Estudos da Torá
Parashá nº 47 – Re’eh (Vejam)
Devarim/Deuteronômio 11:26 – 16:17
Haftará (separação) Is 54:11-55:5 e
B’rit Hadashah (Aliança Renovada) 1Co 5:9-13; 1Jo 4:1-6.
De onde vem o socorro? Você confia em quem?
Em algum momento da vida todos nós já fizemos a pergunta: “De onde virá o meu socorro?”. Seja diante de uma doença inesperada, de uma crise financeira, de uma perda dolorosa ou mesmo de uma decisão difícil que parecia maior que nossas forças. Nessas horas, o coração humano busca desesperadamente um ponto de apoio, uma fonte de segurança, um lugar onde descansar a confiança.
Mas há ainda outra grande e importante questão: onde colocamos essa confiança? Muitos buscam apoio em pessoas influentes, outros em bens materiais, alguns nas tradições familiares ou até mesmo em práticas religiosas desconectadas do verdadeiro Elohim de Yisrael. Devido à religião muitos buscam apoio em quem verdadeiramente não deveria. A verdade é que todos nós confiamos em algo, e essa escolha define o rumo da nossa vida.
Neste estudo, vamos percorrer a jornada proposta pela Parashá Re’eh, que nos convoca a destruir todo vestígio de idolatria de nossas vidas e centralizar nossa adoração apenas em HaShem e mais ninguém. A partir dela, traçaremos um paralelo com o clamor do salmista em Tehilim 121, a denúncia dos profetas contra os “lugares altos” e, por fim, o ensino de Yeshua e seus talmidim, que aprofundam o chamado à confiança verdadeira. Vem comigo, abra sua bíblia e seu coração, acompanhe até o final desse estudo.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
A parashá Re'eh (ראֵה) é a 47ª porção semanal da Torá e a 4ª do livro de Devarim (Deuteronômio). O nome "Re'eh" significa "Veja" e vem da primeira palavra do primeiro verso: "Vejam, Eu coloco diante de ti hoje a bênção e a maldição..." (Dt 11:26). Moshê começa a parashá com uma exortação fundamental: o povo de Yisrael deve escolher entre seguir os mandamentos de D’us, o que resultará em bênçãos, ou desobedecê-los, o que trará maldições. Ele detalha as bênçãos que virão se eles forem fiéis e as consequências negativas da desobediência.
Um dos temas centrais é a instrução para destruir todos os lugares de adoração idólatra e centralizar o culto ao Eterno em um único local que Ele escolheria no tempo adequado. Este "lugar que Ele escolherá", no contexto literal. é um eufemismo para o Templo Sagrado em Jerusalém, e profeticamente é a própria vida do servo de HaShem. Todas as ofertas, dízimos e sacrifícios deveriam ser levados para lá, e não para altares particulares.
A porção também estabelece as leis de cashrut (alimentação ritualmente pura), detalhando mais uma vez quais animais, aves e peixes são permitidos e quais são proibidos para consumo. Além disso, discute o sistema de dízimos (ma'aser), incluindo o dízimo da colheita e o dízimo do gado, que era usado para sustentar os levitas, os estrangeiros, os órfãos e as viúvas.
Moshê adverte severamente contra a idolatria e os falsos profetas que tentam desviar o povo do Eterno. Ele instrui o povo a não ter piedade de quem tentar seduzi-los a adorar outros deuses, mesmo que seja um parente próximo. A punição para tais atos era morte.
A parashá conclui com a revisão de uma série de leis sociais, como as leis sobre a anulação de dívidas a cada sete anos (shemitá), a liberação de escravos hebreus e a obrigação de ajudar os pobres. Por fim, são detalhadas as três festas de peregrinação: Pessach, Shavuot e Sucot, nas quais todo o povo deveria se reunir no Templo Sagrado. Em essência, a parashá Re'e é um chamado para a escolha consciente e a responsabilidade. Ela enfatiza que o relacionamento do povo com HaShem não é passivo, mas sim uma parceria ativa baseada na obediência aos Seus mandamentos.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
Nesta porção, Moshê apresenta ao povo uma escolha clara: bênção ou maldição. Essa escolha está diretamente ligada a quem o povo decide servir e como decide adorá-lo.
