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quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Estudo da Parashá Va'etchanan (E eu Supliquei)

 


Estudos da Torá


Parashá nº 45 – Vaetchanan (E eu supliquei)

Devarim/DeuteronômioDt 3:23-7:11,

Haftará (Separação) Is 40:1-26; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 6:1-71.


1 - INTRODUÇÃO

Resumo desta porção da Torá, a parashá “Vaetchanan”, que continua o relato de Moshê no discurso a respeito de tudo o que o povo de Israel viveu até aquele momento, e acerca das palavras que o Eterno havia dito como mandamentos. Entre outras coisas, Moshê fala ao povo que suplicou a D’us para permitir sua entrada na terra de Israel (erets Israel), mas o Eterno recusou seu pedido.

Moshê então, continua a exortar e advertir o povo a obedecer à Torá e seus mandamentos, não aumentando nem subtraindo de suas mitsvot. Diz-lhes para lembrarem-se sempre da incrível Revelação que viveram no Monte Sinai, passando aquela memória de geração em geração.

Moshê adverte o povo de Israel sobre o prolongado exílio que viverão se abandonarem a Torá, e como D'us ao final os levará de volta à terra de Israel. Após designar as três cidades de refúgio na margem oriental do Rio Jordão, ele repete as Dez Palavras, conhecidas como os Dez Mandamentos, e ainda descreve a revelação do Criador no Monte Sinai, enquanto ao mesmo tempo continua a admoestar o povo a manter sua observância da Torá.

Moshê ensina-lhes então, o primeiro parágrafo do Shemá, a passagem fundamental que recitamos pelo menos duas vezes ao dia, expressando nossa crença de que D'us é um, e declarando nosso compromisso de amá-Lo e servi-Lo.

Mais uma vez, Moshê exorta o povo a confiar em D'us, permanecer fiel à Torá, e ficar sempre consciente das ciladas da prosperidade e do sucesso. Após ordenar ao povo de Israel que ensine seus filhos sobre o milagroso Êxodo do Egito, a porção conclui com alguns mandamentos adicionais e avisos a respeito da conquista próxima da terra de Israel.

Ensinamentos há para cada um de nós nesta porção, que possamos aproveitar a oportunidade, e avançar no conhecimento de D’us e de suas palavras, pois podemos perceber que no decorrer dos capítulos desta parashá Moshê continua a exortar e a advertir o povo de Israel a obedecer à Torá e aos mandamentos de D’us.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

Começando este estudo, devemos entender o significado do nome da porção. Ela é chamada de “Vaetchanan”, que significa “e eu supliquei, roguei, implorei”. Isso, novamente dizendo, porque é uma das palavras que estão logo no início da porção, e na verdade, esta é a primeira palavra da parashá, veja:


וָאֶתְּחַנַּן אֶל יַהְּוֶה בָעֵת הַהִוא לֵאמר

Vaetchanan el Adonai baet hahiv lemor

E eu supliquei a Adonai naquele tempo dizendo:


Devemos entender que Moshê queria muito entrar na terra de Canaã. Ele sabia que seria muito bom viver no lugar que o Eterno prometera a seus antepassados, esse era o motivo que o levou a suplicar a D’us. Era a esperança de uma vida inteira que o levava a rogar ou implorar para que o Eterno revogasse seu decreto conta ele. Moshê tentou muitas vezes, conforme falaremos mais abaixo, influenciar o Eterno a mudar a decisão de impedi-lo de entrar na terra. Entretanto, apesar de todos os seus esforços, seu pedido foi negado, e ele foi forçado a aceitar a decisão do Eterno para ver a Terra Prometida apenas de longe.


Suplicar ou Determinar

Com vistas na reação de Moshê e para a realidade dele podemos tentar trazer essa perspectiva para o nosso tempo. Atualmente as pessoas estão mais focadas em ter, do que em ser. Moshê demonstra ter contato com o Eterno de forma íntima, reconhecendo sua grandeza e poderio, e ainda assim, age de forma humilde, como um bom servo pode fazer.

Entretanto, não é assim que se tem agido na atualidade, pois as pessoas estão mais preocupadas em ter o que D’us pode dar, do que em ser o que ele deseja de nós. Elas não tem intimidade com o Senhor, mas anseiam pelo que ele pode dar. E com isso, os teólogos acabaram por colocar D’us em uma caixa, onde ele só faz o que dizem que ele pode fazer. Por esse motivo, acham-se em condições de mandar no que o Eterno deve fazer por elas mesmas. Determinando que o Eterno faça isso ou aquilo, e na hora em que eles querem, e tudo isso em nome de “Jes--”. Como se o Pai fosse subordinado ao filho, ou se o nome do Messias fosse uma palavra mágica para se conseguir de D’us tudo o que se quer.

