Estudos
da Torá
Parashá
nº 49
– Ki
Tetsê
(Quando
saíres)
Devarim/Deuteronômio
Dt 21:10-25:19
Haftará
(Separação) Is
54:1-10;
e
B’rit
Hadashah (Nova Aliança) Jo
12:1-50.
1
- INTRODUÇÃO
Essa
semana estudaremos a porção chamada Ki Tetsê (Quando saíres), ela
é a 49ª porção semanal, e é a 6ª de Devarim/Deuteronômio. Nela
contém 74 mandamentos, abordando os mais diferentes assuntos que são
muito importantes ao nosso conhecimento. Há leis referentes à
guerra, cativos, despojos e até mesmo aferimento de balanças. Nesta
parashá também fala sobre divórcio e casamentos proibidos. Muito
há que se aprender ao se estudar essa porção, porém não temos
espaço aqui para analisá-la na sua totalidade, veremos apenas uma
parte, e no próximo ano mais um pouco e assim por diante. Mas isso
não lhe impede de ler e estudar em sua casa, e se preciso pesquisar
mais sobre o assunto, o que eu incentivo.
2
- ESTUDO DAS PALAVRAS
O
nome da porção vem descrito nas primeiras palavras no texto
hebraico. “Ki Tetsê” significa “quando saíres”, nesse texto
está trazendo da possibilidade da ida para a guerra. Guerra é uma
palavra que nos assusta e como crentes, logo pensamos que não
podemos participar. No entanto, esse trecho da Torá quebra alguns
tabus em relação a isso. Veja o que o comentário da Torá diz
sobre isso:
A
Torá nos impõe prescrições referentes à guerra. Existem
doutrinas que impedem a guerra aos seus crentes, e existem os que
pretendem permanecer absolutamente neutros e passivos diante de todo
combate, mas não conseguem; ao contrário, caíram nas mãos dos
inimigos. Por essa razão, a Torá determina o dever da autodefesa e
da luta por nossos direitos. É
triste ter de recorrer à guerra e ao derramamento de sangue, mas há
momentos em que essa é a única alternativa e tem de ser feito. A
Torá não quer, de modo algum, negar isto, mas quando a guerra é
necessária, deve legislar até sobre ela. A tática do avestruz que
esconde a cabeça é indigna, e se a guerra for necessária,
submeter-se-á aos mandamentos (os mandamentos da Torá). No caso de
guerra, onde todos os maiores sentimentos humanos são sufocados, a
Lei de Moisés impõe prescrições, porque mesmo na guerra não se
pode preder a consciência do bem. Em primeiro lugar, a Torá ordena
oferecer a paz ao povo inimigo (Dt 20:10); mais adiante (vers. 19),
proíbe destruir as árvores frutíferas ao redor da cidade sitiada,
pois a guerra não deve significar de maneira nenhuma a destruição;
e os primeiros versículos desta parashá tratam das leis relativas
aos direitos dos vencedores israelitas sobre as mulheres cativas. O
ideal máximo da Torá é a paz. Assim diziam os nossos profetas em
suas prédicas: “Não levantarás povo contra povo a espada, e não
ensinarão mais a guerra” (Miquéias 4:3). O judaísmo sabe como é
triste ter de recorrer à guerra e derramar sangue, mas às vezes
esta é a única alternativa. Mas, se a guerra é necessária, mesmo
nela devem vigorar as leis humanas. (Torá,
Ed. Sefer. pág 566)
Entendendo
os princípios desse texto vejamos então um pouco mais de contexto
histórico a respeito de guerra para que possamos entender os motivos
de Moshê ter falado essas palavras ao povo.
