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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Estudo da Parashá Tazria - Restaurando a conexão com o Eterno

 



Estudos da Torá

Parashá nº 27 – Tazria (Conceber)

Vayicrá/Levítico Lv 12:1-13:58,

Haftará (Separação) 2Rs 4:42-5:19, e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 2:22-24, 7:18-23


Tema: Restaurando a conexão com o Eterno.


No estudo dessa semana trataremos a respeito dos apontamentos nos textos dessa parashá sobre a restauração da conexão com o Eterno. Veremos que as impurezas podem ser transformadas em purezas havendo teshuvah verdadeira e obediência à Torah, principalmente seguindo os passos de Yeshua, o messias.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


No site Chabad encontramos o seguinte resumo da parashá Tazria. Após a discussão ao final da porção da semana passada, a respeito da tumá (impureza) resultante de animais mortos, a Parashá Tazria introduz as várias categorias de tumá emanando de seres humanos, começando com uma mulher dando à luz. O restante da porção descreve com riqueza de detalhes as várias e numerosas manifestações da doença chamada tsaraat, conhecida como lepra. Embora tenha sido traduzida erroneamente como lepra, esta doença de pele tem pouca semelhança com qualquer moléstia corporal transmitida através do contato normal. Ao contrário, tsaraat é a manifestação física de uma consequência do pecado, uma punição enviada por D'us, primeiro pelo pecado da maledicência, entre outras transgressões e comportamento anti-social.

Conhecida como metsorá (aquele que tem tsaraat), a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele está sujeita a uma série de exames por um cohen, que declara se o paciente está tahor (limpo) ou tamê (impuro). Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.

A próxima Parashá, a Metsorá, continua a discussão de tsaraat, detalhando o processo de purificação de três partes da metsorá, ministrada por um cohen, completa com imersões, Corbanot, e a raspagem de todo o corpo. Após uma demorada descrição da tsaraat em casas e a ordem de demolir toda a residência caso a doença tenha se espalhado, o capítulo final da porção discute várias categorias de emissões humanas naturais, que tornam uma pessoa impura em graus variáveis.

ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


Já vimos em anos anteriores que uma das razões principais que causavam a tsaraat era a lashon hará. O termo מּצרעmetsorá”, que quer dizer aquele que tem tsaraat, é parecida com o termo מּצרע motsirá, que significa aquele que fala o mal. Podemos compreender que se o metsorá fizesse teshuvah, ou seja, se arrependesse verdadeiramente, enquanto estava fora do acampamento, o Eterno fazia as manchas brancas na pele desaparecerem. Então seguia toda a orientação que a Torah nos instrui.

Mas veja que interessante um código sobre esses termos de mesma raiz, ambos tem o mesmo valor guemátrico de 400, cuja raiz é 4. As letras hebraicas com esses valores são o ת Tav e o דַ dálet, respectivamente, 400 e 4, que tem os significados de pacto e porta, respectivamente. A porta de entrada para a reconciliação com o Eterno é o 4º milênio, quando Yeshua foi ungido messias e ensinou a fazer Teshuvah. O arrependimento e a reconciliação são feitos pela teshuvah, que tem o valor de 713, cuja raiz é 2, que aponta para a letra בּ beit, que significa casa, e aponta para habitação e para as duas casas, a de Yisrael e Yehudah, que é a obrigação do messias de unir os leprosos que serão limpos pelo arrependimento e que se reconciliarão com o Eterno. Todas as coisas estão ligadas não é mesmo! Baruch HaShem pela sua Torah!

A parashá Tazria aborda questões de pureza e impureza ritual, especialmente relacionadas a doenças de pele e condições físicas. Podemos explorar nesse tema alguns aspectos relacionados à palavra “conceber” (em hebraico, “tazria”) e seu paralelo com as impurezas através de alguns tópicos que veremos abaixo, apesar de não entendermos muito bem o motivo das impurezas por ser parte de alguns dos mistérios da Torah. Mas primeiro observemos um texto em Devarim/Deuteronômio que tem tudo a ver com este tema.