Um dos pontos centrais dessa porção está em Devarim 12:2:
Destruam todos os lugares onde as nações desalojadas por vocês serviram seus deuses, quer no alto das montanhas, quer nas colinas, quer sob alguma árvore frondosa.
O texto é literal e direto, pois o povo de Yisrael não poderia manter contato com os altares idólatras. Era preciso destruir cada vestígio do culto pagão, fosse ele nos montes, nas colinas ou sob árvores frondosas, símbolos ligados à fertilidade e à adoração de deuses estrangeiros. Mas destruir ali é muito mais que apenas acabar com os altares e lugares de culto.
O objetivo era claro, uma vez que o culto a HaShem não poderia ser misturado, adaptado ou dividido com outras práticas religiosas. Só havia um D’us, e Ele mesmo escolheria o lugar do Seu culto. Essa ordem não era apenas sobre geografia, mas sobre exclusividade. Somente o Eterno é a fonte verdadeira do socorro, é o Eterno quem salva, quem cura, quem chama, quem resgata. A seguir vamos compreender que nossa esperança deve estar somente no Eterno.
1. O socorro só vem do Eterno
Entendemos que o mandamento é observado e replicado no cotidiano dos justos no povo de Yisrael. O salmista nos convida a refletir sobre algo aparentemente comum em sua época:
Elevo os meus olhos para os montes; de onde virá o meu socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Tehilim 121:1-2
Os montes, na época, eram locais tradicionais de culto pagão. Neles se erguiam altares, se queimavam incensos e se invocavam divindades. Quando o salmista olha para os montes, ele vê ali o reflexo da idolatria das pessoas afastadas do Eterno, bem como das nações. Mas, em vez de confiar no que os homens construíram nesses lugares, ele declara que o verdadeiro socorro não está nos montes, mas em quem está acima deles, o Criador dos montes.
Esse contraste é poderoso, pois aquilo que parecia fonte de segurança para muitos, isto é, os montes, altos e firmes era, na verdade, vazio de poder. O socorro genuíno só poderia vir de HaShem, o único que fez os céus e a terra. E aqui é importante destacar que montes são apontamentos para pessoas elevadas, isso dentro do povo da aliança, infelizmente há pessoas que buscam socorro em pessoas elevadas, um exemplo disso são pessoas que depositam sua esperança em líderes humanos, pastores, rabinos etc. Até mesmo os que se dizem em teshuvah e que depositam sua esperança no messias, como se ele fizesse algo fora do Eterno. O Messias é o instrumento de salvação usado pelo Eterno, ele não faz nada dele mesmo, a não ser cumprir e ensinar a cumprir a Torá.
Assim como no Salmo 121, nossa vida hoje também apresenta “montes”, lugares onde podemos depositar confiança, mas que não podem nos sustentar. Podem ser pessoas, instituições, tradições, filosofias ou mesmo nosso próprio intelecto. Mas, assim como o salmista, somos chamados a olhar além dos montes e reconhecer que o socorro verdadeiro vem somente do Criador. Olhando para o TaNaK podemos observar os profetas denunciando esses lugares altos.
2. Denúncia contra os lugares altos
Os profetas ecoam o mandamento da Torá denunciando a prática de adoração nos “lugares altos” (בָּמוֹת bamot) e debaixo das árvores frondosas.
Yeshayahu 57:5-7:
Vocês ardem de desejo entre os carvalhos e debaixo de toda árvore frondosa; vocês sacrificam seus filhos nos vales e debaixo de penhascos salientes. Os ídolos entre as pedras lisas dos vales são a sua porção; são a sua parte. Isso mesmo! Para eles você derramou ofertas de bebidas e apresentou ofertas de cereal. Poderei eu contentar-me com isso? Você fez o leito numa colina alta e soberba; ali você subiu para oferecer sacrifícios.
Este texto denuncia os sacrifícios oferecidos sob as árvores como os carvalhos e nos montes elevados.
Yirmeyahu 3:6:
Durante o reinado do rei Josias, o Eterno me disse: "Você viu o que fez Yisrael, a infiel? Subiu todo monte elevado e foi para debaixo de toda árvore verdejante para prostituir-se.
