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sexta-feira, 6 de junho de 2025

Estudo da Parashá Nassô - Equilibrando os nossos desejos: o voto de Nazir.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 35 – Nassô (Faça)

Bamidbar/Números 4:21-7:89

Haftará (separação) Jz 13:2-25 e

B’rit Hadashah (Aliança Renovada) Jo 7:53-8:11; Atos 21:17-32


Tema: Equilibrando os nossos desejos: o voto de Nazir.


Sejam muito bem-vindos a mais um momento de aprendizado e reflexão profunda nas Palavras do Eterno! No estudo dessa semana, convido você a fazer uma pausa, respirar fundo e olhar com sinceridade para dentro de si: Quem governa a sua vida, você ou os seus desejos?

Vivemos em uma época em que somos bombardeados a todo instante por estímulos, desejos e vontades. O mundo e o sistema religioso nos diz: “siga o seu coração”, “viva sem limites”, “aproveite tudo ao máximo”, “não se preocupe estamos na graça”, “a lei foi cravada na cruz”. Mas será que esse é o caminho que o Eterno quer para nós?

Neste estudo exploraremos um dos temas mais intrigantes e desafiadores das Escrituras: o voto de Nazir. É uma escolha radical de se afastar, temporariamente, de prazeres lícitos, para se consagrar totalmente ao Eterno. E perceberá também que esse voto não é apenas sobre vinho ou cabelo comprido… É, na verdade, sobre equilibrar os nossos desejos, dominar o que muitas vezes parece indomável dentro de nós, e encontrar um caminho de liberdade verdadeira.

Vamos viajar juntos pelo Sefer Bamidbar, mas também pelas palavras dos profetas, dos ketuvim (escritos) e até dos escritos nazarenos, para descobrir a mensagem poderosa constante nesse antigo voto, que permanece viva e atual para cada um de nós! Não importa quem você é ou onde esteja na sua caminhada. Este estudo é para todos que desejam crescer, amadurecer e, principalmente, servir ao Eterno com um coração puro e equilibrado. Prepare o seu coração… e venha comigo!


RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA

Esta é a segunda porção do Sefer Bamidbar, chamada Nassô. Seguindo as instruções do Eterno, essa porção aprofunda o papel das famílias de Levi, leis de pureza no acampamento, o voto de nezirut e a bênção sacerdotal, entre outros temas.

Depois da contagem dos filhos de Kehat, a Parashá continua com a contagem dos filhos de Gershon e Merari, outros clãs da tribo de Levi. O Eterno ordena que também estes sejam contados, de 30 a 50 anos, pois realizariam o serviço do Mishkan. As famílias de Gershon seriam responsáveis pelas cortinas, tapeçarias e coberturas do Mishkan. Enquanto as de Merari foram encarregados das tábuas, travessões, colunas e bases, ou seja, toda a estrutura física do Mishkan. Cada família de Levi tinha uma missão específica e intransferível. Assim, serviam ao Eterno com ordem e reverência.

O Eterno ordena a remoção do acampamento de qualquer pessoa impura: seja Metzora (impureza por tzaraat), Zav (fluxos corporais impuros) e Temei Nefesh (impureza por contato com mortos). O acampamento, onde a Presença do Eterno habitava, deveria permanecer puro.

Aquele que pecasse contra o próximo deveria confessar a sua transgressão, restituir o valor do prejuízo mais um quinto e caso não houvesse parente próximo para a restituição, o bem seria entregue ao sacerdote. E aqui se destaca a importância da teshuvá, que significa arrependimento, retorno e reparação diante do Eterno e do próximo.

Esta porção trata da mulher suspeita de traição, a chamada sota. O homem que suspeitasse da infidelidade de sua esposa deveria levá-la ao sacerdote. Ela então passava por um ritual:

- Era apresentada ao sacerdote;

- Ingeria águas amargas contendo palavras escritas de maldição;

- Se fosse culpada, sofreria consequências físicas; se inocente, seria abençoada com fertilidade.

Este mandamento revela a seriedade da santidade do casamento, mas também a misericórdia do Eterno, que permitia provar a inocência da mulher e restaurar a confiança.

Homem ou mulher que desejasse se consagrar ao Eterno podia fazer o voto de Nazir, comprometendo-se com três restrições principais:

- Não beber vinho ou qualquer derivado da uva;

- Não cortar o cabelo;

- Não se tornar impuro por contato com mortos, nem mesmo por parentes próximos.

