Estudos da Torá
Parashá nº 5 – Chayei Sarah (Vida de Sarah)
Bereshit/Gênesis 23:1-25:18
Haftará (separação) Ml 1:1-2:7 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Rm 9:6-16; Hb 11:20; 12:14-17
Tema: Você é desse mundo?
Essa semana estudamos a Parashá Chayei Sarah, uma das porções mais significativas da Toráh. Nela, encontramos a narrativa da compra de Mearat Hamachpelá, a caverna de Macpelá, por Avraham, um evento aparentemente simples, mas carregado de simbolismos profundos e lições eternas. Nosso estudo terá como objetivo explorar como esse episódio reflete a confiança inabalável de Avraham no Eterno, mesmo diante de situações que poderiam parecer se contrapor às promessas divinas. Vamos analisar o contexto histórico e espiritual dessa passagem, conectando-a às mensagens dos profetas e de Yeshua, a fim de entender como ela aponta de forma profética para o Mashiach.
Veremos como a submissão e a obediência de Avraham se tornam um padrão mencionado pelos profetas, é repetido pelo Mashiach e ensinado pelos emissários. A narrativa da Torah nos convida a refletir sobre nossa própria confiança nas promessas do Eterno e nos ensina a viver com paciência e fidelidade, mesmo quando os resultados não são imediatos.
Este estudo pretende ser uma oportunidade de aprofundarmos nossa compreensão das Escrituras e fortalecermos nossa confiança e firmeza no Eterno. Vamos mergulhar juntos nessa jornada de aprendizado e edificação!
Bendito seja o Eterno, que nos ensina por meio de Sua Torá!
A PARASHÁ DA SEMANA
A parashá Chayei Sarah, a quinta porção semanal da Torah, traz acontecimentos importantes na vida de Avraham e de sua família, destacando a continuidade da aliança do Eterno com sua descendência.
Essa porção inicia dizendo que Sarah viveu 127 anos, e após sua morte, Avraham buscou um local para sepultá-la. Ele negociou com Efron, o hitita, para adquirir a caverna de Macpelá em Hebron, pagando o preço de 400 moedas de prata, recusando ofertas de gratuidade. Esse ato localizou o primeiro pedaço de terra comprado e pertencente à descendência de Avraham na terra de Kena'an.
Avraham envia seu servo, chamado Elazar/Eliezer, com um juramento para buscar uma esposa para Yitschak entre seus parentes em Charam. Elazar orou ao Eterno, pedindo um sinal para identificar a mulher correta que fosse de sua vontade para o filho de seu senhor Avraham: ela deveria oferecer água a ele e a seus camelos. Rivka, uma jovem de bom coração e grande caráter, passou no teste. Elazar explicou sua missão à família de Rivka, depois pediu permissão para levá-la a Yitschak. Após a bênção da família, Rivka parte com o servo de Avraham em direção a Kenaan. Ao chegarem, ela encontrou Yitschak e tornou-se sua esposa, confortando-o após a morte de Sarah.
Avraham tomou outra esposa, Keturá, com quem teve outros filhos. Contudo, ele garantiu que a herança da aliança permaneceria, exclusivamente, com Yitschak, enviando os outros filhos para longe. Aos 175 anos, Avraham faleceu e foi sepultado por Yitschak e Ismael ao lado de Sarah em Mearat Hamachpelá.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
A narrativa da parashá Chayei Sarah é mais um de tantos momentos marcantes na história de Avraham e, por extensão, para o entendimento do plano do Eterno na redenção da humanidade. Embora o Eterno tenha prometido toda a terra de Kenaan como herança a Avraham e sua descendência, o patriarca precisou adquirir por alto preço um pequeno pedaço de terra, a caverna de Macpelá, para enterrar Sarah. Esse ato de confiança inabalável e submissão à vontade do Eterno é visto por muitos como um apontamento profético para o Mashiach. Nesse estudo abordaremos o contexto da narrativa, sua conexão com os profetas e, finalmente, como aponta para Yeshua e seus ensinamentos.
