Estudos da Torá
Parashá nº 5 – Chaiêi Sará (A vida de Sara)
Bereshit/Gênesis Gn.23:1-25:18
Haftará (separação) 1Rs. 1:1-31 e B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 8:1-9:38
1 - INTRODUÇÃO
A parashá passada termina com Abraão indo até o monte Moriá, a fim de sacrificar Isaque, a pedido do Eterno. Sabemos como a história termina, no momento exato Adonai envia seu anjo e impede o patriarca de sacrificar seu filho. Ele tinha passado no teste. Porém, o texto escrito não conta o que aconteceu com Sara, a mãe de Isaque em todo esse teste. A parashá Vaierá se encerra e inicia-se a que estudaremos hoje, com a vida de Sara. Há algo para aprendermos aqui.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
No final da Parashá passada, a Torá registra o nascimento de Rivca (Rebeca), no verso 22 e 23 do cap. 22, antes da morte de Sara. Segundo o entendimento dos rabinos, uma pessoa justa não é tirada deste mundo até que seu sucessor ou sucessora tenha nascido, como indica o versículo de Mishlê/Provérbios 1:5: “O sol nasceu e o sol se pôs.” Antes ainda que o sol de Sara se pusesse, o sol de Rivca começou a brilhar irradiando sua luz.
Essa parashá se inicia de forma um tanto estranha, pois leva o nome de “Chaiêi Sará” (A vida de Sara), mas no verso dois trata da morte dela, então deve haver alguma informação importante pra nós aí, veja o texto do verso 1 em hebraico e sua tradução literal:
וַיִּהְיוּ חַיֵּי שָׂרָה, מֵאָה שָׁנָה וְעֶשְׂרִים שָׁנָה וְשֶׁבַע שָׁנִים–שְׁנֵי, חַיֵּי שָׂרָה
vayyihyu chayyêy sarah meah shanah veesrym shanah veshevha shâniym shenêy chayyêy sarah
Existiu na vida de Sara cem anos e vinte anos e sete anos anos da vida de Sara.
Note que há algo diferente na construção deste texto. Em hebraico o tempo da vida de Sara aparece decomposto, e por isso podemos ler o total, ou de acordo com a hermenêutica judaica tentar ir mais fundo no entendimento do texto. Sabemos que quando o texto em hebraico traz essas diferenças podemos procurar que haverá mais informações contidas nas palavras. Perceba que o tempo de vida de Sara aparece dividido em três períodos e cada um tem uma singularidade. Segundo os sábios de Israel Sara viveu os cento e vinte e sete anos que a Torá declara para nós, no entanto, esse tempo representa algo importante sobre a vida dela, que devemos ter conhecimento. Eles falam que quando ela tinha cem anos tinha a aparência de vinte anos e os pecados de sete anos, ou seja, mesmo sendo já idosa continuava sendo muito bela e virtuosa e seus pecados eram poucos. Os estudiosos da Torá também dizem que Sara, assim como Abraão, buscava a todo o tempo fazer a vontade do Eterno.
De acordo com um midrash, no site chabad.org, a narrativa começa com o falecimento de Sara e o intenso desejo, por parte de Avraham, de proporcionar-lhe um funeral adequado em local digno de sua grandeza. Para adquirir o lote apropriado, foi forçado a negociar com o ganancioso Efron dos filhos Het, e de boa vontade pagou o preço exorbitante. Efron fingindo bondade cobra um preço muito maior que o normal, porém o patriarca não faz conta disso, e de forma justa paga o que foi pedido. E com Avraham aprendemos que nossos atos de justiça, em meio a pessoas injustas e gananciosas servem de iluminação, um motivo para que reconheçam que somos servos de HaShem. Assim como a Torá nos diz no verso 5: “...sabemos que és um príncipe de Elohim…”
Outro fato importante a ser observado nesse relato da morte de sara é a idade com que ela morre e o fato de sua morte em si, pois a Torá escrita não nos relata detalhe algum. Então mais uma vez devemos recorrer ao contexto original para isso, ou o que o povo cuja história faz parte diz sobre isso? E há algumas informações interessantes para nós aí novamente.