O Nazir buscava se separar das vaidades e prazeres para se dedicar ao Eterno. Este voto revela que a consagração ao Eterno não é exclusiva dos levitas ou sacerdotes, mas aberta a todo aquele que, com firme confiança, deseja se aproximar Dele.

O Eterno instrui a Aharon e seus filhos a abençoar o povo de Yisrael com as palavras da Birkat Kohanim. Esta bênção expressa o desejo de proteção, graça, e paz do Eterno sobre o Seu povo.

A porção finaliza com o dia em que Moshe completou a montagem do Mishkan, e os líderes das tribos levando oferendas voluntárias. A repetição detalhada de cada oferta demonstra que, embora iguais, cada presente era considerado especial diante do Eterno, pois expressava a dedicação e amor de cada líder e tribo.


ESTUDO DO TEXTO DA PARASHÁ

Observe que desde o princípio, o ser humano carrega dentro de si uma tensão permanente: o chamado do Eterno à santidade e a atração natural pelos desejos materiais e carnais. Conforme está escrito na Torá:


Pois a inclinação do coração do homem é má desde a sua juventude. Bereshit/Gn 8:21.


O voto de Nazir, conforme instruído em Bamidbar 6, surge como um modelo extraordinário desse enfrentamento interior. O Nazir não é um asceta que despreza o mundo, mas alguém que, reconhecendo a força dos seus desejos, decide consagrar-se por um tempo determinado, afastando-se dos prazeres lícitos para intensificar sua aproximação ao Eterno. Talvez você pergunte o que é um “asceta”? Pois bem, segundo o dicionário, ascetismo é um estilo de vida caracterizado pela abstinência dos prazeres mundanos por meio da autodisciplina, da pobreza autoimposta e da vida simples, muitas vezes com o propósito de perseguir objetivos espirituais. O que, conforme já mencionei, não é o caso do Nazir.

Hoje, ao estudarmos profundamente este voto, aprenderemos sobre o equilíbrio necessário para não sermos escravos dos desejos, mas também não desprezarmos a criação que o Eterno nos deu. Como está escrito:

Sejam santos, pois Eu, HaShem, sou santo. Vayicrá/Lv 19:2.


Veremos que o caminho correto é com equilíbrio, consagração e vigilância constante.


1. O Nazir: Separação para a aproximação

A separação dos prazeres materiais

De acordo com o que lemos na Torá, vemos que o Nazir se separa, sobretudo, do vinho e de tudo o que provém da uva, não só da bebida, mas até das uvas-passas ou sementes, conforme ordenado:


De tudo que se faz da vinha do vinho não comerá… Bamidbar/Nm 6:4.


Como bem exposto no texto que estamos estudando, os sábios entenderam que a ordem do Eterno para o afastamento de todos os derivados da uva é uma cerca de proteção, evitando que, por descuido, o Nazir venha a transgredir. Isso ensina um princípio poderoso: quem deseja manter-se puro diante do Eterno, deve colocar distância entre si e aquilo que pode corrompê-lo, como está escrito:


Fujam do mal e façam o bem... Tehilim/Sl 34:14.


O vinho ou outras bebidas enebriantes, símbolo de alegria e celebração, também podem ser portas para a perda de autocontrole. O Nazir, ao abster-se, busca manter a mente clara e o coração vigilante.


Deixar de lado a vaidade e o ego

A segunda característica marcante do Nazir é não cortar os cabelos durante o período do voto:


Todos os dias do voto de sua consagração, navalha não passará sobre sua cabeça... Bamidbar/Nm 6:5.


Como destacou Seforno, um sábio do povo de Yisrael, ao deixar o cabelo crescer, o Nazir abdica da preocupação estética, da vaidade pessoal, renunciando ao desejo de agradar aos olhos humanos para se voltar totalmente ao Eterno. Este ato silencioso e visível de não se embelezar demonstra um coração comprometido com valores mais elevados que a aparência. Como está escrito:


O homem vê o que está diante dos olhos, mas HaShem vê o coração Shmuel Alef/1Sm 16:7


Pureza extrema: nem mesmo pelos mortos

O Nazir também não pode se impurificar por mortos, nem por seus parentes mais próximos, conforme lemos em Bamidbar/Nm 6:7. Aqui, há um rompimento radical: até mesmo o instinto natural de chorar e cuidar dos mortos é colocado em segundo plano diante da sua consagração ao Eterno.

