Estudos da Torá
Parashá nº 4 – Vaierá (E mostrou-se)
Bereshit/Gênesis Gn.18:1-22:24
Haftará (separação) 2Rs. 4:1-37 e
B’rit Hadashah (nova aliança) Lc 17:26-37, Rm 9:6-9
e Gl 4:21-31
1 - INTRODUÇÃO
Essa semana a porção da Torá
nos trás passagens muito interessantes e que nos trazem muitos aprendizados. Vemos
Avraham (Abraão) recebendo a visita de três mensageiros de Adonai, a
intercessão dele pelas pessoas em Sodoma e Gomorra, o livramento de Lot (Ló) e
a entrega de Yitz’chak (Isaque) em sacrifício por Avraham.
É recomendado ler os textos
na porção dessa semana, pois faremos nesse estudo uma rápida análise em alguns
textos de B’rit Hadasha (Nova Aliança/Novo Testamento) que estão alinhadas com
a parashá em estudo, a fim de buscarmos um entendimento ampliado dos ensinos
das Escrituras.
2 – ESTUDO
DAS PALAVRAS
Vejamos os seguintes versos:
"Assim como foi nos dias de Noé, também será nos
dias do Filho do homem. O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e
sendo dado em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o
dilúvio e os destruiu a todos. "Aconteceu a mesma coisa nos dias de
Ló. O povo estava comendo e bebendo, comprando e vendendo, plantando e
construindo. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre
do céu e os destruiu a todos. "Acontecerá exatamente assim no dia
em que o Filho do homem for revelado. Naquele dia, quem estiver no
telhado de sua casa, não desça para apanhar os seus bens dentro de casa.
Semelhantemente, quem estiver no campo, não deve voltar atrás por coisa alguma.
Lembrem-se da mulher de Ló! Quem tentar conservar a sua vida a perderá,
e quem perder a sua vida a preservará. Eu lhes digo: naquela noite duas
pessoas estarão numa cama; uma será tirada e a outra deixada. Duas
mulheres estarão moendo trigo juntas; uma será tirada e a outra deixada.
Duas pessoas estarão no campo; uma será tirada e a outra deixada". "Onde,
Senhor? ", perguntaram eles. Ele respondeu: "Onde houver um cadáver,
ali se ajuntarão os abutres". Lucas 17:26-37
Yeshua Hamashiach (Jesus
Cristo/Messias/Ungido) estava falando acerca da sua volta e do Reino de D’us,
este é o mesmo assunto tratado por Mateus no capítulo 24, podemos perceber como
algumas palavras estão sendo repetidas neste texto de Lucas e naquele de
Mateus.
Qual era então o contexto? Ou
porque Yeshua fala sobre Noach(Noé) e Lot (Ló)?
Yeshua foi interrogado pelos
fariseus sobre quando viria o Reino de D’us, conforme lemos em Lc 17:20, e
responde dizendo que “o Reino de D’us não vem de forma visível, pois estaria
dentro de cada um”. Assim ele inicia o discurso onde fala sobre a sua vinda,
pois a vida de todo servo de Adonai deve ser em prol da preparação das pessoas
para a vinda do Messias, e ele compara aqueles dias com os dias de Noach e Lot,
quando as pessoas viviam normalmente suas vidas na desobediência aos
mandamentos, sem querer saber qual a vontade de Adonai. Por isso, o Mashiach
usa os termos “comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento”, pois são
coisas costumeiras em uma sociedade. Ou seja, tudo parece muito normal, em meio
às transgressões dos homens aos mandamentos de D’us, mas repentinamente, como
Yeshua fala, virá destruição sobre esses, e libertação para os obedientes, quando
da ocasião da sua volta.
Um dos assuntos dessa porção é a
salvação de Lot da destruição das duas cidades impenitentes, é por isso que
estamos ligando o que Yeshua falou com essa parashá, pois ela fala em um
contexto de destruição de transgressores, mas também fala sobre livramento dos
obedientes, e acima de tudo, do domínio do Eterno sobre seu Reino, pois Ele vê
tudo e todos. Esse é o Reino que Yeshua falou que deve estar dentro de nós,
através da obediência e do acatamento das ordenanças do Eterno em nossas vidas
diárias, através de ações e atitudes que o reflitam.
Vamos ver outro texto que também
guarda uma ligação com essa parashá.
Não pensemos que a palavra de Deus falhou. Pois nem
todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes
de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Pelo contrário: "Por meio
de Isaque a sua descendência será considerada". Noutras palavras,
não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é
que são considerados descendência de Abraão. Pois foi assim que a
promessa foi feita: "no tempo devido virei novamente, e Sara terá um
filho". Romanos 9:6-9
Aqui Paulo está afirmando para
alguns que se diziam judeus e descendentes de Avraham, mas seguiam apenas
dogmas humanos e legalismos, no lugar da Torá verdadeira, ele estava dizendo
que nem todos os que são descendentes de Israel são verdadeiramente Israelitas.
