Gostei muito deste texto e resolvi compartilhá-lo aqui no Blog.
Extraído de http://discernimentocristao.wordpress.com/2012/02/26/o-que-ha-de-errado-com-o-apelo-na-pregacao/
“A simples aceitação de um ensinamento verdadeiro sobre a pessoa de Cristo, sem o coração ter sido ganho por Ele, e a vida ter sido devotada a Ele, é apenas mais outra etapa deste caminho “que ao homem parece direito”, mas cujo fim “são caminhos da morte”. A.W. Pink
Ao contrário do que a maioria de nós
crentes imagina, o apelo feito no final do culto para que o perdido
entregue sua vida à Cristo, é uma prática relativamente nova, portanto
completamente desconhecida dos apóstolos. Durante seus primeiros 1.800
anos, o cristianismo se desenvolveu sem a famosa ajuda do apelo, “Quem
quiser aceitar Jesus, levante sua mão”. Há propósito, alguém já
encontrou o termo, “Aceite a Cristo” no novo testamento?
“Foram os Metodistas e os Evangelistas
reavivalistas do século XVIII que deram luz a esta novidade no
cristianismo que se chama de “apelo”. Esta prática de convidar pessoas
que desejam orações a colocar-se de pé e vir à frente para recebê-las
surgiu de um evangelista Metodista chamado Lorenzo Dow. Posteriormente o
reverendo James Taylor foi um dos primeiros a chamar pessoas para virem
à frente em sua igreja em 1785 no Tennessee. O primeiro uso do altar de
que se tem registro com relação a um convite público aconteceu em 1799
em um acampamento metodista em Rio Vermelho, Kentucky, E.U.A. [117]
Mais tarde, em 1807 na Inglaterra, os
metodistas criaram o “banco de penitentes”. [118] Agora, os pecadores
ansiosos tinham um local para confessar seus pecados ao serem convidados
para vir à frente. Este método chegou aos Estados Unidos dentro de
poucos anos. O evangelista Charles Finney (1792-1872) acatou este “banco
de penitentes”. Finney começou a usar este método a partir de sua
famosa cruzada de 1830 em Rochester, Nova Iorque. [119] O “banco de
penitentes” localizava-se defronte ao lugar onde os pregadores se
postavam no púlpito. 120[120] Ali tanto pecadores como santos carentes
eram convidados a ir à frente para receber as orações do ministro. [121]
Finney elevou o “apelo ao altar” ao nível de uma obra de arte. Seu
método consistia em pedir àqueles que queriam ser salvos para que se
levantassem e fossem à frente. Finney tornou esse método tão popular que
“após 1835, chegou a ser um elemento indispensável no moderno
evangelismo”. [122]
Com o tempo, esse “banco de penitentes”
dos acampamentos feito em fazendas e beira de estradas foi substituído
pelo “altar” no salão da igreja. O “caminho de serragem” usado nos
acampamentos deu lugar ao corredor da igreja. Assim, pois, surgiu o
famoso “apelo ao altar”. [124] Talvez o elemento mais dominante
proporcionado por Finney ao moderno cristianismo foi o pragmatismo. Por
pragmatismo quero dizer a crença de que se algo funciona ou dá
resultados, então deve ser apoiado ou aceito. Finney acreditava que o NT
não ensinava nenhuma forma determinada de adoração. [125] Ele ensinava
que o único propósito da pregação é ganhar almas. Qualquer mecanismo que
ajudasse atingir esta meta poderia ser aceito. [126] Sob Finney, o
evangelismo do século XVIII se converteu em uma ciência e foi integrado à
corrente principal das igrejas. [127] O cristianismo moderno nunca se
recuperou desta ideologia antiespiritual. É o pragmatismo, não a Bíblia
ou a espiritualidade, que governa as atividades da maioria das igrejas
modernas. (Posteriormente as igrejas atentas aos seus “índices de
audiência” foram além de Finney). O pragmatismo é daninho porque ensina
que “os fins justificam os meios”. Se o fim é considerado “santo”,
qualquer “meio” é válido. Por estas razões Charles Finney é aclamado
como “o reformador litúrgico mais influente na história da igreja
