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sábado, 28 de setembro de 2019

Estudo da Parashá Ntsavím (De pé)


Estudos da Torá

Parashá nº 51 - Nitsavím (De pé)
Devarim/Deuteronômio Dt 29:9-30:20
Haftará (Separação) Is 61:10-63:9; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 16:1-17:22.


1 - INTRODUÇÃO
Estão faltando agora três parashiot (porções) para terminar o ciclo de estudo da Torá desse ano. E nessa porção Moshê continua suas orientações ao povo, e lembra ao povo a Aliança que Adonai fez com eles. Muito aprendemos ao estudar essa porção.

2 - ESTUDO DAS PALAVRAS
Para iniciar o estudo dessa porção quero trazer um comentário das seleções do Midrash do site Chabad.org, que relembra acerca da parashá passada, que Moshê advertiu os israelitas sobre os diferentes castigos que receberiam se pecassem. O texto afirma que a nação tremeu de medo, e se perguntaram como sobreviveriam a tantos sofrimentos, pensaram que pereceriam como nação. No entanto, Moshê viu seus semblantes transtornados de pânico e os consolou com as palavras dessa porção dizendo: “Não temam! A nação sobreviverá neste mundo e no olam habá (mundo vindouro). As demais nações sofrerão menos neste mundo, mas serão destruídas por causa de sua perversidade.”

Com isso, o Midrash ensina que, segundo o site, “às vezes, o dia começa escuro e nublado. Então, o sol surge dentre as nuvens, aquecendo e iluminando. Similarmente, por vezes, sua vida pode parecer difícil. Porém, sempre pode almejar à duradoura felicidade do olam habá (mundo vindouro).”
Vejamos então o que o texto nos diz:

Vós todos estais hoje perante YHWH, vosso Deus; os cabeças de vossas tribos, vossos anciãos, os vossos oficiais, todo o homem de Israel.” (Dt 29:9)

Esta é uma renovação do pacto ou aliança, antes do povo entrar na terra prometida, e de acordo com o que Moshê fala, todos estão incluídos, assim como aquelas pessoas pertencentes a outras nações, que tinham saído do Egito e que não tinham nascido dentro povo de Israel, conforme lemos em Êxodo 12:38a.

“E subiu também com eles uma mistura de gente,”

Vemos então, que todos estão de pé dianto do Eterno, ou seja, que mesmo em meio a tantas lutas eles estavam vencendo. Mas não era apenas o povo de Israel, outros também estavam vencendo, por estarem juntos com Israel, por crerem no Deus de Israel e principalmente, por participarem da aliança de Deus com Israel. Acerca dessas pessoas, veja o que diz no verso 10:

as vossas crianças, as vossas mulheres e o peregrino que está no meio de teus acampamentos, desde o rachador de tua lenha até o tirador da tua água,”

Neste verso temos “até o tirador de tua água”, veja o que o comentário da Torá diz sobre isso:
Nesta parashá, deparamos com um magno e imponente quadro: todo o povo reunido, dede os altos dignitários, anciãos e policiais, até os rachadores de lenha e tiradores de água. Até mesmo as mulheres e as crianças, todo o povo de Israel, pois, perante Deus, todos são iguais. A união de um povo sem distribuição de classe mostra a solidariedade dos indivíduos que o compõem, e esta é uma das condições de sua existência, pois o povo não é uma aglomeração de células, mas um organismo com vida própria, que possui como ser uma alma própria e é com este espírito que Moisés reuniu a todos, sem nenhuma exceção. Cada pessoa tem um objetivo em sua própria existência e forma uma parte da comunidade. Foi esta solidariedade que converteu o povo israelita em povo imortal. “Vós todos estais hoje presentes!” (atém nitsavim haiom culchem). Quantos povos não estão mais, enquanto vós o estareis para sempre, desde que sejais solidários uns com os outros e reconhecerdes a aliança que o Eterno, vosso Deus, faz convosco. Este é o espírito do qualificativo “povo eleito”. A aspiração do povo judeu e da sua Torá é “instaurar no mundo o reino do Eterno”. Sua idéia central é conseguir a fraternidade e a igualdade entre os povos do mundo; mas isto não foi conseguido ainda e, por isso, pedimos três vezes por dia: “Por tudo isto esperamos de Ti, ó Eterno, nosso Deus, poder ver logo a glória do Teu poderio, varrendo as abominações da Terra, destruindo a idolatria e aperfeiçoando o mundo debaixo da soberania do Onipotente. Todas as criaturas invocarão Teu nome e todos os malvados da terra voltarão a Ti. Saibam e entendam todos os habitantes que existem no mundo, que todos os joelhos se dobrarão diante de ti e toda língua jurará a Ti obediência.” (Torá, Ed Sefer, Pag 590 e 591)