O que está oculto pertence ao Eterno, nosso Elohim, mas o que foi revelado é para nós e para nossos filhos para que todos esses ensinos sejam observados. Dt 29:28


O conceito de pureza e impureza na Torah é um tema que gera muitas dúvidas e incertezas, o autor Bruno Summa em seu comentário dessa parashá, no livro Shaarei Torah Vayicrá 2, afirma que não há sábio capaz de explicá-lo em seu aspecto mais profundo. Apesar de toda essa dificuldade, a Torah fala muito a seu respeito e mostra que, apesar de pouca compreensão que temos sobre esse conceito, ele é de extrema importância a ponto da Torah proibir o acesso ao Mishkan, e posteriormente ao Templo, de uma pessoa que esteja impura. O autor continua dizendo que, a Torah utiliza as parashot Tazria e Metsorá para apresentar todas as leis, regras e consequências sobre a impureza, e as inicia abordando a impureza de uma mulher que dá à luz. A Torah diz que, dependendo do sexo do recém-nascido, sua mãe estará impura por diferentes períodos. Já pela primeira ação, diz o autor, que torna uma pessoa impura, encontramos grande dificuldade, pois o que de errado fez uma mulher para que se tornasse impura? Pelo simples fato de ter dado à luz? Ela deveria receber um prêmio pela mitzvah observada e não punida com impureza. Outras causas de impureza também são difíceis de serem compreendidas, como por exemplo, o fato de tocar a carcaça de um animal morto ou até mesmo a pratica do ato sexual, o qual, é percursor ao mandamento da procriação.

Seria mais fácil compreender ou aceitar se a impureza fosse contraída apenas através do pecado, contudo existem poucos pecados que causam impureza, todas as outras fontes de impureza fogem completamente do controle do homem. Ou seja, uma pessoa pode ser muito justa e mesmo assim, sem que cometa um pecado sequer, corre o risco de ter sua vida impurificada sem que nada possa fazer para que isso não ocorra. Isso, por si só, torna todo esse tema em algo muito complicado para nossa pouca capacidade de compreensão. No entanto, apesar disso, esse tema é algo que deve ser levado muito a sério, caso contrário, a Torah não se daria o trabalho de abordar esse conceito de maneira tão profunda e detalhada. E é imprescindível observarmos o tema além do contexto literal devemos ir para o entendimento profético e prático para nossas vidas, a fim de compreender a vontade do Eterno.

Observemos os tópicos para aumentar o esclarecimento do assunto para nossa melhor compreensão.

1. Nascimento e Impureza

A parashá inicia falando sobre a mulher que dá à luz e ao fazer isso fica impura por alguns dias, como em seu período de nidah (menstruação), dependendo se for menino ou menina, conforme já citamos. Há ainda outras sete situações que tornam a pessoa impura.

- Animais mortos – ocorre ao tocar um animal morto, por morte natural, doença ou por um predador.

- Kosher – ocorre quando uma pessoa consome alguma coisa proibida pela Torah. Nesse caso, a pessoa transgrediu a Torah e ainda ficou impura.

- Metzora – ocorre quando uma pessoa se torna metzora ao contrair tzaraat. E uma das causas era a Lashon Harah, como também já foi mencionado aqui.

- Zav – ocorre segundo a Torah, quando o homem ou a mulher expelem pelos órgãos genitais líquidos específicos. Isso pode ocorrer sem que o homem ou a mulher façam nada para contribuir para que ocorra.

- Sêmem – ocorre quando uma pessoa tem contato direto com o sêmem. Da mesma forma que a mulher ao dar à luz tem contato com o próprio sangue, o homem quando procria, inevitavelmente entrará em contato com seu próprio sêmem, e sem que possa evitar, se tornará impuro. E aqui ainda levamos em conta a polução noturna que não tem ação da pessoa para isso, mas também o que pratica o pecado da masturbação, ambos o tornam impuro.