Como servos de HaShem, pertencemos a um reino, que tem um Rei instituído, que é o Eterno o regente de todo o universo, cuja representação será feita pelo Messias Yeshua, e esse reino tem suas leis, que foram estabelecidas pelo seu Criador, o Eterno de Israel. Não temos e não podemos como meros seres humanos e servos, pretender mandar no que Ele como D’us possa fazer. Nosso papel é bater, buscar, clamar a D’us a todo o momento, a fim de que Ele faça a vontade dele em nossas vidas, e se nossos sonhos estão alinhados com a vontade dele poderão ser realizados, ou não, afinal, Ele é o Senhor do Universo. Encontramos textos bíblicos de pessoas que suplicaram ao Eterno no lugar de determinar. Veja 2Sm 12:15-23:


Depois que Natã foi para casa, o Eterno fez adoecer o filho que a mulher de Urias dera a Davi. E Davi implorou a D’us em favor da criança. Ele jejuou e, entrando em casa, passou a noite deitado no chão. Os oficiais do palácio tentaram fazê-lo levantar-se do chão, mas ele não quis, e recusou comer. Sete dias depois a criança morreu. Os conselheiros de Davi estavam com medo de dizer-lhe que a criança estava morta, e comentavam: "Enquanto a criança ainda estava viva, falamos com ele, e ele não quis escutar-nos. Como vamos dizer-lhe que a criança morreu? Ele poderá cometer alguma loucura!" Davi, percebendo que seus conselheiros cochichavam entre si, compreendeu que a criança estava morta e perguntou: "A criança morreu?""Sim, morreu", responderam eles. Então Davi levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se e trocou de roupa. Depois entrou no santuário do Senhor e adorou. E voltando ao palácio, pediu que lhe preparassem uma refeição e comeu. Seus conselheiros lhe perguntaram: "Por que ages assim? Enquanto a criança estava viva, jejuaste e choraste; mas, agora que a criança está morta, te levantas e comes! " Ele respondeu: "Enquanto a criança ainda estava viva, jejuei e chorei. Eu pensava: ‘Quem sabe? Talvez o Eterno tenha misericórdia de mim e deixe a criança viver’. Mas agora que ela morreu, por que deveria jejuar? Poderia eu trazê-la de volta à vida? Eu irei até ela, mas ela não voltará para mim".”


Outro exemplo de súplica ao Eterno é do próprio Rav. Sh’aul (Apóstolo Paulo) em 2 Co 12:8-9.


Três vezes roguei ao Eterno que o tirasse de mim. Mas ele me disse: "Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder do Messias repouse em mim.”


Sendo assim, devemos compreender que somos servos e precisamos ter intimidade e temor ao nosso D’us, além de saber que Ele é quem decide a partir de sua própria vontade e não da nossa, apenas suplicamos e rogamos.


Entendimentos judaicos


No estudo da parashá Vaetchanan do site “Emunah a fé dos Santos” encontramos o seguinte:


Também supliquei ao Eterno, no mesmo tempo, dizendo:” Dt 3:23


Segundo o Midrash, Moisés terá suplicado ao Eterno 515 vezes para que o deixasse entrar na terra, isto porque a palavra traduzida como “supliquei” - Vaetchanan , segundo a guematria, tem o valor numérico de 515.

Para algumas pessoas, a oração de Moshê não foi ouvida antes da sua morte, contudo, durante o ministério de Yeshua, é contado um episódio de que Moisés esteve com ele num dos montes de Israel (possivelmente o Monte Tabor), juntamente com Elias, conforme Mateus 17. No entanto, quando analisamos a Palavra, concluímos que essa não terá sido uma experiência física, visto que o corpo de Moisés não tinha ainda ressuscitado, pois todos os que morreram desde Adão, aguardam ainda pela sua ressurreição.

Terá sido então, uma aparição numa dimensão celestial profética, uma visão, ou seja, onde o tempo é relativo e profético no sentido de que pode englobar o passado, presente e o futuro. Por isso teremos que nos perguntar se verdadeiramente era Moisés que estava ali presente, ou se a aparição naquela visão carregava o sentido profético de apontar para coisas futuras, semelhante à revelação que o apóstolo João experienciou na ilha de Patmos.”

Sobre este mesmo Midrash o site “Chabad” esclarece o seguinte:

“Moshê continuou: "Insisti: ‘Por favor, D’us, podes anular Teu decreto Quando um rei muda de idéia, deve pedir aos ministros que concordem. Mas Tu não precisas da permissão de ninguém para mudares de idéia. Por Tua grande misericórdia, perdoa-me por favor!’

"D’us respondeu: ‘Meu decreto não pode ser anulado porque Eu jurei!"

"Rezei: D’us, podes cancelar um juramento! Não prometeste destruir Benê Yisrael após o pecado do bezerro de ouro? Anulaste tua promessa então! Por que deveria eu sofrer o mesmo destino dos espiões que falaram mal de Êrets Yisrael? Tenho louvado a Terra Santa por toda minha vida!’

"’Moshê,’ respondeu D’us – todos os homens de sua geração morreram no deserto. Você será enterrado com eles; seu mérito os protegerá. Eles precisam de você! Após a vinda de Mashiach, eles serão revividos, e você os levará a Êrets Yisrael!’

(D’us também fez com que outros grandes tsadikim fossem sepultados fora de Êrets Yisrael para que seus méritos protegessem os judeus enterrados na Diáspora. Como por exemplo, o túmulo de Mordechai encontra-se na Pérsia).

Moshê disse a Benê Yisrael, segue o midrash:

"Mesmo assim, não desisti. Implorei a D’us de 515 maneiras diferentes para que me deixasse entrar em Êrets Yisrael". (Isto está aludido na palavra vaet’chanan, o nome desta Parashá, cujo valor numérico equivale a 515).

"Rezei: ‘Por favor, D’us, deixe-me então ver a cidade de Jerusalém e o Bêt Hamicdash!’

"’Rav, basta!’ exclamou D’us: ‘Não reze mais! As pessoas dirão que sou inflexível por recusar suas orações e que você é obstinado por continuar a argumentar’. (A palavra rav significa chega, basta; mas também pode ser traduzida como "muito").