Guardem as informações abaixo:
- Abraão tinha 100 anos quando Isaque nasceu;
- Sara tinha 90 anos quando isso aconteceu;
- A diferença de idade entre os dois era de 10 anos;
- A Torá nos diz que quando Sara morreu ela tinha 127 anos de idade;
- Então sendo 10 anos mais velho Abraão tinha 137, e Isaque tinha 37 anos;
- Quando Isaque foi com o pai para o monte Moriá, para ser sacrificado ele tinha 37 anos e sua mãe 127.
Assim, o que geralmente é demonstrado pelo cristianismo, um Isaque infantil, uma criança, é falso pois na verdade ele já era um rapaz, um jovem homem solteiro. O sistema religioso tem levado muitas mentiras, e as pessoas as aceitam sem questionar, porque não estudam as Escrituras.
Podemos então concluir que Sara teria morrido ao receber a notícia de que seu filho iria ser sacrificado, pois não teria suportado tal informação. Sendo assim, podemos perceber que o objetivo da Torá em começar a parashá falando do tempo de vida e da morte de Sara é para que nós ficássemos sabendo como ela viveu, pois cremos que para o Eterno a forma como nós vivemos é mais importante que a forma como morreremos. A forma como seremos lembrados pelo que fizemos em vida é o que importa, principalmente se o que fazemos é em prol do Reino de D’us. Precisamos, assim como Avraham e Sarah, estar constantemente ligados na Shekinah Divina (presença divina) e na sua Torá, a fim de que nada e nem ninguém possa nos afastar de Adonai.
É muito propagado nestes tempos em meio às comunidades cristãs que “um servo de D’us não passa pro dificuldades e nem por momentos tristes”, pois “um servo de D’us tem que sempre ter vitórias, se não for assim, há algo errado na vida dele”. Mas pare e reflita nisso. O que havia de errado na vida de Avraham para ele perder sua esposa? Levando em consideração que ele acabara de quase sacrificar seu filho em obediência perfeita a HaShem. O que podemos aprender com isso? Vejamos os que dizem os rabinos, de acordo com o site chabad.org:
Não há alegria perfeita neste mundo, pois o júbilo pode, de repente, transformar-se em tragédia. Hashem disse: “Nem mesmo a Avraham foi concedida alegria perfeita. Foi abençoado com um filho aos cem anos de idade; não obstante, preparou-se para oferecer Yitschac com o coração alegre. Então, depois deste dificílimo teste, voltou para casa para descobrir que sua esposa falecera. Se isto é verdade a respeito dos tsadikim (justos), com certeza os perversos não podem pensar que lhes será concedido júbilo!”.
Ou seja, a qualquer pessoa, coisas ruins acontecem, mesmo a justos, mas se aos justos ocorre, está dentro da vontade de D’us, porém os ímpios não devem achar que podem escapar do julgamento do Criador de toda a Terra.
Ainda sobre a morte de Sara, o que o midrash nos diz a respeito disso? Então vejamos:
O anjo mau, Satan, apareceu a Sara depois que Avraham partiu rumo ao Monte Moriyá com Yitschac para oferecê-lo em sacrifício. Satan tinha o aspecto de um homem comum. Suas roupas estavam empoeiradas como as de um viajante que anda pelas estradas. Contou a Sara:
“Encontrei-me com seu marido, Avraham, e você não imagina o que estava fazendo. Construiu um mizbêach (altar) e pôs seu filho Yitschac sobre ele. Yitschac chorava implorando por piedade, mas Avraham se recusou a atender às comoventes súplicas de Yitschac. Amarrou as mãos e os pés do filho e o matou.”
Sara começou a chorar. Pôs cinzas sobre a cabeça. “Meu filho Yitschac!” exclamou ela. “Quem dera tivesse morrido no seu lugar. Mas me sinto reconfortada e consolada porque sei que cumpriste a palavra de D'us. Hashem é justo em tudo que faz. Mesmo que meus olhos derramem lágrimas, meu coração está feliz por Avraham ter obedecido à ordem de Hashem.”
