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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Estudo da Parashá Ekev - Não esqueça, mas abandone a escravidão.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 46 – Ekev (Continuem)

Devarim/Deuteronômio 7:12-11:25

Haftará (separação) Is 49:14-51:3 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Mt 4:1-11, Tg 5:7-11.


Não esqueça, mas abandone a escravidão.


A memória é uma dádiva que molda nosso caráter. Guardamos lembranças de momentos bons e ruins, e, muitas vezes, nossa mente tende a exaltar o prazer e suavizar a dor. Essa seletividade pode ser perigosa quando o passado foi marcado por opressão e desobediência. É possível abandonar as correntes físicas e ainda permanecer preso internamente. A Torá nessa porção nos mostra Moshê exortando aquela geração a ter cuidado com suas lembranças e atitudes. O Eterno nos chama não apenas para sair da escravidão, mas para arrancar suas raízes do coração.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

A parashá Ekev continua as palavras de Moshê ao povo de Yisrael antes de entrarem na terra que o Eterno prometeu a Avraham, Yitzchak e Yaakov.

Moshê lembra que, se o povo ouvir e guardar os mandamentos do Eterno, Ele guardará a aliança e o amor que jurou a seus pais, multiplicando-os e abençoando o fruto do ventre, da terra, do gado, e afastando enfermidades.

O Eterno promete expulsar, pouco a pouco, as nações maiores e mais fortes que Yisrael. O povo não deve temer, pois o Eterno lutará por eles, como fez no Egito. Moshê ordena destruir imagens e ídolos, não cobiçar a prata ou ouro neles, e não trazer essas abominações para dentro de casa .

Moshê relembra os 40 anos de caminhada, onde o Eterno os humilhou, provou, sustentou com maná, e fez com que suas roupas e sandálias não envelhecessem. Ele ensina que “o homem não vive somente do pão, mas de tudo o que sai da boca do Eterno”.

Ao entrar e prosperar na terra, Yisrael não deveria se esquecer que é o Eterno quem dá forças para adquirir riquezas, e não o próprio mérito. Moshê relembra a rebelião do bezerro de fundição, a quebra das primeiras tábuas, e como intercedeu 40 dias e 40 noites para que o Eterno não destruísse o povo. O Eterno manda Moshê lavrar duas novas tábuas e fazer uma arca de madeira para guardá-las. Os levitas são separados para servir e carregar a arca.

O servo de D’us resume o que o Eterno requer: temer, andar em todos os Seus caminhos, amá-Lo e servir com todo o coração e alma, guardando os mandamentos. A terra de Yisrael depende da chuva que o Eterno dá em seu tempo. Se o povo obedecer, haverá chuvas e colheitas; se se desviar, haverá seca. Moshê ordena colocar as palavras do Eterno no coração, ensiná-las aos filhos, falar delas no caminho, prendê-las na mão e na testa, e escrevê-las nos umbrais das portas.

A parashá encerra reforçando que, se Yisrael guardar os mandamentos com firmeza, o Eterno colocará o temor deles sobre todas as nações por onde passarem.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Na porção anterior, Moshê relembra ao povo que a vida no Mitzrayim foi comparada pelo Eterno a uma "fornalha de fundição" (Devarim 4:20). Ali, Yisrael foi moldado e refinado pelo sofrimento, mas a geração que saiu de lá guardou na memória as panelas de carne (Shemot 16:3) e esqueceu as correntes da escravidão. A nova geração estava prestes a entrar na terra prometida, mas precisava compreender que o maior perigo não estava nas nações inimigas, e sim na inclinação interna de voltar à mentalidade de escravo. Moshê estava levando-os a refletirem nessa situação. O tema deste pequeno estudo é claro e muito importante: não esqueça o passado, mas abandone a escravidão. Vejamos o que a Torá no ensina a respeito desse importante tema.


