Estudos da Torá
Parashá nº 29 – Acharei Mot (Depois da morte)
Vayicrá/Levítico Lv 16:1-18:30,
Haftará (Separação) Ez 22:1-19; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Rm 3:19-28; 9:30-10:13
Tema: Obedecer ou apenas confiar na graça?
No estudo dessa semana trataremos a respeito do questionamento de muitas pessoas sobre obedecer ou confiar somente na graça? Através de uma análise sincera e dedicada das Escrituras Sagradas, ou seja, Torah e Profetas, e também dos Escritos Nazarenos, conhecidos como Novo Testamento, teremos a oportunidade de entender qual é realmente a vontade do Eterno estabelecida na sua Palavra para todo homem. Veremos também a opinião de sábios do povo de Yisrael a respeito do assunto, bem como observaremos uma análise codificada em um dos textos da parashá comprovando profeticamente a vontade do Eterno.
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
O resumo da parashá Acharei Mot, diz que os mandamentos descritos nessa parashá, seguem cronologicamente as mortes trágicas dos dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, sobre as quais lemos na Parashá Shemini há algumas semanas. Esta porção começa com uma longa descrição do serviço especial de Yom Kipur, a ser realizado no Mishcan pelo Cohen Gadol. O serviço incluía a confissão do Cohen Gadol em seu próprio nome e em nome de toda a nação; a seleção por sorteio entre duas cabras, uma das quais seria a oferenda pelo pecado nacional, e a outra seria empurrada de um penhasco no deserto, como portadora dos pecados do povo; e as complicadas cerimônias de aspersão de incenso e sangue a serem realizadas no Codesh HaKedoshim (Santo dos Santos). Seguindo a ordem de que Yom Kipur e suas leis de jejum e abstinência de trabalho seriam observadas eternamente pelo povo judeu como um dia de perdão, a Torá proíbe a oferenda de corbanot fora das instalações do Mishcan. O sangue não pode ser ingerido, e durante o processo da shechitá (abate ritual), uma porção do sangue derramado deve ser coberta. A porção da Torá conclui com uma lista dos relacionamentos sexuais imorais e proibidos, e a ordem de que o povo de Yisrael mantenha e assegure a santidade da terra dada a eles.
ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO
No capítulo 18 do livro de Vayicrá/Levítico, encontramos instruções importantes do próprio Eterno relacionadas à moral e à conduta do ser humano. Vou abordar alguns aspectos relevantes com base em alguns versículos.