Sara desmaiou de emoção, mas logo depois se sentiu melhor. Disse às servas: “Viajarei a Chevron para descobrir alguma coisa mais sobre o que ocorreu com Yitschac!”
No caminho, Sara perguntava a todos que encontrava:
“Vocês viram Avraham e Yitschac?” Mas ninguém soube lhe dizer nada. Quando Sara chegou a Chevron, Satan voltou a aparecer–lhe outra vez. Disse a ela:
“Antes, eu menti. A verdade é que, embora Avraham tenha amarrado seu filho Yitschac sobre o altar, não o matou afinal.”
Sara ficou tão feliz com esta notícia maravilhosa que não pôde suportar. O coração parou de bater e ela morreu.
O midrash continua a nos falar e faz uma reflexão:
Por que a vida de Sara estava destinada a terminar de maneira tão trágica, induzida por Satan? Tanto Avraham quanto Sara viveram a vida inteira com o único objetivo de servir a Hashem. Não houve um momento sequer em que não sentissem estar na presença do Criador. Quando o Anjo da Morte aproximou-se de Sara para tomar sua alma, encontrou sua mente concentrada na Shechiná (Presença Divina) de maneira tão intensa que foi incapaz de realizar sua missão. Por isso, concebeu um plano para chocá-la a respeito de Yitschac, e desviar seus pensamentos por um momento. Só então ele conseguiu cumprir a missão.
Os Sábios citam um fato similar: O Rei David estava constantemente imerso no estudo de Torá. Ao chegar sua hora de deixar este mundo, o Anjo da Morte estava impotente, não podia remover a alma do corpo, por causa de sua constante conexão com a Torá. O Anjo então encetou um truque. Voou até o jardim do palácio e começou a chacoalhar as árvores vigorosamente. O som chamou a atenção do Rei David e, quando sua mente foi desviada da Torá por um instante, o anjo arrebatou sua alma.
Com esse midrash podemos aprender algo importante, nossa mente deve estar sempre voltada para a Torá e para o Eterno, e nossas atitudes serão conforme seu direcionamento. E principalmente, vemos que quem vive dessa forma é guardado pelo Eterno de tal forma que as coisas acontecem apenas dentro de sua vontade e propósito.
O site Shemah Ysrael.com diz o seguinte sobre esse assunto:
É neste contexto que o livro de Gênesis relata a morte desta mulher que mudou a história do povo de Israel, pois foi justamente dela – outrora uma mulher estéril – que milagrosamente o Eterno fez conceber e dar à luz ao filho da promessa: Isaque! Por isso o relato nos informa que Sarah morreu em Quiriate-Arba que é Hebrom – que em hebraico significa União. É aqui que ela se une ao seu D-us e Senhor na consumação de sua vida terrena! Nada mais há para acrescentar à sua vida. A reação de Avraham e dos seus é previsível e compreensível: “e veio Avraham lamentar Sarah e chorar por ela”. Não havia outra coisa a ser feita, pois para Avraham a sua “princesa” partira e ele fora deixado só, sem a companhia daquela que ele tanto amara e por quem tanto lutara! Só resta o pranto daqueles que a amavam e que agora externavam todo o seu amor e carinho por Sarah lamentando e chorando por aquela mulher exemplar e mãe da nação de Israel.
Depois disso, Avraham seguiu em frente, e enfrentou a responsabilidade de encontrar a esposa certa para Yitschac. Porque depois da Akedá (Amarração de Yitschac), Avraham voltou para sua tenda em Beer Sheva, mas não encontrou lá sua esposa, pois ela havia morrido, conforme vimos, e para consolar seu filho ele resolve encontrar uma esposa para ele. Mas essa esposa não poderia ser de Canaã, deveria ser de seus parentes. Isso nos ensina a respeito de nossas ligações com as coisas desse mundo, pois casamento fala de aliança, pacto, concerto. Dessa forma devemos nos questionar com quem estamos nos aliançando ou nos ligando. Precisamos estar ligados ou aliançados com o Eterno e com pessoas que tem a mesma ligação.