- Nidah – ocorre no período menstrual da mulher. E sem dúvida alguma se pudessem escolher, todas as mulheres iriam preferir não menstruar, devido ao desconforto.

- Tum’at Met – ocorre quando uma pessoa toca um cadáver. Tocar o corpo morto de uma pessoa é considerado o ápice da impureza.

Vimos com tudo isso que a impureza é algo realmente complexo, ao mesmo tempo que a Torah não a define como pecado. A impureza em si mesma não é pecado, mas em algumas situações apontadas acima é resultado de pecado. Contudo, a Torah nos mostra o quanto a pureza é vital à santidade e à uma vida abençoada. Em muitos dos casos citados acima a pureza é conseguida por banho de purificação e tempo, outros é necessário primeiramente o arrependimento para depois a purificação. Em um ou outro, na época era preciso as cinzas da vaca vermelha, que hoje aponta para a justiça de Yeshua.

2. Nascimento e Circuncisão

Vemos também a menção da circuncisão no oitavo dia após o nascimento. A circuncisão é um sinal perpétuo da aliança com o Eterno, unindo a vida do homem o Criador e demonstrando a separação das paixões do corpo. Ela simboliza a aliança entre Deus e o povo de Yisrael. O ato físico da circuncisão reflete a necessidade de purificação e obediência à Torah.

Não é à toa que as Escrituras mencionam duas circuncisões, tal é a importância desse mandamento. Já estudamos sobre assunto em uma de nossas lives do ano passado na parashá Vayerá, sob o título “As duas circuncisões”.

É importante destacar, que essa aliança cuja marca era a circuncisão na carne, é a finalização do pacto que o Eterno havia feito com Avraham há tempos atrás, lá no capítulo 15. Naquela ocasião o Eterno lhe reforça a promessa de dar-lhe a terra e pede ao patriarca que sacrificasse alguns animais e ali Avraham recebe de D’us a revelação do que ocorreria com seus descendentes a respeito da escravidão no Egito. Como qualquer concerto/aliança/contrato/acordo, que pressupõe direitos e obrigações de parte a parte, o Pacto estabelecido entre o Eterno e Avraham pressupõe direitos e obrigações. O Eterno cumpriria as suas promessas, mas essas promessas só se tornariam efetivas mediante a obediência de Avraham.

Segundo o site Emunah a fé dos santos, aqui é estabelecido o selo da aliança, que é a circuncisão na carne.

No entanto, perceba que a circuncisão, conforme vimos até aqui pode assumir vários significados:

- O pacto entre o Eterno e Avraham (e a sua descendência) para sempre;

- A justificação pela fé que Avraham tinha antes da circuncisão na carne, conforme lemos em Gn 15:6, Rm 4:11 e 12;

- O messias seria descendente de Avraham, ou seja, seria do povo de Yisrael, conforme Rm 15:8;

- O simbolo físico de uma circuncisão mais profunda (a do coração), conforme lemos em Dt 10:16; 30:6 e Cl 2:11.

Estamos tendo a noção de como o Eterno considera importante a questão da circuncisão em nossas vidas. E perceba que estamos nos baseando em textos anteriores à Torá escrita. Já tivemos uma leve ideia da importância do assunto, podemos então, passar a buscar o entendimento também do que seria a circuncisão do coração.

Se circuncisão na carne significa remover parte da carne, logo, a circuncisão do coração, que é o pensamento, intelecto, intenção, seria remover parte do coração (pensamento/intelecto/intenção). E talvez você se pergunte: Mas como assim remover parte do pensamento ou intenção? Como a circuncisão da carne é remover uma parte desnecessária da carne, a do coração é remover a parte desnecessária de nossos pensamentos e entendimentos. Ou seja, ter controle sobre nossas más inclinações. Veja:


"E o Eterno teu Elohim circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares o Eterno teu Elohim com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas." Dt 30.6


De acordo com o que vimos no verso acima, o Eterno circuncidará, ou seja, removerá todos os pensamentos injuriosos, todo entendimento desnecessário, tudo que vem da má inclinação, para que foquemos no Eterno, e estejamos com o nosso entendimento entregue apenas para HaShem, e não para as demais coisas que nos afastam Dele.