1 וַיְדַבֵּ֥ר יְהוָ֖ה אֶל־מֹשֶׁ֥ה לֵּאמֹֽר׃
2 דַּבֵּר֙ אֶל־בְּנֵ֣י יִשְׂרָאֵ֔ל וְאָמַרְתָּ֖ אֲלֵהֶ֑ם אֲנִ֖י יְהוָ֥ה אֱלֹהֵיכֶֽם׃
3 כְּמַעֲשֵׂ֧ה אֶֽרֶץ־מִצְרַ֛יִם אֲשֶׁ֥ר יְשַׁבְתֶּם־בָּ֖הּ לֹ֣א תַעֲשׂ֑וּ וּכְמַעֲשֵׂ֣ה אֶֽרֶץ־כְּנַ֡עַן אֲשֶׁ֣ר אֲנִי֩ מֵבִ֨יא אֶתְכֶ֥ם שָׁ֨מָּה֙ לֹ֣א תַעֲשׂ֔וּ וּבְחֻקֹּתֵיהֶ֖ם לֹ֥א תֵלֵֽכוּ׃
4 אֶת־מִשְׁפָּטַ֧י תַּעֲשׂ֛וּ וְאֶת־חֻקֹּתַ֥י תִּשְׁמְר֖וּ לָלֶ֣כֶת בָּהֶ֑ם אֲנִ֖י יְהוָ֥ה אֱלֹהֵיכֶֽם׃
5 וּשְׁמַרְתֶּ֤ם אֶת־חֻקֹּתַי֙ וְאֶת־מִשְׁפָּטַ֔י אֲשֶׁ֨ר יַעֲשֶׂ֥ה אֹתָ֛ם הָאָדָ֖ם וָחַ֣י בָּהֶ֑ם אֲנִ֖י יְהוָֽה׃ ס
6 אִ֥ישׁ אִישׁ֙ אֶל־כָּל־שְׁאֵ֣ר בְּשָׂרֹ֔ו לֹ֥א תִקְרְב֖וּ לְגַלֹּ֣ות עֶרְוָ֑ה אֲנִ֖י יְהוָֽה׃ ס
7 עֶרְוַ֥ת אָבִ֛יךָ וְעֶרְוַ֥ת אִמְּךָ֖ לֹ֣א תְגַלֵּ֑ה אִמְּךָ֣ הִ֔וא לֹ֥א תְגַלֶּ֖ה עֶרְוָתָֽהּ׃ ס
8 עֶרְוַ֥ת אֵֽשֶׁת־אָבִ֖יךָ לֹ֣א תְגַלֵּ֑ה עֶרְוַ֥ת אָבִ֖יךָ הִֽוא׃ ס
9 עֶרְוַ֨ת אֲחֹֽותְךָ֤ בַת־אָבִ֨יךָ֙ אֹ֣ו בַת־אִמֶּ֔ךָ מוֹלֶ֣דֶת בַּ֔יִת אֹ֖ו מוֹלֶ֣דֶת ח֑וּץ לֹ֥א תְגַלֶּ֖ה עֶרְוָתָֽן׃ ס
10 עֶרְוַ֤ת בַּת־בִּנְךָ֙ אֹ֣ו בַֽת־בִּתְּךָ֔ לֹ֥א תְגַלֶּ֖ה עֶרְוָתָ֑ן כִּ֥י עֶרְוָתְךָ֖ הֵֽנָּה׃ ס
11 עֶרְוַ֨ת בַּת־אֵ֤שֶׁת אָבִ֨יךָ֙ מוֹלֶ֣דֶת אָבִ֔יךָ אֲחוֹתְךָ֖ הִ֑וא לֹ֥א תְגַלֶּ֖ה עֶרְוָתָֽהּ׃ ס
12 עֶרְוַ֥ת אֲחוֹת־אָבִ֖יךָ לֹ֣א תְגַלֵּ֑ה שְׁאֵ֥ר אָבִ֖יךָ הִֽוא׃ ס
13 עֶרְוַ֥ת אֲחֹֽות־אִמְּךָ֖ לֹ֣א תְגַלֵּ֑ה כִּֽי־שְׁאֵ֥ר אִמְּךָ֖ הִֽוא׃ ס
14 עֶרְוַ֥ת אֲחִֽי־אָבִ֖יךָ לֹ֣א תְגַלֵּ֑ה אֶל־אִשְׁתּוֹ֙ לֹ֣א תִקְרָ֔ב דֹּדָֽתְךָ֖ הִֽוא׃ ס
15 עֶרְוַ֥ת כַּלָּֽתְךָ֖ לֹ֣א תְגַלֵּ֑ה אֵ֤שֶׁת בִּנְךָ֙ הִ֔וא לֹ֥א תְגַלֶּ֖ה עֶרְוָתָֽהּ׃ ס
16 עֶרְוַ֥ת אֵֽשֶׁת־אָחִ֖יךָ לֹ֣א תְגַלֵּ֑ה עֶרְוַ֥ת אָחִ֖יךָ הִֽוא׃ ס
17 עֶרְוַ֥ת אִשָּׁ֛ה וּבִתָּ֖הּ לֹ֣א תְגַלֵּ֑ה אֶֽת־בַּת־בְּנָ֞הּ וְאֶת־בַּת־בִּתָּ֗הּ לֹ֤א תִקַּח֙ לְגַלֹּ֣ות עֶרְוָתָ֔הּ שַׁאֲרָ֥ה הֵ֖נָּה זִמָּ֥ה הִֽוא׃
1 Falou o Eterno a Moisés, dizendo:
2 Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Eu sou o Eterno vosso Elohim.
3 Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus estatutos.
4 Obedeçam minhas regras e leis vivam de acordo com elas: Eu sou o Eterno vosso Elohim.
5 Guardem minhas leis e regras; se alguém as cumprir, terá vida por intermédio delas: Eu sou o Eterno.
6 Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para descobrir a sua nudez; Eu sou o Eterno.
7 Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe; ela é tua mãe; não descobrirás a sua nudez.
8 Não descobrirás a nudez da mulher de teu pai.
9 A nudez de tua irmã, filha de teu pai, ou filha de tua mãe, nascida em casa, ou fora da casa, a sua nudez não descobrirás.
