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quinta-feira, 28 de abril de 2022

Estudo da Parashá Emor (Fala)

 

Estudos da Torá


Parashá nº 31 – Emôr (Fala)

Vayicrá/Levítico Lv 21:1-24:23,

Haftará (Separação) Ez 44:15-31; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 5:1-6:49


1 - INTRODUÇÃO

Iniciando nosso estudo pelo resumo, como sempre fazemos e seguindo os passos da ordem dada na porção da semana anterior a toda a população dos filhos de Israel para ser santa, a Parashá Emor começa discutindo várias leis dirigidas especificamente aos Cohanim (sacerdotes) e ao Cohen Gadol (sumo sacerdote), cujo serviço Divino exige que mantenham um alto padrão de pureza. Ela contém a ordem para que o Cohen abstenha-se de ficar ritualmente impuro através do contato com um corpo morto (exceto parentes próximos) e aumenta as restrições sobre quem poderiam desposar.

A porção cita defeitos físicos que impedem um cohen de realizar seu trabalho no Templo Sagrado, a menos que se cure. O assunto então volta-se à nação inteira: qualquer um que esteja tamê (impuro), recebe ordens de afastar-se dos locais e coisas que sejam especialmente sagradas. Após discutir as leis de terumá (a pequena porcentagem de comida que deve ser separada da colheita na Terra de Israel e dada a um Cohen, antes que a porção restante possa ser comida) e as várias imperfeições que tornam uma oferenda inadequada, somos advertidos a ser cuidadosos para não profanar o nome de D’us e, ao contrário, santificá-Lo a todo custo.

A Torá continua a discutir as festas do ano (Pêssach, Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucot e Shemini Atsêret), seguidas pelas duas mitsvot constantes mantidas no Mishcan: o acendimento da menorá todos os dias e a exibição de lechem hapanim (pão da proposição) a cada semana. A porção termina com o horrível incidente de um homem que amaldiçoou o nome de D’us e foi punido com a pena de morte por ordem Divina.

No estudo da parashá desta semana veremos alguns aspectos da Torá a respeito dos sacerdotes e sobre as coisas santas. Teremos a oportunidade de observar mais uma vez como uma vida de santidade deve ser vivida e como isso exerce influência em nossas vidas.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS

Inicialmente, vamos entender o significado da palavra que dá nome a essa porção.


 Emôr

Essa palavra significa “fala” ou “dize”, são verbos no imperativo, que expressam ordem. Como “vá e fale” ou “vá e dize”.


E disse o Eterno a Moshê: Fala aos sacerdotes, filhos de Aharon, e lhes dirás: O sacerdote, por um morto entre seu povo, não se fará impuro.” Lv 21:1


No primeiro verso do texto em estudo encontramos a frase: “emor el hakohanim beney aharon...” “...Fale aos sacerdotes, filhos de Aharon...”.

Na parashá anterior, a porção “kedoshim”, estudamos sobre a santidade do povo, agora nesta porção, Moshê recebe a ordem de D’us de falar só para os sacerdotes, por isso o termo “emôr” aparece, para intensificar que Adonai queria que Moisés falasse aos sacerdotes. Era uma ordem direta a esta classe dentro da comunidade dos filhos de Israel.

Claro que o povo precisa viver em santidade diante de D’us, porém os sacerdotes têm a responsabilidade de viver num nível de santidade superior ao povo, porque têm o direito de estar mais perto do Eterno no serviço do santuário. Como aprendemos que os mandamentos trazem santidade, aos sacerdotes são aplicados mais mandamentos do que ao povo.


Adonai disse a Moshê: Fale aos kohanin, os filhos de Aharon; diga-lhes: Nenhum kohen se tornará impuro por nenhum membro de seu povo que morrer,” (Lv 21:1 – BJC)


Perceba que nessa parte, o Eterno está dando instruções aos sacerdotes para que possam se manter no seu estado de santidade, não tocando em um morto dos filhos de Israel. Aharon e seus filhos não deveriam contaminar-se por causa de um morto entre seu povo. Note que a palavra “contaminar-se” em hebraico é “tamé” e significa “ser (ficar) impuro, imundo”. A raiz dessa palavra é o termo “tumá” que significa “impureza”, estudamos sobre isso na parashá Metsorá, que falava sobre lepra. Mas o que então seria essa impureza? Porque um corpo morto é considerado uma impureza?

A impureza está justamente no contato com a morte, pois ao sacerdote havia sido delegado o ministério de ter contato com o Eterno, que é a fonte e a origem de toda a vida, e o sacerdote por consequência seria também o portador da vida, não podendo assim, ter contato com outra fonte (que não fosse a da vida) para não se contaminar ficando impuro, por causa da morte.





Encontramos ainda neste texto a palavra “nefesh” que significa vida, alma, criatura, mente, indivíduo, ser, pessoa. E também o termo “am” que é povo, específicamente para o povo de Israel. Ou seja, o sacerdote não deveria contaminar-se por qualquer alma, criatura, pessoa, mesmo que faça parte do seu povo. E podemos ainda entender que essa contaminação não fica somente a um nível físico e espiritual, mas também emocional. A nefesh do homem pode ser atingida e abalada de diversas formas e em vários momentos de sua existência. Por isso o Eterno cuida para o sacerdote não se contaminar ao se expor a determinadas situações, porque ele seria responsável pelo bem estar espiritual de todo o seu povo e por isso deveria receber cuidados especiais.