Este é o mesmo padrão do Cohen Gadol, como expõe o Midrash: a consagração total exige um grau de pureza acima do comum. Assim, aprendemos que há momentos em que servir ao Eterno requer deixar de lado até mesmo os vínculos mais fortes, como disse o messias:


Quem seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou filha mais que a Mim, não é digno de Mim. Matityahu/Mt 10:37


Percebam que como homem, enviado pelo Eterno para anunciar o Reino, Yeshua falava não por si mesmo, mas como um navium profeta, um mensageiro que representava a vontade do Eterno, conforme está escrito:


Porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. Devarim/Dt 18:18


Portanto, quando Yeshua diz que é necessário amá-lo mais que aos próprios pais ou filhos, ele está se colocando no papel daquele que representa a Torá e as instruções do Eterno, não que ele deveria ser adorado. O que ele está dizendo é:

Se você valoriza mais os laços humanos do que a obediência à verdade que eu ensino — à vontade do Eterno — então você não está pronto para andar neste caminho. Não se trata de substituir o amor ao Eterno pelo amor a Yeshua, jamais! Pois está escrito claramente:


Amarás a HaShem, teu Elohim, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Devarim/Dt 6:5


Este é o maior de todos os mandamentos! Mas amar a Yeshua, como ele mesmo ensinava, significava seguir o caminho da obediência ao Eterno com fidelidade, mesmo que isso custasse rupturas familiares, rejeição ou perseguição. Ele estava chamando o povo a colocar o Eterno acima de tudo, inclusive dos laços mais queridos.

Lembre-se que o contexto dessa fala é o envio dos emissários, e ele advertia que seguir o Eterno com sinceridade causaria divisão até mesmo dentro das famílias, como pode ser lido em Matityahu/Mt 10:34-36, como também já tinha sido profetizado:


O filho despreza o pai, a filha se levanta contra sua mãe a nora, contra a sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa. Mikhah/Mq 7:6.


Portanto, Yeshua não estava pedindo adoração pessoal, mas dizendo: “Se vocês colocarem qualquer pessoa — por mais amada que seja — acima da verdade que ensino, vocês não estão prontos para caminhar comigo neste chamado de total consagração ao Eterno.”

Servir à HaShem é uma chamada à fidelidade radical ao Eterno, e Yeshua, como verdadeiro servo, estava dizendo: sigam-me, porque eu sigo o Eterno com todo o coração. Era isso o que um Nazir fazia durante o tempo de seu nazireado, o tempo de seu voto. E é o que devemos fazer em nossas vidas.


2. O Nazir e o equilíbrio dos desejos: entre abstinência e serviço

Não é um desprezo ao mundo, mas um caminho de equilíbrio

O Nazir não se afasta do vinho porque este seja mau em si mesmo, pois o vinho é citado como bênção:


O vinho que alegra o coração do homem. Tehilim/Sl 104:15

A separação ou o voto é temporário e pedagógico: um exercício para demonstrar que o homem não deve ser dominado pelos prazeres, mas governá-los. Assim também disse Shelomo:


o neguei a meus olhos nenhum desejo. Mantive-me no prazer, pois senti satisfação por todo o meu trabalho, e essa foi minha recompensa por tudo. Então olhei para a realização das minhas mãos e para o trabalho que executei; e vi que ele era totalmente desprovido de sentido, sustentar-me de vento, e que não havia obtido nada debaixo do sol. Kohelet/Ec 2:10-11.


Entender o voto do Nazir nos ensina que o domínio dos desejos não exige o desprezo do mundo, mas a capacidade de, por amor ao Eterno, colocar limites quando necessário.


O Nazir como figura de autocontrole e inspiração profética

O Nazir é a representação do ideal profético de domínio próprio, como exemplificado na vida de Shimshon, em Shoftim/Jz 13. Desde o ventre de sua mãe, Shimshon foi separado como Nazir, um homem consagrado, cuja força vinha não dos seus músculos, mas da sua dedicação ao Eterno. Todavia, seu fim trágico mostra que não basta o voto externo: é necessário que o coração esteja alinhado com a consagração. Ele falhou ao romper os limites de seu voto, e isso nos mostra a necessidade de coerência interna e não apenas forma externa. Como disse o profeta Yirmeyahu:


Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas… Yirmeyahu/Jr 17:9.