‘Rav lach’, muito mais do que isto está reservado para você. A recompensa que preparei para você no Mundo Vindouro é bem maior que entrar em Êrets Yisrael. Diga a Yehoshua que ele marchará à frente de Benê Yisrael e os liderará durante a guerra.’

"Mesmo assim, minhas orações conseguiram algo. D’us me disse: ‘Acederei ao seu desejo de ver a Terra Santa. Deixarei escalar a colina, e mostrarei a você todo Êrets Yisrael, até os locais mais distantes!’”

O que podemos entender do Midrash é que quando nos arrependemos de nossos pecados somos perdoados pelo Eterno, no entanto, as consequências permanecem. Mas, isso não quer dizer que o Eterno não vá preparar algo importante para sua vida. Devido aos erros de Moshê, ele foi impedido de entrar na terra de Canaã, podendo apenas olhá-la, mas segundo a tradição judaica o Eterno teria ainda uma missão para ele. E nós podemos aprender com essa tradição, pois o Eterno tem uma missão para cada um de nós agora nessa vida, assim como Moshê teve, mas não sabemos qual a missão que teremos no mundo vindouro, podemos vislumbrar de longe pelo que os apóstolos nos dizem:


Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Se vocês hão de julgar o mundo, acaso não são capazes de julgar as causas de menor importância? Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas desta vida!” 1Co 6:2,3


Àquele que vencer e fizer a minha vontade até o fim darei autoridade sobre as nações. "Ele as governará com cetro de ferro e as despedaçará a um vaso de barro" Ap 2:26,27


Devemos nos lembrar a outorga da Torá


"Nunca se esqueçam o dia em que ficaram em pé ao redor Monte Sinai e ouviram a voz de D’us!"

De acordo com o site Chabad, Moshê falava à uma nova geração, não estava se dirigindo aos homens e mulheres que haviam ouvido os Dez Mandamentos de D’us, mas a seus filhos. Mesmo assim, disse: "Vocês ficaram no Monte Sinai," e "Vocês ouviram a voz de D’us." Uma razão para isso foi porque alguns deles haviam vivenciado a Outorga da Torá quando crianças. E aqueles que ainda não eram nascidos na época da Outorga da Torá sentiram-se como se estivessem estado lá pessoalmente, pois tinham escutado este relato de seus pais. Podemos inferir que seus pais lhes contaram o que viram e ouviram no Sinai, durante só anos no deserto, afinal não foi nada comum o que eles vivenciaram ali.

Moshê advertiu: "Devem contar a seus filhos tudo sobre a Outorga da Torá, e estes devem repeti-lo a seus filhos. Desta maneira, todas as gerações acreditarão para sempre que D’us nos deu a Torá, como se estivessem estado pessoalmente no Monte Sinai." (Os versículos acima, que relatam a advertência de Moshê, fazem parte do final das orações diárias, no trecho chamado "Shesh Zechirot", Seis Lembranças.)

Assim, a respeito de ensinar as crianças sobre a outorga da Torá, o Midrash nos conta que Rabi Chiyá bar Aba encontrou Rabi Yehoshua ben Levi na rua. Ficou chocado ao ver que, ao invés de vestir seu belo turbante de costume, Rabi Yehoshua havia jogado um pedaço de tecido sobre a cabeça de maneira desarranjada. Corria rua abaixo, carregando uma criança pequena em direção à escola.

"Por que está com tanta pressa?" perguntou Rabi Chiyá.

Rabi Yehoshua respondeu: "A Torá nos diz: ‘Ensine estas leis a seus filhos,’ e logo em seguida, ‘o dia em que ficaram perante D’us no Monte Sinai.’ O versículo ensina que aquele que ensina Torá aos filhos é tão grande como se tivesse no Monte Sinai pronto para receber a Torá. Por isto estou correndo para levar meu filho à escola."

Quando Rabi bar Huna, um dos eruditos, ouviu estas palavras, nunca mais fez seu desjejum antes de levar seu filhinho ao Bêt Hamidrash (casa de estudos). E Rabi Chiyá (aquele que havia encontrado Rabi Yehoshua na rua) decidiu que a primeira coisa que faria pela manhã seria ensinar seus filhos e revisar com eles o que haviam aprendido no dia anterior. Apenas então faria sua refeição matinal.

Os sábios do povo de Israel ensinam que, este é também um mérito especial para um avô, ensinar a Torá a seus netos. Diz-se de um avô que assim faz, que é considerado como se ele próprio tivesse estado fisicamente no Monte Sinai para receber a Torá.

E vemos assim, mais uma vez, através de ensinos antigos, que é muito importante ensinar a Torá às crianças, e não foi à toa que Moshê fala várias vezes nesse livro, por determinação do Eterno a respeito de ensinar aos filhos.

Concluindo o estudo dessa semana, aprendemos com essa parashá a importância de preparar as próximas gerações. Cada um de nós temos a mesma responsabilidade que Moshê teve, de preparar a geração que entraria na terra de Canaã, e nós de preparar os que nos sucederão na pregação e ensino da verdade, do caminho do Eterno, até aqueles que serão a geração que verão a volta do messias.

Que possamos manter viva a chama da vida de justiça e da esperança de adentrar a terra, para onde um dia o povo adentrou e para onde nós adentraremos ao sermos ressuscitados e chamados para viver com o Messias.

