Estudos
da Torá
Parashá nº 27 – Tazria (Conceber)
Vayicrá/Levítico Lv 12:1-13:58,
Haftará (Separação) 2Rs 4:42-5:19, e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 2:22-24, 7:18-23
Tema: Restaurando a conexão com o Eterno.
No estudo dessa semana trataremos a respeito dos apontamentos nos textos dessa parashá sobre a restauração da conexão com o Eterno. Veremos que as impurezas podem ser transformadas em purezas havendo teshuvah verdadeira e obediência à Torah, principalmente seguindo os passos de Yeshua, o messias.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
No site Chabad encontramos o seguinte resumo da parashá Tazria. Após a discussão ao final da porção da semana passada, a respeito da tumá (impureza) resultante de animais mortos, a Parashá Tazria introduz as várias categorias de tumá emanando de seres humanos, começando com uma mulher dando à luz. O restante da porção descreve com riqueza de detalhes as várias e numerosas manifestações da doença chamada tsaraat, conhecida como lepra. Embora tenha sido traduzida erroneamente como lepra, esta doença de pele tem pouca semelhança com qualquer moléstia corporal transmitida através do contato normal. Ao contrário, tsaraat é a manifestação física de uma consequência do pecado, uma punição enviada por D'us, primeiro pelo pecado da maledicência, entre outras transgressões e comportamento anti-social.
Conhecida como metsorá (aquele que tem tsaraat), a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele está sujeita a uma série de exames por um cohen, que declara se o paciente está tahor (limpo) ou tamê (impuro). Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.
A próxima Parashá, a Metsorá, continua a discussão de tsaraat, detalhando o processo de purificação de três partes da metsorá, ministrada por um cohen, completa com imersões, Corbanot, e a raspagem de todo o corpo. Após uma demorada descrição da tsaraat em casas e a ordem de demolir toda a residência caso a doença tenha se espalhado, o capítulo final da porção discute várias categorias de emissões humanas naturais, que tornam uma pessoa impura em graus variáveis.
ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO
Já vimos em anos anteriores que uma das razões principais que causavam a tsaraat era a lashon hará. O termo מּצרע “metsorá”, que quer dizer aquele que tem tsaraat, é parecida com o termo מּצרע motsirá, que significa aquele que fala o mal. Podemos compreender que se o metsorá fizesse teshuvah, ou seja, se arrependesse verdadeiramente, enquanto estava fora do acampamento, o Eterno fazia as manchas brancas na pele desaparecerem. Então seguia toda a orientação que a Torah nos instrui.
Mas veja que interessante um código sobre esses termos de mesma raiz, ambos tem o mesmo valor guemátrico de 400, cuja raiz é 4. As letras hebraicas com esses valores são o ת Tav e o דַ dálet, respectivamente, 400 e 4, que tem os significados de pacto e porta, respectivamente. A porta de entrada para a reconciliação com o Eterno é o 4º milênio, quando Yeshua foi ungido messias e ensinou a fazer Teshuvah. O arrependimento e a reconciliação são feitos pela teshuvah, que tem o valor de 713, cuja raiz é 2, que aponta para a letra בּ beit, que significa casa, e aponta para habitação e para as duas casas, a de Yisrael e Yehudah, que é a obrigação do messias de unir os leprosos que serão limpos pelo arrependimento e que se reconciliarão com o Eterno. Todas as coisas estão ligadas não é mesmo! Baruch HaShem pela sua Torah!
A parashá Tazria aborda questões de pureza e impureza ritual, especialmente relacionadas a doenças de pele e condições físicas. Podemos explorar nesse tema alguns aspectos relacionados à palavra “conceber” (em hebraico, “tazria”) e seu paralelo com as impurezas através de alguns tópicos que veremos abaixo, apesar de não entendermos muito bem o motivo das impurezas por ser parte de alguns dos mistérios da Torah. Mas primeiro observemos um texto em Devarim/Deuteronômio que tem tudo a ver com este tema.