Perceba
que no período da antiguidade quando as terras não tinham donos e
os Estados soberanos estavam iniciando, era comum que houvessem
disputas por territórios, e nessas disputas, os dominados ou
derrotados, eram aniquilados ou tornavam-se cativos para posterior
servidão, podemos ver isso em vários textos das Escrituras, como no
livro de Juízes. E com isso, muitas vezes quem eram poupados eram
mulheres e crianças que tornadas cativas somavam junto com os
despojos de guerra, que era propriedade dos vitoriosos. Encontramos
ocorrências destes procedimentos ao consultarmos a literatura
clássica grega, e encontramos também a semelhança da legislação
contida nesta porção da Torá nas leis escritas no código de
Hamurabi e
no código de Mari, que são documentos que regulamentavam a vida nas
terras próximas naquela época.
Contudo,
há uma diferença grande, pois a Torá dava às mulheres
prisioneiras o status de seres humanos e não de uma mera propriedade
de guerra, e isso com um motivo claro, conforme teremos a
oportunidade de verificar nesse estudo.
Voltemos
ao texto bíblico dessa porção.
10
Quando saíres à peleja contra os teus inimigos, e o SENHOR, teu
Deus, os entregar nas tuas mãos, e tu deles levares prisioneiros,
10
כי
תצא למלחמה על איביך ונתנו יהוה אלהיך
בידך ושבית שביו
11
e tu, entre os presos, vires uma mulher formosa à vista, e a
cobiçares, e a quiseres tomar por mulher,
11
וראית
בשביה אשת יפת תאר וחשקת בה ולקחת לך לאשה
12
então, a trarás para a tua casa, e ela rapará a cabeça, e cortará
as suas unhas,
12
והבאתה
אל תוך ביתך וגלחה את ראשה ועשתה את צפרניה
13
e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e
chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás
a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.
13
והסירה
את שמלת שביה מעליה וישבה בביתך ובכתה את
אביה ואת אמה ירח ימים ואחר כן תבוא אליה
ובעלתה והיתה לך לאשה
Sabemos
que a Torá proíbe o casamento de servos do Eterno com pessoas de
outros povos, e já vimos também, que apesar disso, D’us permitiu
em alguns casos tais casamentos, desde que a pessoa demonstrasse que
queria servir ao Eterno. Vemos também na Torá instruções a
respeito da auto disciplina, responsabilidade e controle, então pode
parecer estranho nessa porção a Torá trazer ensinamentos sobre hum
homem querer se casar com uma mulher cativa.
Um
homem que passa pelos horrores de uma guerra, está emocionalmente
desequilibrado, pois pode estar há muito tempo longe de casa, sendo
ele casado ou não, e por isso estar no limite de suas forças em
resistir à inclinação para o mal (Yetser hará), que a Torá tanto
preza, e satisfazer seus instintos naturais. Sendo assim, a Torá o
protege de se precipitar em uma relação apenas passageira, pois ele
vendo uma mulher cativa de beleza e formosura que influenciada pelos
conselhos de Bilam (Nm 25:1-4; 31:16) de seduzir os soldados por meio
de belas roupas e penteados, poderia ele ser tentado a prevaricar com
a tal mulher, e mesmo precipitadamente tomá-la em casamento. E no
intuito de colocar alguns empecilhos a um ato desencadeado por
desejos passageiros a Torá cria um roteiro para que o soldado que
temente a D’us e obediente as Suas leis não fosse traído por seus
impulsos e se conscientizasse de seus atos precipitados. Ou seja, o
Eterno entende isso, e permite que nessa situação ele despose uma
mulher não israelita, ao invés de a violar como era habitual (e na
verdade ainda é, infelizmente) nas guerras.