As consistentes conquistas de Avraham durante sua longa vida, apesar das vicissitudes do tempo e da adversidade que teve de enfrentar, fornece um modelo a cada um de nós.
Ao envelhecermos, não precisamos nos tornar menos produtivos, ou ficar mais lentos intelectual ou espiritualmente, nem temos de nos acostumar a dias inúteis e atividades improdutivas. Devemos tomar Avraham como fonte de inspiração, podemos tornar estes últimos, os dias de ouro de nossa vida. Dias em que não nos preocuparemos com as responsabilidades de trabalho, mas poderemos nos dedicar ao Eterno, ao estudo da Torá, e de ajudar a quem precisa fazendo tzedakah com maior frequencia que em nossa juventude.
Agora, depois de idoso, e também viúvo, a preocupação de Avraham será outra: ele já está em idade avançada e quer ver seu filho Isaque casar-se com uma mulher que lhe seja dada pelo D-us Eterno! O texto diz:
“E era Avraham já velho e adiantado em idade, e o Eterno havia abençoado a Avraham em tudo” (Gn 24:1).
O que a Escritura nos diz aqui?
Ela nos informa que Avraham era velho. A palavra em hebraico é “zaquen” e significa velho, ancião, idoso. Mas também somos informados de que o Eterno havia abençoado, em hebraico “barak”, que significa, “dar poder para alguém ser próspero, bem-sucedido e fecundo”. Avraham em sua idade avançada poderia olhar para seu passado e também para seu presente e dizer que Aquele que se torna aquilo que ele precisa o havia feito ser próspero, bem sucedido e fecundo em todas as áreas de sua vida. Isso demonstra-nos que por causa da profunda relação de amor e amizade entre Avraham e o Eterno, Ele o havia abençoado! Mas não nos esqueçamos de que a base para receber-se qualquer coisa de HaShem é a obediência! A promessa da benção está fundamentada na obediência à sua Torá. Foi justamente neste aspecto que Avraham foi provado e aprovado pelo Senhor e foi justamente por isso que o Senhor fez a Avraham aquilo que fez.
Segundo o site Shemah Ysrael.com, agora o patriarca queria ver com seus próprios olhos outra bênção do Eterno para sua vida sendo cumprida, mas na vida de outra pessoa: a felicidade de Isaque. Quando estamos ligados ao Eterno e a sua vontade, nosso desejo é ver as bençãos de D’us que temos em nossas vidas, se cumprindo também na vida de outros. Por isso, sempre nos dedicamos, assim como Avraham, a levar o conhecimento de D’us as pessoas.
Com isso ele chama seu servo – seu homem de confiança – e lhe dá instruções de como agir neste caso:
“E disse Avraham ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía: Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa, para que eu te faça jurar pelo Senhor D’us dos céus e D’us da terra, que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio dos quais eu habito. Mas que irás à minha terra e à minha parentela, e dali tomarás mulher para meu filho Isaque” (Gn 24:2-4).
Este homem tinha um alto grau de relacionamento com Avraham e também uma alta estima por seu senhor, por isso ele o ouve atentamente em suas recomendações. Quando Avraham lhe diz: “Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa” a palavra traduzida por “debaixo” é ahat e significa “debaixo de, abaixo”. Mas a palavra traduzida por “coxa” é yarek e significa o local onde o homem gera a sua descendência, ou seja, o seu órgão genital! Ela é usada de forma figurada a fim de indicar o órgão genital masculino. Mas o que Avraham estava fazendo na realidade? Que estranho pedido era esse que ele fazia ao seu servo? Devemos entender isso de acordo com a mentalidade oriental para não nos “escandalizarmos” com o que Avraham pediu ao seu servo. O órgão genital masculino era usado a fim de gerar a vida numa relação conjugal. Quando o Senhor ordena que seja feita a circuncisão no órgão genital masculino, seu objetivo é o de fazer uma aliança com a vida! E é justamente isso o que Avraham está pedindo ao seu servo: que ele faça uma aliança com ele (Avraham) – através da vida que ele gerara – de que ele não buscaria uma esposa para Isaque dentre os filhos dos cananeus, que eram um povo estranho e trariam aos hebreus uma mistura em sua raça. Isso certamente atrapalharia os planos do Eterno de suscitar o Messias da descendência de Avraham! Por isso ele tem todo este cuidado quanto ao casamento de Isaque.