Que o Eterno lhes abençoe!!!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/parash_45_-_vaetchann_supliquei.pdf

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/921367/jewish/Mosh-Implora-para-Entrar-Na-Terra-de-Israel.htm

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822834/jewish/Resumo-da-Parash.htm

domingo, 7 de agosto de 2022

Estudo de Mateus 5 - Parte 4

 


Estudo de Mateus 5 – Parte 4


Mt 5:27-32


O propósito desse estudo é continuar a trazer mais entendimento a respeito do que o messias Yeshua ensinou e mostrar que todos os seus ensinos tinham como base as Escrituras Sagradas, ou seja, em sua época o TaNaK (Torá, Neviím-profetas e os Ketuvim-escritos). Mostrar que nada era meramente inventado para um suposto Novo Testamento que anularia os mandamentos do Eterno trazendo novos. Esses pensamentos advém de ensinos errados criados para dar base a dogmas inventados que nada tem com as Escrituras. Por isso mostraremos aqui os princípios claros e escriturísticos das palavras do mestre da Galil (Galiléia), Yeshua Natseret, HaMashiach.


Se você ainda não viu os estudos anteriores recomendo buscar e acessá-los para maior absorção do conteúdo, principalmente em relação ao capítulo 5, que estamos estudando, as partes 1, 2 e 3 trouxeram muitos entendimentos importantes.


Recapitulando

Vimos nos estudos anteriores que ao lermos ou ouvirmos sobre o Sermão do Monte lembramos das “bem-aventuranças”, e que é apenas o começo do ensino de Yeshua naquela ocasião, o ensino abrange do capítulo 5 ao 7. Vimos também como os servos do Eterno, que desejam fazer parte do Reino devem viver, e como é ser desse reino e quais as suas obrigações e responsabilidades com as pessoas deste mundo. Estudamos também que Yeshua mencionou o mandamento de “não assassinar” e ampliou o entendimento a respeito desse mandamento tornando-o mais claro. Agora veremos mais uma parte do ensino de Yeshua, em mais alguns versos desse sermão de Yeshua, junto com o que ele pretendia ensinar aos talmidim e aos ouvintes, e também a nós que o seguimos.


Façamos a leitura do Evangelho de Mateus 5:27-32 e depois, como sempre fazemos comentaremos os versos específicos com seus entendimentos corretos.


Ainda estamos na terceira seção, e estamos observando que Yeshua deu aos talmidim uma profunda perspectiva sobre a Torá de HaShem. Esta seção é muito mal compreendida no sistema religioso, pois muitos acham que Yeshua aqui está trazendo ensinamento contrário à Torá devido às supostas “antíteses (oposições)” mencionadas pelo messias ao apresentar casos que aparentemente são contraditórios, mas veremos que ele estava na verdade ensinando a mais pura Torá do Eterno.


Nos versos que estudamos na semana passada, vimos Yeshua falando: “Vocês ouviram que foi dito a nossos pais: Não assassine...Mas eu lhes digo…” Para as pessoas dentro do sistema religioso o que Yeshua está fazendo aqui é contradizer a Torá, eles pensam que o mestre está dando um mandamento melhor, uma vez que para eles os mandamentos são antiquados e muito legalistas. No entanto, essa forma que Yeshua usa fazendo contrapontos comparativos é uma técnica rabínica de ensino que era muito utilizada pelos rabinos e pelos fariseus em sua época. O propósito dessa forma de ensino, ao contrário do que se pensa, é mostrar com clareza o mandamento, mostrar de forma prática e limpa. A comparação serve para ampliar o entendimento e não anular o que foi falado.


Vejamos os versos 27 e 28:


Vocês ouviram o que foi dito aos nossos pais: Não adultere. Mas eu lhes digo: o homem que até mesmo olhar para uma mulher desejando-a ardentemente já cometeu adultério com ela no coração.”


O exemplo que Yeshua apresentou nesse ensino envolve os mandamentos referentes ao adultério e à cobiça. E aparentemente Yeshua contrapõe o mandamento do adultério com a cobiça, como se essa não estivesse na Torá. De modo geral, muitos que estão no sistema religioso cristão entendem que Yeshua criou um novo mandamento, uma vez que a Lei proibia o adultério e o Mashiach trouxe uma novidade ao proibir a simples cobiça com os olhos. Porém, esse raciocínio está completamente errado. A Torá do Eterno condena o adultério e do mesmo modo a mera cobiça. O primeiro cita o sétimo mandamento, “Não adulterarás”, registrado em Shemot/Êxodo 20:14. O segundo trata da cobiça, “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o ser servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo”, registrado em Shemot/Êxodo 20:17.


O que ocorria então, para que Yeshua falasse dessa forma?

Na Torá, o adultério ocorria quando uma pessoa casada se envolvia sexualmente com outra pessoa além do cônjuge. E muitos se prendiam somente ao ato físico em si. Vejamos outro texto:


Se um homem cometer adultério com a mulher de outro homem, com a mulher do seu próximo, tanto o adúltero quanto a adultera terão que ser executados.” Vayicrá/Levitico 20:10


A lei era muito clara quanto ao fato de que ambas as partes, culpadas de adultério, deveriam ser condenadas á morte. Tal como fez com o sexto mandamento, Yeshua apresentou as implicações mais profundas deste mandamento em particular.


Yeshua estava corrigindo a falsa instrução haláchica de que somente o adultério é pecado, e que a cobiça com os olhos não consistia em transgressão aos mandamentos de HaShem. Esse ensino correto de Yeshua demonstra que ambas as condutas (o dultério e a cobiça) são desaprovadas pela Torá do Eterno.