Ele diz que não basta ser descendente, tem que obedecer, e isso através de
Yeshua.
Seguindo o mesmo viés do Messias
a respeito de como devem viver os verdadeiros servos de Adonai, o apóstolo Sha’ul
(Paulo) fala nesse texto transcrito acima sobre os filhos naturais e os filhos
da promessa. Nas porções da Torá, vemos o Eterno fazer uma promessa a Abraão a
respeito de sua descendência através de um filho, e por serem velhos, ele e
Sara decidem, de forma manipuladora e humana, fazer com que essa promessa se
cumpra, colocando a escrava Hagar para se deitar com o Patriarca. Dessa relação
nasce Ishmael (Ismael), e somente mais tarde quando Deus cumpre a promessa é
que nasce Yitz’chak (Isaque). O primeiro é o natural, ou seja, pelas mãos e
vontade humana, e o segundo o da promessa, no tempo certo de Deus.
Uma comparação semelhante também
é feita por Paulo no seguinte texto:
Digam-me vocês, os que querem estar debaixo da lei:
Acaso vocês não ouvem a lei? Pois está escrito que Abraão teve dois
filhos, um da escrava e outro da livre. O filho da escrava nasceu de
modo natural, mas o filho da livre nasceu mediante promessa. Isso é
usado aqui como uma ilustração; estas mulheres representam duas alianças. Uma
aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão: esta é Hagar.
Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de
Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. Mas a Jerusalém do
alto é livre, e essa é a nossa mãe. Pois está escrito:
"Regozije-se, ó estéril, você que nunca teve um filho; grite de alegria,
você que nunca esteve em trabalho de parto; porque mais são os filhos da mulher
abandonada do que os daquela que tem marido". Vocês, irmãos, são
filhos da promessa, como Isaque. Naquele tempo, o filho nascido de modo
natural perseguia o filho nascido segundo o Espírito. O mesmo acontece agora.
Mas o que diz a Escritura? "Mande embora a escrava e o seu filho, porque o
filho da escrava jamais será herdeiro com o filho da livre". Portanto,
irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre. Gálatas 4:21-31
Nesse caso o apóstolo está
fazendo uma alusão aos verdadeiros filhos de D’us, pela analogia dos dois
filhos de Avraham. Sabemos através das Escrituras que os filhos de Abraão na
carne, são os que detém a promessa, mas não basta ser filho na carne, é preciso
se unir a D’us através de Yeshua e obedecer aos mandamentos do Reino, como
disse acima e conforme lemos também Yeshua dizer em Jo 8:31-47 e Yohanan o
Imersor (João Batista) em Mt 3:9-12 e Lc 3:7-20.
Essa alegoria ou midrash, falando
de Sara e Hagar, usada pelo rabino Sha’ul (apóstolo Paulo), de acordo com o
site “Yeshua Chai.org”, é muito citada mas de forma errada, como a
representação da distinção entre a “Lei” e a “Graça”, e do mesmo jeito a
doutrina da “Lei versus Graça”. Infelizmente, muitos comentaristas e teólogos
cristãos através dos séculos têm usado esta alegoria como um meio de rejeitar a
importância do estudo e da prática da Torá para o cristão. Podemos perceber
isso claramente ao ler o seguinte comentário:
“Paulo estava
usando o método alegórico comum dos judeus da época para defender seu ponto de
vista. Ele usou essa figura de linguagem para fazer um forte contraste entre
dois concertos bíblicos divergentes nas igrejas na Galácia: a promessa
abraâmica (Gn 12.1-3) e a Lei de Moisés que Deus deu a Israel no monte Sinai.” (O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais, Editora
Central Gospel, 1ª Edição: janeiro/2010, página 493)
Além de defender a contrariedade
entre a Lei e a Graça em um texto que não trata desse assunto, os autores do
texto mencionado ainda afirmam que Paulo usa da alegoria comum aos judeus, como
se fosse para usar das mesmas ferramentas dos judeus para revidar um ensino.
Mas Paulo usa da alegoria simplesmente porque ele era judeu e essa era a forma
de ensinar da época, usando-se de alegorias ou midrashins.
Perceba que o apóstolo não usa
desses meios para argumentar contra a Torá e sua importância em nossas vidas,
mas para instruir contra o legalismo e contra o ensino errado dos religiosos da
galácia, de que a salvação só poderia ser recebida por meio da obediência aos
mandamentos e pela circuncisão.
Assim, conforme já mencionei
acima e de acordo com o comentário no site “Yeshua Chai.org”, a concepção de
Ishmael foi natural, ou seja, foi da carne, pois é resultado da intervenção
humana, já a concepção de Yistz’chak foi sobrenatural, pois Sara já não tinha
mais como ter filhos, e o resultado dessa intervenção foi divina. E de acordo
com a interpretação de Paulo, as duas mães representam duas promessas
distintas: Hagar a escrava, a aliança feita no Sinai, que resulta em filhos
nascidos da escravidão. E Sara representa a aliança feita anteriormente com
base na promessa do Eterno que resulta em filhos nascidos livres (Gl 4:24-27). O
termo escravidão aqui não está ligado a Lei, mas ao fato de Hagar ser escrava,
e assim a escravidão é uma alusão ao que está além da promessa, ou seja, a
intervenção humana.