Uma confiança inabalável
גֵּר־וְתוֹשָׁ֥ב אָנֹכִ֖י עִמָּכֶ֑ם תְּנ֨וּ לִ֤י אֲחֻזַּת־קֶ֨בֶר֙ עִמָּכֶ֔ם וְאֶקְבְּרָ֥ה מֵתִ֖י מִלְּפָנָֽי
Ger-vetoshav anokhy imakhem tenu ly achuzat-gever imakhem veeqebrah mety milefanay
Peregrino e morador sou eu entre vós; dai-me posse de um terreno para sepultura, entre vós, e enterrarei minha morta que está diante de mim. Bereshit 23:4
É interessante que o patriarca tenha alegado ser duas coisas na terra de Kenaan, ele diz ser “ger-vetoshav” – estrangeiro e morador. Ora, ou você é estrangeiro ou é morador! Aqui há algo que devemos refletir melhor. E poderemos entender que a submissão e confiança no Eterno estão ligadas nessas palavras. Os rabinos comentam muito sobre isso e chegam à conclusão que o ensino aqui nessa porção indica que quem serve ao Eterno como Avraham não é desse mundo, ou melhor, não segue as leis desse sistema mundano. Quem serve ao Eterno vive de acordo com as leis que vem do céu, ou seja, a Torah, pois confiam plenamente em HaShem. Para confirmar isso vamos comprovar com a gematria dessas palavras ditas por Avraham.
- גֵּר־וְתוֹשָׁ֥ב
- Ger-vetoshav = 917 = 17 = 8
Isso nos revela a ligação que há em ser Ger-vetoshav – estrangeiro e morador, pois a palavra Torah tem raiz 8, assim como o Teragrama. O 8 é um apontamento também para Yeshua, e portanto seus ensinos e para o oitavo milênio que será quando todas as promessas ditas a Avraham se tornarão plenas. Sigamos para a continuação de nosso estudo, pois muito ainda há que ser entendido.
Avraham é conhecido como o amigo do Eterno, alguém cuja vida foi marcada pela obediência e confiança total nas promessas divinas. E vemos a Torah relatando o próprio Eterno dando testemunho da emunáh de Avraham.
Porque Avraham me obedeceu e guardou meus preceitos, meus mandamentos, meus decretos e minhas leis. Bereshit/Gn 26:5
Entretanto, de forma alguma isso significa que esse patriarca nunca tenha errado, ou desobedecido ao Eterno em algum momento. Pelo contrário, ele errou ao tentar acertar, durante o caminho de teshuvah, e isso demonstra que ele tinha uma kavanáh, ou seja, intenção do coração, perfeita e voltada para HaShem. Seu esforço e prática de obediência, além de suas atitudes corretas em relação às palavras do Eterno levaram a isso.
Apesar da promessa do Eterno de que toda a terra de Kenaan seria Avraham, ele não reivindicou a terra à força nem murmurou ao precisar comprar um pedaço de terra de Efron, o hitita para sepultar Sarah. Ele tinha motivos para murmurar, reclamar e se lamuriar por não ter onde sepultar sua esposa, já que o Eterno lhe prometera. E com certeza aqui é uma parte que nós precisamos ter muita atenção, e aprender com a Torah, pois infelizmente, muitos tem a tendência de murmurar, e questionar ao Eterno. Perguntam porque isso ou aquilo está acontecendo com elas e se amarguram. Entretanto, a paciência e a submissão demonstram a confiança de Avraham que o Eterno cumpriria Sua palavra no tempo devido. Esse tipo de entendimento faz toda a diferença na vida de quem serve ao Eterno, ao contrário daqueles que esperam todas as bênçãos para esse tempo de sua vida.
A compra da caverna de Macpeláh, portanto, simboliza a esperança em um futuro onde a promessa seria cumprida. Apesar de muitos afirmarem que a graça é de graça, toda aliança tem um preço. Avraham pagou o preço ao iniciar com o Eterno aquela aliança para seus descendentes, apontando que o mashiach prometido também pagaria um preço pela ampliação da aliança, veremos mais adiante sobre isso. O evento da compra da gruta e da terra que a circundava destaca o caráter de Avraham como alguém que vive pela confiança firme no Eterno, um traço essencial para o entendimento do Mashiach, que também caminharia em perfeita obediência à vontade divina. Há outro exemplo como esse figurado pelo profeta Yirmeyahu, quando ele compra a posse da terra de um parente, mesmo sabendo que toda a terra seria entregue nas mãos dos babilônicos. O fato aqui era que o profeta sabia que o Eterno cumpriria suas promessas feitas ao patriarca sobre seu povo e sua terra, mesmo que alguns entraves viessem primeiro. Leia o capítulo 32 de Yirmeyahu.
As pessoas que são do Reino do Eterno tomam como base as leis que vem do céu, e por isso sabem que não devem confiar em esperanças fúteis desse mundo. HaShem nunca deixa de cumprir suas promessas, e as que foram feita a Avraham sobre sua descendência e sua terra, se cumprirão. O mashiach bem Yosef, conhecido por Yeshua, veio e cumpriu parte das profecias, mas ainda retornará para finalizar outras. Vejamos nos próximos tópicos a relação desses fatos e profecias no decorrer da história através dos profetas e também de Yeshua e dos shaliachim/apóstolos.
