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sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Estudo da Parashá Haazinu - A canção e a redenção.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 53Ha’azinu (Ouçam)

Devarim/Deuteronômio DT 32:1-52,

Haftará (Separação) 2Sm 22:1-51 e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Rm 10:14-21; 12:14-21 e Hb 12:28-39.


Tema: A canção e a redenção.


Esta semana vamos explorar uma profecia poderosa e atemporal que revela a jornada de Yisrael através de tragédias e alegrias, com o céu e a terra como testemunhas eternas. Nela, Moshê avisa que, se o povo se afastar do Eterno, enfrentará duras punições, mas também oferece uma mensagem de esperança: mesmo na dispersão, o Eterno nunca abandonará Yisrael, garantindo sua redenção final. Este estudo nos convida a refletir sobre a fidelidade do Eterno, a importância de seguirmos Seus princípios, e como essa canção ecoa nas promessas de restauração e justiça que atravessam as gerações.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


A canção Haazínu, proclamada por Moshê, apresenta uma visão profunda sobre a trajetória do povo de Yisrael, mesclando tragédias e alegrias que ocorreriam ao longo de sua história. Embora não seja uma canção tradicional em rima ou melodia, ela é uma composição de pensamentos que, em sua essência, celebra a perfeita harmonia de tudo que o Eterno faz, mesmo que nosso entendimento humano nem sempre perceba isso de forma clara.

Moshê convocou os céus e a terra como testemunhas, para lembrar a Yisrael das consequências de suas ações. Se o povo agir com ingratidão, esquecendo-se dos muitos favores recebidos do Eterno, enfrentarão punições severas. No entanto, se permanecerem fiéis às instruções do Eterno, as maiores vitórias serão derramadas sobre eles.

Mesmo nos momentos mais difíceis, quando Yisrael se afasta e se dispersa entre as nações, o Eterno garante que o povo não será completamente abandonado. No fim, haverá redenção e sobrevivência. A porção termina com o Eterno ordenando a Moshê que suba ao Monte Nebo para contemplar a Terra Prometida, que ele não entraria, e ali Moshê enfrentaria sua morte, completando assim sua missão.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


Na parashá Haazínu, vemos Moshê proclamar uma canção profética poderosa diante dos céus e da terra, um testemunho eterno que estabelece as consequências para Yisrael se o povo abandonar o Eterno e também as vitórias advindas da obediência. Esta canção, embora cheia de advertências, aponta para a fidelidade do Eterno e a certeza da redenção futura. No final dos tempos, essa redenção culminará na volta do Mashiach, para concluir sua obra, quando Yisrael será restaurado e a justiça do Eterno se revelará para todas as nações. A canção de Moshê nos serve como um guia profético, mostrando o ciclo de queda, retorno e renovação do povo de Yisrael e dos remanescentes espalhados pelas nações. Dessa forma veremos como podemos aprender com esses ensinos proféticos.


O Testemunho dos Céus e da Terra (Devarim 32:1-6)

Esta canção entoada por Moshê começa com um chamado aos céus e à terra para que sejam testemunhas da aliança entre o Eterno e o povo de Yisrael. Este apelo a elementos da criação é profundamente significativo. Os céus e a terra, que foram criados pelo Eterno e são imutáveis, são chamados como testemunhas porque permanecem como um lembrete constante da fidelidade do Eterno e das responsabilidades de Yisrael. Esta é uma visão que também aparece na profecia de Yaakov, quando ele abençoa seus filhos antes de morrer em Bereshit/Gn 49. Yaakov, assim como Moshê, profetiza sobre o destino de seus descendentes, revelando o que acontecerá "nos dias vindouros". Assim como os céus e a terra são chamados a testemunhar o pacto, Yaakov invoca o futuro, falando de eventos que transcenderão sua própria época, sinalizando a continuidade da aliança.