Mas
para se casar com ela, deveria seguir algumas orientações
prescritas na Torá, que estão nestes versos que estamos analisando,
Dt 21:11-13. A prescrição era que, se um homem desejasse casar com
uma mulher que trouxe cativa de entre o povo com quem guerreou, esta
deveria rapar a cabeça e deixar as unhas crescerem. Na verdade, há
nessa passagem uma mensagem importante, pois o propósito dessa
instrução é que o homem não se engane pelas aparências físicas
ou pelo desgaste emocional provocado pela guerra. Quando ele visse a
mulher em um estado lastimável, literalmente, destruída pelo
sofrimento de perda de entes queridos, com cabelo rapado e unhas
crescendo, ou seja, sem qualquer sinal de beleza feminina, o homem
olharia para ela de forma diferente, e perceberia se de fato a ama ou
se seria apenas uma ilusão. Contudo, se depois de tudo isso,
continuasse a desejar se casar com ela, mesmo não tendo a aparência
fisica agradável de antes, o casamento poderia se realizar.
Entendendo
o propósito além da letra
Olhando
para a história dos povos antigos podemos entender que cada cultura
tinha seus cortes de cabelo exclusivo, estilos de vestuário e a
decoração das unhas, isso identificava as pessoas a qual povo
pertencia. Então, é normal se considerar que pela mudança do corte
de cabelo, nas unhas e no vestuário da mulher pelo modo israelita,
isto significasse um processo de mudança de sua identidade de uma
estrangeira para a possibilidade de tornar-se uma israelita. Porque,
ao acabar com tudo que a identificava anteriormente, com os laços de
sua vida antiga, tudo é deixado para trás simbolicamente.
Mas
e o porquê disso? Segundo o Midrash, as filhas dos povos da
antiguidade adornavam-se nos tempos de guerra para seduzir
sexualmente os inimigos, conforme já dissemos anteriormente. Sendo
assim, quando lemos: “e
despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e
chorará a seu pai e a
sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu
marido, e ela, tua mulher.” Dt
21:13. Aqui “veste do seu cativeiro” está se referindo a roupas
atrativas que vestia ao ser feita prisioneira. O propósito maior
aqui de tirar-lhe as roupas é que o homem já não a encontre
atraente como antes, pois era proposital. Antes de realmente se casar
com a prisioneira ele deveria esperar um mês para que ela pudesse
“chorar pelo seu pai e sua mãe”. Isto nos ensina que Adonai se
interessa que a alma da
mulher seja consolada antes do casamento. E também nos ensina,
conforme já vimos, que o Eterno não quer que o homem tome uma
decisão precipitada. Ela precisaria chorar tanto tempo para que o
homem não a visse contente e feliz, mas sim feia e pouco atraente
comparativamente com as mulheres israelitas.
Ainda
outro ponto importante a respeito do luto dela pelos pais é que,
pela guerra acontecia de os pais ou algum parente ter sido morto, mas
não necessariamente esse luto seja por isso. Esse luto também era
para que ela tivesse uma oportunidade para esquecer de sua família,
assim ela teria condição de recomeçar deixando todo o passado
familiar idólatra para trás, devido acultura a qual estava
inserida.
Podemos
perceber o princípio desse desligamento com o passado quando Yeshua,
no evangelho de Marcos 10:29-30 diz:
“Respondeu
Yeshua: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa,
ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor
de mim e por amor do evangelho que não receba, já neste mundo, cem
vezes mais de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com
perseguições; e, no mundo vindouro, a Vida Eterna.”
Resumindo,
podemos ver que a Torá nos dá através desta lei sobre a “mulher
cativa”, a essência de “um enxertado na Oliveira”, conforme
menciona o Judeu Autônomo em seu Blog, que segundo Yeshua, deve
deixar para trás sua cultura familiar (religião familiar, crendices
e etc) em favor da cultura e mandamentos do Reino de D’us que se
encontram nas Palavras de Yeshua que torna plena a Torá.
Bibliografia:
-
Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer
-
Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
-
http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
-
http://shemaysrael.com/shoftim/
-
http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/49_-_ki_tets_quando_sares.pdf
-
http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/09/parashat-ki-tetse-quando-saires.html
-
https://www.cafetorah.com/deuterenomio/
-
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822869/jewish/Mensagem-da-Parash.htm
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