americana”, [e em conseqüência, da igreja moderna]. [128] Do ponto de
vista do genuíno protestantismo, é necessário que a doutrina esteja
rigorosamente de acordo com as escrituras para poder ser aceita. Mas
pela prática da igreja, tudo é válido desde que resulte em novas
conversões! Em todos os aspectos, o Evangelismo reavivalista converteu a
igreja em um ponto de pregação, restringindo a experiência da ekklesia a
uma missão evangelística. [129] Isto normatizou os métodos
reavivalísticos de Finney e criou personalidades do púlpito como a
atração dominante. A igreja passou a ser uma questão de preferência
individual em vez de ser uma questão coletiva. [130]
Em outras palavras, a meta dos
reavivalistas era levar pecadores individualmente a uma decisão
individual, por meio de uma fé individualista. Como resultado, a meta da
Igreja Primitiva — a edificação mútua e o funcionamento de cada membro
manifestando Jesus Cristo coletivamente diante dos principados e
potestades — perdeu-se completamente. [131] Ironicamente, João Wesley,
[a quem muito admiro],um dos primeiros reavivalistas, compreendeu os
perigos do movimento reavivalista. Ele escreveu que “o cristianismo é
essencialmente uma religião social [...] transformá-lo em uma religião
solitária é certamente sua destruição”. [132] O último tempero que o
Reavivalismo agregou à liturgia protestante foi fazer o “apelo ao altar”
após um hino. Esta é a liturgia que domina o protestantismo até hoje”.
Frank A. Viola
O texto acima introduz um pouco de luz
sobre o tema, nos fornecendo mais condições de entender alguns fatores
pelo qual as coisas se encontram como estão. A problemática do apelo, é
que numa área de extrema complexidade, a salvação do indivíduo, ele
apela para um recurso extra bíblico. O apelo também não leva em
consideração a necessidade de arrependimento do pecador, como condição
para a sua salvação, como as escrituras determinam, “Disse Jesus: Se não se arrependerem, todos de igual modo perecerão”.
Lucas 13:3. Mas alguém pode observar, “mas o que pode haver de errado
em algo que é extra bíblico, se esse recurso ajuda as almas a se
encontrarem com o salvador?” Realmente ajudaria se não atrapalhasse. O
apelo acelera um processo que jamais poderia ser apressado. No
evangelho, Jesus ensina justamente o oposto:
“Grandes
multidões estavam seguindo Jesus. Então Ele fez um discurso assim:
“Todo aquele que quer ser meu seguidor deve amar-Me bem mais do que ao
seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos ou irmãs – sim, mais do que a
própria vida; caso contrário, não pode ser meu discípulo.
E
ninguém pode ser meu discípulo se não carregar sua própria cruz e
seguir-Me. Mas é preciso pensar muito antes de resolver. Pois quem
começaria a construção de um edifício sem primeiro fazer os cálculos e
depois verificar se tem dinheiro suficiente para pagar as contas! Para
que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a
podendo acabar, então todo mundo se riria dele! Estão vendo aquele
sujeito ali diriam em tom de gozação: ‘Começou aquela construção e ficou
sem dinheiro antes de terminar!’
E qual é
o rei que algum dia pensou em ir à guerra sem primeiro sentar-se com os
seus conselheiros e discutir se seu exército de 10.000 tem força
suficiente para derrotar os 20.000 homens que vêm marchando contra ele’!
Se acharem que não, enquanto as tropas inimigas ainda vêm longe, ele
mandará uma comissão para combinar as condições de paz. “Assim ninguém
pode ser meu discípulo se primeiro não resolver abrir mão de todas as
outras coisas, por mim”.
Lucas 14: 25 a 33
Observe que apesar da missão do messias
ser fundamentalmente o resgate da humanidade, em momento algum ele
minimiza ou rebaixa o padrão pelo qual os homens devem recebê-lo.