Mas temos ainda mais algumas coisa a aprender ainda com o verso 1 dessa porção. O comentário da Torá da editora Sefer, a respeito desse verso, diz que Rashi ao indagar a razão da repetição da ordem “Emor” e “Veamartá” (“fala” e “lhes dirás”), explica que é para advertir os grandes para que cuidem dos pequenos. Não somente os Cohanim adultos devem ser cautelosos para não se tornarem impuros; também os jovens Cohanim, os Ketanim, devem saber que chegará o dia em que substituirão os Guedolim nos serviços e obrigações sacerdotais; e para se tornarem dignos da missão sagrada, eles devem ser treinados, disciplinados e orientados para o alto e responsável cargo, desde a mais tenra infância. O referido comentário, ainda nos informa que grande educadores chegaram à conclusão de que falta de compreensão entre pais e filhos e o abismo que separa as gerações, tem sua origem na própria casa paterna, porque na corrida vertiginosa atrás de divertimentos fúteis, segue o comentário, e a ânsia constante de acumular maiores bens materiais, se desinteressam completamente da formação espiritual e intelectual de seus filhos, deixando de ser exemplos para eles e abandonando-os aos cuidados do seu pessoal doméstico, a amizades perniciosas, a um meio ambiente desajustado e cheio de vícios. Assim, percebemos que é exatamente isso que a Torá resumiu na frase: “...e as inculcarás a teus filhos, e delas falarás, sentados em tua casa…” (Dt 6:7), indicando assim, que a casa, o lar, é o pilar da educação, ou seja, o mesmo que Rashi destacou com outras palavras, mas com o mesmo sentido, conforme mencionamos antes: os maiores devem dedicar maior atenção aos menores. É interessante notar, diz o comentário, que só na língua hebraica a escola é denominada de Beit Sêfer (casa livro), nos mostrando que sem Bayit (casa) não pode haver Sêfer (livro). E o termo Sêfer em um sentido mais amplo pode significar cultura, educação, integridade de caráter. Assim, aprendemos que quando se unem a casa e o livro, criam uma geração que se torna uma felicidade para a própria família e uma bênção para a humanidade, finaliza o comentário.

O Entendimento que podemos ter de tudo isso, é a importância de ensinar aos nossos filhos através de nossas práticas de santidade e obediência à Torá de HaShem. Nossa vida prática fala mais que nossas palavras, e isso serve para nossos filhos, mas também para além dos limites das mezuzot em nossas portas, ou seja, para as pessoas que nos cercam e que estão fora das nossas casas.


com exceção de seus parentes mais próximos – mãe, pai, filho, filha e irmão, ele poderá também tornar-se impuro pela irmã virgem que nunca se casou, e portanto, era dependente dele.” (Lv 21:2-3 – BJC)


O sacerdote somente poderia tocar em um morto se fosse um de seus seguintes familiares: esposa, mãe, pai, irmão, irmã solteira, filho e filha. Por estes ele poderia guardar luto e interromper o serviço no templo no dia do seu enterro.

Pela tradição judaica esta lei tem uma exceção chamada “met mitsvá”, ou seja, quando um cadáver é encontrado num lugar deserto ou quando aquele que morre não tem parentes que se possam ocupar do funeral, o primeiro a encontrar deverá fazer o sepultamento. Assim, quando não há outra pessoa para realizar o sepultamento, o sacerdote deve fazê-lo mesmo que se contamine. E isso não fará que perca seu ministério sacerdotal.

Pensando nisso, talvez possamos entender as reações do sacerdote e do levita na parábola do bom samaritano, em Lucas 10:30-35. É provável que eles não saberiam se o homem estava ferido ou morto, o texto nos dá uma ideia, ele diz que o homem foi deixado quase morto. Se o homem estivesse morto, de acordo com a Torá, tinham que evitar o contato com o seu cadáver para não se contaminarem e perderem seu ministério, e como era um caminho como muito tráfego de pessoal, não podia ser considerado um lugar deserto. Por esse motivo, de acordo com a tradição, não havia a responsabilidade ou obrigação de o enterrar segundo a lei do “met mitsvá”, já que não era um lugar deserto e nem eles poderiam ser os primeiros a vê-lo. E talvez, ainda, exatamente por isso Yeshua tenha usado tais exemplos nessa parábola, a fim de ilustrar, que devemos ter o verdadeiro amor ao próximo, um amor que venha da atitude correta. Ou seja, devemos ser mais observadores dos detalhes, veja o que segue.

Entretanto, caso o homem estivesse vivo, era o seu dever ajudá-lo. Parece que o sacerdote e o levita não estavam sequer interessados em saber se o ferido estava vivo ou morto, e isso por si só, já é uma falta muito grave. E caso soubessem que o homem estava vivo, seu delito seria mais grave ainda, por não o ajudarem, segundo o mandamento que lemos em Lv 19.16b onde diz:


não ficarás sem reação perante o sangue do teu próximo. Eu sou o Eterno.”


O mais importante nesse contexto é que o sacerdote deveria ser santo a seu D’us, e a santidade implica em obedecer a mandamentos aplicáveis a cada um de nós, incluindo o amor ao próximo. Conforme já vimos em outras ocasiões, a palavra “santo” em hebraico é “kadosh” e significa ser consagrado, separado, ser santo, santificado, preparar, dedicar. Os kohanim deveriam manter-se consagrados, dedicados, santificados ao seu D’us! Uma das palavras que definem o Eterno é Elohim e significa que o sacerdote precisa obedecer ao seu Criador para não tornar-se “halal”, ou seja, profano, profanando assim o nome daquele que é seu Criador. Esta condição permitiria que eles assim pudessem continuar a oferecer as ofertas ao Senhor e o pão de seu D’us!

O sacerdote tinha também a função de receber o alimento no santuário! Um outro ponto interessante é que a palavra pão em hebraico é “lechem” e significa “comida”, “pão cereal” e o termo que define o Eterno em hebraico, novamente, Elohim. Isso nos aponta a respeito da provisão diária que viria sobre a vida dos sacerdotes que receberiam também o seu alimento enquanto estivessem oficiando ao Eterno. O Eterno não desampara nem abandona aos seus!