Nós recebemos a circuncisão do coração quando recebemos o testemunho da vida justa de Yeshua, ou quando vivemos segundo Avraham, em obediência aos mandamentos do Eterno.

Então, de acordo com o que vimos até aqui, a circuncisão do coração substitui a circuncisão da carne?

Não. Se acreditarmos que a circuncisão do coração substitui a circuncisão da carne estaremos demonstrando uma verdadeira falta de conhecimento das Escrituras. Já citamos aqui um verso onde mostramos na Torah (lei, instrução, ensino) a circuncisão do coração, mas vejamos outro, como forma de deixar claro o mandamento.


"Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz." Dt 10.16


Reflita na seguinte questão: Como a circuncisão do coração pode substituir a circuncisão da carne, se ambas estão na Torah (lei, instrução, ensino) do Eterno? Como D’us poderia instituir a circuncisão na carne através da lei, e algumas páginas depois, ele já substituiria pela circuncisão do coração? Certamente que isso não faz o menor sentido!

Além de encontrarmos na própria Torah a respeito da circuncisão do coração, temos também este tema sendo abordado em outros pontos do TaNaK conforme mostramos acima, e também como diz Yir’meyãhu/Jeremias, por exemplo, veja:


"Circuncidai-vos ao Eterno, e tirai os prepúcios do vosso coração, ó homens de Yehudhah e habitantes de Yerushalayim, para que o meu furor não venha a sair como fogo, e arda de modo que não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras." Jr 4.4


Assim, fica claro que a circuncisão do coração não é uma novidade e nem substitui a circuncisão na carne, mas devemos entender que ambas complementam uma à outra. A circuncisão na carne não é nada, se não há circuncisão no coração, porque a falta de uma, torna a outra inútil, conforme podemos ver o Rav Sha’ul deixar claro em sua epístola.


"A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos do Eterno." 1 Co 7.19

3. Impureza e Purificação

A impureza ritual associada à mulher que dá à luz leva à necessidade de passar por um processo de purificação, incluindo a imersão em uma mikve (uma piscina de água natural) e levar oferendas ao Templo. Assim como as demais impurezas exigem purificação também. Essa purificação simboliza a restauração da conexão com o Eterno após o período de impureza.

Quando não temos mikveh fazemos nossa purificação no chuveiro mesmo, quando depois de tomar nosso banho normal, saímos de debaixo do chuveiro e declaramos a seguinte bênção: Bendito sejas tu, Eterno nosso Elohim, rei do universo, que nos santifica com seus mandamentos e nos manda nos purificar. Em nome de Yeshua Hamashiach.

4. Doenças de Pele a alegoria da desobediência

As leis detalhadas sobre doenças de pele, como a tzaraat, são apresentadas na parashá. Essas doenças eram consideradas impurezas e exigiam isolamento. A comparação com a desobediência à Torah é interessante: assim como a doença de pele se espalha e requer separação, a transgressão espiritual também afasta a pessoa de D’us e da comunidade. A Torah nos ensina a buscar purificação e arrependimento para restaurar nossa conexão com o Criador.

Portanto, lembre-se de que a parashá Tazria nos lembra da importância da obediência à Torah, purificação e restauração da conexão com o Eterno em todos os momentos de nossas vidas, independentemente, se erramos tentando acertar e ficamos impuros ou se ficamos impuros sem querer. O fato é que precisamos buscar a restauração de nossa conexão com o Eterno. E quando falo de conexão, estou falando de aliança, pacto, intimidade. Busque a cada dia seguir as orientações que HaShem nos deixou em sua Torah, ela é o nosso manual de instruções.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)


sexta-feira, 5 de abril de 2024

Estudo da Parashá Shemini - A Torah não é instantânea.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 26 – Shemini (Oitavo)

Vayicrá/Levítico Lv 9:1-11:47,

Haftará (Separação) 2Sm 6:1-19, e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) 2Co 6:14-7:1


Tema: A Torah não é instantânea.