Querer resolver tudo em um só evento, em algo de tamanha magnitude, é um
erro crasso, é o calcanhar de Aquiles da pregação do evangelho. A
verdadeira conversão é algo muito mais superior e complexo do que a
nossa vã teologia supõe, podemos notar isso pelos termos que Jesus
apresenta para aceitar alguém ao seu lado. Na verdade nós é que
precisamos ser aceitos por Jesus, e não o contrário como se diz
irresponsavelmente. Essa conversa de que a salvação é gratuita é
verdade, mas com certas considerações, e jamais sem elas. Oferecer a
salvação como a um brinde que pode ser recebido incondicionalmente, é
propaganda enganosa, uma mentira maldosa para com os pobres ouvintes.
“É impossível alguém se arrepender [segundo os padrões de Cristo] sem ter uma profunda decepção consigo mesmo”
Com esse tipo de apresentação que nos
acostumamos a fazer do evangelho, não me admiro que a maior parte dos
conversos abandone o caminho após uma leve ciência dos fatos, e outra
parcela gigantesca das chamadas ovelhas, estejam na igreja simplesmente
interpretando o personagem do cristão, após descobrirem que
foram impulsionadas a optarem precipitadamente por um salvador, do qual
não conheciam absolutamente nada. E o que as mantém na congregação
então? É simples, disseram a elas que a salvação eterna lhes foi
oferecida em troca de um consentimento verbal e público de que Jesus era
o filho de Deus, o salvador. E que após essa “promoção celestial”, o
que se esperava deles seria penas uma leve freqüência nos cultos, algum
dinheiro, seguido do abandono de meia dúzia de maus costumes. Como dizem
alguns sóbrios homens de Deus, “Nunca ninguém ofereceu tanto, por tão
pouco”.
“A natureza da salvação de Cristo é deploravelmente deturpada pelo evangelista de hoje. Eles anunciam um Salvador do inferno ao invés de um Salvador do pecado. E é por isso que muitos são fatalmente enganados, pois há multidões que desejam escapar do Lago de fogo que não têm nenhum desejo de ficarem livres de sua carnalidade e mundanismo”. A.W. Pink
Outra questão que facilitou a introdução
cega do apelo foi a má interpretação da palavra Crer. No mundo secular, a
palavra crer tem um significado diferente do que há na bíblia. A igreja
de um modo geral, influenciada pelos reavivalistas, pegou textos sobre o
tema e os interpretou segundo o contesto humano:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna”. João 3:16
“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. Marcos 16:16
“Quem crê nele não é condenado”. João 3:18
Num país cristão, se você perguntar as
pessoas se elas acreditam em Jesus, a maioria dirá que sim, claro! Elas
entendem que estamos perguntado se elas acreditam na existência da
pessoa e da obra de Jesus Cristo. Mas o problema é que o texto não está
questionando isso. O que o texto está indagando é se a pessoa acredita
no que Jesus fala, e não se acredita em sua existência pessoal. E isso
faz alguma diferença? Claro, faz toda a diferença, porque se tratam de
coisas absolutamente diferentes! Acreditar na existência de Cristo e de
sua obra, não exige nada de mim. Mas acreditar em suas palavras
significa o fim da minha vida como a conheço, significa a morte do meu
ego, a extinção de minha independência, a renuncia das coisas que amo,
mas que me fazem mal, e o montante de tudo isso é alto demais para que
seja calculado em alguns minutos. É por isso que uma decisão dessas não
pode levar apenas alguns momentos. O apelo é a causa do exorbitante
número de decisões por Cristo abortadas.
“Quem vende propostas de baixo risco são comerciantes de mercadorias falsificadas. É exatamente isso que as igrejas modernas estão oferecendo”
Em minha igreja jamais faço um apelo. E
algumas pessoas me perguntam, “Mas como você sabe que alguém entregou
sua vida à Cristo?” Eu respondo: É simples! Quando a vida da pessoa
começa a mudar para de acordo com as escrituras, a conexão entre ela e
Deus foi efetuada com sucesso. “Disse Jesus: Pelos frutos os
conhecereis…” Então assim está tudo resolvido? De forma alguma! Após uma
possível decisão por Jesus, trato de informá-las que uma escolha por
Cristo, foi apenas o início do jogo e não o final dele. Foi apenas o
primeiro, de diversos passos que deverão se suceder até o fim de suas
vidas. Embora isso afete o numero de candidatos a seguidores de Cristo,
nem Jesus, nem os apóstolos jamais tiveram compromisso com as
estatísticas, mas sim com a verdade. Eles procuravam construir nas
pessoas uma fé firme, inabalável, que resistisse a tudo e a todos. Esse
tipo de fé não se consegue com decisões instantâneas, de momento, nem
com o rebaixamento dos padrões bíblicos, nem com a omissão das condições
impostas por Deus.