Assim, o Nazir é chamado não apenas a práticas externas, nem ao legalismo, mas a um profundo exame interior, buscando pureza de intenções e não apenas aparências.


A humildade no término do voto: expiação obrigatória

É interessante notar que, ao concluir seu voto, o Nazir deveria trazer um sacrifício pelo pecado (chatat), conforme lemos em Bamidbar 6:13. Por quê? Os sábios do nosso povo explicam: pelo fato de ter-se privado das bênçãos que o Eterno deu ao homem, como o vinho, símbolo de alegria e festividade, por exemplo. Esta obrigação final mostra que a abstinência não é o ideal permanente, mas um instrumento pedagógico. Assim também nos ensinou Kohelet:


Por isso, não seja excessivamente justo nem sábio; por que frustrar a si mesmo? Kohelet Ec 7:16


O serviço ao Eterno requer equilíbrio, ou seja, nem entrega desenfreada aos prazeres, nem mortificação extrema.


3. Paralelos com os Profetas e os Escritos Nazarenos

O chamado profético à separação

O voto de Nazir ecoa o chamado dos profetas ao povo para separar-se da idolatria e da corrupção moral:


Afastem-se, saiam daqui! Não toquem em coisas impuras! Saiam dela e sejam puros, vocês, que transportam os utensílios do Eterno. Yeshayahu 52:11


A separação não é um fim em si mesmo, mas um meio para manter-se puro para o serviço ao Eterno. O Nazir é um modelo desse chamado: separa-se para aproximar-se de HaShem.


O exemplo de Yeshua: domínio próprio e santificação

Yeshua, embora nunca tenha feito o voto de Nazir, viveu como um homem separado para o Eterno. Esse afastamento voluntário é semelhante ao espírito do Nazir: não uma rejeição do vinho, mas um gesto de consagração, aguardando o tempo apropriado. Yeshua também ensinou:


Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua estaca e siga-me. Matityahu/Mt 16:24


Este chamado à negação dos desejos carnais é o mesmo que inspira o voto de Nazir.


O fruto do autocontrole: uma vida de paz

Lemos em Mishlei:


Melhor é o homem paciente do que o valente, e o que domina o seu espírito do que o que conquista uma cidade. Mishlei/Pv 16:32


O Nazir representa esta conquista interior: domínio próprio, que é também um dos frutos da firme confiança, como reforçado nos escritos nazarenos:


Mas o fruto da firme confiança é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, confiança, mansidão e domínio próprio. Galatim/Gl 5:22-23


4. Lições práticas: como equilibrar nossos desejos hoje

Reconhecer os próprios limites

O Nazir não assume seu voto por orgulho, mas porque reconhece a necessidade de estabelecer limites para não ser dominado por suas paixões. Assim também devemos proceder: reconhecer nossas fraquezas e, por amor ao Eterno, buscar equilibrar nossos desejos,


Usar a separação como um meio, não como um fim

O afastamento dos prazeres deve ter um propósito: aproximar-se do Eterno, purificar-se e crescer em domínio próprio. Não se trata de negar o mundo, mas de usá-lo com sabedoria e moderação. Não é se tornar legalista, uma pessoa que segue centenas de leis de cerca ou halachot para parecer santo. É ser verdadeiramente santo, obedecendo à Torá do Eterno.


Buscar sempre a santidade equilibrada

Devemos sempre lembra o que o Eterno disse ao seu povo:


...Sejam santos, pois eu, o Eterno, o Elohim de vocês, sou santo. Vayicrá 19:2


A santidade não exige um voto de Nazir, mas requer o mesmo espírito, ou seja, os mesmos princípios: domínio dos desejos, pureza de intenções e serviço dedicado. Assim como o Nazir se afasta do vinho, podemos hoje escolher períodos para nos afastar do excesso das redes sociais, comidas específicas ou hábitos que estejam nos afastando da presença do Eterno.

Concluindo nosso estudo, vimos que entender os princípios do voto de Nazir é um convite atemporal para reconhecer que a vida diante do Eterno requer equilíbrio, domínio próprio e, às vezes, afastamento temporário dos prazeres legítimos para que possamos crescer em santificação. Assim como o Nazir, somos chamados a ser "kadosh", isto é, santos, separados, não por desprezar o mundo, mas para que, purificados, possamos servir melhor ao Eterno, amar ao próximo e viver com sabedoria, sendo luz para os remanescentes perdidos da Casa de Yisrael e para todos que desejam se aproximar do Eterno.