Podemos aprender com esse comentário que, para o povo de Israel seja realmente reconhecido como povo eleito deve viver segundo alguns preceitos. E estes estão baseados no princípio da solidadriedade, igualdade e amor, o que em resumo é amor ao próximo. Ou seja, no meio do povo de Israel estavam, como disse acima, pessoas de outras nações, que ao se converterem ao Eterno e aprenderem de suas leis deveriam ser tratados exatamente um igual. Esse é o princípio desse ensinamento. E foi sobre isso que Yeshua falou ao dizer em Mt 19:16-22 e também e Mc 12:28-34. Lei esses textos e compare, perceba que o Eterno estabeleceu um princípio, e este é que o amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo é melhor do que sacrifícios e ofertas, mas veja que no verso 34 de Mc 12, Yeshua deixa uma reticência para aquele homem ao dizer-lhe, “você não está longe do Reino de Deus”. Ou seja, mostrou que para realmente ser do Reino tem que pôr em prática, pois conhecer ele já conhecia.

E tem mais, essa promessa divina e exigência de ser povo eleito, de acordo com os versos 13 e 14, inclui também aqueles que nem ainda tinham nascido, que podemos comparar com o que Yeshua disse em sua oração em Jo 17:20-21.

Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.”

Com isso, verificamos e aprendemos que, como enxertados no povo de Israel através de Yeshua, o Eterno espera de nós o mesmo que esperou e espera de Israel. A solidadriedade e o amor devem ser marcas e o testemunho de vida de quem serve a Adonai.

Que possamos viver o amor que a Torá recomenda e espera de nós e que Yeshua ampliou o entendimento em seu ministério. Que sejamos instrumentos de restauração nas vidas das pessoas, e para o mundo, conforme o que disse o comentarista da Torá acima. E além de tudo, que nossa vida seja um testemunho vivo do amor do Eterno, através de Yeshua que nasceu com um propósito, restaurar o mundo caído e necessitado de Deus.

Bibliografia:

- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/51-_nitzavim_parados.pdf
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/923512/jewish/Mosh-Consola-o-Povo-de-Israel.htm

sábado, 21 de setembro de 2019

Estudo da Parashá Ki Tavô (Quando saíres)


Estudos da Torá

Parashá nº 50 – Ki Tavô (Quando entrares)
Devarim/Deuteronômio Dt 26:1-29:9
Haftará (Separação) Is 60:1-22; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 13:1-15:27.


1 - INTRODUÇÃO
No estudo da parashá dessa semana veremos mais uma parte do discurso de Moshê ensinando e fazendo o povo relembrar as leis e mandamentos do Eterno, para que vivessem segundo sua vontade. Nessa porção estudaremos sobre a mitsvá (mandamento) anual aos fazendeiros de Israel para que trouxessem seus bikurim (primícias/primeiros frutos) ao sacerdote no templo, reconhecendo o importante papel do Eterno na provisão de seu sustento, e qual a importância desses mandamentos para cada um de nós.