No estudo dessa semana trataremos a respeito da situação atual vivida por muitas pessoas que, devido ao mundo atual pensam que a Torah é instantânea, ou seja, acham que pode simplesmente aprender a Torah de forma instantânea assim como o sistema religioso tem praticado. Veremos que o aprendizado e a prática de Torah é constante e leva a vida toda, pois nunca poderemos saber tudo, devido a profundidade de sabedoria contida na Lei de Deus.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


No nosso resumo, vemos que a Parashá Shemini começa discutindo os eventos que ocorreram no oitavo e último dia de melu'im, o serviço de inauguração do Mishkan/tabernáculo. Após meses de preparação e antecipação, Aharon e seus filhos são finalmente instalados como cohanim/sacerdote, em um serviço elaborado.

Aharon abençoa o povo, e toda a nação se rejubila quando a presença de D’us paira sobre eles. Entretanto, o entusiasmo é interrompido abruptamente quando os dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, são consumidos por um fogo celestial e morrem no Mishkan, enquanto ofereciam ketoret/incenso, sobre o altar. A Torá declara que eles morreram porque trouxeram um "fogo estranho" no santuário interior do Mishkan, cujo significado é discutido pelos comentaristas à exaustão.

Aharon recebe ordens de que os cohanim são proibidos de entrar no Mishkan enquanto impuros, e a Torá continua a relatar os eventos que ocorreram imediatamente após a morte trágica de Nadav e Avihu. A porção termina com uma lista dos animais casher/permitido e não-casher/não permitido, com detalhes a respeito do assunto com apontamentos de alguns animais, e também várias leis sobre tumá, ou seja, impureza.

ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


Pretendo iniciar a reflexão desta semana com algo que o Rei Salomão escreveu que tem íntima relação com o tema que trataremos. Observe o seguinte texto:


Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todos os propósitos debaixo dos céus. Há tempo de nascer e tempo de morrer, há tempo de plantar e tempo de colher. Ec 3:1-2


O tempo é algo que se repete nas palavras do Rei, isso por que ele é muito importante, e é uma pena que muitos não percebam isso. Para falar sobre nosso tema, o tempo é uma característica importante a ser observada. No povo de Yisrael o tempo é considerado um bem muito importante, mas ao mesmo tempo finito. E há ensinos que dizem que antes da criação esse termo não tinha sentido, pois esse conceito só assumiu algum significado em relação aos eventos posteriores à criação. Segundo Bruno Summa, enquanto havia apenas o Eterno, não havia necessidade de criar o tempo. Já depois que iniciou o processo da criação e vemos que o dia se tornou um ponto muito importante em relação ao qual os eventos podem ser medidos e cronometrados. Ele diz que os conceitos de “antes” e “depois” passaram a existir desde que houve o “bereshit”, ou seja, um começo.

O termo estação, no hebraico Z’MAN, de acordo com o autor, refere-se ao tempo como uma trama geral de eventos, o termo hebraico ET - tempo, significa um período de tempop específico para acontecimentos claramente definidos. Já o termo “sob os céus” é aplicado a tudo o que ocorre em nosso universo físico, que por definição é móvel, em constante movimento.

Como no reino de HaShem não há essa variação, Rabbi Meir aconselha as pessoas a minimizar suas atividades terrenas e maximizar seu estudo de Torah, uma vez que o tempo foi concedido com o propósito de ocupar-se com o estudo de Torah. Veja o que diz o Eterno a Josué:


Não permita que a Torah saia de suas lábios, a estude noite e dia. Js 1:8


Com isso percebemos como é importante aproveitar seu tempo ao estudar a Torah. No entanto, o conhecimento que se adquire ao estudar a Torah não é instantâneo, ele leva tempo. As pessoas acreditam que podem começar a estudar a Torah e como em um passe de mágica já saber tudo, mas o conhecimento exige tempo, ele é adquirido em estágios, em níveis. O mencionado autor diz que, se alguém perguntar como é possível obter bens mundanos que exigem muito trabalho e tempo para acumular, a resposta é ser de espírito humilde diante de um homem e confiar no Eterno. Se alguém rejeitar a Torah em favor da aquisição de valores transitórios, seu próprio fim será tão finito quanto o das mercadorias as quais foram adquiridas com tempo e esforço. O contrário também se aplica; se a pessoa se concentrar na aquisição dos valores da Torah, tudo que conquistar estará desvinculado da realidade transitória humana. A cada nível que se atinge, uma gama de conhecimento e prática é desenvolvido. Isso requer paciência e dedicação no estudo das Escrituras Sagradas e na prática dos mandamentos. E a própria Torah demonstra isso nessa parashá que estamos estudando, há muito a ser dito sobre o assunto e a relação com a parashá shemini, mas selecionamos apenas alguns. Veja o texto abaixo:


E aconteceu, ao dia oitavo, que Moisés chamou a Arão e seus filhos, e os anciãos de Israel” Lv 9:1


Pergunto, ao oitavo dia depois de quê? Depois de que os sacerdotes aguardaram 7 dias à entrada da Tenda da Congregação, para iniciarem o serviço no Mishkan. Percebe como tudo nas Escrituras tem um motivo? E nesse estudo terá a oportunidade de confirmar ainda mais isso. Aharon e seus filhos tiveram que ter paciência de esperar o tempo certo para iniciarem seu trabalho de sacerdote. Não foi instantâneo! E há pessoas atualmente que pensam ser instantâneo fazer o serviço ao Eterno. Começam a teshuvah hoje e já querem ensinar as Escrituras, sem um mínimo de conhecimento básico da Torah.

O site Emunah a fé dos santos nos diz que segundo Rashi e um Midrash, este oitavo dia coincidia com o primeiro dia do primeiro mês do segundo ano, ou seja, era 1 de Aviv, conforme lemos em Ex 40:2 e 17, estava se aproximando o pessach após saírem do Egito.


No primeiro mês, no primeiro dia do mês, levantarás o tabernáculo da tenda da congregação,

E aconteceu no mês primeiro, no ano segundo, ao primeiro do mês, que o tabernáculo foi levantado;


O oitavo dia, o shemini, que se segue a um período de sete dias é um dia especial nas Escrituras, ele aponta para o reinício, o recomeço, e entre eles mencionamos alguns abaixo:

- o dia da circuncisão dos meninos;

- o oitavo dia depois da festa de Sukot, chamado Shemini Atseret (O oitavo grande dia, que inclusive Yeshua se levanta para dizer quem tem sede venha a mim e beba);

- Como um dia representa mil anos, o oitavo dia simboliza o oitavo milênio depois da criação do homem, quando ao final desse tempo, serão instituídos os novos céus e nova terra, e o Reino será entregue pelo Messias ao Pai, reiniciando tudo.

Podemos perceber que shemini, o oitavo dia, é um reinício depois de um ciclo de 7 dias, sete anos ou até sete milênios. Segundo Bruno Summa, tendo em vista que o homem tende a perder de vista a rápida passagem do tempo e a brevidade de sua estada na terra, a Torah nos ordena a contar ciclos de 7 e ciclos de cinquenta anos para nos lembrar da rapidez com que passa o tempo que nos foi concedido e para nos alertar para usar esse tempo com sabedoria. Há um dito dos sábios de Yisrael a respeito disso, veja:


O homem se preocupa com a perda de seu dinheiro, mas deixa de se preocupar com a perda de seu tempo. Enquanto ele procura ajuda de seu dinheiro, seu tempo é irremediavelmente perdido. Sefer Hachayim 10:1


Os rabinos entendem que quando a Torah legisla a contagem dos ciclos, ela diz “você deve contar para si mesmo”, ou seja, para seu próprio benefício. O já mencionado autor diz que os ciclos de sete anos simbolizam diferentes estágios de vida do homem. Assim, os setes dias de consagração que Aharon e seus filhos passaram em isolamento, longe de suas respectivas famílias antes de assumirem suas funções sacerdotais, foram para sua tarefa. Embora tivessem de permanecer no limiar, não deviam entrar no santuário nem deixar o pátio sagrado. Segundo o autor, isso demonstra claramente que esses sete dias eram preparatórios para sua tarefa sagrada, mas que até o oitavo dia seus preparativos não estariam completos. O que podemos aprender com isso?