O que está oculto pertence ao Eterno, nosso Elohim, mas o que foi revelado é para nós e para nossos filhos para que todos esses ensinos sejam observados. Dt 29:28
O conceito de pureza e impureza na Torah é um tema que gera muitas dúvidas e incertezas, o autor Bruno Summa em seu comentário dessa parashá, no livro Shaarei Torah Vayicrá 2, afirma que não há sábio capaz de explicá-lo em seu aspecto mais profundo. Apesar de toda essa dificuldade, a Torah fala muito a seu respeito e mostra que, apesar de pouca compreensão que temos sobre esse conceito, ele é de extrema importância a ponto da Torah proibir o acesso ao Mishkan, e posteriormente ao Templo, de uma pessoa que esteja impura. O autor continua dizendo que, a Torah utiliza as parashot Tazria e Metsorá para apresentar todas as leis, regras e consequências sobre a impureza, e as inicia abordando a impureza de uma mulher que dá à luz. A Torah diz que, dependendo do sexo do recém-nascido, sua mãe estará impura por diferentes períodos. Já pela primeira ação, diz o autor, que torna uma pessoa impura, encontramos grande dificuldade, pois o que de errado fez uma mulher para que se tornasse impura? Pelo simples fato de ter dado à luz? Ela deveria receber um prêmio pela mitzvah observada e não punida com impureza. Outras causas de impureza também são difíceis de serem compreendidas, como por exemplo, o fato de tocar a carcaça de um animal morto ou até mesmo a pratica do ato sexual, o qual, é percursor ao mandamento da procriação.
Seria mais fácil compreender ou aceitar se a impureza fosse contraída apenas através do pecado, contudo existem poucos pecados que causam impureza, todas as outras fontes de impureza fogem completamente do controle do homem. Ou seja, uma pessoa pode ser muito justa e mesmo assim, sem que cometa um pecado sequer, corre o risco de ter sua vida impurificada sem que nada possa fazer para que isso não ocorra. Isso, por si só, torna todo esse tema em algo muito complicado para nossa pouca capacidade de compreensão. No entanto, apesar disso, esse tema é algo que deve ser levado muito a sério, caso contrário, a Torah não se daria o trabalho de abordar esse conceito de maneira tão profunda e detalhada. E é imprescindível observarmos o tema além do contexto literal devemos ir para o entendimento profético e prático para nossas vidas, a fim de compreender a vontade do Eterno.
Observemos os tópicos para aumentar o esclarecimento do assunto para nossa melhor compreensão.
1. Nascimento e Impureza
A parashá inicia falando sobre a mulher que dá à luz e ao fazer isso fica impura por alguns dias, como em seu período de nidah (menstruação), dependendo se for menino ou menina, conforme já citamos. Há ainda outras sete situações que tornam a pessoa impura.
- Animais mortos – ocorre ao tocar um animal morto, por morte natural, doença ou por um predador.
- Kosher – ocorre quando uma pessoa consome alguma coisa proibida pela Torah. Nesse caso, a pessoa transgrediu a Torah e ainda ficou impura.
- Metzora – ocorre quando uma pessoa se torna metzora ao contrair tzaraat. E uma das causas era a Lashon Harah, como também já foi mencionado aqui.
- Zav – ocorre segundo a Torah, quando o homem ou a mulher expelem pelos órgãos genitais líquidos específicos. Isso pode ocorrer sem que o homem ou a mulher façam nada para contribuir para que ocorra.
- Sêmem – ocorre quando uma pessoa tem contato direto com o sêmem. Da mesma forma que a mulher ao dar à luz tem contato com o próprio sangue, o homem quando procria, inevitavelmente entrará em contato com seu próprio sêmem, e sem que possa evitar, se tornará impuro. E aqui ainda levamos em conta a polução noturna que não tem ação da pessoa para isso, mas também o que pratica o pecado da masturbação, ambos o tornam impuro.