1. Lembrar para obedecer

Na Torá, o Mitzrayim é chamado de "fornalha de ferro" conforme lemos em Devarim 4:20. Essa imagem aparece também em dois textos muito relevantes, observe:


Eles são teu povo, tua herança, a quem trouxeste do Egito, tirando-os da fornalha de fundição. Melachim Alef 8:51


...que ordenei a seus antepassados no momento em que os tirei da terra do Egito, daquela fornalha de ferro. Eu disse: Ouçam minha voz, e cumpram todas as minhas ordens; então vocês serão meu povo, e eu serei seu elohim. Yirmeyahu 11:4


Esses textos reforçam que HaShem tratava o Egito como uma fornalha de fundição e que o sofrimento passado pelo povo foi um instrumento de purificação. A libertação física não teria valor algum se o povo continuasse alimentando a nostalgia de um passado de desobediência. Isto é, ficar lembrando das coisas que viveram nos tempos da escravidão com saudades seria um erro que leva ao engano e à vontade de voltar àquela situação. Moshê adverte:


Rebeldes fostes contra HaShem desde o dia em que vos conheci Devarim 9:24.


A lição aqui é clara, pois o Eterno nos retira do ambiente de escravidão para que aprendamos a viver sob Seus mandamentos, lembrando do passado para manter a gratidão e não para desejar o que ficou para trás. Em Ekev, Moshê acrescenta: HaShem os guiou quarenta anos “para te humilhar e te provar” e para ensinar que “o homem não vive somente do pão, mas de tudo o que procede da boca de HaShem” (Devarim 8:2–3). A lembrança certa conduz à gratidão e à obediência, não à saudade do cativeiro. A seguir observemos o que os profetas falam sobre isso.


2. Refinamento contínuo

Os profetas mostram que o processo não termina ao sair do lugar da opressão: Yeshayahu 48:10 diz:


Provei-te na fornalha da aflição.


Filho do homem, a nação de Yisrael tornou-se escória para mim; cobre, estanho, ferro e chumbo deixados na fornalha. Não passa de escória de prata. Por isso, assim diz o Eterno: ‘Visto que vocês todos se tornaram escória, eu os ajuntarei em Yerushalaim. Assim como os homens ajuntam prata, cobre, ferro, chumbo e estanho numa fornalha a fim de fundi-los com um sopro, também na minha ira e na minha indignação ajuntarei vocês dentro da cidade e os fundirei. Yechezkel 22:18–20


Vemos o Eterno, pela boca do profeta, comparar Yisrael a metal misturado com escória, que precisa do fogo para separar o puro do impuro. Essa linguagem mostra que mesmo após a saída do Mitzrayim físico, Yisrael ainda precisava se libertar de impurezas internas tais como a idolatria, o orgulho e a falta de confiança firme no Eterno. Assim, a libertação verdadeira é fruto de um coração convertido, não apenas de uma mudança de geografia. Por isso, Ekev insiste: o que HaShem requer é:


...temer, andar em todos os Seus caminhos, amá-Lo e servi-Lo com todo o coração e com toda a alma, guardando os mandamentos Devarim 10:12–13.


3. A liberdade ensinada por Yeshua e os shaliachim

Yeshua ensinou que “todo aquele que pratica o pecado é escravo” (Yochanan 8:34), mostrando que a escravidão espiritual, isto é, a desobediência, é mais profunda que a escravidão física. Shaul, o emissário, escreveu que “para a liberdade fomos chamados” (Galatim 5:13), mas advertiu que essa liberdade não deveria ser usada como desculpa para a desobediência. Kefa, shaliach, lembrou que fomos resgatados “da vossa vã maneira de viver” (Kefa Alef 1:18). Todos esses ensinos convergem para a mesma verdade revelada na Torá e nos Profetas, ou seja, a escravidão deve ser abandonada não apenas nos pés, mas também no coração.

O Eterno nos chama a lembrar do Mitzrayim para que nunca mais voltemos a ele, nem com os pés, nem com o coração. A memória deve servir como muro de proteção contra a ingratidão e a rebeldia. Não podemos romantizar o passado de escravidão, como fez a geração que ansiava pelas panelas de carne e esqueceu os chicotes. O verdadeiro abandono da escravidão acontece quando a confiança firme no Eterno supera qualquer nostalgia de um tempo sem mandamentos. Assim, ao caminhar na terra que o Eterno nos dá, seja ela física ou a vida renovada que recebemos, devemos escolher diariamente viver como libertos, e não como cativos. Porque quem ama o Eterno guarda os Seus mandamentos, e só assim a liberdade é plena.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Yeshua ou Jesus? A Mentira que Enganou as Nações

 

Yeshua ou Jesus? A Mentira que Enganou as Nações


E do nome de outros elohim nem farás menção; não se ouça da tua boca.” — Shemot 23:13


Yeshua ou Jesus? Isso é uma confusão de nomes ou um engano espiritual?