Que o Eterno os abençoe e até o próximo estudo!


Moshê Ben Yosef


sexta-feira, 14 de junho de 2024

Estudo da Parashá Nassô - Entenda quem era o Anjo do Eterno.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 35 – Nassô (Faça)

B’midbar/Números Nm 4:21-7:89,

Haftará (Separação) Jz 13:2-25; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 7:53-8:11 e Atos 21:17-32.


Tema: Entenda quem era o Anjo do Eterno.


Na parashá dessa semana vemos a continuação das instruções sobre as família levíticas, e entre outras coisas fala das leis de nazireado. E vamos aproveitar o contexto para buscar um pouco mais sobre um assunto muito mal interpretado por muitas pessoas e teólogos, ou seja, o Anjo do Eterno. O relato da haftará dessa semana mostra “o Anjo do Eterno”, que aparece para revelar o que HaShem iria fazer para ajudar o povo de Yisrael. Alguns teólogos e religiosos alegam que esse anjo é uma manifestação de Yeshua antes de nascer, mas será que as Escrituras amparam essa ideia? Nesse estudo quebraremos o dogma a respeito do Anjo do Eterno ser o messias antes de nascer.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


De acordo com o resumo dessa porção no site Chabad, a parashá Nassô prossegue delineando as tarefas e responsabilidades das três famílias levitas – Gershon e Merari na porção desta semana, Kehat na semana passada - e contando todos os levitas que estavam em idade de servir no Mishcan.

Depois que D'us ordenou a Moshê purificar o acampamento para que fosse um lar merecedor da Presença Divina, a Toráh descreve o processo a ser cumprido com uma sotá, uma esposa que foi advertida pelo marido a não ficar sozinha com outro homem, e mais tarde foi surpreendida fazendo-o, dando ao marido um bom motivo para suspeitar de adultério. Ela é levada ao Cohen no Templo Sagrado e, caso não admita sua culpa, recebe água amarga sagrada para beber, o que levará a um destes dois resultados: ou as águas estabelecerão sua inocência, removendo a dúvida de seu relacionamento com o marido e abençoando-a com filhos, ou as águas provarão sua culpa por uma morte miraculosa e grotesca.

A Torá então descreve as leis do nazir, uma pessoa que aceitou voluntariamente adotar um estado especial de santidade, geralmente por trinta dias, abstendo-se de comer ou beber qualquer derivado de uva, cortar o cabelo, e de contaminar-se através do contato com o corpo de alguém que morreu. Após relatar as bênçãos pelas quais os Cohanim abençoarão o povo, a porção da Torá conclui com uma longa lista das oferendas trazidas pelos doze líderes das tribos durante a dedicação do Mishcan para uso regular. Cada príncipe faz uma oferenda comunal para ajudar a transportar o Mishcan, bem como doações idênticas de ouro, prata, animais e alimentos.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PRÁTICO E PROFÉTICO


No contexto dessa parashá que também fala das leis de nazireado temos a haftará ou porção dos profetas registrada em Shoftim/Juízes 13, que narra o aviso da concepção de Shimshon/Sansão. E há algo interessante nesse relato que gostaria de destacar nesse estudo. O referido relato mostra que “o anjo do Eterno” aparece para revelar o que HaShem iria fazer para ajudar seu povo. Mas a pergunta aqui é: Quem é esse “anjo do Eterno” que aparece nesse relato? O que as Escrituras definem sobre esse anjo? Os pais de Sansão realmente receberam a visita do “Anjo do Eterno”, ou há outra explicação? Alguns teólogos e religiosos alegam que esse anjo é uma manifestação de Yeshua antes de nascer, mas será que as Escrituras amparam essa idéia?

Em primeiro lugar, para entender bem o conceito tanaico de anjo, você pode buscar no blog o estudo em texto da parashá vayishlach sobre o tema “os anjos do Eterno” em 2022, ou se preferir assistir ao estudo em vídeo procure no canal Sou Peregrino na Terra ou Kahal Teshuvah Brasil no YouTube o mesmo estudo.