2 - ESTUDO DAS PALAVRAS
Quando entrares na terra que YHWH, teu Elohim, te dá por herança, ao possuí-la e nela habitares, tomarás das primícias de todos os frutos do solo que recolheres da terra que te dá YHWH, teu Elohim, e as porás num cesto, e irás ao lugar que YHWH, teu Deus, escolher para ali fazer habitar o seu nome.” Dt 26:1-2

Moshê trás à memória do povo que eles deveriam levar as primícias de sua colheita “ao lugar”(ha makon) que Adonai escolher. A lembrança desse mandamento ao povo de Israel tinha o objetivo de que eles tivessem claro em sua mente, que a terra era dada a eles em herança, por Adonai. Ou seja, assim como o Eterno criou todas as coisas, criou também Israel, e dessa forma está mostrando ao povo que tem condições de dar a Israel a terra de herança, bem como o que eles necessitam para viver. A palavra “herança” vem do termo hebraico “nahala” que significa também “legado, possessão”. Essa palavra tem em si o entendimento do que é ou pode ser passado adiante como herança. O interessante aqui é que percebemos que Israel é o único país do mundo que tem suas fronteiras demarcadas pelo próprio D’us. Por isso ele tem direito à posse da terra, de habitar e existir ali. Sendo assim, e sabendo que a Palavra de Adonai não pode ser anulada, percebemos que como isso é profético, pois aponta para o futuro, onde Israel retomará todas as suas antigas fronteiras e com isso, tenha outra vez autonomia sobre a terra que lhe fora dada por herança física pelo próprio criador.

Retornando à questão da oferta, lemos que enquanto estivessem ali, eles deveriam trazer suas “primícias” ao Eterno, “no lugar” (ha makon) que Ele escolheria para ali habitar seu nome. Isso mostra duas idéias importantes, que são as “primícias” e “o lugar”.

Em primeiro lugar falemos sobre as primícias, que nesse texto surge como “laqesh”, significando colheita tardia, isto é, colheita da primavera. Com certeza é uma referência à bikurim (primícias) que ocorre no segundo dia de pessach. Mas de onde isso viria? O termo “laqesh” tem sua raiz no termo “malkôsh” significando “últimas chuvas, chuvas de primavera”. Sabendo que o período de chuvas em Israel vai de dezembro à março, quando caem as chuvas tardias (serôdias - Jr 5:24, Os 6:3, Jl 2:23), elas se estendem até abril, que é a época da festa de pessach, matzot e bikurim, por isso caracteriza o evento. A palavra usada para designar “primícias” em hebraico é “reshit” que significa “primeiro, princípio, melhor (de um grupo)” E esta palavra vem da raiz “ro’sh” que por sua vez significa “cabeça, pico, cume, parte superior, chefe, total, soma”. Com isso, devemos entender que tais frutos deveriam ser, além dos primeiros, os melhores, provenientes da terra que o Eterno lhes dera.

E essas primícias de suas plantações deveriam ser levadas “ao lugar” que o Eterno escolheria para ali fazer “habitar” seu nome. Isso é uma referência ao templo construído por Salomão, no Monte Sião. E também aqui notamos dois fatores importantes, a palavra “habitar” vem do hebraico “shakan” que também significa “tabernacular”. Esta palavra indica uma “morada provisória”, e sabemos que mesmo o templo, cuja construção foi tão esmerada e demorada, foi considerada pelo Eterno como uma “habitação temporária”, pois seu projeto seria habitar dentro do Tabernáculo que Ele mesmo construiu, ou seja, o homem, onde habitaria para sempre o seu nome.

Com tudo isso, podemos perceber como o Eterno é didático no que faz, pois os seus servos são identificados por seu nome, pois somos chamados “messiânicos” (pertencentes ao messias), e o próprio povo de Israel traz em seu nome um dos nomes de D’us - El - que o une, identifica, ao Eterno.

Ainda sobre esta oferta, ela também é mencionada em Ex 23:19 e 34:26, com o termo “bikurey”, onde lemos:

As primícias (reshit) dos primeiros frutos (bikurim) da tua terra trarás à Casa de YHWH”.

Percebemos que o propósito de entregar os primeiros frutos, que são os mais apreciados, é demonstrar ao Eterno que Ele é o primeiro nas nossas vidas. Entenda que, quando os primeiros frutos começavam a brotar, eram marcados com um fiozinho, e assim poderiam ser observados. Quando amadureciam eram levados ao santuário entre Shavuot (semanas ou pentecostes) e Sokkot (tabernáculos).