A interpretação de Paulo pode se
tornar mais clara para nós quando olharmos a distinção fundamental entre a ideia
da Aliança e a Torá. Ainda de acordo com o mencionado no site, se observarmos o
contexto geral da carta aos Gálatas, podemos compreender a alegoria como um
meio de impugnar a autoridade dos “Legalistas” da época, que afirmavam serem os
intérpretes exclusivos da Torá. Eles diziam que de acordo com suas
interpretações da Lei, a salvação somente poderia ser conseguida por meio da
circuncisão, ou seja, tornando-se judeu. E isso ocorre também hoje com o
cristianismo, onde muitos dizem que somente pode-se obter a salvação se alguém
se tornar cristão. Mas o que Paulo estava realmente dizendo era que, a circuncisão
física (protótipo de transformas em judeu) não é um meio de salvação, e
qualquer tentativa de “justificação” com base no mérito pessoal é um passo
longe da justificação que vem livremente para aqueles que agarram rápido a
promessa do Eterno de herança eterna. Com isso, entendemos que se alguém quer
agir, como Sara e Abraão, tomando a frente, e colocando Hagar no meio, não
surtirá resultado, pois ele somente pode ser conseguido por meio da esperança
da promessa de Abraão e Sara pelo tempo de Deus para o cumprimento da promessa.
Ou seja, agindo pela fé na promessa feita pelo Eterno através do Messias, sem
tomar ação humana, que no caso do texto era a circuncisão. Assim como não se
pode hoje ser salvo alguém que se torna cristão, pois ela somente se consegue
pela fé na promessa de Yeshua, não pela religião ou religiosidade.
O conceito de justificação pela “Hessed”(Graça)
e pela “Emuná”(Fidelidade, fé) são fundamentalmente judaicos e perduraram por
milênios, e foi amplamente demonstrado e ensinado na Torá, nos profetas e na
tradição oral judaica, isso não é exclusividade dos textos do chamado Novo Testamento.
Todos os atos de revelação de D’us (incluindo aí, a revelação dada no Sinai, na
Cruz no monte Moriá, em Noach e sua família, em Lot e sua família, em David, em
Ruth e etc) são manifestações da “Hessed”(Graça) Divina.
Yeshua disse para a mulher
samaritana que a salvação vem dos judeus (Jo 4:22) e o Eterno prometeu que
sempre haveria um remanescente do seu povo que iria ser fiel às sua Palavras
(Isaías 1:9; 10:21, Jer 23:3; 31:7, Jl 2:32, Rm 9:27; 11:5). Entendemos que no
fim, “todo o Israel será salvo” e todas as promessas que o Eterno fez ao povo
de Israel através dos profetas serão cumpridas (Rm 11:26).
Nessa parashá (porção), que vai
de Gênesis 18:1-22:24,
encontramos muitos ensinamentos para nossas vidas como servos do Eterno, em
Yeshua. Ao meditar nesta porção aprendemos com a hospitalidade de Abraão e com
seu zeloso serviço ao Senhor, quando ele recebe os três “Malachim” (mensageiros,
anjos) do Eterno que devemos primar por servir a D’us. Somos instruídos a
aguardar a promessa divina com firmeza e viver intensamente a Aliança do Senhor
para conosco. Também aprendemos a ser benção para as pessoas e ainda sermos intercessores
pelos que estão perdidos, pois temos o Reino dentro de nós para levar até essas
pessoas e prepará-las para a volta do Messias. Através da instrução da Torá, nessa
porção, podemos olhar para os Textos do Novo Testamento com mais clareza e
entender o que Yeshua e os apóstolos disseram a respeito do Reino de D’us e dos
que são filhos desse Reino, e como eles devem agir e que a Lei de D’us é boa
para o homem, não sendo fardo algum.
Aos que se achegam a D’us através
de Yeshua, e passam a também fazer parte das promessas, conforme tudo o que
disse acima e de acordo com o que Paulo diz em Ef 2, é muito importante
observar todo o ensinamento que foi dado aqui com cuidado. Por esse motivo, nós
que antes não éramos povo, e agora passamos a ser povo, conforme Ef 2:11-13,
nos tornando verdadeiros filhos de Abraão, não somente da carne, mas pela fé,
devemos nos aprofundar na Torá, nos esforçar para obedecer aos mandamentos do
Eterno, e a viver segundo os princípios do Senhor de acordo com Ef 2:10, pois
eles são vida para nós.
Bibliografia:
-
Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
-
http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
-
http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
-
http://www.yeshuachai.org/forums/topic/a-alegoria-de-agar-e-sara/
-
http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/04_vayer_e_apareceu.pdf
-
http://shemaysrael.com/parasha-vayera/
-
https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771007/jewish/Resumo-da-Parash.htm