Os profetas que vieram depois de Moshê, como Yeshayahu e Yirmiyahu, também ecoaram essa ideia de que a criação testemunha a relação de Yisrael com o Eterno. Yeshayahu, por exemplo, frequentemente usa a imagem dos céus e da terra como símbolos da permanência da aliança do Eterno com Seu povo, como vemos em Yeshayahu 1:2. A criação é uma testemunha imparcial da infidelidade de Yisrael, mas também é um testemunho da justiça e da misericórdia do Eterno. Eles também são apontamentos proféticos para “pessoas elevadas ou cumpridores de Torah” – céus – e para “pessoas de nível baixo ou desobedientes” – terra.

Yeshua, ao ensinar sobre a vinda do Reino dos Céus, também ressaltou a ideia de que o testemunho do Eterno está em tudo que Ele criou, e que os céus e a terra passarão, mas as palavras do Eterno jamais passarão, conforme lemos em Matityahu/Mt 24:35. Isso está em consonância com o que Moshê proclamou em Haazínu: a palavra do Eterno é imutável e verdadeira, assim como os céus e a terra permanecem constantes.

Os emissários ou apóstolos, como Kefa e Shaul, também refletiram sobre essa realidade. Kefa escreveu em suas cartas que os céus e a terra estão aguardando o dia do julgamento, quando o Eterno renovará todas as coisas, em 2Kefa/Pe 3:7. Esse testemunho cósmico, assim como em Haazínu, destaca que Yisrael deve se lembrar constantemente da aliança e viver de acordo com os mandamentos do Eterno, pois os céus e a terra testemunham o cumprimento ou a quebra dessa aliança. Lembrando que ao falar de Yisrael, estamos não apenas nos referindo ao povo de Yisrael, mas a todos os que procuram viver conforme a vontade do Eterno.


O Castigo pela Infidelidade (Devarim 32:15-25)

Moshê profetiza nesta parte que, após alcançar conquistas, Yisrael se esqueceria do Eterno, tornando-se ingrato e idólatra. Esse padrão de infidelidade é seguido por punições duras, que incluem a dispersão entre as nações e o sofrimento prolongado. Este mesmo ciclo de infidelidade seguido de punição foi previsto por Yaakov ao falar com seus filhos. Em Bereshit/Gn 49, Yaakov profetiza que algumas tribos, como Shimon e Levi, enfrentariam dificuldades e correções por causa de sua violência. Esses problemas não eram permanentes, mas visavam a corrigir e redirecionar o povo de volta à aliança com o Eterno. Essas profecias já se cumpriram em parte, pois a casa de Yisrael e parte da casa de Yehudah ainda estão dispersas entre as nações. No entanto, a profecia de redenção está se cumprindo na vida de todos os que se voltam ao Eterno e aos seus mandamentos, sendo enxertados ou reenxertados no povo de Yisrael.

Os profetas posteriores, como Oséias e Amós, também destacaram essa dinâmica de infidelidade e castigo. Eles alertaram que Yisrael, ao se afastar do Eterno, traria sobre si a destruição e o exílio. Oséias usa a imagem de um marido traído, enfatizando que o Eterno não tolera idolatria e infidelidade, mas que Ele está sempre pronto para receber o arrependimento sincero de Seu povo, conforme lemos em Oséias 14.

Yeshua, em seus ensinos, muitas vezes alertou sobre as consequências da infidelidade e da desobediência. Um exemplo é seu ensino em Matityahu/Mt 23, ele repreendeu os líderes de Yisrael por sua hipocrisia. Ele também profetizou a destruição de Yerushalayim como consequência da rejeição aos profetas enviados pelo Eterno e da falta de denúncia como lemos em Matityahu/Mt 24. O exílio e a dispersão, portanto, não eram finais, mas uma correção divina com o objetivo de restaurar Yisrael e resgatar entre os gentios os que haveriam de se converterem.

