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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Controvérsia Fé X Razão na História da Filosofia Cristã


Texto do Trabalho de Avaliação na Disciplina de Filosofia II, apresentado na Faculdade de Teologia e Filosofia - FATEF, pólo de Itaboraí, em 2012.

Autor: Marcelo Santos da Silva

 

1 - O Conflito entre Fé e Razão

A filosofia inicia o conflito entre razão e fé quando tenta deixar para trás a fé cega nos mitos, explicando racionalmente tais fenômenos. (Cabral)[1] É interessante quando olhamos para fatos histórico-sociológicos de diversas culturas diferentes, e percebemos como as explicações a respeito da criação do mundo e do homem, bem como a formação dos povos, se mesclam entre explicações racionalmente científicas e as religiosas. Assim, através dos séculos, desde a antiguidade grega a Filosofia vêm explicando diversos fenômenos, até que houve a ruptura entre o pensamento mitológico e o racional. Uma vez que a filosofia surge em um momento em que tudo era explicado à partir de divindades, para uma tentativa de explicar as coisas de forma racional, usando assim o pensamento, a observação e o questionamento para dar respostas às várias questões da vida. Sobre isso Cabral afirma:

A tentativa de explicar os fenômenos a partir de causas racionais já evidenciava o confronto com as formas de pensar e agir (fé) do povo grego que pautava sua conduta pelos mitos. O próprio Sócrates, patrono da filosofia, foi condenado por investigar a natureza e isso lhe rendeu a acusação de impiedade.

Os adeptos da filosofia da razão queriam explicações racionais para as questões principais da vida, não aceitando mais as resposta mitológicas, compostas por deuses e forças inexplicáveis racionalmente. Isso deu início ao conflito entre o mito e o racional, ou a fé e a razão. Sendo assim, passou-se a fazer algumas perguntas como: Há uma possibilidade das duas andarem juntas? Por que há tanta discussão sobre o assunto? Neste trabalho, será abordado a temática em questão, sem a pretensão clara de finalizar o assunto, mas tentando argumentar sobre alguns pontos de vista de diferentes autores a respeito desse conflito ou da possibilidade de união desses temas.
McGRATH (2005, p. 269)[2] levanta um questionamento sobre a relação existente entre Atenas e Jerusalém, afirmando que estas foram perguntas feitas por Tertuliano, no século III. Qual relação havia entre a teologia cristã e a filosofia secular, perguntava-se o imperador. Para ele, os teólogos cristãos eram parte de um universo intelectual completamente diferente daquele ao qual pertenciam os filósofos pagãos. Continuando então sua pergunta, como poderia haver um diálogo entre eles? Porém, havia os que incentivavam um diálogo amigável e um desenvolvimento construtivo com a teologia secular. Justino Mártir, por exemplo, tomava partido em favor do platonismo[3], levando os críticos de sua época a sugerirem que tinha batizado as idéias de Platão, sem ter analisado tais idéias de forma crítica e racional. Agostinho também era a favor de uma junção crítica da filosofia secular, e comparava tal processo com o episódio ocorrido durante o Êxodo do povo hebreu, sob a liderança de Moisés, quando ao sair em direção ao deserto, carregavam consigo as riquezas do Egito. E também, quanto ao próprio Moisés, que foi educado em toda a sabedoria egípcia (At 7.22). Sendo assim, é interessante observar que a teologia vêm ao longo dos séculos interagindo com diversas escolas filosóficas. Mas, tais escolas eram tidas muitas vezes aliadas e em outras, como inimigas da fé cristã.
A Idade Média geralmente é estipulada como o período de início de tal controvérsia, de acordo com Cabral, pois se travava de um confronto entre os adeptos da boa nova (evangelho), isto é, a religião cristã, e seus adversários moralistas gregos e romanos, na tentativa de imporem seus pontos de vistas. Porém, como mencionado anteriormente, é uma discussão muito antiga. Entretanto, sendo a Filosofia uma constante luta pela descoberta da verdade e do conhecimento, e sendo ela própria anterior à Idade Média, percebe-se que desde seu surgimento já ocorria uma busca pela resolução de tal conflito.
Com toda essa problemática em plena ebulição e a dura disputa entre os dois lados, a controvérsia atravessou gerações e chegou ao período medieval, quando de acordo com VASCONCELLOS (2007,1)[4], a reflexão filosófica nesse período deixou marcas pela peculiaridade que não era apenas acessória, mas se constituiu em algo absolutamente fundamental para a compreensão do pensamento daqueles tempos: tratava-se da aliança que se formaria entre a filosofia grega e a religião, gerando uma filosofia religiosa. Nesses termos pode-se mencionar as idéias de Santo Agostinho, bem como São Tomás de Aquino. No entanto, antes de tudo, deve-se entender que a religião cristã debateu muito a respeito de seu entendimento filosófico a respeito das suas doutrinas através desses e de outros homens, e,