Talvez você se pergunte, porque o Eterno fez tanta questão de mostrar que os Sacerdotes deveriam ser diferentes? E quando vemos o motivo, podemos trazer a verdade e o princípio para nossas vidas. Veja abaixo o que um midrash fala a esse respeito.


Cohanim e Levitas


Na Parashá anterior, Moshê disse ao Povo de Israel que eles eram a nação santificada para D'us. Por isso, deveriam respeitar muitas leis que os não-judeus não precisam cumprir. Moshê continuou dizendo: "Uma tribo entre vós é mais santa que as outras: a tribo de Levi. E dentro da tribo de Levi, os cohanim são ainda mais santos que os demais levitas. Apenas os cohanim podem executar a avodá (serviço) dos corbanot (sacrifícios). Os levitas farão as demais tarefas do Bet Hamicdash."


Por que D'us elegeu a tribo de Levi para servi-Lo no Bet Hamicdash?


A resposta é que esta tribo foi leal a D'us, mesmo em tempos difíceis e perigosos.


Apesar de a maioria dos membros do Povo de Israel adorar ídolos no Egito, os levitas nunca o fizeram. A maioria do povo deixou de fazer berit milá (circuncisão) em seus filhos recém-nascidos quando o Faraó o proibiu. Em contrapartida, os levitas continuaram a fazê-lo, apesar do perigo que isto representava. Também no deserto os levitas se destacaram como tsadikim. Quando Aharon perguntou "Quem doará ouro para fazer uma imagem?", a maioria dos homens doou. Porém nenhum homem da tribo de Levi doou, nem se inclinou perante o bezerro. Por isso, D'us disse: "Elegerei esta tribo de tsadikim para realizar Minha avodá no Mishcan e no Bet Hamicdash."


Um Cohen Não Deve Tocar Num Corpo Morto


Como os cohanim são o grupo mais sagrado da tribo de Levi, devem observar leis especiais.


Moshê ordenou aos cohanim: "Não podereis tocar nem carregar o corpo de um morto. Não podereis sequer permanecer sob um teto onde haja um corpo, e não podereis entrar num cemitério nem assistir ao enterro de outro judeu; não vos será permitido caminhar sobre um túmulo, nem tocá-lo. Porém, é uma mitsvá enterrar vossos sete parentes mais próximos, mesmo que isto os torne impuros."


Os sete parentes mais próximos de um homem são:

  • Sua esposa

  • Sua mãe

  • Seu pai

  • Seu filho

  • Sua filha

  • Seu irmão

  • Sua irmã solteira (se a irmã do cohen for casada, este não pode enterrá-la)

Atualmente, essas leis especiais ainda se aplicam aos cohanim, devendo ser observadas por homens e meninos, porém não por mulheres e meninas.

Similarmente, os cohanim que oferecem os sacrifícios no Bet Hamicdash devem ser puros, sem impurezas que se impregnam em seus corpos.


Um Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) é ainda mais sagrado que um cohen comum. Ele não pode sequer enterrar seus sete parentes mais próximos. Existe uma única pessoa cujo enterro é uma mitsvá para ele: um met mitsvá. No trecho seguinte, mais detalhes sobre isto.


Até um Cohen Gadol Deve Sepultar um Met Mitsvá (o corpo de um judeu abandonado)


Se um Cohen Gadol ou cohen estiver andando por um caminho deserto e deparar-se com um judeu morto, deve proclamar: "Encontrei um judeu que necessita de sepultura! Por favor, se há alguém me ouvindo, que venha e o enterre!"


Se alguém escutar seu chamado, o cohen não deve sepultar o corpo. Contudo, se ninguém o escuta, o cohen deve enterrar este judeu morto. Um cohen que sepultar um met mitsvá ou um de seus parentes torna-se impuro. Na época do Templo, não lhe era permitido voltar ao Bet Hamicdash ou realizar a avodá até ser purificado com água misturada às cinzas da vaca vermelha.


Assim, podemos entender que devemos servir ao Eterno obedecendo sua instrução de sermos santos, de sermos puros, ou seja, não nos contaminando com coisas desse mundo. É importante, entender a referência que Yeshua fez na parábola do bom samaritano, entendendo que além de mostrar a atitude de amor ao próximo que o samaritano teve, estava também apontando a rígida observância de regras por parte do sacerdote e do levita. Mostrando dessa forma, que devemos observar, e praticar o amor que age.

Que possamos amar ao Eterno a ponto de deixar as coisas dessa vida que pode nos tornar impuros, e nos impedir de nos mantermos firmes na caminhada com HaShem. E para isso, precisamos seguir as instruções da Torá limpa que Yeshua ensinava.

O Eterno lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)


Bibliografia:

- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771038/jewish/Resumo-da-Parash.htm

- https://shemaysrael.com/parasha-emor/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/31-_emor_fala.pdf


sexta-feira, 22 de abril de 2022

Estudo da Parashá Kedoshim (Santos)

 

Estudos da Torá


Parashá nº 30 – K’doshím (Santos)

Vayicrá/Levítico Lv 19:1-20:27,

Haftará (Separação) Ez 20:2-20; 22:1-19; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Lc 3:1-4:44


1 - INTRODUÇÃO

Depois de termos celebrado e estudado sobre Pessach e Hamatzot, essa semana, enquanto comíamos pães ázimos cada dia, e refletíamos sobre nossa vida e relação com o Eterno, começamos a leitura da parashá Kedoshim. Ela inicia-se com a ordem de D’us para toda a nação de Israel para ser santa, imitando a suprema santidade do próprio Criador. A Torá prossegue delineando uma infinidade de mitsvot através das quais podemos atingir a santidade, abrangendo uma grande variedade de assuntos, tanto mandamentos positivos como inferências negativas, lidando com nosso relacionamento ímpar com D’us e com nosso próximo.