O autor nos diz que simbolicamente, esses sete dias representam todo o ciclo da vida. Assim como a vida nesta terra é vista como uma antecâmara para o mundo vindouro, Aharon e seus filhos deveriam se ver como se dedicando ao destino de suas vidas. Assim, onde e quando encontrarmos o número sete é para nos lembrar que a perfeição pode ser alcançada ao final de um ciclo de sete, pois quando chega o shemini, o oitavo, teremos um outra chance de crescer, de melhorar, de acertar e de nos desenvolver.

Assim, a lição que podemos tirar é que realmente, não existe “Torah instantânea”. A Torah não pode ser absorvida instantaneamente, embora a observância das mitsvot possa começar repentinamente, sua compreensão somente vem como tempo. O autor mencionado diz que nos tornamos bons seguidores de Torah apenas passo a passo. Embora muitos achem que pode ser tudo muito rápido, na verdade é preciso muita paciência e persistência no estudo da Torah.


Meditarei nos teus preceitos e darei atenção às tuas veredas. Sl 119:15


Fico acordado nas vigílhas da noite, para meditar nas tuas promessas. Sl 119:148


Retornando ao primeiro verso desta parashá, observe:


E aconteceu, ao dia oitavo, que Moisés chamou a Arão e seus filhos, e os anciãos de Israel” Lv 9:1


Podemos perceber que a parashá shemini inicia relatando como foi a inauguração do Mishkan e dos serviços sacerdotais. E todo o capítulo 9 mostra como foi esse primeiro dia do Mishkan, e define esse dia como o oitavo dia. O termo shemini, oitavo no hebraico é a representação desse ciclo se iniciando, conforme vimos até aqui.

No entanto, esse é um dia muito, muito profético e falaremos um pouco sobre isso. Na manhã daquele oitavo dia, aconteceram coisas importantes, mas que uma leitura desatenta pode passar sem a devida percepção. Burno Summa diz que aconteceram naquele dia, coisas que são sentidas até os dias de hoje. Na manhã daquele dia, Moshê iniciou algumas ações que apontam para o futuro perpassando por nós e indicando ainda mais no futuro. São oito ações importantíssimas com apontamentos proféticos claros: Vejamos:

1 – Colocou as tábuas dentro da Arca da Aliança.

Ao fazer isso Moshê criou uma ponte entre o terreno e o espiritual, ou seja, o meio de obedecer ao Eterno pelos mandamentos. Isso era a oportunidade do ser humano de se tornar habitação da presença divina. À partir dali todo ser humano recebeu a oportunidade de se conectar diretamente com HaShem, de onde ele estiver.

Devemos estudar a Torah para que seus mandamentos vivam dentro de nós.

2 – Imergiu Aharon e o vestiu

Se observarmos os detalhes das vestes sacerdotais perceberemos que cada uma peça das vestes representa a expiação por um tipo diferente de pecado. Note que são oito peças e oito pecados diferentes. À partir desse dia expiações por diversos tipos de pecados passam a ser feitos, apontando para o serviço e chamado do messias.

Devemos vestir as vestimentas sacerdotais para buscar expiação pelos nossos pecados.

