Estudos da Torá
Parashá nº 44 – Devarim (Palavras)
Devarim/Deuteronômio 1:1-3:22
Haftará (separação) Is 1:1-27 e
B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Jo 15:1-11, Hb 3:7-4:11
A Teshuváh não é religião, mas arrependimento.
Em tempos onde a “restauração” leva muitos a seguirem tradições religiosas, há um chamado antigo ecoando com força renovada: "Volta, ó Yisrael, ao Eterno teu Elohim!" (Hoshea 14:1). Este chamado não exige dogmas, estruturas humanas nem títulos religiosos. Ele clama por teshuváh, palavra hebraica que significa retorno, arrependimento, conversão, mudança de direção. Porém, na confusão de sistemas religiosos e ritos, a teshuváh tem sido reduzida a um conceito ritual, institucionalizado, como se fizesse parte de uma religião. A realidade, no entanto, é mais profunda e mais exigente: teshuváh não é religião. É transformação de vida, um retorno ao Eterno, aos Seus mandamentos, e ao caminho reto criado desde o princípio. É uma resposta ao chamado eterno: Retorna a mim, e Eu retornarei a ti… (Malachi 3:7)
RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA
Nesta semana iniciamos o quinto e último livro da Torá: Devarim. Este livro contém as palavras que Moshe, servo do Eterno, falou a todo Yisrael, nas planícies de Moav, diante do Yarden, antes de o povo atravessar para a terra prometida. Essas palavras foram ditas nas últimas semanas de vida de Moshe.
Moshe relembra ao povo os eventos marcantes da jornada no deserto e repete muitas das instruções que o Eterno já havia dado. Ele não traz novas doutrinas, mas reforça o que já havia sido ordenado, com o objetivo de preparar a nova geração que agora entraria na terra que o Eterno jurou dar a Avraham, Yitzchak e Yaakov. Ele inicia com uma repreensão velada, mencionando locais como Paran, Tofel, Lavan, Chatzerot e Di Zahav, para lembrar os pecados cometidos no deserto — como a murmuração, a incredulidade, e especialmente a rejeição da terra prometida após o relato dos espiões. O homem do Eterno recorda o episódio em que dez dos doze homens enviados para espiar a terra voltaram com um relatório desanimador. O povo, em vez de confiar no Eterno, murmurou e rebelou-se. Por causa disso, o Eterno jurou que aquela geração não entraria na terra.
Moshe também narra a vitória sobre os reis Sichon e Og, e como o Eterno entregou essas terras a Reuven, Gad e metade da tribo de Menashé, como herança na margem leste do Yarden. Por fim, Moshe encoraja Yehoshua bin Nun, seu servo fiel, para continuar a missão e conduzir o povo na conquista da terra.
ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ
A parashá Devarim marca o início do último discurso de Moshe a todo Yisrael. Suas palavras não são apenas memória ou despedida, são um apelo. Ele exorta uma nova geração a lembrar os erros dos pais no deserto e a não repetir sua rebeldia. Ao relembrar eventos como a recusa diante da terra prometida e a tragédia dos espias, Moshe evidencia o coração do problema: a dureza, a incredulidade e o afastamento da voz de HaShem. É o mesmo clamor que ecoa em Yeshayahu 1:1–27, que é a haftará dessa porção, onde o profeta denuncia a hipocrisia dos rituais sem justiça, sem arrependimento real. "De que me serve a multidão de vossos sacrifícios?", pergunta HaShem (Yeshayahu 1:11). E conclama: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de diante dos meus olhos... então, vinde, e arrazoemos" (Yeshayahu 1:16‑18).
Nos Escritos dos Emissários, Yochanan 15:1‑11 e Hebreus 3:7–4:11 reforçam este chamado. A videira verdadeira e o descanso prometido são acessíveis apenas aos que permanecem, confiam, e obedecem. Arrependimento, então, não é um rito de passagem religioso, mas um retorno completo ao Eterno com a mente, coração e ação ou prática. Esse é o verdadeiro espírito da teshuváh.