Recebemos ordens de temer nossos pais, guardar o Shabat e abstermo-nos da adoração de ídolos. D’us nos instrui a deixar vários presentes de nossa colheita para os pobres e oprimidos, incluindo o canto dos campos e os feixes que caíram por acaso ao serem juntados. Devemos manter a justiça, fazer negócios honestos com nossos vizinhos, não praticar a maledicência, e de forma geral ter pelos outros a mesma consideração que temos por nós mesmos.

Segue-se uma descrição de várias categorias de kilayim (misturas proibidas) – hibridação de animais e plantas, e vestir shatnez (uma mistura de lã e linho em uma mesma peça de roupa) – a Torá discute orlá, a proibição de consumir frutas nos primeiros três anos após o plantio de uma árvore. A porção continua com uma lista das punições a serem impostas às pessoas que transgridem e participam das várias relações proibidas relacionadas na porção da semana anterior. A Parashá Kedoshim conclui com o mandamento, mais uma vez, para que sejamos um povo santo e distinto dentre as nações do mundo.

Daniel Lasar, em seu texto intitulado “Valores que perpetuamos”, no site Chabad.org, afirma que há uma importante correlação entre a porção kedoshim e a anterior, a Acharei Mot. Na porção anterior, D’us ordena ao povo de Israel:


Não use a prática da terra do Egito na qual você habitou, e não use a prática da terra de Canaã à qual Eu o trouxe, e não siga as tradições deles” (Vayicrá/Levítico 18:3).


Já na porção atual, a porção kedoshim, o Eterno se dirige ao povo hebreu: “Sereis santos, pois Eu Sou Santo, HaShem, vosso Deus” (Vayicrá/Levítico 19:2). Estes dois versículos fornecem uma ênfase esclarecedora sobre não apenas como vivemos como servos de Adonai, mas do modo que vivemos no contexto de onde vivemos.

Nesta parashá abordaremos alguns fatos que nos demonstram que a qualidade de vida tem a ver com a santidade do homem. E sendo assim, poderemos perceber que há vários mandamentos, que quando obedecidos, conduzem-nos a um padrão de santidade cada vez maior. E teremos a oportunidade de entender que viver segundo os mandamentos do Eterno é melhor para nós, não apenas no âmbito físico, mas também no âmbito da Santidade.

Ainda, poderemos ver também nessa porção a questão do amor ao próximo, que muitos pensam ser algo apenas do Novo Testamento.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS

Leiamos o seguinte texto da Torá:


O Eterno disse a Moshe: “Fale a toda a comunidade de Israel; diga-lhes: Sejam santos, pois eu, Adonai, o Deus de vocês, sou santo.” (Lv 19:1,2)


Esse mesmo texto em hebraico é conforme na imagem abaixo, com transliteração:


Essa porção se chama “kedoshim”, que significa literalmente santos, o plural de “kadosh” (santo). Interessante que o Eterno tenha mandado Moisés dizer estas palavras a toda a congregação dos filhos de Israel.

Veja que a palavra “congregação” no hebraico pode ser:

- עֵדָה edah - comunidade, público, congregação, assembleia;

- קָהָל qahal - público, povo, comunidade, congregação, multidão, assembleia, igreja.

No verso em questão, o termo que aparece no texto em hebraico é “edah”, e o que a diferenciará das outras é o seu contexto, ou seja, a mensagem que o texto deseja transmitir. Aqui, ela está indicando “comunidade ou congregação”, e no Novo Testamento a traduziram como “sinagoga”. Sendo assim, fica claro, através do texto e de seu contexto, que o povo de Israel deveria receber e encarar estas instruções como algo que lhes conduziria à santidade, pois o Eterno aqui declara sua santidade e convoca seu povo para ser santo como Ele é! A congregação, a assembleia, o povo estava recebendo as instruções ou mandamentos do Eterno como um conjunto, como uma unidade. Estes versículos também nos ensinam que a santidade não era apenas para os sacerdotes e levitas, mas sim para toda a congregação dos filhos de Israel, assim como para os que o servem hoje.

A santidade consiste em ser separado dos costumes que são praticados pelos povos que estão afastados do Eterno, e dedicar-se a Ele em obediência à Sua instrução (mandamentos e estatutos). É viver e agir diferente, demonstrando essa diferença nas práticas da vida cotidiana, em seus mínimos detalhes. Vimos isso na semana passada na celebração de Pessach. E tudo isso se intensifica ainda mais, quando demonstramos ou repercutimos a vida justa de nosso messias em nossas próprias vidas, Pois ele era um cumpridor fiel da Torá de HaShem.


O Mandamento sobre os pais e mães e sobre o sábado


Cada um respeitará a sua mãe e o seu pai e guardará os meus sábados. Eu sou o Eterno vosso Elohim.” (Lv 19.3)


À santidade estão ligados dois fatores importantes, que já tinham sido apresentados aos israelitas nas “Dez Palavras” (Dez Mandamentos Ex 20). O primeiro fator é o que fala sobre reverenciar os pais. Embora isso possa parecer um pouco antiquado na modernidade, mas este mandamento está ligado à uma vida longa nesta terra. Honrar aos pais refere-se ao respeito e ao cuidado que devemos ter à eles como autoridades sobre nossas vidas.

A palavra hebraica que foi traduzida como “respeitará” é “yaré” e ela significa também “temer e reverenciar”. Há uma diferença entre este mandamento e o de Ex 20:12 onde está escrito: “Honra a teu pai e tua mãe para que se prolonguem o seus dias na terra que o Eterno teu Elohim te dá.” Aqui está escrito que devemos honrar o nosso pai e a nossa mãe, e em Levítico 19 está escrito “temer”, “reverenciar” o pai e a mãe. Observe que honrar e temer são conceitos diferentes. Honrar aos pais tem a ver com o suprir a suas necessidades, como lemos em Mt 15:3-6:


Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Porque Elohim ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Mas vós dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta ao Eterno aquilo que poderias aproveitar de mim; esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim, invalidastes a palavra de Elohim por causa da vossa tradição.”