Ao continuar a conversa com seu servo, o damasceno Eliêzer, o texto nos diz o quanto Avraham estava preocupado com este fato:
“Para que eu te faça jurar pelo Eterno Elohim dos céus e Elohim da terra, que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio dos quais eu habito” (Gn 24:3).
O ato descrito no texto acima é seguido de um juramento. A palavra “jurar” é shaba e carrega os significados “jurar, conjurar, comprometer-se por juramento”. E Avraham interpõe entre ele e seu servo, o Senhor D-us. Aqui temos noção da importância do que ele diz quando vemos que usou o nome do Eterno Elohim, como pode ser visto no texto em hebraico.
Talvez você se pergunte: mas o que isso significa? Porque a Torá diz que Avraham usa o nome do Eterno?
Significa que a Torá está mostrando que Avraham colocou Aquele que se tornara o que ele precisou, que é também o Criador do Universo, como a testemunha de que seu servo haveria de cumprir o que prometera a Avraham, em relação à esposa para seu filho Isaque. Com isso, o patriarca tencionava resguardar-se de que nada haveria de acontecer a fim de impedir que os propósitos de D-us se cumprissem na vida de seus descendentes. A esposa de Isaque deveria ser de sua parentela, ou seja, deveria ser descendente física de Avraham! Da mesma forma que precisamos nos dedicar em sermos santos para nosso D’us, nos mantendo puros, sem nos misturarmos com as práticas desse mundo.
Depois de receber as instruções e esclarecidas as dúvidas sobre a viagem a ser realizada, então cumpre-se o ritual de “por-se a mão debaixo da coxa” conforme explicado anteriormente, e o servo sai para cumprir sua missão. E como isso ocorre? A Torá tem uma maneira muito linda de descrever essa cena.
“E o servo tomou dez camelos, dos camelos do seu senhor, e partiu, pois que todos os bens de seu senhor estavam em sua mão, e levantou-se e partiu para Mesopotâmia, para a cidade de Naor. E fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto a um poço de água, pela tarde, ao tempo que as moças saíam a tirar água. E disse: Eterno, Elohim de meu senhor Abraão, dá-me hoje bom encontro, e fazei beneficência ao meu senhor Abraão! Eis que eu estou em pé junto à fonte de água e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água. Seja, pois, que a donzela, a quem eu disser: Abaixa agora o seu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo Isaque, e que eu conheça nisso que usaste de benevolência com meu senhor.” Gn 24:10-14
Eliezer ora a HaShem, entregando nas mãos dele, a escolha da mulher para Isaque. E podemos aprender com a Torá que esse homem cria no D’us a quem Avraham servia, isso porque a vida de seu senhor lhe era de um bom testemunho. Assim como nossa precisa ser para os que estão à nossa volta. Sejam empregados, família, amigos, conhecidos e qualquer pessoa com quem nos relacionamos em nosso cotidiano.
“E sucedeu que, antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, que havia nascido a Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, saía com o seu cântaro sobre o seu ombro. E a donzela era mui formosa à vista, virgem, a quem homem não havia conhecido; e desceu à fonte, e encheu o seu cântaro e subiu. Então o servo correu-lhe ao encontro, e disse: Peço-te, deixa-me beber um pouco de água do teu cântaro.” Gn 24:15-17
A frase do vs. 17 de Gênesis, é semelhante à frase de João 4:7 que diz:
“Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Yeshua: Dá-me de beber.”
Seguindo a segunda regra de interpretação Pardes, a “Remez” (o nível alegórico), que aponta para a similaridade de expressões, podemos comparar estes dois eventos distintos, e chegar a conclusões interessantes. Da mesma forma que o servo de Abraão procurava uma noiva para o filho, o servo do Eterno, o Messias, procurava pessoas entre os samaritanos que poderiam também ser parte da noiva do Filho de Elohim.