Os emissários de Yeshua, como Shaul, também falaram dessa dinâmica em suas cartas. Shaul explicou que a dureza das dispersões que veio sobre Yisrael devido à sua infidelidade abriria caminho para a salvação das pessoas das nações, como lemos em Rm 11:25. Ele destacou que, no final, todo Yisrael seria salvo, confirmando a palavra de Oséias, pois o Eterno nunca rejeitaria Seu povo completamente, mas usaria o castigo como um meio de trazê-los de volta ao arrependimento.


A Garantia da Redenção Final (Devarim 32:36-43)

No final da canção Haazínu, Moshê oferece uma mensagem de esperança. Apesar do castigo que viria por causa da infidelidade, o Eterno promete não abandonar Seu povo. Ele garantirá que terá compaixão de Yisrael e vingará o sangue de Seus servos, restaurando a nação e trazendo justiça sobre as nações que a oprimiram. Essa promessa de redenção final é um tema constante nas profecias de Yisrael, desde Yaakov até os profetas posteriores e o próprio Yeshua.

Yaakov, ao abençoar seus filhos, falou da vinda de um líder de Yehudah que traria paz e justiça, como lemos em Bereshit/Gn 49:10. Este é um dos primeiros vislumbres do Mashiach, o redentor prometido. Os profetas, como Yeshayahu, também falaram dessa figura messiânica que restauraria Yisrael e traria paz ao mundo, veja Yeshayahu 11:1-10. Eles garantiram que, após o exílio e a proteção, o Eterno reuniria Seu povo e estabeleceria Seu reino de justiça. O Mashiach é o cumprimento dessa profecia, que precisa ser entendida em momentos diferentes da história.

Yeshua, sendo reconhecido por muitos como o Mashiach, ensinou sobre essa redenção final. Ele falou da restauração de todas as coisas e da vinda do Reino dos Céus ou Reino de D’us, quando o Eterno traria paz e justiça para as pessoas de todas as nações, que receberem seus estatutos, veja Matityahu 25:31-34. Ele também prometeu que Yisrael seria reunido e que os humildes herdariam a terra, conforme Matityahu 5:5. A redenção de Yisrael estava intrinsecamente ligada ao plano do Eterno de restaurar a criação de forma completa.

Os emissários, como Yochanan, em sua visão no livro de Revelação, descreveram o dia em que o Mashiach retornaria para derrotar as nações que se rebelaram contra o Eterno e seu povo e estabeleceria o Reino do Eterno. Eles viram a revelação do cumprimento final da promessa de Moshê em Haazínu, onde a redenção de Yisrael seria completada e a justiça do Eterno se manifestaria para todas as nações. E isso já está acontecendo em nossos dias e se completará plenamente com o Retorno do Mashiach.

Concluindo nosso estudo, da parashá Haazínu, vimos que ela é mais do que uma canção de advertência, é uma profecia e um testemunho profundo que percorre toda a história de Yisrael, desde os momentos de infidelidade até a esperança certa da redenção final. Vimos que da mesma forma que Moshê, que foi escolhido para guiar o povo e profetizar sobre sua trajetória, antes dele Yaakov também, em seus últimos dias, revelou o futuro de seus filhos, antecipando desafios, mas sempre com uma promessa de redenção ou restauração. Os profetas que vieram depois, como Yeshayahu e Yirmiyahu, não cessaram de clamar por queixas de Yisrael, ressaltando a misericórdia do Eterno e Seu desejo de restaurar o povo à sua glória original.

Com o passar das gerações, Yeshua e seus emissários reforçaram essa mensagem ao proclamar que o plano divino não terminaria apenas com o povo de Yisrael, mas se estenderia para todas as nações. Eles ensinaram que o Mashiach retornaria nos últimos dias para completar a obra de redenção, trazendo justiça, paz e reconciliação para todos que seguem os caminhos do Eterno. A canção de Haazínu, portanto, não é apenas um retrato do passado, mas uma poderosa visão do futuro. Ela nos lembra que, apesar das dificuldades e tropeços ao longo do caminho, a fidelidade do Eterno permanece inabalável, e Suas promessas de restauração são certezas nas quais podemos confiar. Haazínu nos chama a dedicar nossos corações para o Eterno, a consideração de nossas falhas, mas também a nos firmarmos na esperança de que a redenção virá, e com ela, a verdadeira paz e justiça que transformarão o mundo. Somos falhos, mas o devemos buscar sermos fiéis ao Eterno a fim de nos mantermos da aliança e participarmos da redenção prometida.


Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Estudo da Parashá Masei-Devarim - Refúgio e redenção: Lições das cidades de refúgio.

 


Estudos da Torá

Parashá nº 43 Masei (Estágios)

B’midbar/Números Nm 33:1-36:13,

Haftará (Separação) Jr 2:4-28; 3:4; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Tg 4:1-12.

Parashá nº 44 Devarim (Palavras)

D’varim/Deuteronômio Dt 1:3-3:22,

Haftará (Separação) Is 1:1-27; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 15:1-11.


Tema: Refúgio e redenção: Lições das cidades de refúgio.


No estudo da parashá dessa semana vamos aprender algumas lições com o mandamento das cidades de refúgio. Essas cidades têm implicações proféticas interessantes e muito importante para os que estão vivendo sob a autoridade da Torah de HaShem. Veremos a relação que as cidades de refúgio tem com Yeshua e seu sacerdócio como messias. Também veremos a aplicação prática do princípio das cidades de refúgio na atualidade.

RESUMO DA PARASHÁ DA SEMANA


A parashá Mase’i inicia-se com um resumo de toda a rota viajada pelo povo de Israel durante os quarenta anos no deserto, desde a saída do Egito até a chegada às margens do Jordão. O Eterno ordena que retirem todos os cananitas da terra e dá os limites das fronteiras exatas da terra de Israel. Já que os levitas não receberiam uma porção como os demais, cidades especiais foram separadas para eles. Alguns destes locais serviriam também como cidades de refúgio para alguém que, sem intenção, tenha matado uma pessoa, e então fugiria para uma destas cidades para buscar abrigo e evitar a vingança de um parente próximo da vítima, lá permanecendo até a morte do atual Cohen Gadol. Determina várias instruções e parâmetros para as diversas situações em que seriam sujeitas acontecer assassinatos e encerra assim, com mais informações sobre as filhas de Tslofchad e as leis sobre herança.

Na parashá Devarim, onde Moshêh faz os relatos sobre a história do povo de Yisrael, enquanto peregrinavam no deserto. Este é o quinto e último livro da Torá, e ele é conhecido na literatura rabínica como Mishnê Torá, ou seja, repetição da Torá. O conteúdo desse livro foi falado por Moshêh aos filhos de Yisrael durante as cinco semanas finais de sua vida, enquanto o povo se preparava para entrar em erets Yisrael (terra de Israel). E apesar disso, o livro inicia seu relato dizendo que, “Essas são as palavras faladas pelo Eterno a todo o Yisrael…”. Por si só, isso já demonstra que as palavras ditas naquela ocasião vinha do Eterno. Nesse livro Moshêh explica e comenta muitas das mitsvot outorgadas previamente, e que já vimos em estudos passados e outras que aparecem pela primeira vez. Ele também os adverte continuamente a permanecer diligentes e fiéis às leis e ensinamentos de D’us.

Este relato faz uma retrospectiva dos fatos que ocorreram desde o momento em que Yisrael vê a derrota e morte dos egípcios no Mar de Juncos (Mar Vermelho), até o fim dos 40 anos que viveram no deserto.

A Parashá Devarim começa com a velada censura de Moshêh, na qual faz referência aos numerosos pecados e rebeliões dos quarenta anos anteriores. Prossegue então relatando vários dos incidentes mais significativos que ocorreram com o povo israelita no deserto, lançando uma luz sobre as narrativas prévias da Torá.