Muitos dizem: “Jesus é apenas a tradução do nome hebraico Yeshua”. “Nós estamos no Brasil e devemos falar o nome em português.” Mas será mesmo? Ou essa afirmação esconde algo mais profundo, mais grave, isto é, uma estratégia elaborada para afastar o povo da verdade e da obediência ao Eterno?

Quem tem firme confiança no Eterno deve andar segundo Suas instruções, e jamais seguir doutrinas de homens (Yeshayahu 29:13). A distinção entre o falso messias construído pela religião e o verdadeiro enviado do Eterno, Yeshua HaMashiach, está totalmente revelada nas Escrituras.

Neste estudo vamos expor, com base nas Escrituras, a verdade sobre essa diferença crucial. O que está em jogo não é apenas um nome, mas dois caminhos opostos, dois propósitos contraditórios, e dois reinos totalmente distintos.


1. O NOME REVELA O PROPÓSITO

O nome Yeshua (ישוע) vem da raiz yasha, que significa salvar, libertar, resgatar. Ele foi dado por direção do Eterno para cumprir um propósito: salvar o povo dos seus pecados, conduzindo-os de volta aos mandamentos.

Já o nome “Jesus” não é uma tradução. É o resultado de uma cadeia de distorções culturais e linguísticas: do hebraico ao grego ("Iesous"), do grego ao latim ("Iesus"), até chegar à forma moderna. Nesse processo, o nome perdeu a essência hebraica e ganhou uma nova identidade, moldada por povos que rejeitaram a Torá.


"E chamarás o seu nome Yeshua, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados." (refletido em Matityahu 1:21 — mas o princípio é de Bereshit até Devarim)


O nome nas Escrituras não são meras traduções, mas expressam identidade e missão. O nome carrega o propósito do Eterno para aquele homem. Nomes nas Escrituras nunca são acidentais ou apenas fonéticos, eles têm propósito e missão.

O nome "Jesus" não é uma tradução, é uma adulteração helenizada e romanizada, criada por povos que rejeitaram a Torá e queriam construir uma figura moldada às suas próprias culturas. Essa figura chamada "Jesus" acabou se tornando:

  • um objeto de adoração (idolatria),

  • uma suposta encarnação do Eterno (blasfêmia),

  • e a base para rejeição da Torá (rebelião).

Yeshua, o verdadeiro enviado do Eterno, jamais ensinou ou viveu essas coisas. Yeshua denunciou os que violavam os mandamentos e chamou o povo de volta à justiça. O “Jesus” das igrejas é aceito porque não incomoda o mundo com mandamentos. Ele é moldado para agradar os homens, não para obedecer ao Eterno.

2. O “JESUS” DAS RELIGIÕES É OUTRO MASHIACH

O sistema que criou o nome e a figura de “Jesus” fez isso para dar fim à Torá, ao Shabat, às festas do Eterno, à circuncisão, e à distinção entre puro e impuro. Esse sistema aposta no engano, criando uma figura com nome semelhante, mas que anula tudo que o Eterno ordenou. Por isso devemos lembrar o que diz o profeta:

"O que desvia os seus ouvidos de ouvir a Torá, até a sua oração será abominação." (Mishlei 28:9)

O sistema religioso criou uma figura chamada “Jesus Cristo” com características completamente diferentes de Yeshua HaMashiach, perceba uma comparação rápida:

Yeshua

Jesus

Homem hebreu, obediente à Torá

Divindade encarnada, adorado como “deus”