Aqui o profeta acusa Yisrael de “subir a todo monte elevado e debaixo de toda árvore frondosa para se prostituir”.
Hoshea 4:13:
Sacrificam no alto dos montes e queimam incenso nas colinas, debaixo de um carvalho, de um estoraque ou de um terebinto, onde a sombra é agradável. Por isso as suas filhas se prostituem e as suas noras adulteram.
O profeta afirma que o povo sacrificava em colinas e sob árvores, “porque sua sombra era agradável”.
O diagnóstico dos profetas é direto, uma vez que a idolatria não é apenas um erro de culto, mas uma prostituição espiritual, uma traição contra o D’us da aliança. A busca por segurança em deuses falsos corrompia o coração do povo e os afastava do Eterno. E se trouxermos isso para nosso tempo, percebemos que se não tivermos atenção ainda construiremos “lugares altos” modernos, por exemplo: corridas atrás do sucesso a qualquer custo, dependência cega de líderes humanos, fé em sistemas religiosos, políticos ou econômicos que prometem salvação. Os profetas nos lembram que toda confiança que não está em HaShem é uma sombra agradável, mas enganosa.
3. O socorro em espírito e verdade
Ao contrário do que muitos pensam, Yeshua ensinava a Torá e dava continuidade às palavras dos profetas. Em sua vida ele demonstrou isso claramente, um bom exemplo é a conversa de Yeshua retomando esse tema de maneira profunda ao falar com a mulher samaritana em Yochanan 4:20-24. A mulher argumenta sobre qual monte era o verdadeiro lugar de adoração: o monte dos samaritanos, Gerizin, ou o monte Sião em Yerushalaim. Yeshua responde que o tempo viria em que a adoração não estaria ligada a este ou aquele monte, mas seria feita em espírito e em verdade. Ele não anula a importância de Jerusalém como o lugar escolhido, mas revela que, com a vinda do Messias, a adoração não mais se limitaria a um templo de pedra, mas se tornaria uma questão de espírito e verdade.
Então está claro que Yeshua não anula a centralidade da Torá, mas leva o princípio à sua plenitude: a adoração não é geográfica, é relacional. O verdadeiro socorro não vem de montes ou locais físicos, mas de uma vida alinhada em obediência com o D’us vivo.
Os talmidim de Yeshua também reforçam essa visão:
Shaul em 1 Coríntios 10:20-21 afirma que não se pode participar da mesa do Senhor e, ao mesmo tempo, da mesa dos ídolos.
2 Coríntios 6:16-17 lembra que nós somos o templo do Deus vivo, e por isso não pode haver comunhão entre o templo de Deus e os ídolos.
A mensagem é clara, pois a presença de HaShem agora habita no Seu povo, que se torna o lugar escolhido para Sua presença. O socorro não vem de práticas externas, mas da comunhão viva com Ele.
Concluindo nosso pequeno estudo, a pergunta inicial ecoa novamente: “De onde vem o socorro? Você confia em quem?”
A Parashá Re’eh nos ensina a destruir os lugares de idolatria, lembrando que não podemos servir a dois senhores. Tehilim 121 nos convida a olhar além dos montes, reconhecendo que o socorro vem apenas do Criador. Os profetas nos alertam sobre os enganos das sombras agradáveis que parecem dar segurança, mas afastam o coração de D’us. E Yeshua e seus talmidim confirmam o ensino nos chamando a uma adoração em espírito e em verdade, sem mistura, vivendo como templos vivos do Senhor.
Hoje, o desafio não é apenas destruir altares físicos, mas sim derrubar os “altares internos” como o orgulho, dependência de homens, confiança em riquezas, tradições vazias ou qualquer coisa que ocupe o lugar de HaShem em nosso coração. A mudança de atitude começa quando escolhemos, como o salmista, declarar: O meu socorro vem do Senhor, Criador dos céus e da terra. E você? Vai continuar olhando para os montes, ou vai confiar naquele que fez os montes?
Se chegou até aqui diga se gostou escrevendo um comentário, se ainda não estiver inscrito aqui no blog, se inscreva para receber as notificações dos novos estudos postados. Compartilhe com quem vai gostar.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Moshê Ben Yosef
Nenhum comentário:
Postar um comentário