Moshêh fala da malograda missão dos espiões: dez dos doze homens enviados para vigiar a terra tinham voltado com um relatório negativo, e devido à falta de fé do povo, D’us condenou toda a nação a vagar por quarenta anos no deserto, tempo durante o qual a geração do êxodo morreu. Moshêh então avança para discutir a conquista dos Filhos de Yisrael da margem leste do Rio Jordão. A Porção da Torá conclui com palavras de encorajamento para o sucessor de Moshêh, Yehoshua. Muito há que ser lembrado, aprendido e observado por cada um de nós ao estudar essa porção, e a repreensão que o Eterno faz ao povo por meio de seu escolhido naquele momento. Assim como fez em todo o decorrer da história, e continua a fazer hoje, através dos ensinos do messias Yeshua.


ESTUDO DO CONTEXTO LITERAL, PROFÉTICO E PRÁTICO


As cidades de refúgio, mencionadas na Toráh, desempenhavam um papel crucial na proteção daqueles que haviam causado a morte de alguém sem intenção. Vamos explorar os principais aspectos relacionados a essas cidades e sua relevância espiritual. Antes porém, leiamos o texto relacionado em Nm 35:9-34.


Cidades de Refúgio na Toráh: Função e Propósito

As cidades de refúgio eram seis localidades designadas nas terras de Yisrael, sendo três na parte sul e três na parte norte, todas pertencentes aos levitas e sacerdotes, para onde uma pessoa que tivesse matado alguém, acidentalmente, poderia fugir e encontrar abrigo. Elas serviam para garantir que o culpado não fosse vítima de vingança até o julgamento, conforme estabelecido na lei da Toráh.

Note que a Torah fala de 6 cidades de refúgio. O número 6 equivale a letra vav - ו que é o número referente ao homem e nos pictogramas é prego ou gancho, apontando para ações do homem, além de esconderijo do Altíssimo, veremos isso mais à frente. As cidades de refúgio apontam para o homem.

De acordo com o comentário na Bíblia de Estudo Arqueológica, em Bereshit/Gn 9:5-6 há o estabelecimento por parte do Eterno da lei da equidade, ou seja, tirar uma vida por homicídio exigia que a vida do homicida também fosse tirada, veja o texto:


5 A todo que derramar sangue, tanto homem como animal, pedirei contas; a cada um pedirei contas da vida do seu próximo. 6 "Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado.


O TaNaK, conhecido como Antigo Testamento, reconhece, nesse sentido, tanto a função dos tribunais quanto os direitos da família da vítima. Era permitido ao parente mais próximo executar a pena de morte. Surgindo aqui, na maioria das traduções, a palavra “vingador”, sendo uma tradução questionável. Uma tradução mais apropriada seria “resgatador”, “remidor”, apontando para o parente próximo.

Muitas pessoas ao ler este texto na Bíblia entende que o parente próximo poderia se vingar, mas a pergunta é: se foi uma morte acidental como poderia haver vingança? A resposta é que o caso é de juízo ou justiça. O parente próximo tinha o direito de busca justiça, ou seja, levar o assassino ao juízo pré estabelecido pelo Eterno, que era a morte. Observe abaixo, pois chegaremos no contexto correto.

No texto em hebraico vemos a palavra migoel - מִגֹּאֵלque é formado por uma preposição “mi” e o termogoel”, que vem do radical “ga’al”, trazendo esses significados mencionados entre outros. Segundo o comentário já mencionado, não apenas nos casos capitais, mas também nas vicissitudes da vida, o go’el estava sempre a postos para interferir a favor de qualquer parente próximo em necessidade. Como vimos no texto acima, desde os dias de Noach, a punição bíblica para o assassinato era a morte.

A pessoa que buscava refúgio deveria permanecer na cidade de refúgio até a morte do Cohen Gadol (sumo sacerdote). Esse arranjo destacava a importância da misericórdia e justiça, permitindo um julgamento justo e considerando as intenções. E as cidades de refúgio eram estrategicamente localizadas para serem acessíveis, com caminhos claros para facilitar a fuga. Elas também eram lugares de asilo, promovendo a reconciliação e o perdão.