Ensinou a guardar os mandamentos

Supostamente aboliu a Torá

Apontava somente para HaShem

Se tornou o foco da adoração

Rejeitado por ensinar a justiça

Aceito por pregar graça sem obediência

Morreu injustamente como mártir

Morte vista como sacrifício para salvação mágica



O “Jesus” das nações não é uma versão de Yeshua. É um personagem distinto, um falso mashiach, que ensina rebelião contra o Eterno. O nome “Jesus” foi moldado por culturas que rejeitaram os mandamentos do Eterno. Conforme já mencionei, a figura de “Jesus” foi adaptada ao grego (“Iesous”), depois ao latim (“Iesus”), e só mais tarde se tornou "Jesus" nas línguas modernas. Cada adaptação afastava mais o entendimento hebraico e bíblico da identidade do verdadeiro Mashiach. No fim, “Jesus” passou a ser o símbolo de uma religião que prega a desobediência ao Eterno. E lembremos o que a Torá nos instrui:

"Eles Me provocaram com aquilo que não é El; com vaidades Me irritaram." (Devarim 32:21)


3. O MANDAMENTO: NÃO MENCIONAR NOMES DE OUTROS ELOHIM

Como servos do Eterno, devemos guardar nossas bocas daquilo que é impuro e não pronunciar nomes de falsos elohim. O próprio Eterno nos ordenou de forma clara:


"Do nome de outros elohim nem farás menção; não se ouça da tua boca." (Shemot 23:13)


"Não fareis menção do nome de seus elohim, nem por eles jurarás, nem os servirás." (Yehoshua 23:7)

A menção ao nome de uma divindade falsa, especialmente uma que anula os mandamentos do Eterno e usurpa Sua glória, é uma transgressão direta desta instrução. "Jesus", como representado pelas doutrinas religiosas, é uma construção idólatra, e seu nome passou a ser símbolo de:

  • um falso messias,

  • um "deus encarnado",

  • a abolição da Torá,

  • e o afastamento das instruções do Eterno.

O nome "Jesus", como hoje é usado, se tornou o nome de uma entidade adorada como deus, que ensina a rejeição dos mandamentos e toma para si a glória que pertence apenas ao Eterno. Pronunciá-lo com reverência, ensiná-lo ou exaltá-lo é transgressão direta da Torá.

No texto de Yehoshua 23:7, lido acima, está a confirmação: o nome deles não deve sequer ser mencionado com reverência ou normalidade. Menos ainda pode ser proclamado, exaltado, ou defendido por quem serve ao Eterno. Devemos purificar nossos lábios e falar somente do Nome de HaShem e de Seu Mashiach verdadeiro, aquele que jamais anulou os mandamentos.

"Então darei aos povos um lábio puro, para que todos invoquem o Nome de HaShem, para O servirem com um só consentimento." (Tzefanyah 3:9)

HaShem está purificando um remanescente, e isso inclui deixar de lado palavras impuras, nomes idólatras e toda mentira que saiu das bocas dos homens. Portanto, evitar o nome do falso messias é zelo pelos mandamentos. Aqueles que conhecem a verdade devem agir com temor ao Eterno. Se o nome que as nações proclamam é o nome de um elohim falso, então como pode alguém que ama a Torá usá-lo com naturalidade? É nosso dever como servos de HaShem não mencionar o nome dessa entidade criada pelas nações e venerada pelos que rejeitam os mandamentos. Que os nossos lábios proclamem somente o Nome do Eterno e aquilo que é conforme a Sua verdade.

"...Os nomes dos elohim deles não mencionareis, nem deles se ouvirá da vossa boca." (Tehilim 16:4 faz eco a essa ideia)

"Os lábios do justo sabem o que agrada, mas a boca dos perversos fala perversidades." (Mishlei 10:32)


4. O VERDADEIRO MASHIACH NOS CONDUZ DE VOLTA AO ETERNO

O Eterno é indivisível, incorpóreo, e nunca tomou forma de homem. Qualquer ensinamento que afirme que o Eterno se fez carne é contrário às Escrituras. Assim, a divindade atribuída ao chamado “Jesus Cristo” contradiz o próprio fundamento da Torá e dos Neviim.