O adultério começa frequentemente muito tempo antes de os atos serem cometidos. Do mesmo modo que o assassinato começa com a intenção de infligir dano permanente a um indivíduo, conforme vimos na semana passada, também o adultério tem início no momento em que um indivíduo lascivamente deseja outra pessoa, casada ou não com quem não está casado.


De acordo com os essênios, cujas ideias possuem profunda relação os ensinos de Yeshua, desejar ou cobiçar com os olhos já é um sinal de transgressão.


Os ensinos rabínicos, que derivam dos fariseus, da mesma forma equipara a cobiça ao adultério, podemos confirmar isso pelo Talmud Bavli:


Aquele que olha com cobiça para o pequeno dedo de uma mulher casada é como se já tivesse cometido adultério com ela.” Kalá, capítulo 1


O Midrash diz o seguinte:


Não é somente o que peca com seu corpo que é chamado de adúltero, mas aquele que peca com seu olho também é assim chamado” Midrash Rabá de Vayicrá/Levítico XXIII, 12.


Assim, o ensino que Yeshua estava passando sobre o adultério através da cobiça ou do olhar malicioso é harmônico com a Torá e também com os ensinos dos rabinos anteriores a ele.


Se seu olho direito fizer você pecar, arranque-o e jogue-o fora! É melhor você perder uma parte do corpo que ser lançado inteiro no Gei-Hinnom. E se sua mão direita fizer você pecar, corte-a e jogue-a fora! É melhor você perder uma parte do corpo que ser lançado inteiro no Gei-Hinnom.” Mt 5:29-30


Yeshua poderia ter sido mais claro na sua descrição sobre os perigos do pecado?

O mestre aqui estava falando o que se deveria fazer com os desejos carnais. Não era uma orientação para arrancar seus membros. Ele faz uma metáfora entre os membros do corpo com os desejos carnais, ou seja a Yetser Hará. Note que o Rav Shaul (apóstolo Paulo) faz algo idêntico, veja Romanos 7:24:


Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?”


Repare que Yeshua está trazendo um conceito bem claro de como agir. Assim, ele aponta uma maneira real e instantânea para aqueles pecados que foram mencionados. A solução é arrancar de si cada ponto da Yetser Hará que os faz pecar, como uma cirurgia. Utilizando metáforas muito fortes, Yeshua aconselha quem tem algum problema com desejos carnais que faça o que for necessário, se quiser entrar no Reino. Na prática, isto pode significar literalmente fugir da aparência do mal, seja tomando um caminho diferente para o trabalho, por fim a uma amizade muito querida, não se permitir estar em uma situação complicada, e outras coisas, isso ajudará a garantir a entrada na eternidade.


Como vimos antes, Moisés ou seja a Torá permitiu o divórcio, ainda que soubesse que o mesmo não fazia parte do plano original do Eterno. Depois de se dirigir aqueles homens casados com olhos vadios e de admoestá-los no sentido de controlarem os seus impulsos, Yeshua encoraja uma fidelidade matrimonial para a vida inteira.


Foi dito: Quem se divorciar da mulher deve dar a ela um get. Mas eu lhes digo: Quem se divorciar da mulher, exceto por causa de fornicação, transforma-a em adúltera; e quem se casar com a divorciada comete adultério.” Mt 5:31 e 32


Aqui nesse verso é importante destacar uma coisa, a palavra traduzida para divórcio na verdade significa repúdio, separação ou mandar embora. Houve um certo erro de tradução aqui, por causa do entendimento errado do contexto e por causa da sustentação da inviolabilidade do casamento. Não defendo o divórcio de forma alguma, mas preciso ser fiel ao contexto do ensino da Torá e de Yeshua.


Então, observando pelo contexto correto vejamos como este verso 31 seria: “Foi dito: quem repudiar sua mulher deve dar a ela um get (carta de divórcio). Mas eu lhes digo: quem repudiar sua mulher, exceto por causa de fornicação, transforma-a em adúltera, e quem se casar com a mulher repudiada comete adultério.


Aparentemente há uma contradição entre a Torá e o ensino de Yeshua. Os que defendem que Yeshua revogou a Torá dizem que a Lei permitia o divórcio, mas o mestre proibiu, com exceção do caso de adultério. E há outro texto nesse evangelho que fala sobre o mesmo assunto, em Mt 19:3-9, que é interpretado do mesmo jeito. Porém não é bem assim, o contexto da Torá, a qual Yeshua estava mostrando. Assim, vejamos qual o ensino do mestre.


Os fariseus e os homens na época de Yeshua sustentavam a ideia de que o divórcio é permitido pela Torá, o que é verdade, de acordo com o texto de Dt 24:1:


Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora.”

O grande problema que estava havendo na época de Yeshua era que, os homens estavam repudiando suas esposas por qualquer motivo. Repúdio é mandar embora, mas para fazer isso era necessário dar o get (carta de divórcio), para que a mulher não ficasse comprometida com aquele homem. O get era o documento que anulava a ketubá, ou seja o contrato de casamento. E os homens estavam mandando as mulheres de volta a casa de seus pais sem lhes dar o get. Isso levava-as a se tornarem adúlteras, caso se relacionassem com outro homem. Ao dar o get o homem a libertava e precisava pagar certa quantia para o pai da mulher, mas eles preferiam não pagar, por isso apenas mandavam embora.