10 A nudez da filha do teu filho, ou da filha da tua filha, a sua nudez não descobrirás: porque é tua nudez.
11 A nudez da filha da mulher de teu pai, gerada de teu pai (ela é tua irmã), a sua nudez não descobrirás.
12 A nudez da irmã de teu pai não descobrirás; ela é parenta de teu pai.
13 A nudez da irmã de tua mãe não descobrirás; pois ela é parenta de tua mãe.
14 A nudez do irmão de teu pai não descobrirás; não te chegarás à sua mulher; ela é tua tia.
15 A nudez de tua nora não descobrirás: ela é mulher de teu filho: não descobrirás a sua nudez.
16 A nudez da mulher de teu irmão não descobrirás; é a nudez de teu irmão.
17 A nudez duma mulher e de sua filha não descobrirás: não tomarás a filha de seu filho, nem a filha de sua filha, para descobrir a sua nudez; parentas são: maldade é.
Lv 18:1-17
Quando observamos os versos 4 e 5 podemos notar que o Eterno deixa algo muito claro, Ele exige do homem obediência aos mandamentos, no texto lemos como “regras e leis”, ou seja, a Torah. Essa obediência não é apenas dos judeus ou de quem segue o judaísmo, como muitos pensam, mas do homem.
Infelizmente, nos sistemas religiosos há duas vertentes diferentes, mas que levam ao mesmo caminho. Um deles ensina que o homem não precisa mais obedecer às leis de HaShem, pois o messias teria cumprido e após isso, elas foram anuladas, sendo necessário ao homem apenas confiar na graça. Enquanto outro sistema ensina que os não judeus não precisam obedecer às leis de HaShem, bastando-lhes apenas cumprir as sete leis de Noach até que estejam prontos para se converterem ao seu sistema religioso. E como disse antes, ambos levam ao mesmo caminho, o da desobediência aos mandamentos e ao consequente afastamento do Eterno.
Entretanto, nem todos tem o mesmo entendimento, pois há os que compreendem à partir da própria Torah que o ser humano precisa obedecer aos mandamentos. Segundo o autor Bruno Summa, em seu comentário dessa parashá, Hashem deixa bem claro que há apenas um caminho para que o homem encontre vida, os Mishpatim e os Chukim. Os Mishpatim são as leis racionais, as quais definem os mandamentos entre um homem e seu próximo, e as leis concernentes à idolatria. Os Chukim tratam das leis supra-racionais e em sua maioria, lidam com temas relacionados aos mandamentos entre Hashem e um homem. Além do mais, os Mishpatim representam a ação em si e os Chukim representam a crença e a fé em Hashem. Vemos então que a vida se encontra em como o homem age perante seu próximo e na maneira em como o homem coloca sua fé em prática através do Avodat Hashem (serviço ou culto ao Eterno) estabelecido pela Torah. (Summa, Bruno. SHA'AREI TORAH: Portões da Torah - VAYIKRA 3 (p. 418). Edição do Kindle.)
Assim, podemos nos questionar que vida seria essa? O referido autor também faz alguns questionamentos. Seria vida na terra? Mas não estariam todos os homens, justos e ímpios, destinados à morte? Seria então essa vida a vida eterna? Se essa for a
vida que o verso 5 se refere, então, qual seria o propósito do desejo de viver muitos dias nessa terra que Hashem imbuiu no ser humano? Rashi diz o que ele pensa sobre o assunto:
A vida que o versículo se refere é a vida no mundo vindouro. Rashi, Vayikra 18:5
Vemos que Rashi ensina que o verso 5 se refere à vida eterna. Segundo seu pensamento, quem obedece a Torah irá garantir a vida eterna no mundo vindouro. O Eterno usando o profeta Daniel fala a respeito da ressurreição para a vida eterna em Dn 12:2, veja:
Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno. Dn 12:2
É preciso portanto, entender o que é obedecer a Torah, já que sua obediência garante a vida eterna, como o próprio Yeshua deixa claro ao responder a um jovem que o questiona sobre esse assunto. Observe:
E chegou a ele um rapaz e o reverenciou, dizendo: mestre, o que é bom fazer para se obter a vida eterna? E respondeu Yeshua: o que se refere a bom? Não existe homem bom, pois apenas D’us é bom. E se quiser entrar na vida eterna, guarde os mandamentos. Mateus 19:16-17
É bem claro pelos profeta e pelo que Yeshua disse que se deve obedecer aos mandamentos, ou seja, a Torah. Porém, não podemos confundir obedecer a Torah com práticas legalistas de troca de favores. E tem muitos atualmente que pensam ser disso que se trata, pois interpretam errado os textos, principalmente os de Paulo. Veja uma tradução comum o que diz:
sabemos que ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Yeshua o messias. Assim, nós também cremos no messias Yeshua para sermos justificados pela fé no messias, e não pela prática da lei, porque pela prática da lei ninguém será justificado. Gl 2:16
Esse texto de Paulo é muito mal interpretado porque traduzem o termo meramente como “Lei”, mas nas cópias em grego que se tem, como por exemplo no “códex sinaiticus” um dos mais antigos, o termo não é meramente “nomos” ou seja “lei”, mas está escrito “έργα του νόμου” que transliterado é “epia ton nomos” significando “obras da lei” ou “prática legalista”, em hebraico esse termo seria "מַעֲשֵׂי הַתּוֹרָה" transliterado é “maasey hatorah” com o mesmo significado “obras da lei ou prática legalista”, esse termo é usado para observância legalista da Torah, não para a obediência por amor. Assim, com esse entendimento podemos traduzir o texto de Paulo corretamente e obter o claro entendimento. Veja:
sabemos que ninguém é justificado pela prática legalista da lei, mas mediante a fé em Yeshua o messias. Assim, nós também cremos no messias Yeshua para sermos justificados pela fé no messias, e não pela prática legalista da lei, porque pela prática legalista da lei ninguém será justificado. Gl 2:16
Portanto, se o objetivo de se obedecer for para se ganhar algo em troca ou meramente por uma prática religiosa, a pessoa estará sendo legalista, se enquadrando no que Paulo fala aqui, e não é a respeito da Torah do Eterno. Não foi à toa que o Messias Yeshua disse que o maior mandamento é: “Ame o Eterno seu Elohim de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento.” (Mt 22:37). Para mais entendimento desse capítulo da Gálatas assista aos vídeos na playlist Sabedoria Toraísta de Gálatas, no canal Sou Peregrino na Terra no YouTube.
Retornando ao texto da parashá em Vayicrá/Lv 18, o já mencionado autor, diz que há pessoas que pensam diferente em relação à vida no verso 5, por exemplo o Rabino Munk diz que a Torah não garante necessariamente a uma pessoa, uma vida mais longa, mas lhe garante uma vida de paz e de alegria, com um significado. Veja o que ele diz:
Uma pessoa que observa as Mitzvot pode até viver uma vida mais longa, mas não é essa a promessa, a promessa é que ela viverá uma vida em paz e cheia de alegrias, e sua vida terá significado. Kol HaTorah, Vayikra 18:5
Podemos encontrar ainda, rabinos no Talmud falando sobre ser o termo vida no verso 5, uma referência a esta vida e à vida eterna ao mesmo tempo, observe abaixo:
Quem observa as vontades do Santo, Bendito Seja, terá uma vida completa nessa terra e garantirá a vida eterna no mundo vindouro. Talmud Bavli, Tratado Kidushim 39b.
Portanto, somando os dois pontos de vista podemos entender que o homem que obedece aos mandamentos do Eterno, terá uma vida completa nesta terra, ou seja, nesta vida, independente de quantos anos ela dure, e terá ainda, a certeza que receberá a vida no mundo vindouro. É importante destacar, a fim de não deixar dúvidas, que a verdadeira vida nesta terra não se trata de muitos anos ou de mera longevidade, mas sim de uma vida feliz, alegre, cheia de contentamento, ainda que hajam momentos de provas e perseguições. E é dessa forma pelo simples fato de se ter uma prioridade, agradar ao criador, e quando se busca agradar ao Eterno por amor, e se estuda a Torah, conforme vai aprendendo vai se obedecendo, a pessoa passa a ter uma vida plena com contentamento.
Note como o ensino do sistema religioso que diz que o homem não precisa obedecer a Torah porque tem a graça, é um engano, já que a própria Palavra de D’us diz que é para o homem obedecer, conforme no texto em estudo e em outros. Observe abaixo:
O temor do Senhor é puro, e dura para sempre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas. São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo. Por elas o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes. Sl 19:9-11
Como são felizes os que obedecem aos seus estatutos e de todo o coração o buscam” Sl 119:2
Se vocês estiverem dispostos a obedecer, comerão os melhores frutos desta terra; Is 1:19
Os que alegam que agora vivem na graça, e que é assim que se consegue a vida eterna, chamam isso de salvação, pois não entendem o conceito. A pergunta que eu faço é: Será que o Eterno mudou? Será que em um determinado momento o criador de todas as coisas, que disse para obedecermos as suas Palavras, simplesmente em um dia decidiu mudar, e colocar uma graça no lugar da obediência aos mandamentos? O que as Escrituras dizem sobre o Eterno ser imutável?