"Ouve, Yisra’el: HaShem é nosso Elohim, HaShem é UM." (Devarim 6:4)
"Eu sou El, e não homem, o Santo no meio de ti…" (Hoshea 11:9)

Yeshua foi um homem obediente ao Eterno, conforme Moshê havia falado que seria:


"Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na sua boca, e lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. E acontecerá que todo aquele que não ouvir essas palavras que ele falar em Meu Nome, Eu o requererei dele." (Devarim 18:18 e 19)


Yeshua veio como navi (profeta) semelhante a Moshê, e falou em Nome do Eterno, jamais em nome próprio. Ele ensinou o povo a guardar os mandamentos do Eterno e a retornar às veredas antigas. Yeshua sempre apontou para o Eterno e nunca tomou para si glória que não lhe cabia. A doutrina que o transforma em objeto de adoração é idolatria. O propósito do Mashiach é reconduzir o povo à obediência ao Eterno, restaurando a justiça e a retidão, como fizeram os profetas.


"E ele ensinará o caminho ao povo, e será luz para as nações…" (Yeshayahu 42:6)


Yeshua HaMashiach veio para isso: trazer o povo de volta às veredas antigas, ao temor do Eterno, à justiça da Torá, e à pureza do coração. Conforme diz o profeta:


"Assim diz HaShem: Perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, andai por ele; e achareis descanso para vossas almas." (Yirmeyahu 6:16)


Concluindo nosso estudo devo perguntar: A quem estamos seguindo? Estamos servindo ao Eterno ou ao sistema religioso das nações? Estamos invocando o Nome do Eterno que salva através de seu mensageiro ou o nome de um falso elohim? Estamos caminhando com o verdadeiro Mashiach ou com um ídolo construído por mãos humanas?

Não há mais desculpa. A verdade foi revelada. Devemos nos converter apenas ao Eterno, abandonar todo falso ensinamento, e anunciar somente o Nome de HaShem e a verdade de Yeshua HaMashiach.


Rav Moshê Ben Yosef


Estudo da Parashá Vaetchanan - O Amor nos leva além da letra.

 

Estudos da Torá

Parashá nº 45 – Vaetchanan (Supliquei)

Devarim/Deuteronômio 3:23-7:11

Haftará (separação) Is 40:1-26 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Mt 4:1-11, 22:33-40, Rm 3:27-31.


O Amor nos leva além da letra.


Entre os muitos tesouros encontrados na Torá, nesta porção há um que muitas vezes é lido, mas raramente é compreendido em sua profundidade: “E farás o que é reto e bom aos olhos de HaShem”. Esta frase, tão simples em aparência, carrega dentro de si um chamado poderoso, ou seja, não apenas cumprir as palavras do Eterno, mas de viver conforme a intenção e o coração dEle. Não basta seguir os mandamentos como quem segue uma lista de tarefas, é preciso se deixar transformar por eles. Temos que fazer mais do que a literalidade. Isso é andar no caminho do amor, pois é o amor que nos leva além da letra.


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Nesta porção, Moshê relembra ao povo de Yisrael suas súplicas diante do Eterno, rogando permissão para atravessar o Yarden e entrar na terra prometida. Contudo, HaShem, em sua justiça, não concedeu o pedido, mas ordenou que Moshê preparasse Yehoshua para conduzir o povo.

Moshê então ergue sua voz com firmeza e ternura, exortando Yisrael a obedecer plenamente às instruções do Eterno, sem acrescentar nem retirar delas, pois a vida na terra prometida depende de fidelidade absoluta. Ele recorda ao povo a revelação única no Monte Horev, quando ouviram a voz do Eterno do meio do fogo, uma experiência que deve ser guardada no coração e ensinada diligentemente às gerações futuras.

O povo é advertido sobre os perigos da idolatria, da autossuficiência e da negligência espiritual, sendo avisado de que o afastamento dos mandamentos traria exílio e sofrimento. No entanto, Moshê também anuncia a misericórdia do Eterno, se, mesmo no exílio, buscarem ao Eterno de todo o coração e alma, Ele os ouvirá e os trará de volta.

Após designar as três cidades de refúgio além do Yarden, Moshê proclama novamente as Dez Palavras (Dez Mandamentos), reafirmando sua centralidade na aliança entre HaShem e Yisrael. Ele reforça a necessidade de temer, amar e servir ao Eterno com inteireza de coração.

Moshe ensina então o Shemah: “Ouve, Yisra’el, HaShem é nosso Elohim, HaShem é um”, e o mandamento de amar HaShem com todo o coração, alma e força. Ele ordena que estas palavras sejam guardadas no coração, ensinadas aos filhos, faladas no lar, no caminho, ao deitar e ao levantar, e gravadas nas portas das casas.

