Estudos
da Torá
Parashá
nº 48 - Shoftím (Juízes)
Devarim/Deuteronômio
Dt 16:18-21:9
Haftará
(Separação) Is
51:12-52:12; e
B’rit
Hadashah (Nova Aliança) Jo
11:1-57.
1
- INTRODUÇÃO
A
parashá Shoftim trata principalmente a respeito da justiça dentre o
povo de D’us. Juízes e oficiais ou policiais deveriam ser
apontados dentre as tribos, e os procedimentos judiciais são
estabelecidos, a fim de que o povo de Israel trilhasse o caminho que
os tornariam uma “nação de sacerdotes e um povo santo”, de
acordo com Shemot/Êxodo 19:6. Moshê estava agora instruindo o povo
como eles deveriam agir para que isso acontecesse, mostrando que a
justiça é o ingrediente essencial para se atingir este objetivo, e
alerta Israel de que a “justiça, e somente a justiça seguirás”
(Devarim/ Dt 16:20). Esse texto quer dizer que o povo de Adonai
deveria perseguir a justiça, ou seja, ansiar por agir de acordo com
os preceitos do Senhor. Vejamos então nesse estudo o que a Torá,
por meio de Moshé nos instrui a esse respeito.
2
- ESTUDO DAS PALAVRAS
Como
sempre temos feito no decorrer deste ano, vamos iniciar com o
significado do nome da parashá. O termo é a primeira palavra que
aparece no primeiro verso dessa porção.
Shoftim
veshoterim titen lecha…
Juízes
e polícias designarás para ti...
Perceba
que aparecem duas palavras “shoftim” (juízes) e “shoterim”
(polícias ou oficiais), onde segundo o comentário da Torá, os
shoftim eram os responsáveis pela administração da justiça e por
resolver os assuntos judiciais, enquanto os shoterim eram
responsáveis por cumprir as ordens e disposições dos tribunais ou
sinédrios. Nesse sentido, o nome da parashá vem, mais uma vez a
partir dessa primeira palavra, “shoftim” (juízes), pois o que se
quer passar é a idéia de justiça.
De
acordo com o que podemos depreender do texto bíblico, o juiz não
podia fazer diferença entre o rico e o pobre, não se poderia
agradar com presentes a um juiz com o intuito de conseguir favores,
ou seja, todos deveriam agir com justiça e equilíbrio. E o objetivo
desse mandamento é que, por meio da justiça, o mundo pudesse ser
convertido no que a Torá e os profetas haviam sonhado: o reino do
Eterno sobre a Terra.
“...designarás
para ti...”
Isso
transmite a idéia de um outro tipo de juízo, ou seja, a necessidade
de julgarmos a nós mesmos, pois as pessoas costumam ser muito
rápidas para julgar os outros e lentas para julgarem a sim mesmas.
Portanto, cada um deverá ser, em primeiro lugar, juiz de si mesmo,
de suas próprias ações, e condenar-se, caso seja necessário. Veja
o texto de Devarim 17:5-7 e compare com Jo 8:1-11, o primeiro trata
de transgressão da Torá por idolatria, e o segundo é o da mulher
adultera. Há pelo menos, dois pontos de ligação entre esses dois
textos, o primeiro ponto em comum é a forma como a justiça deveria
ser aplicada, e o segundo como a pena deveria ser aplicada. Yeshua
mostrou de forma prática como a justiça deveria ser aplicada
através da demonstração da aplicação da pena.
Agora,
olhando para o texto dentro do seu contexto geral, poderemos entender
mais alguns princípios aos quais Moshê estava passando ao povo.
“Juízes
e oficiais porás para ti em todas as tuas cidades que YHWH, teu
Deus, te der entre as tuas tribos, para que julguem o povo com juízo
de justiça.” Dt
16:18
Estamos
falando de juízes nesse estudo, mas você já parou para se
perguntar o que significa ser um juiz nas Escrituras? Já demos uma
noção nos primeiros parágrafos deste estudo, mas vamos tentar
entender melhor agora.
De
acordo com o site “emunah a fé dos santos”, um juiz é uma
pessoa que recebeu autoridade para pronunciar sentenças de acordo
com a Torá, sobre as obras ou palavras de outras pessoas. O juiz tem
que condenar o culpado e absolver o inocente sendo imparcial e justo,
seguindo tudo o que a Torá determina, a partir dos princípios dela.
Podemos observar o próprio livro dos Juízes, que foram homens e
mulheres levantados por Adonai para administrar a Torá e guiar o
povo no seu cotidiano, mas quando eles não agiam de acordo com o que
a lei prescreve, as coisas davam errado, exatamente como esta parashá
nos mostra.
Já
os oficiais, nesse contexto são aqueles que executam as ordens do
juiz. Sem eles o juiz não poderia fazer executar as suas ordens, e
no caso não teria como controlar quem obedecia e quem não obedecia
a Torá. Os oficiais ou a polícia não funciona bem sem os juízes
porque precisam saber quais ordens devem executar. Por isso, o texto
menciona esses dois tipos de funcionários ou de servos, e eles devem
trabalhar paralelamente para que a sociedade seja beneficiada. E com
isso, podemos perceber que o objetivo do Eterno através das palavras
de seu servo Moshê, sempre foi o de instruir a sociedade para que
vivessem de forma digna e justa.
Continuando
nosso estudo, o texto ainda fala que esses indivíduos mencionados,
ou seja os juízes, deveriam ser escolhidos “em todas as cidades.”
Vamos entender isso à luz do que o povo de Israel viveu na época e
como a tradição nos conta.