Inicialmente, relembremos algo importante, pois no citado estudo eu disse que no contexto original, lendo alguns versos do início daquela parashá podemos reparar na palavra sublinhada, pois tem importância em nosso estudo:


וַיִּשְׁלַ֨ח יַעֲקֹ֤ב מַלְאָכִים֙ לְפָנָ֔יו אֶל־עֵשָׂ֖ו אָחִ֑יו אַ֥רְצָה שֵׂעִ֖יר שְׂדֵ֥ה אֱדֹֽום׃

וַיְצַ֤ו אֹתָם֙ לֵאמֹ֔ר כֹּ֣ה תֹאמְר֔וּן לַֽאדֹנִ֖י לְעֵשָׂ֑ו כֹּ֤ה אָמַר֙ עַבְדְּךָ֣ יַעֲקֹ֔ב עִם־לָבָ֣ן גַּ֔רְתִּי וָאֵחַ֖ר עַד־עָֽתָּה׃ וַֽיְהִי־לִי֙ שֹׁ֣ור וַחֲמֹ֔ור צֹ֖אן וְעֶ֣בֶד וְשִׁפְחָ֑ה וָֽאֶשְׁלְחָה֙ לְהַגִּ֣יד לַֽאדֹנִ֔י לִמְצֹא־חֵ֖ן בְּעֵינֶֽיךָ׃

וַיָּשֻׁ֨בוּ֙ הַמַּלְאָכִ֔ים אֶֽל־יַעֲקֹ֖ב לֵאמֹ֑ר בָּ֤אנוּ אֶל־אָחִ֨יךָ֙ אֶל־עֵשָׂ֔ו וְגַם֙ הֹלֵ֣ךְ לִקְרָֽאתְךָ֔ וְאַרְבַּע־מֵאֹ֥ות אִ֖ישׁ עִמֹּֽו׃


Yaacov mandou mensageiros adiante dele a seu irmão Esav, na região de Seir, território de Edom. E lhes ordenou: "Vocês dirão o seguinte ao meu senhor Esav: assim diz teu servo Yaacov: Morei na casa de Lavan e com ele permaneci até agora. Tenho bois e jumentos, ovelhas e cabras, servos e servas. Envio agora esta mensagem ao meu senhor, para que me recebas bem". Quando os mensageiros voltaram a Yaacov, disseram-lhe: "Fomos até seu irmão Esav, e ele está vindo ao seu encontro, com quatrocentos homens". Gênesis 32:3-6


Você pode reparar que nos versos acima, a palavra “mensageiro” está sublinhada. E no decorrer deste estudo você poderá entender algumas coisas a respeito dessa palavra. Note que aqui nestes versos traduzidos para o português não aparece a palavra “anjo”, mas nos versos anteriores a ela aparece, veja:


Yaacov também seguiu o seu caminho, e anjos de D’us vieram ao encontro dele. Quando Yaacov os avistou, disse: "Este é o exército de D’us!" Por isso deu àquele lugar o nome de Machanáyim. Gênesis 32:1,2


Note que nestes dois versos surge a palavra “anjos”. E aparentemente estes versos e os que lemos antes não tem nada em comum. Mas é apenas uma aparência, pois a mesma palavra aparece no texto hebraico, porém em um bloco traduziram como “anjos” e em outro como “mensageiros”. Em ambos os blocos a palavra hebraica que aparece é  מַלְאָך – Malakh, singular de Malakhim - מַלְאָכִים֙.

Então, você entende corretamente o contexto de “anjos”? No mencionado estudo, vimos que o conceito dessa palavra na atualidade, quando se fala em “anjo”, a primeira coisa que as pessoas costumam pensar é em um ser com aparência humana, com asas como as de pássaros, e que passa o dia todo voando e cantando. Mas o TaNaK,  as Escrituras Sagradas, em vários contextos, nos dizem que os anjos na verdade são mensageiros. Homens que fazem a vontade do Eterno ao cumprir seus mandamentos e servem como instrumentos para entregar a mensagem do Eterno.

Portanto, sabendo o que o termo malakh – anjo – significa, passemos para o contexto da haftará, no anúncio do nascimento de Sansão.


Quem é o anjo do Eterno? Ou seria quem não é?

Observemos primeiramente o texto de Juízes 13.