desse debate, surgem as formas clássicas de combinação dos padres medievais: aqueles que separam os domínios da razão e da fé, mas acreditam numa conciliação entre elas; aqueles que pensam que a fé deveria submeter a razão à verdade revelada; e ainda aqueles que as vêem como distintas e irreconciliáveis. Esse período é conhecido como Patrística (filosofia dos padres da Igreja). (Cabral)[5]

A filosofia racional na era moderna, de acordo com Cabral, depois das inquisições, apelou à razão humana contra a tirania da Igreja. Segundo o autor, basta olhar para Galileu, Bruno e Descartes, que reinventaram o pensamento contra a fé cega que mantinha os homens na ignorância das trevas reclamando o direito à luz natural da razão. E a expressão máxima desse movimento foi o Iluminismo, que compreendia a superação total das crenças e superstições infundadas e prometia ao gênero humano dias melhores a partir da evolução e do progresso. Kant vê esse fenômeno num primeiro momento como uma realidade cuja origem é irrelevante. A crença histórica, fundada sobre uma revelação empírica, é fruto de um acaso. Ele não nega propriamente a possibilidade interna de uma revelação divina, mas o que interessa acentuar é que sua origem, enquanto contingente, não pode ser determinada pela razão, da incondicionalidade. Sabemos, no entanto, que a fé traz questões novas para a filosofia, ou seja, o filósofo que crê na verdade revelada teria mais uma fonte de conhecimento, um conhecimento novo, isto é, alargaria seu campo de análise intelectual racional. Poderíamos dizer que existe razão na fé, por exemplo, quando o indivíduo crê no dado da revelação divina, primeiro ele acredita com a razão, embora não signifique que o indivíduo não possua emoção, sentimento, porém não é com o coração que ele fala sobre a Trindade, nesse ponto é a razão quem diz os motivos por que o indivíduo acredita em Deus, ou seja, junto com o sentimento vai a razão, pois segundo Tomás, há razão na fé. Então dentro desse contexto, de acordo com Vasconcellos (2007,1)[6], é preciso destacar que, embora sendo religião e não filosofia, o cristianismo não se fecha às aspirações de racionalidade do homem, demonstrando que há meios de Fé e Razão conviverem dentro do contexto filosófico e teológico, pois ambas têm o mesmo interesse, que é a busca do conhecimento da verdade.

1.1 - A Importância da Questão

            Sabendo da controvérsia entre a fé e a razão que houve no passado, conforme o que foi exposto acima, e que mesmo hoje alguns ainda insistem em manter isso vivo, é preciso ter noção da importância dessa questão, pois da união dos pensamentos surge uma disciplina chamada apologética. Kreeft e Tacelli (2008, 39)[7] dizem que:

Se a fé e a razão não forem parceiras, se estiverem divorciadas ou forem incompatíveis, como gatos e pássaros, então a apologética se torna impossível, pois esta consiste em aliar razão e fé, em defender a fé com as armas da razão.