Uma vez que este era o pensamento da época, defender o repúdio pela Torá, Yeshua usa também a Torá para demonstrar que o Eterno não aprova o repúdio, exceto por causa de fornicação. Mas o fato de isso não ser aprovável pelo Eterno, não significa que ele proíbe o divórcio, uma vez que está na Torá. Retornaremos a este assunto quando vermos o capítulo 19 de Mateus.


Estude as Escrituras corretamente, afaste-se dos dogmas e entenderá corretamente os princípios bíblicos.


Que o Eterno lhes abençoe! Até o próximo.


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Estudo da Parashá Devarim (Palavras)

 


Estudos da Torá


Parashá nº 44 – Devarim (Palavras)

Devarim/Deuteronômio Dt 1:1-3:22,

Haftará (Separação) Is 1:1-27; e

B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 4:1-5:47.


1 - INTRODUÇÃO

A parashá desta semana aborda o início do livro de Devarim, onde Moshê faz os relatos sobre a história do povo de Israel, enquanto peregrinavam no deserto. Este é o quinto e último livro da Torá, e ele é conhecido na literatura rabínica como Mishnê Torá, ou seja, repetição da Torá. Falaremos sobre isso mais a frente. O conteúdo desse livro foi falado por Moshê aos filhos de Israel durante as cinco semanas finais de sua vida, enquanto o povo se preparava para entrar em erets Israel (terra de Israel). Nele, Moshê explica e comenta muitas das mitsvot outorgadas previamente, e que já vimos em estudos passados e outras que aparecem pela primeira vez. Ele também os adverte continuamente a permanecer diligentes e fiéis às leis e ensinamentos de D’us.

Este relato faz uma retrospectiva dos fatos que ocorreram desde o momento em que Israel vê a derrota e morte dos egípcios no Mar de Juncos (Mar Vermelho), até o fim dos 40 anos que viveram no deserto.

A Parashat Devarim começa com a velada censura de Moshê, na qual faz referência aos numerosos pecados e rebeliões dos quarenta anos anteriores. Prossegue então relatando vários dos incidentes mais significativos que ocorreram com o povo judeu no deserto, lançando uma luz sobre as narrativas prévias da Torá.

Moshê fala da malograda missão dos espiões: dez dos doze homens enviados para vigiar a terra tinham voltado com um relatório negativo, e devido à falta de fé do povo, D’us condenou toda a nação a vagar por quarenta anos no deserto, tempo durante o qual a geração do êxodo morreu. Moshê então avança para discutir a conquista dos Filhos de Israel da margem leste do Rio Jordão. A Porção da Torá conclui com palavras de encorajamento para o sucessor de Moshê, Yehoshua. Muito há que ser lembrado, aprendido e observado por cada um de nós ao estudar essa porção.


2 - ESTUDO DAS PALAVRAS

Estas são as palavras que falou Moshê a todo o Israel, de além do Jordão-Éver Haiarden, (a respeito) do deserto, da planície, de defronte do Mar Vermelho, entre Parán e entre Tófel, Laban, Chatserót e Di Zahab.” Dt 1:1


Sublinhei de propósito os termos “Estas são as palavras…”, pois há algo sobre o nome do livro aqui. Veja que este é o quinto e último livro da Torá, também conhecida como Pentateuco, mas que em hebraico é “Devarim” significando “palavras”, pois o livro começa da seguinte forma:

אלה הדברים – “Eleh Hadevarim” – “Estas são as palavras”.

Na Septuaginta este livro foi chamado de “Deuteronômio”, este termo vem do grego “deuteron+nómos” que significa “Segunda Lei” ou “repetição da Lei”. Conforme lemos na introdução deste livro na Torá da Editora Sêfer, do ponto de vista legal, moral e religioso, o livro de Devarim é considerado por muitos estudiosos das Escrituras como o livro mais importante de toda a Torá ou Pentateuco. Por seu profundo sentido humano, pode comparar-se coma melhor produção profética.

Maimônides, um grande rabino, também conhecia este livro como משני תורה(Mishnê Torah) – Repetição da Torá), por servir de influência para a criação das leis judaicas conhecidas como “halachá” הלכה(o andar, o caminhar).

Conforme mencionei antes, o livro que começamos a estudar, em hebraico é chamado: דברים-Devarim – Palavras. E assim como em todos os livros anteriores, a primeira porção recebe o nome do livro. Conforme dissemos no início dos estudos da Torá desse ano, isso ocorre por se utilizar uma das primeiras palavras que aparecem no texto em hebraico.

As palavras de Moshê


Vamos observar o texto original que inicia essa porção, para que possamos entender algumas coisas a respeito dessa parashá e deste livro em si.

אלה הדברים אשר דבר משה אל-כל ישראל

Elêh hadevarim asher diber Moshê El kol Israel

Estas são as palavras que falou Moshê a todo Israel.

De acordo com essa tradução, podemos seguir para o entendimento dos fatos que o texto nos descreve.

Em primeiro lugar devemos compreender que, assim como os outros livros, Moshê também escreveu esse, como está escrito em Dt 31:24:


Tendo Moshê acabado de escrever, integralmente, as palavras desta Torá num livro.”


Percebemos com isso que Devarim/Deuteronômio é uma reafirmação daquela Torá que já havia sido dada no Monte Sinai e nas planícies de Moabe. Este é diferente dos outros quatro livros da Torá, porque não reorganiza as palavras ditadas diretamente pelo Eterno, mas sim as que foram transmitidas por meio de Moshê, o maior profeta depois de Yeshua, conforme Hebreus 3:3-6.


