Este estudo é feito dentro
do contexto original das Escrituras, como é o nosso propósito, conforme os
ensinos do Rab. Joseph Shulam, um judeu messiânico e um dos co-fundadores do
Ministério Ensinando de Sião, que tem ensinado as raízes da fé às pessoas que
dentre as nações têm crido no testemunho do Messias de Israel, e se convertido
assim, ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. E também, conforme aprendi nas aulas do professor Rab. Matheus Zandona Guimarães, no site da TV Sião.
Nosso objetivo com este
estudo é estarmos aptos a entender as parábolas de Yeshua e o que ele queria
ensinar ao seu povo. E estaremos vendo inicialmente o conceito de parábola no
judaísmo, e então, veremos algumas parábolas dentro do seu contexto.
1. Conceito do termo parábola
A palavra “parábola” é um termo grego traduzido do
aramaico (agadá - אגדה), “parábolas” no plural
“agadôt”, elas representam um
poderoso e eficaz método de ensino, apesar de ser muito simples. Os sábios de
Israel utilizaram muito das agadôt, e ainda utilizam, para ensinar ao povo os
conceitos divinos.
2. Características
A Parábola ou Agadá, refere-se aos textos homiléticos e
exegéticos não-legalistas na literatura rabínica clássica do judaísmo,
particularmente como registrado no Talmud e nos Midrashim. Em geral, a agadá é
um compêndio de homilias rabínicas, que incorporam o folclore, anedotas
históricas, exortações morais e conselhos práticos em várias esferas da vida
das pessoas, de negócios a cuidados médicos.
Então a Parábola é uma forma de ensino, onde serão utilizados
elementos típicos da cultura, e elas não são verídicas, pois o que importa é o
princípio que elas trazem, os fatos são apenas ferramentas.
Ao longo história de Israel as pessoas usavam Parábolas
para expressarem um conceito de forma não ofensiva, geralmente OCULTO na composição da Parábola.
Muitas vezes também, devido a razões políticas, as parábolas representavam um
método seguro de exortação e crítica. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Apesar de muitos pensarem que parábolas são coisas do
Novo Testamento, no Antigo Testamento (Tanak), também podem ser encontradas, como por exemplo as mencionadas abaixo:
- Jotão e as Árvores do Campo – Jz 9:7-21; e
- Natã e a cordeirinha – 2Sm 12:1-12.
Yeshua se utilizava muito dessas Agadôt em seus ensinos,
a fim de mostrar os mistérios do Reino de Deus, através dos princípios nelas
expresso, e se isentar de afrontar os romanos, porque ele não tinha intenção de
afrontá-los diretamente. Todos os seus ensinos proferidos através de parábolas
possuem um segredo, uma mensagem importante e ao mesmo tempo oculta do
entendimento comum. Somente os atentos à vontade de Deus entendem, por isso ele
falava “quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.” (Mt 13:1-11).
O Mestre não somente criou várias parábolas, mas também
utilizou-se do conhecimento prévio de parábolas rabínicas de sua época para ensinar e
exortar. (Mc 4.34). Um exemplo de como Yeshua usou uma parábola da época dele,
para dar um determinado ensino pode ser encontrado em Mt 11:7-9.
3. A Parábola da Semente de Mostarda (Mt 13.31,32)
Esta parábola apresenta uma falsa simplicidade, pois se
analisada mais cuidadosamente, revela uma aparente contradição.
Será que Yeshua realmente estava se referindo à semente
de mostarda, ou seu objetivo era algo mais profundo? A semente de mostarda é
realmente a menor das sementes? Será que existem árvores de mostarda, de forma
que seus ramos suportem ninhos? Será que Yeshua sendo um bom judeu, e um bom
rabino, não sabia nada de semente e de agricultura?
Na interpretação comum da teologia cristã, devido à
passagem de Mt 17.20, o assunto da parábola seria a fé. No entanto, Ele não
está falando nem de mostarda e nem de fé, e é por isso que o contexto original
deve ser observado.