Segundo o site “emunah a fé dos santos”, na época do Templo, famílias inteiras costumavam ir juntas a Jerusalém, encontramos isso em Lc 2:42-46, e ao se aproximarem da cidade as pessoas saíam a recebê-los com gritos de alegria e com toques de flautas. Os levitas cantavam o Salmo 30 (que é uma referência à ressurreição do Messias, a qual é simbolizada nas primicias, “bikurim”).

Talvez você possa se perguntar o que tem com tudo isso, uma vez que não é judeu. Além de pertencer a Israel, por causa do que o Messias Yeshua fez, a Torá nos orienta a agirmos como se nós fossemos quem viveu todo o episódio de libertação, assim como em Pessach.

Virás ao que, naqueles dias, for sacerdote e lhe dirás: Hoje, declaro a YHWH, teu Deus, que entrei na terra que YHWH, sob juramento, prometeu dar a nossos pais.” Dt 26:3

Este verso nos ensina a respeito da importância da identificação nacional e histórica com o povo de Israel. Todas as pessoas que faziam esta declaração no templo não tinham entrado fisicamente na terra, mas eram descendentes ou não deles, por pertencer ao povo deles, cada judeu/israelita terá que se identificar com esse fato como se ele mesmo tivesse vivido.

Então, testificarás perante YHWH teu Elohim, e dirás: Arameu prestes a perecer foi meu pai, e desceu para o Egito, e ali viveu como estrangeiro com pouca gente; e ali veio a ser nação grande, forte e numerosa. Dt 26:5

Vejamos agora, como sempre temos dito, como a Torá é profética, ao contrário do que muitos pensam.

Arã foi o quinto filho de Sem, cf. Gênesis 10:22, e não é ancestral de Abraão, mas sim o terceiro filho de Sem, Arfaxade. Como é que então aqui neste verso nos é dito que o pai dos israelitas foi um arameu? Labão foi chamado “arameu”, cf. Gênesis 25:19-20; 28:5. Ele tampouco foi descendente de Arã. Ao que parece, eram chamados arameus porque viviam em Padã-Arã. O pai de Labão, Betuel, e Isaque eram primos. A filha de Betuel foi Rebeca. Logo Isaque casou com a filha de seu primo. O irmão de Rebeca foi Labão, chamado “o arameu”. Mas não vinha desse Arã mencionado em Gênesis 10. Um dos irmãos de Betuel, Kemuel, é chamado o pai de Arã. Esse outro Arã, era portanto primo de Labão. Jacob e esse outro Arã, eram então primos em segundo grau.
É provável que os descendentes de Arã em Gênesis 10 tenham povoado a terra chamada Padã-Arã. Esse Arã que na maior parte das vezes é mencionado nas Escrituras é a terra que hoje em dia se chama Síria. Padã-Arã é mais a norte, cruzando o rio, na Mesopotânia. É provável que Labão fosse chamado arameu pelo facto de falar em arameu e habitar nessa área, ainda que não fosse descendente de Arã, filho de Sem. Segundo Gênesis 31:47, Labão falava o idioma arameu.

Como é que Yaacov (Israel) foi chamado arameu na Torá? (Abraão foi chamado “hebreu”, não “arameu”), como vamos entender essa oração?

A tradução Peshita diz “meu pai foi enviado a Arã”, referindo-se a Jacob que foi enviado à terra onde estava Labão. Outra tradução diz: “um aramita (tentou) destruir o meu pai”. Outra tradução diz: “um arameu quis fazer perecer o meu pai” (Chumash HaMerkaz). Outra tradução diz: “um arameu a ponto de perecer foi meu pai”: Ainda outra diz: “Um aramí era a perdição do meu ancestral”.

Se entendermos a palavra como se Yaacov fosse arameu por viver na terra geográfica de Padã-Arã onde passou vinte anos da sua vida; é provável que por ter ali morado tanto tempo, que tenha sido chamado arameu, tal como Labão que habitava nessa terra, sem necessariamente ser descendente de Arã, filho de Sem.