Yeshua, porém, merece mais honra que Moshê, da mesma forma que o construtor de uma casa tem mais honra do que a própria casa. Pois toda casa é construída por alguém, mas D’us construiu todas as coisas. Moshê foi fiel na casa de D’us, como o servo dá testemunho das coisas que D’us mais tarde tornaria públicas. Entretanto, o Messias, como Filho, foi fiel sobre a casa de D’us. E nós somos essa casa pertencente a ele, contanto que sustentemos com firmeza a coragem e a confiança inspiradas na esperança que temos.”


Sendo assim, este livro constitui uma repetição e explicação, através do profeta, da Torá que já tinha sido dada e entregue uma vez desde o céu. Por isso o livro começa dizendo: “São estas as palavras que Moshê falou a todo o Israel...”.

Isto não significa que não fossem as palavras do Eterno, mas sim que em vez de ter ditado as palavras diretamente, agora são filtradas pelo instrumento humano que havia chegado ao maior nível de profecia que existe. São as palavras do Eterno através de Moshê, como podemos ler no verso 3:


Falou Moshê aos filhos de Israel, segundo tudo o que o SENHOR lhe mandara a respeito deles”


Contudo, não são palavras ditadas diretamente pelo Eterno, pois a base para as palavras do quinto livro de Moshê já está estabelecida nos primeiros livros.

É importante lembrar que o fundamento de uma casa é aquele que sustenta toda a casa. Então, olhando por esse prisma os quatro primeiros livros da Torá foram completamente ditados letra por letra a Moisés e escritos com exatidão para serem o fundamento para este quinto e último livro. E sendo assim, os cinco livros, denominados de Torá do Eterno (que muitas vezes são chamados de Torá de Moisés como um substantivo, uma vez que ele foi o canal para que o povo pudesse recebê-la) são por sua vez, o fundamento para o restante das Escrituras. Os livros proféticos que logo foram acrescentados, começando com o livro de Josué, não mudam nada do fundamento, nem acrescentam nada ao fundamento, como está escrito em Dt 4:2:


Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos de HaShem, vosso D’us, que eu vos mando”


Veja também Dt 12:32:


Apliquem-se a fazer tudo o que eu lhes ordeno; não lhe acrescentem nem lhe tirem coisa alguma.”


Por esse motivo podemos entender que os livros dos profetas anteriores (Josué até 2 Reis) e dos profetas posteriores (Isaías até Malaquias), os escritos anteriores (Salmos até 2 Crônicas) e os Escritos posteriores (Mateus até Revelação), não podem acrescentar nada às palavras da Torá que HaShem deu a Moshê, nem tirar nada dela.

O fundamento da revelação Escrita foi dado um vez, e os demais livros não podem tirar nada ou acrescentar a esse fundamento. Todos os demais livros inspirados divinamente, vão explicando e trazendo luz sobre o que já estava escrito no fundamento, que é a Torá, conforme Ef 2:20:


edificados sobre o fundamento dos profetas e apóstolos, tendo Yeshua HaMashiach como pedras angular.”


Com isso, deve-se ter cuidado com conceitos novos que supostamente são tirados de alguma parte das Escrituras, que não são respaldados pela Torá, pois toda revelação que veio depois de Moshê, deve estar em conformidade com a Torá, de acordo com o que lemos em Jo 5:46:


Porque, se, de fato, crêsseis em Moshê, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito.”


Veja Romanos 3:21:


Mas agora, além da Torá (escrita), se manifestou a justiça de D’us (a Torá Viva – o Messias) testemunhada pela lei e pelos profetas;” Grifo meu.

Também Atos 26:22:


Mas, alcançando socorro de Deus, permaneço até ao dia de hoje, dando testemunho, tanto a pequenos como aos grandes, nada dizendo, senão o que os profetas e Moisés disseram haver de acontecer”.


No estudo desta parashá do site “emunah a fé dos santos”, o autor diz que em uma carta que líderes messiânicos-israelitas na Guatemala enviaram às suas comunidades, consta o seguinte:


Consideramos que os livros que constam no Tanach (AT), assim como a Brit Hadashá (NT), foram escritos sob autoridade divina. Estes livros foram entregues a Israel para todo o mundo. Reconhecemos que a Torá de Moisés é o fundamento da fé e a máxima autoridade das Escrituras. O resto das Escrituras – os Profetas e os Escritos, incluindo a Brit Hadashá – não contradizem, acrescentam, ou retiram à Torá de Moisés, mas sim desenvolvem-na, explicando e revelando os mistérios que foram dados uma vez, para sempre”

O livro de Devarim/Deuteronômio, de acordo com alguns rabinos divide-se em três partes que correspondem aos três livros Êxodo, Levítico e Números, e é por esse motivo que é chamado de Mishné Torá (repetição da Torá). As três partes são as seguintes:

- 1:1 - 5:5 Moral e Advertências;

- 5:6 - 27:8 Leis diversas; e

- 27:9 – 34:12 Bênção e maldição.


Para outros estudiosos o livro se divide em quatro partes, de acordo com a Torá da Sêfer, a primeira e a última partes formam o marco de Devarim, restando a segunda e a terceira partes como seu núcleo fundamental. Seu conteúdo é quase que exclusivamente legislativo e é apresentado em forma de discursos.