Veja que a honra aos pais passa pela ajuda econômica, principalmente na velhice, mas também implica em obediência, conforme lemos o que Sha’ul HaShaliach escreveu em Ef 6:1-3.


Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa) para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.”

Em Shemot/Êxodo aparece primeiro o pai e depois a mãe relativamente ao honrar, mas no texto de Levítico aparece primeiro a mãe e depois o pai relativamente ao temor e reverência. Será que há uma razão para isso?

De acordo com os rabinos, geralmente é mais fácil temer, no sentido de respeitar e reverenciar o pai, por se uma figura masculina, pois a criança tem tendências para se aproveitar da doçura de sua mãe e do seu caráter suave. Por isso, é mais fácil faltar com respeito à mãe do que ao pai, e talvez seja por isso que a Torá põe a mãe em primeiro lugar, para que não deixemos de mostrar respeito às nossas mães, e respeitemos o pai e a mãe de forma igual.

No estudo desta parashá do site “emunah a fé dos santos”, encontramos o seguinte sobre esse assunto:

ao olharmos para o contexto, vemos que há uma escala de reverência, mãe, pai e ao Eterno. É uma escala invertida de autoridade. Segundo esta ordem, o menino vai aprender durante o crescimento quem está acima dele. Primeiro aprende a temer a mãe, que é quem passa a maior parte do tempo consigo durante os primeiros anos de vida. Logo aprende a reverenciar o seu pai, e finalmente aprende a reverenciar ao Eterno.

O segundo fator em relação à santidade, e que também está ligado à obediência aos pais é a guarda do sábado. Ele é a primeira das datas santas! O termo hebraico para “guardar” é “shamar” e significa “guardar, vigiar, observar, cumprir, esperar, cuidar, prestar atenção”. A guarda deste mandamento, deste dia, é um fator fundamental para a manutenção da unidade e da pureza na vida familiar. É o tempo em que os judeus e os que servem à Adonai se reúnem em família para celebrarem o shabat, e em obediência ao Eterno gozarem dos benefícios deste mandamento.



O Mandamento de amar o próximo


Dentre tantos outros mandamentos nesta parashá, ainda podemos nos ater ao que está escrito no verso 18: "veahavtá lereachá camocha – ame a seu companheiro como a ti mesmo".

Muitos pensam que este mandamento foi dado por Yeshua pela primeira vez quando ele pregava o Reino de Deus, e está registrado no evangelho de Marcos 12:28-31. Ou, para muitos, é conhecido como um bom slogan, que devem decorar paredes. No entanto, é um mitsvá, um mandamento, que exige a observância de cada pessoa, assim como todos os outros.

No tempo de Yeshua, havia uma discussão sobre a quem se estava a referir a Torá quando fala sobre o próximo. Em Levítico 19:18 parece que a expressão “teu próximo” somente faz referência aos “filhos de Israel”, ou seja, está limitado somente aos israelitas. Será que um membro da nação de Israel só está obrigado a amar os seus conterrâneos? E quanto a nós, será que devemos amar somente os nossos domésticos da fé?

Neste caso poderíamos aplicar a regra de interpretação número 5 do Rav Ishmael que diz que um preceito particular, “os filhos do teu povo”, é ampliado por um preceito geral que o segue, “teu próximo”. Yeshua também diz algo sobre isso no texto de Lucas 10:29:37, a parábola do bom samaritano.

Por isso, descobrimos que a expressão “o próximo” não se limita somente aos filhos de Israel, mas também aos estrangeiros, aos estranhos. No entanto, o amor deve ser demonstrado em primeiro lugar aos que estão mais perto. Aquele que não ama a seu irmão que vive com ele não pode amar o forasteiro que não conhece. O amor inicia com aqueles que estão próximos, se estende aos resto dos homens, conforme lemos em 2 Pe 1:5-7. Esse mesmo princípio deve se aplicar ao verso 34 de Levítico 19, onde se introduz a palavra hebraica “guer”, estrangeiro. Um “guer” pode ser um prosélito ou um estrangeiro que vive com os judeus. Veja parte do verso: “amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito”. Lembre-se que os filhos de Israel não foram convertidos no Egito, eram estrangeiros residentes. Assim, não se aplica a este mandamento, afirmar que “guer” se refere especificamente ao convertido, mas sim a todo o residente em Israel, e na sua extensão, no ensina também que temos que amar a todos os homens na terra. E isso se confirma com o que vimos no texto de Lucas 10:29-36, Yeshua demonstra que devemos interpretar a palavra “guer” no contexto da Torá, alinhado a esta porção.

Portanto, para concluir, o nosso próximo é aquele que está à nossa frente, não importa se é israelita ou estrangeiro, porque o amor não se limita somente aos que nos tratam bem, como podemos ler em Rm 5:6-10.


De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, o Messias morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo; pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas D’us demonstra seu amor por nós: O Messias morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de D’us por meio dele! Se quando éramos inimigos de D’us fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!”


Que possamos viver nossas vidas como servos do Eterno, seguindo as instruções da Torá e do Messias Yeshua, nosso Rei e irmão mais velho, aquele que o Eterno separou para nos dar o exemplo.