A razão pela qual Yaacov não é chamado hebreu, mas sim arameu, é para nos demonstrar que a descendência de Abraão, e Isaque é mais profética do que biológica.
Segundo Rashí, a palavra “arameu”, não se refere a Yaacov, mas sim a Labão que quis destruir Yaacov, como constatamos em algumas das traduções.

Bibliografia:

- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/50_-_ki_tav_quando_chegares.pdf
- http://shemaysrael.com/parasha-ki-tavo/
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822839/jewish/Resumo-da-Parash.htm

sábado, 14 de setembro de 2019

Estudo da Parashá Ki Tetsê (Quando saíres)


Estudos da Torá

Parashá nº 49Ki Tetsê (Quando saíres)
Devarim/Deuteronômio Dt 21:10-25:19
Haftará (Separação) Is 54:1-10; e
B’rit Hadashah (Nova Aliança) Jo 12:1-50.

1 - INTRODUÇÃO
Essa semana estudaremos a porção chamada Ki Tetsê (Quando saíres), ela é a 49ª porção semanal, e é a 6ª de Devarim/Deuteronômio. Nela contém 74 mandamentos, abordando os mais diferentes assuntos que são muito importantes ao nosso conhecimento. Há leis referentes à guerra, cativos, despojos e até mesmo aferimento de balanças. Nesta parashá também fala sobre divórcio e casamentos proibidos. Muito há que se aprender ao se estudar essa porção, porém não temos espaço aqui para analisá-la na sua totalidade, veremos apenas uma parte, e no próximo ano mais um pouco e assim por diante. Mas isso não lhe impede de ler e estudar em sua casa, e se preciso pesquisar mais sobre o assunto, o que eu incentivo.

2 - ESTUDO DAS PALAVRAS
O nome da porção vem descrito nas primeiras palavras no texto hebraico. “Ki Tetsê” significa “quando saíres”, nesse texto está trazendo da possibilidade da ida para a guerra. Guerra é uma palavra que nos assusta e como crentes, logo pensamos que não podemos participar. No entanto, esse trecho da Torá quebra alguns tabus em relação a isso. Veja o que o comentário da Torá diz sobre isso: 

A Torá nos impõe prescrições referentes à guerra. Existem doutrinas que impedem a guerra aos seus crentes, e existem os que pretendem permanecer absolutamente neutros e passivos diante de todo combate, mas não conseguem; ao contrário, caíram nas mãos dos inimigos. Por essa razão, a Torá determina o dever da autodefesa e da luta por nossos direitos. É triste ter de recorrer à guerra e ao derramamento de sangue, mas há momentos em que essa é a única alternativa e tem de ser feito. A Torá não quer, de modo algum, negar isto, mas quando a guerra é necessária, deve legislar até sobre ela. A tática do avestruz que esconde a cabeça é indigna, e se a guerra for necessária, submeter-se-á aos mandamentos (os mandamentos da Torá). No caso de guerra, onde todos os maiores sentimentos humanos são sufocados, a Lei de Moisés impõe prescrições, porque mesmo na guerra não se pode preder a consciência do bem. Em primeiro lugar, a Torá ordena oferecer a paz ao povo inimigo (Dt 20:10); mais adiante (vers. 19), proíbe destruir as árvores frutíferas ao redor da cidade sitiada, pois a guerra não deve significar de maneira nenhuma a destruição; e os primeiros versículos desta parashá tratam das leis relativas aos direitos dos vencedores israelitas sobre as mulheres cativas. O ideal máximo da Torá é a paz. Assim diziam os nossos profetas em suas prédicas: “Não levantarás povo contra povo a espada, e não ensinarão mais a guerra” (Miquéias 4:3). O judaísmo sabe como é triste ter de recorrer à guerra e derramar sangue, mas às vezes esta é a única alternativa. Mas, se a guerra é necessária, mesmo nela devem vigorar as leis humanas. (Torá, Ed. Sefer. pág 566)

Entendendo os princípios desse texto vejamos então um pouco mais de contexto histórico a respeito de guerra para que possamos entender os motivos de Moshê ter falado essas palavras ao povo.