Perceba que a maioria das vezes que aparece nas
Escrituras o termo semente não se
refere a fé, mas sim à semente (descendência) de Abraão, à nação de Israel.
זרע (zéra) =
semente, descendência. (Gn 12:7; 13:15-16; 15:18; 17:7; Jr 31:36). E isto
também demonstra o erro da teologia da substituição.
“...a menor de todas as sementes...” Israel a menor das
nações (Dt 7.7).
A “arvore” de mostarda não cresce tanto, e não poderia
jamais abrigar um ninho. Isso era uma alegoria, e ele queria lembrar a Israel
do legado de seu povo, e o que o Eterno havia prometido por todos os profetas.
Eles deveriam ser lembrados do seu legado como nação sacerdotal desde Abraão,
... “ser benção para as nações...”.
Porque mostarda? A mostarda não é doce, ela é um
condimento com gosto forte e marcante. Assim como são os judeus também não são nada doces, mas são fortes e marcantes, como diz o Rabino Shulam.
Quanto à árvore que gera galhos para que os pássaros
façam ninhos, Yeshua estava fazendo uma MIDRASH (modo de interpretação bíblica milenar, utilizada pelo judeus) com Ezequiel 17:22-24. Ele
queria mostrar que naquela ocasião eles estavam tomados pelos romanos, mas que
chegaria o tempo em que eles seriam uma grande nação, em que outros viriam a se
juntar a eles. Assim, como nós hoje que fomos enxertados no troco de Israel. E
tem também Is 2.2-5, que também faz referência ao futuro. A nação de Israel
possui a promessa de ser benção para as nações da terra (Gn 12:3; Is 62:2;
65:10-12; Jr 4:1-2; Ez 37:28). O mistério de Rm 11:25, a entrada da plenitude
dos gentios, quando nós podemos nos achegar a Israel, pela fé no Messias.
Estas promessas apontam para o dia onde o Deus Israel
será o Deus de toda a terra, e Yeshua será o Rei de todas as nações.
4. A
parábola dos trabalhadores da Vinha
A teologia cristã tradicional ensina que esta parábola
fala de recompensa, de privilégios e não de méritos. Falam das atitudes erradas
dos trabalhadores que questionaram o dono da vinha. Falam do anseio de Deus em
oferecer a graça a todos e também, evitar a inveja. Embora muitos se preocupem
com coisas desnecessárias, como o significado dos horários. Tudo isto é muito
bom, ajuda na manutenção do caráter cristão, mas não é o sentido principal da
parábola, que está oculto em seu contexto.
Vamos contextualizar o assunto da parábola.
Em Hb 11.6 nos mostra conceitos fundamentais em qualquer
religião monoteísta: “De fato, sem fé é impossível
agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia
que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.
- Quem busca a Deus deve crer em Deus, mas não conforme o
conceito Greco-romano de acreditar, e sim no sentido de conhecer e ter
experiência com ele, é saber que ele é real.
- Sobre recompensa ou galardão, vejamos algumas passagens
da “Mishná”, a lei oral, que começou a ser compilada antes de Yeshua:
“Antigono de Sôcho, recebeu de Shimon o Justo.
Ele costumava dizer: Não sejam como os servos que servem a seu amo apenas com o
intuito de receber a recompensa; mas sim, sejam como os servos que servem a seu
amo sem o intuito de serem recompensados; e que o temor dos Céus paire sobre
vocês”. (Pikei Avot, cap 1.3)
“Rabino Elazar disse: a)Seja diligente no
estudo da Torá e tenha uma resposta pronta para o herege; b) saiba diante de
Quem você se esforça; e c) saiba que seu empregador lhe pagará a recompensa por
seu trabalho.”
“Rabino Tarfon, que viveu cerca de 100 anos
antes de Yeshua, disse: O tempo passa, o trabalho é abundante, os operários são
preguiçosos, o salário é alto, o Chefe da casa é exigente.”