- Nidah – ocorre no período menstrual da mulher. E sem dúvida alguma se pudessem escolher, todas as mulheres iriam preferir não menstruar, devido ao desconforto.
- Tum’at Met – ocorre quando uma pessoa toca um cadáver. Tocar o corpo morto de uma pessoa é considerado o ápice da impureza.
Vimos com tudo isso que a impureza é algo realmente complexo, ao mesmo tempo que a Torah não a define como pecado. A impureza em si mesma não é pecado, mas em algumas situações apontadas acima é resultado de pecado. Contudo, a Torah nos mostra o quanto a pureza é vital à santidade e à uma vida abençoada. Em muitos dos casos citados acima a pureza é conseguida por banho de purificação e tempo, outros é necessário primeiramente o arrependimento para depois a purificação. Em um ou outro, na época era preciso as cinzas da vaca vermelha, que hoje aponta para a justiça de Yeshua.
2. Nascimento e Circuncisão
Vemos também a menção da circuncisão no oitavo dia após o nascimento. A circuncisão é um sinal perpétuo da aliança com o Eterno, unindo a vida do homem o Criador e demonstrando a separação das paixões do corpo. Ela simboliza a aliança entre Deus e o povo de Yisrael. O ato físico da circuncisão reflete a necessidade de purificação e obediência à Torah.
Não é à toa que as Escrituras mencionam duas circuncisões, tal é a importância desse mandamento. Já estudamos sobre assunto em uma de nossas lives do ano passado na parashá Vayerá, sob o título “As duas circuncisões”.
É importante destacar, que essa aliança cuja marca era a circuncisão na carne, é a finalização do pacto que o Eterno havia feito com Avraham há tempos atrás, lá no capítulo 15. Naquela ocasião o Eterno lhe reforça a promessa de dar-lhe a terra e pede ao patriarca que sacrificasse alguns animais e ali Avraham recebe de D’us a revelação do que ocorreria com seus descendentes a respeito da escravidão no Egito. Como qualquer concerto/aliança/contrato/acordo, que pressupõe direitos e obrigações de parte a parte, o Pacto estabelecido entre o Eterno e Avraham pressupõe direitos e obrigações. O Eterno cumpriria as suas promessas, mas essas promessas só se tornariam efetivas mediante a obediência de Avraham.
Segundo o site Emunah a fé dos santos, aqui é estabelecido o selo da aliança, que é a circuncisão na carne.
No entanto, perceba que a circuncisão, conforme vimos até aqui pode assumir vários significados:
- O pacto entre o Eterno e Avraham (e a sua descendência) para sempre;
- A justificação pela fé que Avraham tinha antes da circuncisão na carne, conforme lemos em Gn 15:6, Rm 4:11 e 12;
- O messias seria descendente de Avraham, ou seja, seria do povo de Yisrael, conforme Rm 15:8;
- O simbolo físico de uma circuncisão mais profunda (a do coração), conforme lemos em Dt 10:16; 30:6 e Cl 2:11.
Estamos tendo a noção de como o Eterno considera importante a questão da circuncisão em nossas vidas. E perceba que estamos nos baseando em textos anteriores à Torá escrita. Já tivemos uma leve ideia da importância do assunto, podemos então, passar a buscar o entendimento também do que seria a circuncisão do coração.
Se circuncisão na carne significa remover parte da carne, logo, a circuncisão do coração, que é o pensamento, intelecto, intenção, seria remover parte do coração (pensamento/intelecto/intenção). E talvez você se pergunte: Mas como assim remover parte do pensamento ou intenção? Como a circuncisão da carne é remover uma parte desnecessária da carne, a do coração é remover a parte desnecessária de nossos pensamentos e entendimentos. Ou seja, ter controle sobre nossas más inclinações. Veja:
"E o Eterno teu Elohim circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares o Eterno teu Elohim com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas." Dt 30.6
De acordo com o que vimos no verso acima, o Eterno circuncidará, ou seja, removerá todos os pensamentos injuriosos, todo entendimento desnecessário, tudo que vem da má inclinação, para que foquemos no Eterno, e estejamos com o nosso entendimento entregue apenas para HaShem, e não para as demais coisas que nos afastam Dele.