Dessa forma, aprendemos que os que não são judeus (Samaria é a capital do Reino do Norte, cujas tribos estão dispersas – ‘as dez tribos perdidas’, os remanescentes), também têm a oportunidade de fazer parte da Noiva do Messias como está escrito, no Salmo 45:10- 11:
“Ouve, filha, e olha, e inclina os teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa do teu pai. Então o rei se afeiçoará da tua formosura, pois ele é teu Senhor; inclina-te diante dele.”
Este Salmo é lido em Yom Teruá, a Festa das Trombetas, uma das festas solenes de HaShem. Este Salmo fala das bodas do rei como um apontamento para a boda do Messias com a sua Noiva. O interessante é que essa noiva é apresentada como proveniente de fora do povo judeu. É uma convertida. Isto mostra-nos que muitas das pessoas que fazem parte da noiva, são de origem gentia (ou israelitas que perderam a sua identidade ao longo dos séculos), ou seja não judeus. Obviamente que isso não exclui o judeu, mas mostra-nos que o povo judeu está em minoria. A maior parte da congregação, isto é, da noiva, vem dos gentios convertidos ou seja, dos remanescentes. Nem todos os que dizem ter nascido de novo serão parte da noiva do Messias.
No site “emunah a fé dos santos.com”, ao comentar sobre essa parte da parashá, o autor diz o seguinte:
Nas Escrituras podemos encontrar vários personagens quando se fala nas bodas do Messias: O Noivo, a Noiva, as virgens e os demais convidados. Nem todos são parte da noiva.
Entre nos salvos, há três categorias: os convidados, as virgens e a Noiva. Estes são os três níveis de crentes que aparecem nas Escrituras. Para subir de nível há que obedecer à Torá, como disse o Messias Yeshua em Mateus 5:19:
“Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.”
Neste texto vemos três categorias de pessoas:
1- O que está dentro do Reino mas não guarda todos os mandamentos da Torá de Moisés, esse é chamado de muito pequeno/menor.
2- O que está dentro do Reino e guarda os mandamentos porém não os ensina aos outros, esse não é chamado nem pequeno, nem grande.
3- O que está dentro do Reino, guarda os mandamentos e ensina-os a outros, esse é chamado de grande.
O autor ainda diz que para se casar, há que ser grande ou adulto. Porque uma criança pequena não se pode casar. Para ser noiva há que guardar e ensinar os mandamentos aos outros. A mensagem que é ensinada à noiva no Salmo 45, é que deve esquecer o seu povo e a casa de seu pai, o qual implica uma total dedicação ao noivo. É exatamente essa mesma mensagem que o Eterno dá a Abraão, dizendo que saia da sua terra e da sua parentela, para viver uma vida totalmente focada no Eterno. E isso agora também foi solicitado ao servo Eliezer a respeito daquela que seria a esposa de Isaque, o filho.
Aprendemos que Eliezer reconhece em seu senhor Avraham, um verdadeiro servo de D’us, ele acompanhou a jornada do patriarca, e seu testemunho de vida. E isso transformou também a vida dele.
Que nós a cada momento dessa nossa caminhada de teshuvah possamos nos dedicar em sermos tanto como Eliezer, aquele que reconhece o D’us de nosso Adon (Senhor) Yeshua. Como também ser como Rivkah (Rebeca) que atenta para o que o mensageiro falou e se coloca na posição de ser a noiva do filho.
Siga na teshuvah sabendo bem quem é você, quem é seu Senhor, quem é seu D’us e como deve se comportar. Isso fará toda a diferença na hora de entrar nas bodas. Pois será daí que veremos os níveis de justiça e exemplo de cada um dentro do Reino.
Que o Eterno lhes abençoe!
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771008/jewish/Resumo-da-Parash.htm
- http://pt.chabad.org/media/pdf/1065/sdPk10657732.pdf
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
- https://shemaysrael.com/parasha-chaie-sarah/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/05_chayei_sara_vida_de_sara.pdf
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