Que o Eterno lhes abençoe!!!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)


Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- http://shemaysrael.com/ieshua-e-azazel-em-acharei-mot-kedoshim/

- https://pt.chabad.org/parshah/article_cdo/aid/1186954/jewish/Mensagem-da-Parash.htm

- https://pt.chabad.org/parshah/article_cdo/aid/1186953/jewish/Resumo-da-Parash.htm



quinta-feira, 14 de abril de 2022

Estudo Parashá Especial de Pessach (Passagem)

 Estudos da Torá

Parashá Especial de Pessach (Passagem)

Ex 12:1-28, Lv 23:1-16 e Nm28:16-25

Haftará (Separação) Js 5:2-15; 6:1, 27; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 1:29-31 e Mc 14:12-26


1 - INTRODUÇÃO

Quando pensamos em festas bíblicas devemos estar atentos a uma coisa muito importante, pois as pessoas foram ensinadas, inclusive eu mesmo quando fazia parte do sistema religioso cristão, que as festas são do povo judeu. Porém, quando olhamos para o texto bíblico contido na Torá, temos plena condição de perceber que não é bem assim.

Vejamos os dois primeiros versos de Vayicrá/Levítico 23 para confirmar o que estou dizendo acima.


Disse o Eterno a Moisés: "Diga o seguinte aos israelitas: Estas são as minhas festas, as festas fixas do Eterno, que vocês proclamarão como reuniões sagradas:” Lv 23:1,2


Perceba no texto as partes sublinhadas, como há um direcionamento real do sentido destas festas. Devemos entender que estas festas que são descritas nesse capítulo de Levítico não são festas judaicas, e nem mesmo meras festas bíblicas. Elas são na verdade festas do Eterno. Note que HaShem diz: “...estas são as minhas festas...”. Elas não são meras festas de um povo, elas são “encontros” com o Eterno. Visto que a palavra “moed” em hebraico, que foi traduzido como festa, significa na verdade encontro marcado.

Assim, conforme vimos no estudo da parashá “Achare mot”, as “moedim” são encontros marcados com HaShem. São tempos marcados para renovação e elevação do povo do Eterno. Elas estão divididas em 7 festas anuais e 1 semanal. Falaremos mais sobre elas nos próximos estudos das parashiot.

Com o entendimento de que as festas são encontros com o Eterno. E sabendo que ele espera que seu povo, aqueles que vivem segundo seu propósito, vá encontrar com ele, assim como fizemos na noite de ontem, que foi a noite de pessach, dia 14 de Aviv ou Nissan. Nesse estudo vamos meditar um pouco em algumas coisas a respeito dessa moed, desse encontro com o Eterno, a “festa de Pessach”.


2 – ESTUDO DAS PALAVRAS

Sabemos que nosso messias Yeshua, enquanto viveu aqui nesta terra era um homem obediente aos mandamentos do Eterno, nosso Elohim. Por isso ele é nosso messias, porque cumpriu cada um dos mandamentos que lhe cabia cumprir. Dentre estes mandamentos encontramos as moedim (encontros marcados/festas) do Eterno, cujos princípios estão registrados na Torá de HaShem. E se nosso messias, rei e irmão mais velho cumpria essas celebrações, como seus seguidores devemos entender que também devemos celebrar. E o mais importante, é que além de Yeshua celebrar as moedim, ele mesmo acaba sendo o tema central delas, uma vez que cada uma delas são apontamentos proféticos para a vida e obra do messias.

O Pessach é uma destas festas que Yeshua celebrava anualmente. A festa de pessach é o marco inicial do calendário bíblico e delimita as datas de todas as demais destas do Eterno. Segundo um estudo do site Emunah a fé dos santos, essa festa marca um ponto fundamental do plano de redenção do Eterno para a humanidade. Isso porque ela foi instituída como uma sombra do que Yeshua faria através de sua vida, obras e morte, como o verdadeiro cordeiro do Eterno, que tira o pecado do mundo.

Pessach פֶּסַח é uma palavra hebraica que significa literalmente “passagem” como vemos no texto: “...pois o Eterno passou sobre as casas dos filhos de Israel, poupando-os...” Ex 12:27. A palavra foi erroneamente traduzida para o português como “Páscoa”. No inglês essa palavra é usada como “passover”, que etimologicamente é uma palavra bem mais próxima do sentido original que o termo “páscoa”. Isso porque, de acordo com o já mencionado site, a palavra inglesa “passover” traduzida literalmente significa “passar por cima” à semelhança de “pessach”.

De acordo com o estudo no site Emunah a fé dos santos, esse cordeiro morto cujo sangue foi colocado nas vergas das portas para que o anjo da morte “passasse” direto por suas casas, bem como todos os outros cordeiros que foram sacrificados através dos tempos, apontavam para o verdadeiro cordeiro de Elohim, Yeshua HaMashiach. E profeticamente, esta mesma proteção do Eterno virá sobre seus filhos obedientes, no tempo do fim, ou seja, nos tempos da grande tribulação. E nesse período eles serão protegidos das pragas que estão por vir.

Pessach é uma festa instituída pelo Eterno para ser um memorial para que os filhos de Israel nunca se esqueçam de que foram escravos no Egito, e que o próprio D’us os libertou com mão poderosa, levando juízos contra todos as divindades egípcias, bem como sobre o próprio Faraó que se considerava divino. Segundo o Rabino Matheus Zandona Pessach fala de memória e de identidade.

Fala de memória porque todos os que celebram esta moed precisa reviver os fatos da libertação do povo hebreu do Egito, mas também relembra que já foi escravo do pecado e estava marcado para morrer distante do Eterno. Porém HaShem com mão forte libertou os hebreus, e também libertou a cada um de nós que nos achegamos ao povo e a D’us, através de Yeshua o nosso messias.

E fala de identidade, justamente porque através dos eventos de Pessach, tanto no ponto de vista histórico, quanto no ponto de vista profético, todos os que se identificam com o Eterno e com suas leis e instruções, recebem a benção de ver que o mensageiro da morte passa por sobre suas casas, ou seja, suas vidas, permitindo que assim como muitos não hebreus no Egito fossem libertos com eles integrando-os ao povo, nós também o sejamos, passando a fazer parte do povo, pelos méritos do cordeiro, Yeshua.