Com certeza você notou que neste texto aparecem os termos “o anjo do Senhor”. Veja o verso 3 em hebraico e traduzido abaixo:


וַיֵּרָ֥א מַלְאַךְ־יְהוָ֖ה אֶל־הָאִשָּׁ֑ה וַיֹּ֣אמֶר אֵלֶ֗יהָ הִנֵּה־נָ֤א אַתְּ־עֲקָרָה֙ וְלֹ֣א יָלַ֔דְתְּ וְהָרִ֖ית וְיָלַ֥דְתְּ בֵּֽן׃


E o anjo do Eterno apareceu a esta mulher, e disse-lhe: Eis que agora és estéril, e nunca tens concebido; porém conceberás, e terás um filho.


Reparou que o termo sublinhado é o mesmo dos versos que mencionamos anteriormente? Reparou também que ele não está com letras maiúsculas? Até porque em hebraico não tem maiúsculas. Então o que isso quer dizer? Vamos caminhar em direção ao entendimento correto do termo.

A teologia cristã, de forma geral, afirma que o termo “o Anjo do Senhor” é uma indicação da aparição de JC, que para melhor compreensão aqui, embora sejam personagens totalmente diferentes, consideremos de forma didática e genérica, que se refira a Yeshua. Então, eles dizem que é uma aparição de Yeshua antes dele nascer, pois na verdade ele já existiria desde antes da criação do mundo. Esse entendimento se dá devido ao dogma da pré-existência de Yeshua, já que crêem que ele seja o Eterno. Para compreender melhor porque Yeshua não é divino, procure no blog em texto ou nos canais em vídeo, o estudo da parashá Va’eira com o tema Yeshua é divino? Durante a live no shabat poderemos abordar um pouco mais sobre esse assunto, no final desse estudo encontrará o link do estudo em vídeo.

Compreendendo que Yeshua não é divino, que não é pré-existente, passemos a verificar o contexto correto do termo estudado que comprovará ainda mais a mentira do dogma criado pelo sistema religioso.

Sabendo que “malakh” significa “mensageiro”, fica fácil entender que “malakh Adonay” traduzido na maioria das Bíblias como “anjo do Senhor”, na verdade deveria ser traduzido como “mensageiro do Eterno”. Ou seja, dependendo do contexto, uma pessoa que foi enviada pelo Eterno para entregar uma mensagem, para revelar algo ou para cumprir uma missão, mas também um mensageiro celestial que pode aparecer em forma humana ou como o poder do Eterno, com os mesmos propósitos, e sobre isso trataremos mais à frente. De forma alguma é uma indicação de que o messias prometido já existisse em uma forma “espiritual” antes de nascer, como diz o dogma religioso. Vejamos alguns texto nas Escrituras que confirmam isso em seus contextos.


5 Depois se deitou debaixo da árvore e dormiu. De repente um anjo tocou nele e disse: "Levante-se e coma". 6 Elias olhou ao redor e ali, junto à sua cabeça, havia um pão assado sobre brasas quentes e um jarro de água. Ele comeu, bebeu e deitou-se de novo. 7 O anjo do Senhor voltou, tocou nele e disse: "Levante-se e coma, pois a sua viagem será muito longa". 8 Então ele se levantou, comeu e bebeu. Fortalecido com aquela comida, viajou quarenta dias e quarenta noites, até que chegou a Horebe, o monte de Deus. 1Reis 19:5-8 (Bíblia On Line NVI)


Então o anjo do Senhor saiu e matou cento e oitenta e cinco mil homens no acampamento assírio. Quando o povo se levantou na manhã seguinte, só havia cadáveres! Isaías 37:36 (Bíblia On Line NVI)


Disse-lhe ainda o Anjo do Senhor: "Você está grávida e terá um filho, e lhe dará o nome de Ismael, porque o Senhor a ouviu em seu sofrimento. Gênesis 16:11 (Bíblia On Line NVI)

Acredito que fica bem claro que o anjo do Eterno não é Yeshua antes de nascer, mas um mensageiro do Eterno, seja humanamente, ou em qualquer outra forma de manifestar a vontade do Eterno, conforme veremos adiante.


O que as Escrituras definem sobre o anjo do Eterno?

Conforme mencionamos no item anterior, as Escrituras definem claramente que anjos são mensageiros e que quando aparece o termo anjo, está demonstrando um mensageiro com uma missão específica atribuída pelo Eterno. E temos inúmeros textos no TaNaK que demonstram isso conforme os que transcrevemos acima. E também como os que colocamos a seguir:


Então o Senhor abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor parado no caminho, empunhando a sua espada. Então Balaão inclinou-se e prostrou-se, rosto em terra. Números 22:31


Davi olhou para cima e viu o anjo do Senhor entre o céu e a terra, com uma espada na mão erguida sobre Jerusalém. Então Davi e as autoridades de Israel, vestidos de luto, prostraram-se, rosto em terra. 1 Crônicas 21:16


Ali o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio de uma sarça. Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, esta não era consumida pelo fogo. Êxodo 3:2


Os pais de Sansão realmente receberam a visita do “Anjo do Eterno”, ou há outra explicação?