A porção conclui com exortações claras, para não se esquecerem que foi o Eterno quem os tirou de Mitsrayim (Egito) com sinais e poder, e que a prosperidade futura pode se tornar armadilha se não for acompanhada de gratidão e temor. Moshê instrui que os filhos devem ser ensinados sobre os feitos do Eterno, para que a memória da redenção e os mandamentos jamais se apaguem de Yisrael.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

O povo de Yisrael foi instruído a guardar fielmente os mandamentos do Eterno, os estatutos, juízos e preceitos que moldam a vida. No entanto, a Parashá Va’etḥanan, ao reafirmar as Dez Palavras e destacar o Shemah Yisrael, apresenta algo além da simples obediência externa: “Farás o que é reto e bom aos olhos de HaShem” (Devarim 6:18). Esta frase exige reflexão. Encontramos o Eterno falando algo parecido a Avram em Bereshit (Gênesis) 17:1:


E sendo Avram da idade de noventa e nove anos, apareceu HaShem a Avram, e disse-lhe: Anda na minha presença e sê perfeito.”


O que é “reto e bom”? O que é ser perfeito? Se a Torá já contém as instruções detalhadas, por que Moshê adiciona essa expressão aparentemente vaga?

Antes de seguir em frente em nosso estudo, vamos refletir um pouco sobre esses questionamentos. Muitos acreditam que ser perfeito é não ter erros, e que ser reto e bom é nunca falhar e sempre agir com bondade. Mas e o que realmente as Escrituras dizem dentro do contexto original? Começando pelo que o Eterno falou a Avram, precisamos entender que nas Escrituras, “andar na presença do Eterno” significa viver com integridade, consciência constante de que Ele vê todas as ações, e obediência fiel aos Seus mandamentos. E o termo “perfeito” aqui não se refere à ausência de erro humano, mas à inteireza de coração, ou seja, um coração não dividido, que serve a HaShem com sinceridade e sem duplicidade. O contexto é muito importante, pois o Eterno está estabelecendo uma aliança com Avram, e como parte dessa aliança, o patriarca é instruído a viver de uma maneira específica. No verso original em transliteração direta temos: ...hithalekh lefanay vehyei tamim.

Observe o significado de cada parte:

- “Anda na minha presença” – התהלך לפני (hithalekh lefanai)

A raiz da palavra התהלך hithalekh é הלך halakh, que significa literalmente “andar”, e o modo reflexivo usado aqui sugere um andar contínuo e voluntário. O termo לפני lefanai (na minha presença ou diante de mim) indica uma vida vivida abertamente, sem disfarce, perante o Eterno. Isso não é uma metáfora mística, o Eterno estava dizendo a Avram para que viva constantemente consciente de Sua presença e sob Sua autoridade. É um convite para uma relação de intimidade e proximidade com HaShem. Encontramos outros textos que demonstram esse entendimento, comprovando um princípio das Escrituras:


Minha presença irá contigo, e te darei descanso.” Shemot (Êxodo) 33:14


Bem-aventurados os íntegros no caminho, que andam na Torá de HaShem.” Tehilim (Salmos) 119:1


- “Se tamim” - וֶהְיֵה תָמִים

A palavra tamim (תָמִים), em toda a Torá, carrega um significado muito claro e objetivo, como algo que está completo, inteiro, sem defeito ou mácula. Nas Escrituras, essa palavra é usada principalmente para sacrifícios sem defeito (Vayicrá 22:21), Caminho reto diante do Eterno (Tehilim 18:13) e Coração indiviso, inteiro (Devarim 18:13). Portanto, dizer que “tamim” apenas significa “sincero” ou “moralmente íntegro” reduz sua real importância. Tamim é completude diante de HaShem, ou seja, sem divisão, dúvidas, não vacilante, sem partes ocultas ou reservas. Tamim não significa perfeição no sentido de ser impecável ou sem erros, como costumam entender. Avram não estava sendo instruído a ser impecável, mas a ser completo em sua kavanáh (intenção) em servir ao Eterno.