De fato, eu, o Eterno, não mudo. Por isso vocês, descendentes de Jacó, não foram destruídos. Ml 3:6
É o próprio HaShem quem diz que não muda, como alguém pode alegar que ele mudou e implantou a graça? Isso é uma tremenda falta de entendimento das palavras do profetas, do próprio Yeshua e do apóstolo Sha’ul (Paulo). Não é à toa que a sugestão de leitura dos textos Nazarenos para esta parashá está em Rm 3:19-28; 9:30-10:13. Nestes textos apesar das pessoas geralmente interpretarem de forma errada as palavras do apóstolo, o que ele realmente está dizendo é que aqueles que buscam obedecer a mandamentos legalistas acabam desagradando ao Eterno. Percebam que fui claro ao dizer mandamentos legalistas, que é muito diferente de lei do Eterno. Uma dica é buscar nos canais da Kahal Teshuvah Brasil ou em Sou Peregrino na Terra, as playlist de estudos da Carta aos Romanos nesses capítulos que são explicados verso a verso dentro do contexto original.
Outra coisa que costumam falar é que a Torah é somente para judeus, no entanto isso é outro engano. Bruno Summa no livro já citado, trás um texto do midrash que mostra o entendimento oposto a isso.
Nós vemos que quando o Santo, Bendito Seja, disse a Moisés para que fizesse o Mishkan, Ele disse sobre cada objeto ASSAH (faça), porém, em relação à arca onde a Torah seria colocada, Ele disse a Moisés ASSU (façam). Ele comandou que todo Israel a fizesse. Por que o plural? Porque o Santo, Bendito Seja, não queria que ninguém dissesse ao seu próximo: “eu dei uma porção maior para que a arca fosse feita e você deu uma porção menor, por isso eu sou mais merecedor”. Por esse fato, a Torah é comparada às águas, pois assim como a água pode ser bebida por todos gratuitamente, todos que desejam estudar a Torah podem estudá-la gratuitamente. E por que a Torah foi dada no deserto? Para mostrar que, assim como o deserto, ela não pertence a homem algum e assim ninguém dirá: “a Torah pertence a mim e ao meu povo, pois ela foi dada aos meus pais”. Mas está escrito: “a Torah foi dada à congregação de Yaakov (Dt 33:4)”, e isso ensina que quem estuda a Torah fará parte da congregação de Yaakov, até o gentio que a estuda é comparável ao sumo sacerdote. Midrash Tanchuma, Vayakhel 8
O citado autor fala algo que aqui também sempre citamos em nossos estudos. Ele diz que é comum dentro do judaísmo que seus membros fazem parecer que a Torah foi dada apenas aos judeus e que ela pertence aos judeus. Esse pensamento leva a muitos não judeus pensarem que eles não precisam da Torah e não necessitam aprender seus mistérios. Alguns que mostraremos mais à frente neste estudo.
Com tudo isso, o que vemos é que muitas pessoas que não conhecem a Torah, quando encontram um não judeu que a vive e a estuda, o questionam: “mas você é judeu?” Segundo o mencionado autor, essa concepção de posse que nasceu com os sábios após a construção do segundo Templo não está em conformidade com a Torah. Vejamos então um simples exemplo da Gemara sobre esse tipo de pensamento que se contradiz tanto com a Torah quanto com os profetas, observe:
O gentio que observa o Shabbat deve ser morto. Talmud Bavli, Tratado Sanhedrin 58b
A culpa disso é das leis de cerca e exageros que os judeus criaram com o objetivo de proteger os mandamentos. No entanto, vemos claramente que esse fala no Talmud não está de acordo com o TaNaK. Basta olharmos o que Isaías disse:
E os estrangeiros, que se conectarem ao Eterno e O adorarem, e amarem ao Seu nome e se tornarem Seus servos, todos que observarem o Shabat e que forem fieis à Minha aliança esses eu trarei a meu santo monte e lhes darei alegria em minha casa de oração. Seus holocaustos e seus sacrifícios serão aceitos em meu altar; pois a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. Isaías 56:6 e 7
Infelizmente, muitos judeus decidiram que somente os judeus deveriam aprender sobre a Torah. E pelo texto do profeta percebemos que o Eterno espera que os não judeus obedeçam a Torah. Por isso, é importante não confundir a Torah com o judaísmo. Segundo o autor, o judaísmo é uma religião que estabelece o status quo de um povo, já a Torah, que serve de base para essa fé e a esse povo, não está atrelada a essa fé, apenas ao povo, e isso é muito diferente. O povo judeu, que representa a parte conhecida do Povo de Israel, está fortemente atrelada à Torah, contudo, fazer parte do Povo de Israel, segundo o Tanakh, não demanda que uma pessoa se converta à fé judaica e muito menos que um gentio siga os princípios dessa fé, como por exemplo, através das sete leis de Noach. Ainda segundo o autor, o homem que observa a Torah naturalmente observará as sete leis de Noach, mas a vontade de Hashem para todos os homens não se restringe à essas sete leis, Ele deseja que sua vontade seja seguida por completo.