Perceba que no período da antiguidade quando as terras não tinham donos e os Estados soberanos estavam iniciando, era comum que houvessem disputas por territórios, e nessas disputas, os dominados ou derrotados, eram aniquilados ou tornavam-se cativos para posterior servidão, podemos ver isso em vários textos das Escrituras, como no livro de Juízes. E com isso, muitas vezes quem eram poupados eram mulheres e crianças que tornadas cativas somavam junto com os despojos de guerra, que era propriedade dos vitoriosos. Encontramos ocorrências destes procedimentos ao consultarmos a literatura clássica grega, e encontramos também a semelhança da legislação contida nesta porção da Torá nas leis escritas no código de Hamurabi e no código de Mari, que são documentos que regulamentavam a vida nas terras próximas naquela época.

Contudo, há uma diferença grande, pois a Torá dava às mulheres prisioneiras o status de seres humanos e não de uma mera propriedade de guerra, e isso com um motivo claro, conforme teremos a oportunidade de verificar nesse estudo.
Voltemos ao texto bíblico dessa porção.

10 Quando saíres à peleja contra os teus inimigos, e o SENHOR, teu Deus, os entregar nas tuas mãos, e tu deles levares prisioneiros,
10 כי תצא למלחמה על איביך ונתנו יהוה אלהיך בידך ושבית שביו
11 e tu, entre os presos, vires uma mulher formosa à vista, e a cobiçares, e a quiseres tomar por mulher,
11 וראית בשביה אשת יפת תאר וחשקת בה ולקחת לך לאשה
12 então, a trarás para a tua casa, e ela rapará a cabeça, e cortará as suas unhas,
12 והבאתה אל תוך ביתך וגלחה את ראשה ועשתה את צפרניה
13 e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.
13 והסירה את שמלת שביה מעליה וישבה בביתך ובכתה את אביה ואת אמה ירח ימים ואחר כן תבוא אליה ובעלתה והיתה לך לאשה

Sabemos que a Torá proíbe o casamento de servos do Eterno com pessoas de outros povos, e já vimos também, que apesar disso, D’us permitiu em alguns casos tais casamentos, desde que a pessoa demonstrasse que queria servir ao Eterno. Vemos também na Torá instruções a respeito da auto disciplina, responsabilidade e controle, então pode parecer estranho nessa porção a Torá trazer ensinamentos sobre hum homem querer se casar com uma mulher cativa.

Um homem que passa pelos horrores de uma guerra, está emocionalmente desequilibrado, pois pode estar há muito tempo longe de casa, sendo ele casado ou não, e por isso estar no limite de suas forças em resistir à inclinação para o mal (Yetser hará), que a Torá tanto preza, e satisfazer seus instintos naturais. Sendo assim, a Torá o protege de se precipitar em uma relação apenas passageira, pois ele vendo uma mulher cativa de beleza e formosura que influenciada pelos conselhos de Bilam (Nm 25:1-4; 31:16) de seduzir os soldados por meio de belas roupas e penteados, poderia ele ser tentado a prevaricar com a tal mulher, e mesmo precipitadamente tomá-la em casamento. E no intuito de colocar alguns empecilhos a um ato desencadeado por desejos passageiros a Torá cria um roteiro para que o soldado que temente a D’us e obediente as Suas leis não fosse traído por seus impulsos e se conscientizasse de seus atos precipitados. Ou seja, o Eterno entende isso, e permite que nessa situação ele despose uma mulher não israelita, ao invés de a violar como era habitual (e na verdade ainda é, infelizmente) nas guerras.