Devemos aplicar o mesmo entendimento ao texto da Parashá: 'Farás o que é reto e bom aos olhos de HaShem' (Devarim 6:18). O termo hebraico Yashar significa reto, direto, íntegro, alguém que anda corretamente diante do Eterno. Já Tov significa bom, aquilo que é moralmente correto. Juntos, esses termos apontam para um viver íntegro e coerente com a vontade de HaShem. Não é à toa que aprendemos na Torá que o amor ao Eterno é a fonte de todo o princípio encontrado nas Escrituras, conforme lemos em Dt 6:5 e Mc 12:30, em um midrash feito por Yeshua:


...Amarás o Eterno teu Elohim de todo o teu coração, de toda a tua vida e de todas as tuas forças...


Este princípio nos leva a viver agradando ao nosso criador. Podemos expandir a ideia de andar com HaShem relacionando com outros personagens que foram chamados “tamim” ou “yashar”. Veja por exemplo:

- Noach – “Noach era homem justo (tzadik) e íntegro (tamim) entre os seus contemporâneos” (Bereshit 6:9).

- Iyov (Jó) – “Havia um homem na terra de Uz... íntegro (tam v’yashar), temente a HaShem e que se desviava do mal” (Iyov 1:1).


Com isso, podemos reforçar a universalidade do princípio, pois confirmamos que não é uma exceção ou uma doutrina nova de Yeshua, mas algo que existe desde os primórdios. Assim, torna-se claro que a resposta para as perguntas feitas acima é que o Eterno deseja mais do que ações mecânicas, Ele busca corações moldados pela compaixão, pelo amor e pela justiça verdadeira. Avancemos então um pouco mais o assunto explorando a profundidade do mandamento e vejamos como o amor nos leva além da letra.


1. A Torá como caminho de vida, não apenas de regras

É impressionante como a visão da maioria das pessoas que de alguma forma conhecem algo sobre a Bíblia acreditam que as leis do Eterno são regras que não podem ser obedecidas devido ao seu elevado número. E também acreditam que não devem ser obedecidas, pois era para um tempo e um povo do passado. No entanto isso é um grandioso engano, a Torá não é um código seco, nem é um conjunto de leis que não conseguimos obedecer, tão pouco é um peso. Você acredita que o criador do universo iria dar um conjunto de leis impossíveis de serem cumpridas para o homem? A troco de quê ele faria isso? Faz algum sentido para você?

Cada mandamento, regra e instrução na Torá é uma expressão da vontade viva do Eterno. Em Devarim 4:6, Moshê afirma que ao Yisrael guardar os mandamentos, os povos diriam: “Certamente este povo é sábio e entendido”. A sabedoria não está apenas em fazer meramente o que está escrito, mas em discernir o momento, a intenção e a aplicação. Quer dizer por exemplo, que não basta não trabalhar no shabat, não é apenas seguir regras ou ficar parado sem se mexer nesse dia. É entender que esse é um dia que deve ser dedicado para o Eterno, onde você não vai pensar em nada que indique as coisas comuns do dia a dia que envolvem trabalho. Isso exige o coração, ou seja, uma kavanáh (intenção) verdadeira. O amor é a lente que dá vida às palavras do Eterno, não é sentimentalismo, mas prática com razão. No tópico a seguir veremos que fazer o que é reto e bom não é algo subjetivo, é além.


2. Fazer o que é “reto e bom” não é subjetivo

Quando Moshê disse para o povo fazer o que é “reto e bom” não era para o povo escolher como fazer as coisas do jeito deles, pois o Eterno já definiu em suas palavras, a Torá, o que é “reto e bom”. Fazer o que é “reto e bom” não é subjetivo, ou seja, os conceitos de retidão e bondade não se baseiam em opiniões pessoais ou culturais, mas em um padrão moral objetivo estabelecido previamente, isso é coerente com o caráter de HaShem demonstrado na Torá.

Moshê exorta: “Guarda-te para que não te esqueças” (Devarim 4:9). O esquecimento não é apenas mental, mas também moral. A idolatria, por exemplo, é muitas vezes o resultado de corações endurecidos que ainda obedecem externamente, mas se afastaram internamente. Agir com retidão é refletir o caráter de HaShem que é justo, misericordioso e paciente entre muitas coisas. É não usar a Torá como escudo para o ego ou a indiferença. É refletir em tudo que se vai fazer e em cada decisão relacionada aos mandamentos. Veremos que Yeshua viveu e ensinou dessa maneira.