            É importante saber que muitas coisas que se consideravam mitos no passado, hoje, depois de algumas descobertas científicas ficou esclarecido como verdade. Um exemplo disso são os achados nas cavernas Qunram, no Mar Morto, que através destas descobertas pôde se confirmar muitas coisas declaradas nas escrituras. O pensamento religioso, ou teológico não precisa estar separado do pensamento racional. Principalmente se entendermos que a Teologia é um estudo sistemático sobre Deus, e que pelo termo sistemático em si mesmo, já demonstra um grau de racionalidade e cientificidade, então, infere-se naturalmente que ela não está à parte da ciência. Pelo contrário, é uma ciência, religiosa, mas ainda assim, uma ciência. E sendo uma disciplina cientifica da área humana a Teologia lança mão da Filosofia a fim de explicar seus postulados com o maior grau de razão possível. Então, por este prisma, a fé e a razão precisam andar juntas.

1.2 - Definições

Torna-se necessário no contexto em questão, que sejam esclarecidas as definições de fé e de razão, pois geralmente, esses termos costumam ser usados de forma vaga ou equivocada.
1.2.1 - Fé
Dentro do assunto em questão, pode-se definir fé como um ato, de acordo com KREEFT e TACELLI, op cit, p. 40-41
O ato de fé é mais do que um mero ato de crer. Acreditamos em muitas coisas – por exemplo, que determinado time de futebol era ganhar o jogo, que o presidente não é um mau caráter, que a Noruega é um belo país – entretanto, não estamos dispostos a morrer por essas crenças e não podemos vivê-las a cada momento. Entretanto, a fé religiosa tanto pode estimular-nos a morrer em prol do que cremos como viver a cada instante. (...) Mas o simples ato de crer faz parte da fé e é um de seus aspectos.
1.2.2 - Razão
Os autores KREEFT e TACELLI (op cit, p. 44)[8] definem que “a razão está relacionada à verdade, pois é uma maneira de conhecer a verdade, de compreendê-la, de descobri-la e de prová-la.” Então, pode-se estabelecer uma associação com a fé, pois ela está relacionada à verdade também, pois é no mesmo sentido uma maneira de descobri-la.
Externamente à religião e também através dela, a fé e a razão são estradas que levam à verdade.

Conclusão

            Conforme o que foi basicamente exposto acima, pode-se perceber que através dos séculos, os adeptos da filosofia e da teologia cristã, vieram se debatendo em meio aos temas razão e fé, até o momento em que, tanto um quanto outro, entendeu a importância de ambos os pensamentos. A filosofia com sua linha de pensamento racionalmente sistemático procura respostas aos seus questionamentos através da reflexão e da observação. Já a teologia através do estudo sistemático sobre Deus e as escrituras, e utilizando uma filosofia voltada para sua área de atuação, busca as respostas para complementar a fé. Infere-se então, que em alguns momentos a filosofia busca algo no âmbito da fé, enquanto que a teologia em outros, se utiliza da filosofia para racionalizar algum pensamento. Nesse ponto de vista a controvérsia fé e razão, só haverá quando, de acordo com o que foi pontuado no decorrer do texto, ambos os lados forem intransigentes. Porque, enquanto houver racionalidade no homem, ou seja, pensamento reflexivo, este se utilizará da filosofia, seja em termos meramente racionais, ou religiosos. O fato é que mesmo a filosofia em algum momento, acabará se remetendo ao mito. Bem como a teologia em outro buscará uma explicação na filosofia. Finalmente, deve-se entender que precisa haver um equilíbrio de forças, para que não haja extremismos. Caso contrário, o que ocorre é o que muitos ateus, historiadores e filósofos afirmam, a razão é contrária a fé. O que no âmbito racional humano é uma falácia, pois uma pessoa pode acreditar em tantas coisas e não as racionalizar. Da mesma forma como algo extremamente científico pode não ter crédito. Então, razão e fé precisam caminhar juntas, para que haja reflexão da fé e da própria filosofia.