Mas para se casar com ela, deveria seguir algumas orientações prescritas na Torá, que estão nestes versos que estamos analisando, Dt 21:11-13. A prescrição era que, se um homem desejasse casar com uma mulher que trouxe cativa de entre o povo com quem guerreou, esta deveria rapar a cabeça e deixar as unhas crescerem. Na verdade, há nessa passagem uma mensagem importante, pois o propósito dessa instrução é que o homem não se engane pelas aparências físicas ou pelo desgaste emocional provocado pela guerra. Quando ele visse a mulher em um estado lastimável, literalmente, destruída pelo sofrimento de perda de entes queridos, com cabelo rapado e unhas crescendo, ou seja, sem qualquer sinal de beleza feminina, o homem olharia para ela de forma diferente, e perceberia se de fato a ama ou se seria apenas uma ilusão. Contudo, se depois de tudo isso, continuasse a desejar se casar com ela, mesmo não tendo a aparência fisica agradável de antes, o casamento poderia se realizar.

Entendendo o propósito além da letra
Olhando para a história dos povos antigos podemos entender que cada cultura tinha seus cortes de cabelo exclusivo, estilos de vestuário e a decoração das unhas, isso identificava as pessoas a qual povo pertencia. Então, é normal se considerar que pela mudança do corte de cabelo, nas unhas e no vestuário da mulher pelo modo israelita, isto significasse um processo de mudança de sua identidade de uma estrangeira para a possibilidade de tornar-se uma israelita. Porque, ao acabar com tudo que a identificava anteriormente, com os laços de sua vida antiga, tudo é deixado para trás simbolicamente.

Mas e o porquê disso? Segundo o Midrash, as filhas dos povos da antiguidade adornavam-se nos tempos de guerra para seduzir sexualmente os inimigos, conforme já dissemos anteriormente. Sendo assim, quando lemos: “e despirá a veste do seu cativeiro, e se assentará na tua casa, e chorará a seu pai e a sua mãe um mês inteiro; e, depois, entrarás a ela, e tu serás seu marido, e ela, tua mulher.” Dt 21:13. Aqui “veste do seu cativeiro” está se referindo a roupas atrativas que vestia ao ser feita prisioneira. O propósito maior aqui de tirar-lhe as roupas é que o homem já não a encontre atraente como antes, pois era proposital. Antes de realmente se casar com a prisioneira ele deveria esperar um mês para que ela pudesse “chorar pelo seu pai e sua mãe”. Isto nos ensina que Adonai se interessa que a alma da mulher seja consolada antes do casamento. E também nos ensina, conforme já vimos, que o Eterno não quer que o homem tome uma decisão precipitada. Ela precisaria chorar tanto tempo para que o homem não a visse contente e feliz, mas sim feia e pouco atraente comparativamente com as mulheres israelitas.

Ainda outro ponto importante a respeito do luto dela pelos pais é que, pela guerra acontecia de os pais ou algum parente ter sido morto, mas não necessariamente esse luto seja por isso. Esse luto também era para que ela tivesse uma oportunidade para esquecer de sua família, assim ela teria condição de recomeçar deixando todo o passado familiar idólatra para trás, devido acultura a qual estava inserida.

Podemos perceber o princípio desse desligamento com o passado quando Yeshua, no evangelho de Marcos 10:29-30 diz:

Respondeu Yeshua: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho que não receba, já neste mundo, cem vezes mais de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo vindouro, a Vida Eterna.”

Resumindo, podemos ver que a Torá nos dá através desta lei sobre a “mulher cativa”, a essência de “um enxertado na Oliveira”, conforme menciona o Judeu Autônomo em seu Blog, que segundo Yeshua, deve deixar para trás sua cultura familiar (religião familiar, crendices e etc) em favor da cultura e mandamentos do Reino de D’us que se encontram nas Palavras de Yeshua que torna plena a Torá.

Bibliografia:

- Torá - Lei de Moisés. Editora Sefer
- Bíblia Judaica Completa, Editora Vida.
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://shemaysrael.com/shoftim/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/49_-_ki_tets_quando_sares.pdf
- http://judeu-autonomo.blogspot.com/2012/09/parashat-ki-tetse-quando-saires.html
- https://www.cafetorah.com/deuterenomio/
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/822869/jewish/Mensagem-da-Parash.htm