O sofrimento gera expiação
Os profetas frequentemente apresentam o tema do aparente fracasso ou demora no cumprimento das promessas do Eterno, apenas para revelar, ou descortinar, um segredo que estava oculto, o cumprimento de Seu plano soberano em momentos inesperados pelo homem.
Yeshayahu, por exemplo, profetizou que o Mashiach seria "desprezado e rejeitado pelos homens", enfrentando humilhação antes de sua exaltação, conforme lemos em Yeshayahu 53. Assim como Avraham sofrendo pela perda de sua amada esposa teve que pagar caro por uma terra já prometida, vemos o profeta descrevendo que o Mashiach sofreria para garantir o pagamento do preço da redenção que já era garantida pelo plano do Eterno, providenciado de antemão, conforme lemos o que Rav Sha’ul diz em sua carta aos efésios.
Porque somos feitos por D’us, criados em união com o messias Yeshua para fazermos boas obras, as quais D’us preparou de antemão para que nós as praticássemos. Ef 2:10
O profeta também descreve o Mashiach como alguém que traria justiça e esperança ao mundo por meio de seu serviço fiel, conforme lemos em Yeshayahu 42:1-4, ecoando a submissão de Avraham ao plano divino. A fidelidade do messias profetizada é a clara relação com a submissão do patriarca que resulta no cumprimento da promessa, por ser o messias a representação da descendência de Avraham. E mais uma vez nos comprova que nossa esperança precisa estar baseada na vontade de HaShem.
O valor da Submissão e Confiança
Yeshua ensinou muitas vezes sobre o valor da submissão ao Eterno e da confiança em Suas promessas, independente da situação em que se encontre. Ele declarou: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mattityahu/Mt 5:5), refletindo a mesma espécie de confiança de Avraham no tempo e na vontade do Eterno. Tal como o que já falamos, o patriarca pagou caro por um pedaço de terra, que já havia lhe sido prometida, Yeshua dedicou sua vida justa como preço pela redenção de muitos, mesmo sendo escolhido como o mensageiro do Eterno e herdeiro de tudo. Ele também instruiu seus talmidim/discípulos a seguir o exemplo de obediência e paciência, demonstrando que o caminho para a glorificação e recebimento da herança, passa pela humildade e pelo serviço correto ao Eterno, conforme Mattityahu/Mt 20:26-28. O mestre também deixou uma dica de como perceber quando as profecias estiverem sendo cumpridas, leia Mt 24:32-35, ele faz isso usando um trocadilho da palavra hebraica para “verão” - קָּיִץ – kayts com a palavra para “fim” - קּץ – kets, ou seja, Yeshua estava falando que eles ao olharem para a figueira entenderiam quando o fim estivesse chegando, pois a figueira aponta para Yisrael.
Para um pouco mais de informações sobre a questão das profecias mencionadas nos livros da Brit Hadashá, chamada Novo Testamento, Assista ao vídeo da live de Comentário de Pirkei Shimon, sobre o capítulo 1:10-11.
Os escritos dos emissários também reverberam essa visão e ensino. Em suas cartas, Sha’ul menciona Avraham como o modelo de confiança firme no Eterno, dizendo que ele "creu contra a esperança" (Romiyim/Rm 4:16-22). Essa confiança é paralela à missão de Yeshua, que, mesmo enfrentando oposição e exclusão, permaneceu fiel ao plano do Eterno, apontando para a plenitude das promessas divinas. Por isso, cada um de nós como talmidim/discípulos de Yeshua devemos seguir esse exemplo deixado por Avraham, profetizado pelos profetas de Yisrael, ensinado por Yeshua e pelos seus talmidim.
Depois destas coisas que mencionamos, ao concluir nosso estudo, entendemos que a compra da caverna de Macpeláh por Avraham, mesmo em meio à promessa do Eterno, é um poderoso exemplo de confiança no plano divino, apontando para o papel do Mashiach como aquele que confia e obedece até o fim. Essa narrativa ecoa nos profetas e encontra seu cumprimento em Yeshua, cuja vida e ensinos refletem a mesma submissão ao Eterno. O exemplo de Avraham nos ensina que as promessas do Eterno não falham, mas se cumprem no tempo certo, e que a confiança nEle é a chave para participar do Seu plano redentor e do Reino. Mostrando para nós que é melhor ser do Reino de D’us do que desse mundo.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)
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