Observemos duas palavras importantes nesse contexto. A palavra Miklat - מִקְלָטque significa “abrigo”, “refúgio”. Essa palavra tem o valor 179 com derivação 17 e raíz 8. Essa raíz 8 aponta para o nome do Eterno, para a Toráh e para o nome de Yeshua, todos tem raiz 8. A raiz 8 no alfabeto hebraico corresponde à letra Chet – חַ, que nos pictogramas é parede de tenda, cerca, separação, ou seja, aponta para abrigo ou refúgio. E perceba ainda, que tem mais uma palavra que tem raiz 8 e que propositalmente, está ligada a Miklat, é o termo דרךDerech – que significa caminho, estando também relacionado com o refúgio. Lembre de Salmo 91 que diz:


Aquele que habita no esconderijo (abrigo, refúgio) do Altíssimo estará sempre sob sua proteção. Sobre o Eterno declarei: Ele é o meu refúgio e minha fortaleza, meu D’us, em quem deposito toda a minha confiança…”


A segunda palavra desse contexto é גֹּאֵלgo’el – significando “resgatador”, “remidor”, com o valor 34 e raíz 7. A letra que possui valor 7 é o zayin – ז, cujo pictograma corresponde a arar, cortar, armar. O 7 aponta para os ciclos de tempo que as Escrituras mostram. Sete dias na semana, o shabat ou descanso que é o último dia da semana e corta ou encerra dando fim para iniciar uma nova. Sete semanas de pessach para shavuot, no sétimo ano a terra descansa, sete x sete anos para o jubileu, sete milênios desde a criação até a volta do messias. Também aponta para a Menorah, o candelabro de sete braços, que em si é um apontamento profético para os tempos relacionados ao messias.

Vimos até agora que essas palavras estão ligadas ao assunto tratado, mantendo uma estreita ligação com refúgio e redenção. Porém, isso só é percebido quando se estuda no contexto original, caso contrário a pessoa percebe apenas o literal enxergando a vingança. Mas vimos aqui, que o caso não é vingança, mas busca por justiça.


Implicações proféticas

Profeticamente, as cidades de refúgio podem ser vistas como o símbolo do abrigo e da proteção divina para aqueles que buscam arrependimento e redenção. Elas simbolizam um lugar onde justiça é equilibrada com a misericórdia. Como disse acima, elas são a representação dos seguidores de Yeshua, que vivem uma vida de justiça seguindo os passos do messias, e por isso, servem de cidades de refúgio para os remanescentes que estão buscando refúgio.

O conceito das cidades de refúgio se relaciona com a expectativa messiânica de um Salvador que oferece proteção e refúgio. Essa ideia ecoa na promessa de um Redentor que acolhe sinceramente aqueles que se voltam para Ele.


O caminho do Eterno é o refúgio dos íntegros, mas é a ruína dos que praticam o mal. Pv 10:29


O prudente percebe o perigo e busca refúgio; o inexperiente segue adiante e sofre as consequências. Pv 22:3


Que resposta se dará aos emissários daquela nação? Esta: O Eterno estabeleceu Sião, e nela encontrarão refúgio os aflitos do seu povo. Is 14:32


As cidades de refúgio, conforme dissemos antes, serviam como asilos para homicidas que mataram sem intenção (crime culposo). Elas protegiam esses indivíduos do “vingador de sangue”, parente próximo da vítima, e já explicamos o que isso significa. Era o remidor que buscaria a justiça e não a vingança, conforme muitos pensam. O vingador também é o apontamento para a morte, que é o resultado da separação da Torah, o assassinato, mesmo que seja sem querer, por acidente.

