a base da Torá, mas entenda que: Aquele que diz que me ama, e não guarda os meus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.” 1Jo 2:4
Os mandamentos citados acima estão na Torá, na verdade são a Torá. Dizer que ama o Eterno e o serve, e não obedecer aos seus mandamentos te faz um mentiroso e isso nada tem com santificação. Sem santificação, ou seja, obediência à Torá, ninguém verá a D’us, conforme Hb 12:14. Por isso, ao aceitarmos o testemunho de Yeshua como messias e instrutor das palavras de HaShem, devemos caminhar como ele caminhou em tudo, buscando santificação. Atentando para a palavra que foi dada desde o princípio, a Torá de HaShem.
Vivamos todos os dias buscando santificação e nos separando deste mundo, enquanto passamos por ele ainda em carne, pois o dia vem, e estamos nos preparando para ele, em que nossa santificação nos renderá um corpo glorioso na presença do messias Yeshua e diante do Eterno.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr./Rav Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)