1. A geração que não entrou: o peso da incredulidade e da desobediência
Moshe, em Devarim, fala a filhos que cresceram caminhando no deserto, mas agora precisavam escolher entre repetir os pecados dos pais ou retornar com integridade ao Eterno. Ele relembra que a geração anterior foi impedida de entrar na terra por não confiar na promessa, mesmo após tantos sinais. O texto de Hebreus 3:18-19 ecoa este lamento: “E a quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão aos que foram desobedientes? Fazendo um midrash de Tehilim/Salmos 95:7 e 8. Vemos que a geração de pessoas que morreram no deserto não puderam entrar na terra prometida por causa da incredulidade.
Este é o coração da teshuváh: reconhecer onde erramos, lamentar sinceramente, e mudar o curso. Não há religião que substitua isso. Não há ritual que anule o peso de um coração endurecido. A geração que caiu no deserto era religiosa, isto é, celebrava festas e ofereciam sacrifícios mas não se arrependiam. Eles ouviram a voz do Eterno no Sinai, viram Suas maravilhas no Egito e ainda assim não confiaram em HaShem. Isso nos mostra que nem presença visível, nem milagres substituem um coração obediente.
2. O Eterno exige justiça, não apenas rituais
A haftará em Yeshayahu 1 denuncia com veemência os que praticam rituais e orações enquanto oprimem o pobre e desprezam o juízo. O Eterno rejeita as festas e sacrifícios feitos sem justiça. Como disse um dos antigos sábios:
Onde há justiça e misericórdia, ali está a Presença do Eterno; onde há sacrifícios sem arrependimento, há apenas vaidade. Midrash Tanchuma, Shoftim 9
Moshe, da mesma forma, destaca que não há substituto para o temor ao Eterno e à obediência:
Guardai, pois, e cumpri, porque esta é a vossa sabedoria. Devarim 4:6.
Yeshua reafirma este princípio em Yochanan 15:10: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor...” não bastava crer naquilo que Ele ensinava, era necessário obedecer o que ele ensinava.
3. Teshuváh é permanecer na videira: fruto, permanência e verdade
Yeshua, em Yochanan 15, ensina que o ramo que não permanece na videira é cortado. Permanecer é obedecer. Produzir fruto é andar segundo a vontade do Pai, que é a Torá. Teshuváh, então, é voltar à raiz, não a um sistema religioso, mas ao mandamento do Eterno.
Yeshua nunca criou uma religião. Ele andou nos caminhos da Torá, exortou como Yirmeyahu, lamentou como Moshe, julgou com justiça como Shmuel. Ele ensinou teshuváh, não formas religiosas, mas um retorno vivo à vontade do Pai. Ele chamou Yisrael ao retorno sincero à Torá, como todos os profetas. Ele mesmo disse: “Não penseis que vim abolir a Torá” (Matityahu 5:17). O arrependimento que ele exige é o mesmo de Yeshayahu, de Moshe, de todos os homens fiéis ao Eterno.
Concluindo nosso estudo, a parashá Devarim, unida à voz cortante de Yeshayahu e ao ensino reto de Yeshua, clama em uma só direção: retorna, ó Yisrael! Volta à obediência, ao temor, à justiça. Não há caminho de volta ao Eterno por meio de formas religiosas mortas. Teshuváh é mais do que sentimento: é decisão, é prática, é permanência.
A geração do deserto viu milagres, mas não obedeceu, e por isso caiu. Os habitantes de Yerushalayim encheram os átrios do Templo, mas foram rejeitados, porque não havia justiça neles. Yeshua advertiu: o ramo infrutífero é lançado fora. A carta aos Hebreus diz: Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração.
A teshuváh não é religião. É o som do Eterno chamando: “Volta!” E quem ouve, volta. E quem volta, obedece. E quem obedece, vive. Hoje, como naquela geração, o Eterno ainda chama: Retorna. Se ouvirmos, vivamos como quem foi restaurado. Que não sejamos apenas ouvintes, mas praticantes da verdade. Pois quem volta, obedece. E quem obedece, viverá.
Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!
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Moshê Ben Yosef