“A menos que um homem seja posto no nível de sua miséria e culpa, toda nossa pregação é vã. Somente um coração contrito pode receber um [o verdadeiro] Cristo crucificado”.
Robert Murray McCheyne
Existe um prejuízo em seguir ao Cristo
escriturístico, existe algo à perder. Se formos sinceros, admitiremos
que o messias claramente dificultava a adesão de novos candidatos a
discípulo como ficou evidente no episódio do jovem rico. Jesus agia
assim porque diferentemente de nós, acima de tudo prezava pela verdade, e
a verdade nos obriga a sermos extremamente francos e transparentes,
ingredientes indispensáveis para se construir relacionamentos profundos e
duradouros.
A igreja evangélica moderna, pelo menos
em países pobres e em desenvolvimento, continua se expandindo sob
terreno arenoso e irregular, usando técnicas de engenharia
extra-bíblicas. Eles visam apenas a multiplicação do empreendimento, sem
atentar para a sua solides. Fundamentos duvidosos põem em risco toda a
estrutura, mas isso parece não intimidar os alto-afirmados lideres da
igreja moderna.
Aos servos sinceros que ainda se
preocupam com a voz do mestre, aconselho a abandonarem a fobia por novos
convertidos à “sangue-frio”, e a investirem o suor em serem verdadeiros
discípulos. Só assim estarão aptos para fazerem discípulos de verdade.
Não confundam, a ordem do mestre não foi conseguir o maior numero de
“decisões”, mas de discípulos.
“Não procuramos enganar as pessoas para que creiam, não estamos interessados em fazer trapaça com ninguém. Nunca procuramos fazer com que alguém creia que a Bíblia ensina o que ela não ensina. Nós nos abstemos de todos esses métodos vergonhosos”.
II Coríntios 4:2
Roberto Aguiar
Fonte: Frank A. Viola, “Cristianismo Pagão”.
[116] Revival and Revivalism, pp. 185-190.
[117] The Effective Invitation, pp. 94-95. Veja também Protestant Worship: Traditions in Transition, p. 174.
[118] Finney destacou-se também por
inovar em termos de apelo e por iniciar revivamentos. Empregando o que
era chamado de “novas medidas”, he argüia que não havia nenhuma forma
normativa do culto no NT. E tudo que tivesse êxito em trazer pecadores
para Cristo seria aprovado (Christian Liturgy, p. 564; Protestant
Worship: Traditions in Transition, pp. 176-177).
[119] The Effective Invitation p. 95.: O
primeiro uso histórico da frase “banco de penitente” vem de Charles
Wesley .[ “Oh, aquele banco penitente santificado.” Para uma crítica
completa sobre o banco de penitentes veja J.W. Nevin’s The Anxious Bench
(Chamgersburg: Wipf & Stock, 1843).
[120] Protestant Worship: Traditions in Transition, p. 181; Christian History, Volume VII, No. 4, Issue 20, pp. 7, 19.
[121] Christian History, Volume VIII, No.
3, Issue 23, p. 30; Christian History, Volume VII, No. 4, Issue 20, p.
7; Christian Liturgy, p. 566.
[122] Revival and Revivalism, pp. 226, 241-243, 277.
[123] The Effective Invitation, p. 96.
[124] Dictionary of Pentecostals and
Charismatic Movements, p. 904. Ainda sobre este tema, veja Gordon L.
Hall’s The Sawdust Trail: The Story of American Evangelism
(Philadelphia: Macrae Smith Company, 1964). O “caminho da serragem” foi
tido depois como uma garantia da eficácia do evangelista. Este uso
(“percorrer o caminho da serragem”) foi popularizado pelo ministério de
Billy Sunday (1862-1935). Veja Evangelism: A Concise History, p. 161.
[125] Protestant Worship: Traditions in Transition, p. 177.
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