O povo de Israel foi liberto do Egito para servir ao Eterno e ser luz para as nações. Por isso, o Pessach é uma festa instituída para que jamais os Israelitas se esquecessem quem foi, quem é e o que devem ser diante do Eterno. Assim também, os que são discípulos do messias Yeshua, recebem a mesma responsabilidade, bem como as mesmas bençãos e promessas, sendo co-herdeiros e co-participantes, pois foram enxertados passando a fazer parte do povo como família de D’us, de acordo com o que lemos em Ef 3:5,6.


Esse mistério não foi dado a conhecer aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado pelo Ruach aos santos apóstolos e profetas de D’us, a saber, que mediante o evangelho os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa no Messias Yeshua.”


O simbolismo da festa de Pessach é parte da mensagem da B’rit Hadashá/Aliança Renovada, e a obra no madeiro está baseada no evento de Pessach por se tratar de libertação. Yeshua não apenas é morto em Pessach, mas ele próprio simboliza o cordeiro de Pessach, conforme vemos Rav Sha’ul falar em 1Co 5:8, bem como Yochanan diz que ele é o cordeiro que tira o pecado do mundo em Jo 1:29, e cuja vida justa simbolizada pelo seu sangue, nos liberta e nos resgata da escravidão do pecado nos selando como filhos de D’us.

Nos méritos da vida justa de Yeshua somos feitos novas criaturas sem o fermento da maldade e da malícia, usando os termos do apóstolo Paulo. Por isso, se considera que não há meios de entender a obra do madeiro sem o pleno conhecimento dessa festa tão simbólica que o Eterno estabeleceu.

Depois de falarmos algumas características dessa festa, vejamos o texto da parashá:


"Este dia será um memorial que vocês e todos os seus descendentes o comemorarão como festa ao Senhor. Comemorem-no como decreto perpétuo. Durante sete dias comam pão sem fermento. No primeiro dia tirem de casa o fermento, porque quem comer qualquer coisa fermentada, do primeiro ao sétimo dia, será eliminado de Israel. Convoquem uma reunião santa no primeiro dia e outra no sétimo. Não façam nenhum trabalho nesses dias, exceto o da preparação da comida para todos. É só o que poderão fazer.” Êxodo 12:14-16


Nesse capítulo vemos a instituição dessa celebração no aspecto literal e imediato para o povo de Israel que estava no Egito. Notem que o Eterno disse a Moshê que esse dia seria um memorial para todos os filhos de Israel e seus descendentes. Mas também é um memorial para as gerações que viriam a integrar o povo de Israel através do messias. E é por esse motivo que nós celebramos esse encontro com o Eterno anualmente.

Há ainda uma outra característica no Pessach que é o ensino e honra. O Eterno havia dito que eles deveriam instruir todas as gerações a respeito da celebração dessa festa para nunca se esquecerem, conforme já disse antes.


"Obedeçam a estas instruções como decreto perpétuo para vocês e para os seus descendentes. Quando entrarem na terra que o Eterno prometeu lhes dar, celebrem essa cerimônia. Quando os seus filhos lhes perguntarem: ‘O que significa esta cerimônia? ’, respondam-lhes: É o sacrifício da Pessach ao Eterno, que passou sobre as casas dos israelitas no Egito e poupou nossas casas quando matou os egípcios". Então o povo curvou-se em adoração.” Ex 12:24-27


Isso foi muito importante para que o propósito profético da festa na vinda do Messias Yeshua fosse alcançado, pois ele seguiria todas as determinações do Eterno para libertar o Seu povo de toda o pecado, e a memória da celebração faria com que eles o reconhecessem como o cordeiro que trouxe libertação. E vemos isso como verdade, pois Yochanan o imersor o reconheceu como o cordeiro, os talmidim (discípulos) o reconheceram como o cordeiro e também o Shaliach Sha’ul (o apóstolo Paulo), tanto que escreveu em suas epístolas sobre isso.

Infelizmente, depois do Egito, enquanto estavam no deserto, o povo não mais comemorou Pessach, durante os 40 anos, pois eles estavam em peregrinação e, além do fato de muito morrerem no caminho, os que nasciam não eram circuncidados, impedindo-os de celebrar a festa. Eles retornaram a celebrar somente quando Yehoshua (Josué), os levou através do Yarden (Jordão) e todos foram circuncidados, conforme o texto da nossa haftará.


Yeshua: O Cordeiro do Pessach


Segundo Eduardo Carneiro em seu livro Festas e Dias Bons, o plano do Eterno não era transformar somente um povo, mas sim todos os que da humanidade, aceitarem os mandamentos de HaShem e adentrarem a este povo. Porém, essa transformação deveria começar de alguma forma, e foi através de Yisrael que o Eterno decidiu dar início. A Torá nos mostra que HaShem separou Yisrael como uma nação sacerdotal, ou seja, um povo que conduziria todas as outras nações até ele, da mesma forma que os sacerdotes faziam com o povo de Yisrael.

No entanto, mesmo estando tudo relatado na Torá, muitas pessoas do povo de Yisrael não haviam entendido o propósito de toda a celebração e a viam apenas como um memorial, assim como ainda hoje acontece. Por causa da religiosidade, muitos deixaram de ter o Ruach HaKodesh sobre si, e outra parte do povo acabou afastando seus corações do Eterno, e mesmo que continuem a celebrar e seguir as cerimônias descritas na Torá, são meros rituais por não reconhecerem os fatos por trás de cada símbolo e ato da festa.

Vimos essa perda acontecer em vários momentos da história, isso não é de hoje. A celebração de Pessach, assim como outras festas deixou de ser festejada e foi caindo no esquecimento do povo. Alguns reis como Ezequias e Josias, e alguns líderes como Esdras, retomavam o serviço ao Eterno e a obediência aos mandamentos pelo povo, inclusive em relação às festas, porém logo depois eram deixadas de lado novamente, e cada vez mais o povo se afastava do Criador.