3 – Acendeu a Menorah

A luz da menorah representa a luz que HaShem invocou à realidade terrena durante à criação, quando disse: “Haja luz e houve luz” (Gn 1:3). Essa luz que HaShem trouxe à existência é representada profeticamente pelas luzes da Menorah é a sabedoria oculta da Torah, sabedoria a qual colocou toda a criação sob a vontade divina. O citado autor diz que no oitavo dia, essa luz que até então havia sido possuída apenas por Adam, foi colocada à disposição do homem que a deseja encontrar. A luz que está oculta na Torah, quando obtida por um hopmem, colocará todaà criação à sua disposição da mesma forma que toda a criação esteve um dia à disposição de Adam, uma oportunidade dada a nós graças ao shemini, oitavo dia.

Está percebendo o motivo da paciência no estudo da Torah?

Devemos acender a Menorah para iluminar os caminhos daqueles que estão à nossa volta através de nosso conhecimento.


4 – Ofertou o primeiro Tamid e Ok’toret

Nesse dia, Moshê ofertou a primeira oferta Tamid, a oferta que era apresentada duas vezes ao dia. Essa oferta representa a oportunidade que recebemos de HaShem, de poder buscá-lo diariamente, algo que antes não era visto. Por falar nisso, quantas vezes mesmo no mínimo devemos rezar o shemah? Duas vezes né! Está entendendo como tudo está ligado? Um homem pode buscar o Eterno sempre que desejar.

Devemos ofertar o Tamid para buscar a HaShem diariamente.

5 – Estabeleceu a contagem dos shabatot

Neste dia da inauguração do Mishkan, que está oculto nas palavras da Torah e é altamente importante, pois foi nesse dia que ficou estabelecido a contagem dos tempos estabelecido para as celebrações da Torah, em complemento ao que já tinha dado no Egito antes do primeiro Pessach. Os dias em que celebramos as data importantes da Torah, como Pessach, Shavuot e até o shabat, inclusive nos dias de hoje, foram estabelecidos no shemini, oitavo dia.

Devemos estabelecer a contagem para guardar as festas e os dias santos de HaShem, pois ele nos espera neles.

6 – Colocou os pães sobre a mesa

O pão possui representação importante nas Escrituras, sendo a mais contundente entre elas e a primeira a ser mencionada é a maldição que foi imposta a Adam. Quando Moshê coloca os pães sobrea mesa e os santificou, ele anula a maldição lançada sobre Adam, e isso afeta a todos nós que buscamos obedecer ao Eterno. Com esse ato, nos foi dado a oportunidade de não ter mais que suar o rosto para obter o pão. O homem que entende esse segredo, através da obediência à Torah receberá do Eterno as bênçãos da obediência.

Devemos colocar o pão na mesa para que venhamos fazer Tzedakah, ou seja, ajudar a quem precisa.

7 – Santificou a si mesmo

Quando Moshê se santificou, ele mostrou que todos nós podemos nos santificar, uma ação que depende apenas de nós sem que necessitemos de terceiros para nos santificar. A nossa obediência e separação do erro nos santifica.

Devemos nos santificar para continuar buscando santificação através dos mandamentos da Torah.

8 – As dez coroas

Além de cada uma dessas ações de Moshê naquele dia, dez coisas aconteceram também ali, coisas que o Sefer Olam chama de “as dez coroas”.

O shemini, oitavo dia, não foi de forma alguma um dia comum, e seu relato não pode ser considerado apenas como fato histórico. O já mencionado autor diz que nada em nossa realidade aconteceu por acaso ou de forma natural. O número oito possui enormes segredos como vimos até aqui.

Então, depois de fazermos tudo isso relatado até agora com paciência e dedicação, receberemos as dez coroas, que são sabedorias divinas dadas pelos céus aos obedientes, conforme foi mencionado por dois Apóstolos:


Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida que D’us prometeu aos que o amam. Tg 1:12


Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. Saibam que o enganador lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida. Ap 2:10.


Compreendamos portanto, que a Torah não é instantânea e requer de cada um de nós paciência e dedicação no estudo e na obediência. Cada dia é um dia de aprender dela, pois cada dia faz parte do ciclo de shemini, preparado pelo Eterno para nos instruir e nos guiar.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)