Segundo o estudo dessa parashá no site Emunah a fé dos santos, ao comparar o livro de Devarim com os antigos documentos de pacto, que foram encontrados pelos arqueólogos, dos heteus e outros povos orientais do período de 1500 a 1300 a. E.C., que, entre outras coisas, regulavam a relação entre os reis e os seus súditos, constata-se uma estrutura muito similar, com introdução, reconto histórico, condições do pacto, o próprio documento do pacto, bênçãos, maldições, conclusão e duração do documento.

Com isso podemos perceber que dentro de um contexto de literatura, o livro de Devarim, segue o mesmo padrão de escrita da época.


Estas são as palavras que falou Moshê a todo o Israel, de além do Jordão-Éver Haiarden, (a respeito) do deserto, da planície, de defronte do Mar Vermelho, entre Parán e entre Tófel, Laban, Chatserót e Di Zahab.” Dt 1:1


Falando agora sobre o verso 1, vemos que os lugares ali mencionados são os mesmos lugares onde os filhos de Israel se rebelaram contra o Eterno durante a viagem.

Outro detalhe importante, nesta porção é que neste período os israelitas já estavam subjugando seus inimigos de uma forma muito fácil. E assim, aprendemos que enquanto estamos sendo provados pelo Eterno em nossos desertos, com certeza veremos os milagres de D’us, mas também teremos vitórias sobre os nossos inimigos e sobre todos aqueles que se levantam contra nós. Porém, isso só ocorrerá se houver obediência de nossa parte, mesmo em meio aos desertos e provações de nossas vidas.

Sucedeu que, no ano quadragésimo, no primeiro dia do undécimo mês, falou Moisés aos filhos de Israel, segundo tudo o que HaShem lhe mandara a respeito deles,” Dt 1:3


Moshê falou os seus três discursos, que constituem todo este livro, durante 36 dias, segundo a maioria dos rabinos e estudiosos, para logo morrer e ser sepultado no sétimo dia do décimo segundo mês. Este texto nos ensina que Moshê falou estas palavras, assim como todas as outras, fundamentando-se na revelação que o Eterno lhe dera para transmitir aos filhos de Israel. Segundo o mencionado estudo, Moshê é um bom exemplo para todos os pregadores da Palavra do Eterno.

Além do Jordão, na terra de Moabe, encarregou-se Moisés de explicar esta lei, dizendo;” Dt 1:5


A palavra hebraica que foi traduzida como “explicar” é “baar” que significa “explicar”, “esclarecer”, “comentar”, “expôr”.

Assim, podemos concluir que a Torá já tinha sido dada e que o que agora vem é uma explicação sobre esta. Como esta era uma nova geração, e os antigos já haviam perecido no deserto, agora era necessário explicar para eles o que o Eterno havia dito e relembrado o que aconteceu. Portanto, numa forma estrita, podemos dizer que a Torá são os quatro primeiros livros de Moisés, e o que vem depois são explicações, aplicações e comentários do que já fora dado desde o céu. Como já vimos antes, a base de toda a revelação divina escrita, está nos primeiros quatro livros de Moisés, que são o fundamento, juntamente com o toque final do fundamento, que é o livro de Devarim/Deuteronômio, que contém vários mandamentos.

Com isso podemos e devemos compreender o que Yeshua queria dizer, quando aparentemente falou sobre ter dado um “novo” mandamento, conforme João 13:34:


Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros”


O fato é que Yeshua não acrescenta qualquer mandamento, porque já havia sido dito anteriormente “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Um dos mandamentos, um dos pilares dos mandamentos, é renovado para que seja como novo. O que é introduzido pelo Messias é a verdadeira aplicação do mandamento, tomando a vida justa dele, como ele mesmo disse: “como eu amei”. Ele dá nova vida a um mandamento antigo, e dá a aplicação perfeita a esse mandamento de uma nova forma. O mesmo princípio encontra-se em 1 João 2:7-8 onde está escrito:


Amados, não vos escrevo mandamento novo, senão mandamento antigo, o qual, desde o princípio, tivestes. Esse mandamento antigo é a palavra que ouvistes. Todavia, vos escrevo novo mandamento, aquilo que é verdadeiro nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha”.


Não se trata de uma nova Torá ou de um novo mandamento, mas sim, daquilo que os filhos de Israel ouviram desde o Sinai, e que tinham vindo a ouvir desde o princípio, desde o Gênesis.

Por isso, devemos ter em mente que acima de qualquer coisa devemos analisar, estudar e praticar a Torá. Assim como Moshê ensinou, os profetas falaram e anunciaram, Yeshua viveu e ensinou e os apóstolos. Cada um de nós deve olhar para o livro de Devarim com o entendimento de que o servo do Eterno Moshê havia dedicado toda a sua vida ao serviço de HaShem e ao povo escolhido, e agora às vésperas de sua morte resolve relembrar ao povo todas as palavras de D’us, ensinando-os e aconselhando-os. Que belo exemplo de servo! Vimos isso também nos profetas, em Yeshua principalmente, e nos apóstolos. E deve haver o mesmo sentimento e desejo em nós.

Que o Eterno lhes abençoe!


Pr. Marcelo Santos da Silva (Marcelo Peregrino Silva – Moshê Ben Yossef)


Bibliografia:


- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer

- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.

- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/

- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/

- http://shemaysrael.com/parasha-devarim/

-http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/44_-_devarim.pdf

- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822833/jewish/Resumo-da-Parash.htm

- http://talmidd.blogspot.com/2011/08/parasha-devarim-deut-11-322.html