3. Yeshua e a intensificação da Torá no coração

Yeshua HaNotzri (o nazareno), ao ensinar, não revogou nenhum mandamento, mas revelou seu alcance mais profundo. Em toda a sua vida ele obedeceu a cada mandamento que lhe cabia, sempre de maneira racional e ampliada ou melhorada. Isto quer dizer que ele não agia como muitos religiosas de sua época, que davam mais ênfase em leis humanas do que nas próprias leis divinas. Em Devarim, está dito: “Não matarás” e Yeshua mostra que a raiva ou uma palavra mal falada contra o irmão já fere esse princípio conforme lemos em Matityahu (Mateus) 5. Isso não é criar nova lei, e nem é torná-la legalista por uma cerca, mas é mostrar que a Torá exige pureza de intenção verdadeira. Não é só evitar ou prevenir o ato, mas o veneno que o antecede. O mesmo vale para o adultério e a questão do divórcio, onde ele chama o povo de volta à pureza da aliança original. Em relação ao divórcio, mesmo quando a Torá o permite por causa da dureza de coração das pessoas, conforme Devarim 24:1 e Matityahu 19:8, se há meios possíveis de reconciliação, isso é muito melhor.


4. Amor e justiça caminham juntos na prática dos mandamentos

De acordo com o que já vimos até aqui, podemos compreender firmemente que o amor e a justiça, ou seja, a obediência, caminham juntos na prática dos mandamentos de forma plena. Devarim 6:5 manda amar HaShem com todo o coração, alma e força. E em 6:18 vem a ordem de fazer o que é “reto e bom”. O amor é a base sobre a qual todo o edifício da obediência se sustenta. Um mandamento cumprido sem amor pode se tornar opressivo e legalista. Mas quando o amor está presente, mesmo o mais difícil dos mandamentos se transforma em alegria. O amor nos faz considerar o próximo, buscar a reconciliação antes da oferta conforme Matityahu 5:24, e agir com justiça mesmo quando temos direito ao contrário.

Há pessoas que se apegam aos mandamentos por legalismo ou por religiosidade não por amor a que os deu. Há outros que se apegam tanto ao mandamento que criam cercas para protegê-lo e o torna pesado de se obedecer. Isso é uma coisa desnecessária. Existem cercas ou halachá que são boas, mas são as que não tornam o mandamentos pesados. Esse equilíbrio em saber discernir como cumprir os mandamentos além da letra sem ficar preso a uma cerca ou legalismo é obtido através do amor verdadeiro ao Eterno e a seu caráter.

Concluindo nosso estudo, vemos que o coração que busca agradar ao Eterno obedece além da letra sem extremismos ou religiosidade. A Parashá Vaetcḥanan não é apenas um chamado à lembrança dos mandamentos, mas uma convocação à maturidade espiritual. Fazer o que é “reto e bom” significa andar no caminho do Eterno com discernimento, misericórdia, humildade e verdade. É entender que a Torá não é um fim em si mesma, mas um meio para que vivamos como povo santo, entendendo que não precisamos seguir leis criadas ou acrescentadas para agradar ao Eterno.

Quem ama HaShem não se contenta com o mínimo, vai além da letra. Busca o centro da instrução ou mandamento e age com a razão e com a kavaná verdadeira no coração. Serve com alegria. Perdoa com generosidade. Guarda o shabat com reverência e amor. Cuida dos pais, dos pobres, da justiça, da verdade, tudo de forma plena, como Yeshua ensinou. O amor é o fio que tece todos os mandamentos num só manto de retidão. Por isso foi dito para os servos do Eterno fazerem o que é “reto e bom”, e por isso eu digo que o amor nos leva além da letra. Portanto, quem ama a HaShem: Conhece os seus mandamentos, discerni seu espírito, e cumpre com inteireza de coração. Isso é fazer o que é reto e bom. Isso é viver além da letra. Isso é andar com o Eterno.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!

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Moshê Ben Yosef