A resposta clara e objetiva a essa pergunta é: Não! Os pais de Sansão não receberam a visita de um “anjo do Eterno”, pelo menos não de forma física. Eles não falaram literalmente com um ser espiritual que surgiu em sua frente. O contexto é bem claro, observe o texto de Jz 13.

Certo dia “aparece” o mensageiro do Eterno à mulher de Manoach. Só ela vê, num primeiro momento aquele “homem de D’us”, repare que ela diz que viu um homem.

Depois Manoach ora ao Eterno para que o homem de D’us volte para lhes instruir. Repare nos termos!! Então, novamente a mulher vê o mensageiro novamente, e mais uma vez seu marido não estava com ela. E ela corre e diz ao marido, percebam, que o homem que me apareceu outro dia está aqui!! E agora ambos Vêem o mesmo homem, que lhes dá as instruções ordenadas pelo Eterno, e que constam na Torah, nessa parashá.

Manoach pretende dár-lhe algo para comer, mas o mensageiro lhe dá uma resposta que amplia nosso entendimento, veja o verso 16. Até então, eles pensavam que era um homem que estava tratando com eles. E o mensageiro mandou que ele oferecesse uma oferta ao Eterno.

E quando Manoach coloca a oferta sobre uma rocha e coloca fogo, o texto diz que o Eterno fez algo estranho, ou diferente, ou além do entendimento. Quando a fumaça da oferta começa a subir, o homem subiu por ela. Mas espere!!! Isso não é a prova de que era um ser espiritual? Não! Vejam os versos 21 a 23.

O que eles tiveram foi uma visão! E no final a visão se desfez com a fumaça do sacrifício. Perceba que a mulher de Manoach diz no verso 23: Se o Eterno tivesse a intenção de nos matar, não teria aceitado o holocausto e a oferta de cereal das nossas mãos, nem nos teria mostrado todas essas coisas, nem nos teria revelado o que agora nos revelou".


Com isso, podemos entender no contexto original, que as Escrituras Sagradas mostram que o anjo do Eterno é um mensageiro do Eterno para, literalmente, trazer uma mensagem ou executar uma missão específica. E esse mensageiro pode ser um homem de D’us, cumpridor de Torah, ou pode ser uma visão, como nesse caso dos pais de Sansão. Além de poder ser também a manifestação do poder do Eterno como um mover na natureza.

Lembre que para Avraham os mensageiros ou anjos eram homens, sendo um deles o próprio Shem ou Melekh Tzadik, e eles comeram da comida do patriarca. No caso de Manoach e sua esposa era uma visão e o mensageiro não comeu. Para Elias o mensageiro trouxe a comida, e este era também um homem. Já para o Rei David era uma manifestação na natureza.

E em nenhuma das ocasiões o mensageiro era Yeshua, pois a promessa do messias ainda estava sendo aguardada para que se cumprisse, apesar dele já ser uma ideia, um projeto muito claro na vontade do Eterno desde o início da criação. No entanto, ele ainda não tinha sido concebido, não tinha nascido e portanto, não existia. A não ser na vontade do Eterno para acontecer no tempo certo.

O anjo do Eterno ou mensageiro do Eterno, portanto, é um mensageiro de HaShem a fim de levar sua vontade. E até podemos dizer, sem confundir as coisas, que Yeshua em seu ministério terreno se tornou um mensageiro do Eterno para cada pessoa que teve e tem contato com seus ensinos. Já que o conceito de anjo do Eterno é ser um mensageiro para levar a mensagem de HaShem. E Yeshua e seus seguidores se tornaram mensageiros, mas isso é diferente do que ocorreu no passado, conforme demonstramos aqui.

Espero que este estudo possa ter lhe ajudado a abrir os olhos e entender quem realmente era o anjo do Eterno descrito nas Escrituras.

Segue o link do estudo que estará gravada após a live.

https://www.youtube.com/live/0nlVD2Uq7_E?si=fEY3eluX1LYxEApn


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)