Haviam
três tipos de tribunais em Israel, o tribunal com 3 juízes, o com
23 juízes e o com 71 juízes. Vajamos como era a distribuição
desses tribunais. Nas cidades com menos de 120 habitantes tinham um
tribunal chamado de Beit Din (casa de julgamentos), que era composta
por três juízes. As cidades com mais de120 habitantes tinham um
tribunal com 23 juízes, que eram chamados de “pequeno sinédrio”.
E mais tarde, conforme a população cresceu, em Jerusalém foi
estabelecido o tribunal com 71 juízes, chamado de “grande
sinédrio”.
Agora,
como eles funcionavam? Vamos lá! As cortes de três juízes somente
podiam dar sentenças sobre assuntos monetários. Já para dar uma
sentença de vida e morte, seria necessário um tribunal de 23
juízes. Em Jerusalém, por ser muito habitada, haviam três
tribunais, sendo dois de 23 juízes e um de 71 juízes, no qual o
sumo sacerdote era o principal líder. Os membros do grande sinédrio
reuniam-se num lugar designado para eles no templo. Para esse
tribunal iam as causas de difícil resolução, as quais não haviam
condições comuns de análise, ou que eram desconhecidas.
No
verso 19 lemos: “Não
torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem tomarás
suborno, porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as
palavras dos justos.”
O termo no texto hebraico que foi traduzido como “justiça” ou
“juízo”, é “mishpat”. Com o propósito de não se torcer um
veredicto, é necessário que não siga-se uma justiça humanista, ou
que ao homem pareça justo, mas sim a que o Eterno manda na Sua Torá.
Vejamos alguns textos do apóstolo Paulo que aponta essa idéia.
Em
Romanos 2:20b:
“...tens
na Torá a expressão do conhecimento e da verdade;”
(é
recomendável que se leia desde o verso 17)
Em
Romanos 7:7:
“Que
diremos, pois? É a Torá pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci
o pecado senão pela Torá; porque eu não conheceria a
concupiscência,
se a Torá não dissesse: Não cobiçarás…”
Em
Romanos 7:12: “Assim,
a Torá é santa; e o mandamento, santo, justo e bom.”
Podemos
ainda dar uma olhada em Mt 23:23b, pois também está dentro desse
mesmo entendimento. “...o
mais importante da Torá, o juízo, a misericórdia e a fé...”
Percebemos
que o testemunho da própria Escritura é de que a Torá expressa a
justiça de YHWH que é a base de um veredicto correto. A Torá deve
ser sempre a base para que o sistema judicial de qualquer país seja
justo, não se regendo por critérios humanistas nem pelo que pensa a
maioria da população. Mesmo que a maioria de um povo tenha um certo
tipo de comportamento, isso não significa que seu comportamento seja
correto. De acordo com o site “Emunah a fé dos santos”, comum e
normal são conceitos diferentes. Um comportamento comum não tem
necessariamente que ser normal, segundo as normas estabelecidas pelo
homem. Só há uma justiça verdadeira e ela foi revelada de duas
formas, na Torá de Moshê e em Yeshua haMashiach, conforme podemos
ler em Romanos 3:21:
“Mas,
agora, se manifestou, além da Torá, a justiça de Deus, tendo o
testemunho da Torá e dos Profetas.”
Observe
que, normalmente, na maioria das bíblias, esse trecho traz a palavra
“sem” no lugar de “além”, até mesmo na Bíblia Judaica
Completa, o termo que aparece é “à parte”, no entanto, esse
termo no texto grego é χωρίς
“choris”,
que segundo o dicionário STRONG, pode significar “sem, para além
de, aparte”. No contexto Rm 3:21, não significa “ao contrário
da Torá” ou “sem a Torá”, mas significa “além da Torá”,
querendo dar o entendimento de que a Torá manifestou a justiça do
Eterno, e para além da Torá, também Yeshua haMashiach revela a
mesma justiça de uma forma diferente, mas não é outra justiça, ou
uma justiça contraditória e contrária. O Messias Yeshua é a
justiça de YHWH, como lemos em 1Coríntios 1:30:
“Mas
vós sois dele, em Yeshua haMashiach, o qual para nós foi feito por
YHWM sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.”
Aqui
a palavra grega que foi traduzida como “justiça” é dikayosúne
que pode significar tanto justiça como justificação.
Assim,
a expressão “além da Torá”, em Rm 3:21, não significa que
seja outra justiça diferente da Torá, mas sim que a justiça do
Eterno se manifestou de uma outra forma possível que não seja
somente através das Escrituras, conforme Hb 1:1-2. Então, devemos
entender que são duas revelações da Sua justiça, a justiça do
Eterno, que é a Torá e o Messias, mas é a mesma justiça revelada
de duas formas distintas. Entretanto, elas são próximas, e
harmonizam-se.
Que
venhamos buscar como alvo de nossa vida a justiça do Eterno, pois
ela se manifesta em nossas vidas através da obediência à Torá e
nas obras e práticas do Messias. Nossa vida deve ser sempre pautada
pela justiça, não é à toa que Yeshua fala sobre a nossa justiça
ser superior à de alguns religiosos hipócritas em Mt 5:20, e o
apóstolo Paulo compara a justiça a uma couraça quando fala da
armadura de D’us em Ef 6:14. Vivamos sempre de forma justa e acima
de tudo exercendo a justiça.
Bibliografia:
-
Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer
-
Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
-
http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
-
http://shemaysrael.com/shoftim/
-
http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/parasha__48_-_shoftim_juzes.pdf
-
http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/08/parashat-shoftim-juizes.html
-
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/923476/jewish/Nomear-Juzes.htm
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