O sumo sacerdote desempenhava um papel crucial: sua morte permitia que o homicida deixasse a cidade de refúgio e habitasse em outra cidade com segurança. Era o sacerdote que faria o julgamento do homicida, liberando ele da sentença de morte que lhe era devida. Repare, que profeticamente, o sacerdote é Yeshua, que ao morrer ou dar sua vida justa, liberta pessoas da morte, ou seja, da separação da Toráh. E as cidades de refúgio são os seguidores do messias, pois é onde ele habita, e é onde os fugitivos correm para encontrar abrigo.


Relação com Yeshua e seu sacerdócio

Na tradição cristã, JC é visto como o refúgio espiritual definitivo. Nessa linha de raciocínio, ele oferece proteção e salvação para todos que buscam refúgio nele. Assim como as cidades de refúgio protegiam o culpado, ele oferece abrigo contra a condenação.

Entretanto, essa linha de ensino está totalmente contrária ao que as Escrituras Sagradas revelam sobre a relação que há entre Yeshua e as cidades de refúgio. O messias Yeshua não é a cidade de refúgio, ele é na verdade o sacerdote, que morre para que o indivíduo tenha a liberdade conquistada, as cidades de refúgio são os seguidores de Yeshua, seus talmidim e remanescentes que vivem segundo seus ensinos. Como o Kohen Gadol, Yeshua atua como intercessor entre a humanidade e HaShem. Sua morte consequente de sua vida justa e ensinos, bem como o fato de o Eterno o ter ressuscitado dentre os mortos, garantem à aqueles que buscam refúgio por meio de seus ensinos de Torah levados por seus seguidores, sejam acolhidos e protegidos eternamente, iniciando sua nova vida debaixo da tutela do Sumo Sacerdote.

Essa tutela não é eterna, ela serve até que o ensino, ou seja, o julgamento do sacerdote ocorra, após isso o fugitivo aguarda aprendendo até que ele morra para enfim estar livre e deixar a cidade de refúgio e seguir em direção a uma vida nova. Repare o texto:


Yeshua enviou estes doze com as seguintes instruções: Não se dirijam aos gentios, nem entrem em cidade alguma dos samaritanos. Antes, dirijam-se às ovelhas perdidas de Yisrael. Mt 10:5-6


Portanto, santos irmãos, participantes do chamado celestial, fixem os seus pensamentos em Yeshua, apóstolo e sumo sacerdote que confessamos. Hb 3:1


Em conversa com o Rav Yochanan essa semana, sobre essa parte da parashá, refletimos sobre alguns pontos importantes que desejo reforçar antes de terminar nosso estudo.

- Aquele que mata sem intenção é a pessoa que ensina outros a se afastar da Torah, pois a morte aponta para o afastamento da Torah. Esse que foge também somos nós, pois estávamos distantes da Torah.

- As cidades de refúgio são o esconderijo do Altíssimo, e esse esconderijo é o povo de Yisrael e os que obedecem à Torah de Yeshua. Nós somos a cidade de refúgio, tanto que não passaremos pelo julgamento mas seremos juízes, devido à obediência que aprendemos com o messias.

- O vingador aponta para a morte, para o fato de não pertencer ao povo, também aponta para o juízo, ausência de aliança. É a justiça do Eterno que corta a pessoa do reino. Ele também é a yetser hará. E ainda, de maneira contrária, é o remidor, que busca remissão pelos que se perdem.

Em conclusão, as cidades de refúgio são um modelo importante de justiça e misericórdia na Toráh, e sua relevância espiritual se estende à proteção oferecida por Yeshua e seus seguidores, o povo de Yisrael. Ao aplicar essas lições da Toráh em nossa vida cotidiana, podemos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e acolhedora no reino do Eterno, que será dirigida pelo Messias Yeshua, à partir do sétimo milênio, quando ele retornar. Que possamos aprender, viver e praticar a Torah dia após dia, de forma a sermos as cidades de refúgio para que os perdidos nos sistemas religiosos e os sem o Eterno possam encontrar refúgio e redenção, através do sacerdócio de Yeshua o messias.

Que HaShem lhes abençoe!


Pr/Rav. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yosef)