Nós recebemos a circuncisão do coração quando recebemos o testemunho da vida justa de Yeshua, ou quando vivemos segundo Avraham, em obediência aos mandamentos do Eterno.
Então, de acordo com o que vimos até aqui, a circuncisão do coração substitui a circuncisão da carne?
Não. Se acreditarmos que a circuncisão do coração substitui a circuncisão da carne estaremos demonstrando uma verdadeira falta de conhecimento das Escrituras. Já citamos aqui um verso onde mostramos na Torah (lei, instrução, ensino) a circuncisão do coração, mas vejamos outro, como forma de deixar claro o mandamento.
"Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz." Dt 10.16
Reflita na seguinte questão: Como a circuncisão do coração pode substituir a circuncisão da carne, se ambas estão na Torah (lei, instrução, ensino) do Eterno? Como D’us poderia instituir a circuncisão na carne através da lei, e algumas páginas depois, ele já substituiria pela circuncisão do coração? Certamente que isso não faz o menor sentido!
Além de encontrarmos na própria Torah a respeito da circuncisão do coração, temos também este tema sendo abordado em outros pontos do TaNaK conforme mostramos acima, e também como diz Yir’meyãhu/Jeremias, por exemplo, veja:
"Circuncidai-vos ao Eterno, e tirai os prepúcios do vosso coração, ó homens de Yehudhah e habitantes de Yerushalayim, para que o meu furor não venha a sair como fogo, e arda de modo que não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras." Jr 4.4
Assim, fica claro que a circuncisão do coração não é uma novidade e nem substitui a circuncisão na carne, mas devemos entender que ambas complementam uma à outra. A circuncisão na carne não é nada, se não há circuncisão no coração, porque a falta de uma, torna a outra inútil, conforme podemos ver o Rav Sha’ul deixar claro em sua epístola.
"A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos do Eterno." 1 Co 7.19
3. Impureza e Purificação
A impureza ritual associada à mulher que dá à luz leva à necessidade de passar por um processo de purificação, incluindo a imersão em uma mikve (uma piscina de água natural) e levar oferendas ao Templo. Assim como as demais impurezas exigem purificação também. Essa purificação simboliza a restauração da conexão com o Eterno após o período de impureza.
Quando não temos mikveh fazemos nossa purificação no chuveiro mesmo, quando depois de tomar nosso banho normal, saímos de debaixo do chuveiro e declaramos a seguinte bênção: Bendito sejas tu, Eterno nosso Elohim, rei do universo, que nos santifica com seus mandamentos e nos manda nos purificar. Em nome de Yeshua Hamashiach.
4. Doenças de Pele a alegoria da desobediência
As leis detalhadas sobre doenças de pele, como a tzaraat, são apresentadas na parashá. Essas doenças eram consideradas impurezas e exigiam isolamento. A comparação com a desobediência à Torah é interessante: assim como a doença de pele se espalha e requer separação, a transgressão espiritual também afasta a pessoa de D’us e da comunidade. A Torah nos ensina a buscar purificação e arrependimento para restaurar nossa conexão com o Criador.
Portanto, lembre-se de que a parashá Tazria nos lembra da importância da obediência à Torah, purificação e restauração da conexão com o Eterno em todos os momentos de nossas vidas, independentemente, se erramos tentando acertar e ficamos impuros ou se ficamos impuros sem querer. O fato é que precisamos buscar a restauração de nossa conexão com o Eterno. E quando falo de conexão, estou falando de aliança, pacto, intimidade. Busque a cada dia seguir as orientações que HaShem nos deixou em sua Torah, ela é o nosso manual de instruções.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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