“Ele costumava dizer: Não lhe é exigido que
complete a tarefa, mas não é livre para dela escapar. Se você estudou bastante
Torá, eles lhe darão grande recompensa; e pode confiar que seu Empregador lhe
pagará a recompensa por seu trabalho, mas saiba que o prêmio do justo será dada
no Mundo Vindouro.” (Cap 2.16-18)
A) Compreendendo os elementos da parábola(Mt 20.1-16)
Pontos a serem observados:
- Um Pai de Família tinha uma
Vinha (a necessidade de trabalhadores);
- O contrato com os
primeiros trabalhadores, ou trabalhadores da primeira hora;
- A necessidade de mais
trabalhadores em outros horários;
- Os trabalhadores da décima
primeira hora; e
- A ordem e valor dos
pagamentos.
B) Compreendendo o contexto
da parábola
O
que está oculto nessa parábola? Vamos observar:
- Yeshua
não está falando de uma vinha comum. (Isaías 5.1-7) A vinha representa Israel e
Judá. O mestre estava fazendo uma midrash, correlacionando a textos do Tanack
em sua parábola.
- O
segredo da parábola está no fato do dono da vinha ter pago primeiro os últimos,
a ordem do pagamento. Por que colocar justamente os últimos trabalhadores para
receberem primeiramente? Yeshua tinha algo a ensinar com isso. Vejamos:
·
Quem foram os únicos que receberam um CONTRATO (ACORDO) com o dono da vinha? Os primeiros e
todos os outros entraram à partir do contrato dos primeiros.
·
No entanto, para que o trabalho fosse
finalizado, foi necessário recrutar outros trabalhadores para que JUNTOS com os primeiros trabalhadores, terminassem a
colheita à tempo.
Aí está o segredo desta
parábola, agora vamos ver o ensino que Yeshua queria passar com ele, através de
outros textos das Escrituras, aos quais ele estava se referindo.
- Um
contrato foi feito com os primeiros trabalhadores e JAMAIS foi invalidado. (Ex
6.6; Jr 31.31; Jo 4.22, Rm 1.16; 3.1-2; 9.4-5; 11.2) Os primeiros trabalhadores
são o povo de Israel e Judá.
-
Porém, para cumprir a missão, o povo de Israel, os primeiros trabalhadores,
receberão ajuda. O trabalho só poderá ser completado com a ajuda dos últimos trabalhadores. Quem são os últimos
trabalhadores? As nações (Goyn/gentios). (Is 2.2; 56.6-8)
- Os
últimos trabalhadores recebem o MESMO GALARDÃO
dos primeiros, sendo co-herdeiros e co-participantes com eles. Eles são
devedores aos primeiros, pois sem estes não haveria trabalho prestes a ser
completado. (Rm 9.4; 15.27; Ef 2.12-13; 3.6) Nós como gentios conectados a
Israel, somos devedores a eles. E eles dependem de nós para concluir o trabalho
para o qual foram contratatos desde Abraão.
- Os
primeiros trabalhadores receberam o acordo, e os últimos COMPARTILHAM deste acordo. O acordo não muda, ou seja
a Aliança não foi revogada.
-
Para o dono da vinha, não houve diferença no tratamento entre trabalhadores,
apesar de haver diferença no tempo de trabalho e na existência de um acordo.
(Gl 3.28 x Rm 3.1-2)
-
Sem a presença de AMBOS os trabalhadores, a
colheita na vinha não poderá ser finalizada. Judeus e Gentios, juntos anunciando
o Reino de Deus sobre a Terra.
“A Seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor
da seara que mande trabalhadores para a sua seara”. (Mt 9.37-38)
Conclusão
Yeshua estava falando por
meio desta parábola que o Pai estaria chamando outros trabalhadores para que
juntamente com eles realizassem o trabalho de ser povo de Deus na terra. E fez
isso, fazendo relação com a Torá e os profetas. Que nós possamos ser verdadeiramente
esses trabalhadores da última hora, ou os últimos trabalhadores, levando o
Reino de Deus aos povos e também à Israel que ainda não reconhecem Yeshua como
Messias.