Observe que a Torah é comparada às águas, pois da mesma forma como as águas não são propriedade de homem algum e todos podem beber dela, a Torah não é propriedade de homem algum e todos que tiverem sede podem vir e beber de suas águas gratuitamente. Veja outro texto de Isaías:
Ouçam, todos que tiverem sede, vá até as águas e as bebam. Isaías 55:1
Finalmente, pudemos compreender, de acordo com o autor, que a Torah pertence a todos, seus mandamentos foram dados a todos os homens através de Yisrael, toda humanidade tem o direito e a obrigação de conhecê-los, de observá-los e de servir ao D-us único, Criador de todas as coisas.
Vejamos agora algumas observações que podem ser feitas no texto em hebraico.
A Santidade Através da Obediência
O capítulo 18 de Levítico estabelece leis morais e sexuais que visam a santidade do povo israelita. As proibições contra incesto, adultério, relações com animais e outras práticas abomináveis devem distingui-los das nações pagãs e aproximá-los do Eterno (Lv 18:2-30).
A Repetição da letra "ס" Samech e sua Simbologia
- A guematria de "ס" é 60, cuja raiz é 6 e aponta para o homem, sua natureza e potencial, os pictográficos apontam para atividades humanas como mão no cajado, vara, apoio, suporte.
- Em cada verso que o Samech foi colocado no final, é uma lembrança que o homem pode escolher não desobedecer, ou seja, é sua escolha.
- Enfatiza a responsabilidade final do homem em seguir as leis e alcançar a santidade.
A Conexão com Ezequiel 22
A Haftará dessa parashá está em Ezequiel 22, e no verso 2 o Eterno questiona se o profeta está pronto para julgar, ecoando a ênfase em Levítico 18, sobre a responsabilidade humana de obedecer aos mandamentos.
- O versículo 2 de Ezequiel 22 tem a gematria 4723 e quando somamos dá 16, cuja raiz é 7, e Simboliza a perfeição divina e aponta para o 7º milênio, quando o messias retornará e implantará o reino como representante do Eterno.
- 16 (1+6): O homem (6) precisa da direção divina (1) para alcançar a maturidade espiritual e ser apto a julgar com justiça. Perceba que o 1 que é representado pela letra א Áleph e aponta para o Eterno, está à frente do 6, que representa o homem. Se o homem não tem o Eterno ele vive em transgressão.
- A profecia de Ezequiel serve como um alerta para as pessoas que, estão transgredindo as leis divinas, como as relacionadas em Lv 18.
- Seguir as leis de Deus em Levítico 18 leva à santidade e à vida (Lv 18:5). O homem é responsável por suas ações e deve buscar a justiça e a santidade (Ez 22:2).
Arrependimento e mudança
Reconhecer os erros e buscar o perdão de Deus é crucial para a restaurar o contato com o Eteno (Ez 22:30-31). E as Escrituras nos mostram textos que corroboram esse entendimento.
- Deuteronômio 30:15-20: Escolha entre a vida e a morte, a bênção e a maldição, obedecendo a Deus.
- Isaías 1:16-20: Lavem-se, purifiquem-se, abandonem suas maldades e aprendam a fazer o bem.
- Ezequiel 18: A justiça individual e o arrependimento trazem a restauração.
Conclusão, a análise da guematria, simbolismo e profecia em Levítico 18 e Ezequiel 22 revelam uma mensagem profunda sobre a responsabilidade do homem na busca pela santidade e justiça, obedecendo aos mandamentos no lugar de confiar apenas na graça. Através da obediência às leis divinas, arrependimento e mudança de comportamento, o homem pode alcançar a vida plena e a comunhão com o Eterno.
Que HaShem lhes abençoe!
Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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