Tal afastamento fora anunciado muitas vezes pelos profetas, como Isaías, Oséias, e outros, bem como Jeremias, alertando o povo a retomar o caminho do Eterno, da obediência. E por meio de Jeremias falou sobre a renovação da aliança com a Casa de Yisrael e com a Casa de Judá, no capítulo 31 do seu livro.


"Estão chegando os dias", declara o Eterno, "quando farei uma renovação da aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá". "Não será como a aliança que fiz com os seus antepassados quando os tomei pela mão para tirá-los do Egito; porque quebraram a minha aliança, apesar de eu ser o Senhor deles", diz o Eterno. "Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias", declara o Eterno: "Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo.” Jr 31:31-33


Essa renovação de aliança prometida pelo Eterno, a fim de restaurar as duas casas de Yisrael, bem como parte das pessoas das nações que quisessem se achegar, precisaria ser iniciada em algum momento. E o Eterno Elohim escolheu justamente as festas para isso. E a festa de Pessach com seu cordeiro, os pães sem fermento e as ervas amargas eram os apontamentos perfeitos.

Agora o messias tinha nascido, crescido em meio a tudo o que os religiosos judeus carregavam de legalismos, mas em tudo ele era obediente à Torá de HaShem. Isso o capacitou a ser recebido como Filho de D’us, na ocasião de sua imersão, configurando-o como o verdadeiro messias esperado que fora profetizado. Além de obedecer a Torá, Yeshua ensinou ao seus talmidim e as multidões que o seguiam por todas as localidades das terras de Yisrael de sua época. Ele era um homem correto, justo, bom, temente ao Eterno, ou seja, era a própria figura do cordeiro inocente, dito na Torá e mencionado pelos profetas.

Nos relatos dos escritores dos evangelhos, vemos a todo o tempo sendo mencionado que Yeshua instruía seus discípulos e seus seguidores. O capítulo 12 do evangelho de João é um claro exemplo disso. Nesse capítulo Yeshua está a seis dias de Pessach. Observe uma coisa interessante, ele chega em Betânia seis dias antes de Pessach, e sabemos que um dia é do por do sol ao por do sol. E naquela noite dão um jantar para ele, ou seja um dia a menos. E ele celebra pessach um dia antes do dia correto, pois ele irira morrer no outro dia, dois dias a menos. Sobram 4 dias. A Torá diz que o cordeiro era separado no dia 10 e dia 14 ele era morto, ou seja, 4 dias depois. Naquela noite Yeshua recebe em seus pés uma unção com nardo puro, e diz que aquilo era preparação para seu sepultamento. Ali ele estava sendo separado, 4 dias antes de sua morte, assim como o cordeiro de Pessach era separado no dia 10. Não há como negarmos, Yeshua é o messias! Yeshua é o cumprimento do cordeiro de Pessach, tudo na vida justa dele aponta para confirmar isso.

Na noite do dia da preparação, Yeshua se reúne com seus talmidim para o jantar onde ele come adiantadamente o Pessach com seus alunos, para dar-lhes instruções. E durante o jantar normalmente, com todos os elementos que qualquer judeu teria em sua mesa, ele pega o matzá que estava à mesa dando graças, ou seja, declarando a benção do pão, depois ele parte e dá aos discípulos dizendo que aquele é o corpo dele. Depois pega o cálice, dá também a benção do vinho, conforme nós conhecemos, e como aquele é o momento do cálice da redenção, ele compara o pão e o cálice ao seu corpo e ao seu sangue, indicando a óbvia comparação de que ele era o cordeiro que seria morto. E diz que o cálice (redenção) é o sangue (vida justa) dele renovando a aliança com o Eterno, conforme Jeremias havia dito. Ele estava ali, iniciando o processo de renovação da aliança.

Com tudo isso, Yeshua estava revelando a respeito de sua morte e a importância de confiar nele para receber a vida eterna. Nesse texto entendemos o simbolismo que Yeshua estava fazendo no jantar de Pessach que ele e seus discípulos estavam comendo, pois ali ele estava reforçando tudo o que já havia instruído, mas muitos ainda não tinham entendido e aceitado. Muitos deles somente tiveram plena convicção e compreensão após a sua ressurreição, quando o ruach veio sobre eles lhes fazendo lembrar tudo o que ele tinha ensinado.

Por isso, para nós hoje, que celebramos o Pessach com plena compreensão dos atos, dos elementos e seus símbolos que se tornaram plenos na vida de Yeshua, é uma benção e uma oportunidade de crescer e receber mais uma porção do Ruach em nossas vidas. Recebemos perdão, recebemos renovo, recebemos redenção através da vida justa do cordeiro Yeshua, que viveu uma vida justa sendo exemplo para nós, morreu sendo inocente, mas no final do shabat semanal daquele dia de primícias ele foi ressuscitado pelo Eterno, tornando-se o caminho da redenção de muitos.

Que cada um de nós que celebramos Pessach possamos nos lembrar de onde viemos, o que eramos, o que somos hoje, e o que seremos no futuro. Que possamos trabalhara arduamente, como nosso messias, para levar a verdade, por mais dura que seja para os que estão longe, a fim de tentar abrir-lhes os olhos. Contemos os 49 dias do ômer meditando dia a dia, em como podemos melhorar na caminhada, para chegarmos em Shavuot renovados e com forças para recebermos a Torá de HaShem mais uma vez.


Chag Pessach Sameach!!!!

Que o Eterno lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva)

Bibliografia:


- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- Nos Caminhos da Eternidade, Isaac Dichi

- Festas e Dias Bons, Eduardo Carneiro

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- http://shemaysrael.com/pessach

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/pessach.pdf