Bibliografia


CABRAL, João Francisco P. O Conflito entre a Razão e Fé. Disponível em Acessado em 16 maio2012.

McGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações, 2005. 660 páginas.

VASCONCELLOS, Manoel. A Razão diante da Fé e da Autoridade do Pensamento Medieval. Biblos, 2007. 14 páginas. Disponível em Acessado em 16 maio2012.

KREEFT, Peter, TACELLI, Ronald K. Manual de Defesa da Fé – Apologética Cristã. Editora Central Gospel, 2008. 624 páginas.




[1] CABRAL, João Francisco P. O Conflito entre a Razão e Fé. Disponível em http://www.brasilescola.com/filosofia/o-conflito-entre-fe-razao.htm. Acessado em 16 maio2012.
[2] McGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações, 2005. página 269.
[3] O Platonismo é uma corrente filosófica baseada no pensamento de Platão, que progrediu muito depois da morte desse filósofo. Diversos estudiosos distinguem várias fases em seu desenvolvimento posterior, inclusive o período do “médio plantonismo” e do “neoplatonismo”. Alguns teólogos do período patrístico consideravam a noção platônica de logos extremamente importante, especialmente para a abordagem das doutrinas da revelação de Deus e da cristologia. McGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução à Teologia Cristã. Shedd Publicações, 2005. página 271.
[4] VASCONCELLOS, Manoel. A Razão diante da Fé e da Autoridade do Pensamento Medieval. Biblos, 2007. página 1
[5] CABRAL, João Francisco P. O Conflito entre a Razão e Fé. Disponível em http://www.brasilescola.com/filosofia/o-conflito-entre-fe-razao.htm. Acessado em 16 maio2012.
[6] VASCONCELLOS, Manoel. A Razão diante da Fé e da Autoridade do Pensamento Medieval. Biblos, 2007. página 1
[7] KREEFT, Peter, TACELLI, Ronald K. Manual de Defesa da Fé – Apologética Cristã. Editora Central Gospel, 2008. página 39.
[8] KREEFT, Peter, TACELLI, Ronald K. Manual de Defesa da Fé – Apologética Cristã. Editora Central Gospel, 2008. página 44.

2 comentários:

  1. É um texto muito interessante, devido a questão entre a fé e a razão. Ainda muitas pessaos acham que essas duas coisas não podem andar juntas, e o texto mostra que pode.

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  2. Ivani Medina - LI SEU ARTIGO. E É COMPLETAMENTE EQUIVOCO, E VAZIO DE EVIDENCIAS, VOU TE A PRESENTAR 10 PROVAS QUE SEU BLOG (http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver) PRECISA REVER. 1 O historiador judeu Flávio Josefo viveu na época de Jesus Cristo e em sua obra “Antiguidades Judaicas“, mais precisamente no capítulo terceiro do volume XVIII diz:
    “… entretanto existia, naquele tempo, um certo Jesus, homem sábio… Era fazedor de milagres… ensinava de tal maneira que os homens o escutavam com prazer… Era o Cristo, e quando Pilatos o condenou a ser crucificado, esses que o amavam não o abandonaram e ele lhes apareceu no terceiro dia…”. 2 - Tácito era um convicto pagão romano (56 d.C. – 120 d.C.) e foi considerado um dos maiores historiadores da Antiguidade. Em seus Anais (parte XV), escreveu:
    “… Nero infligiu as torturas mais refinadas a esses homens que sob o nome comum de cristãos, eram já marcados pela merecida das infâmias. O nome deles se originava de Cristo, que sob o reinado de Tibério, havia sofrido a pena de morte por um decreto do procurador Pôncio Pilatos…”.
    3 - A primeira prova arqueológica da existência de Jesus Cristo é uma urna de calcário que era usada à época para depositar os ossos na cidade de Jerusalém. O ossuário data de aproximadamente 63 d.C. e nele está escrito “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Para estudiosos no assunto, o ossuário trata realmente de Tiago que era o irmão de Jesus Cristo.

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