Estudos da Torá
Parashá nº 6 – Toldôt (Gerações)
Bereshit/Gênesis Gn.25:19-28:9
Haftará (separação) Ml 1.1-2.7 e B’rit Hadashah (nova aliança) Mt 10.1-11:30
1 - INTRODUÇÃO
Esta porção da Torá descreve a vida do patriarca Yitschac. E podemos notar que dos três patriarcas, somente ele ocupa o menor espaço, uma única porção semanal, a parashá Toldôt, essa que estudaremos.
Nesta porção vemos o clamor de Yitschac e Rivca para gerarem filhos, pois ela era estéril. E vemos também, o desfecho profético no ventre dessa matriarca do povo de Deus. Dois filhos, dois povos, dois reinos. O mais velho iria servir ao mais novo. Esaú e Jacó, Edom e Israel.
O resumo desta porção seria assim: Yitschac casa-se com Rivca. Após vinte anos sem filhos, vemos o clamor de Yitschac e Rivca e suas preces são atendidas. Ela passa por uma gravidez difícil, pois “as crianças lutam dentro dela”; D’us diz a Rivca que “há duas nações em seu ventre,” e a mais jovem prevalecerá sobre a mais velha.
Essav emerge primeiro; Yaacov nasce agarrado ao calcanhar de Essav. Este cresce para ser um “exímio caçador, um homem do campo”; Yaacov é um “homem íntegro”, que habita as tendas de estudo. Yitschac favorece Essav; Rivca ama Yaacov. Um dia, voltando exausto e faminto de uma caçada certo dia, Essav vende seu direito de primogenitura a Yaacov por um prato de lentilhas.
Em Gerar, na terra dos filisteus, Yitschac apresenta Rivca como sua irmã, por medo de ser morto por alguém que cobice a beleza dela. Ele cultiva a terra, reabre os poços cavados por seu pai Avraham, e abre uma série de poços próprios: sobre os primeiros dois há conflitos com os filisteus, porém as águas do terceiro poço são desfrutadas com tranqüilidade.
Essav casa-se com duas mulheres hititas. Yitschac fica velho e cego, e expressa seu desejo de abençoar Essav antes de morrer. Enquanto Essav sai para caçar o alimento preferido do pai, Rivca veste Yaacov com as roupas de Essav, cobre seus braços e pescoço com pele de cabra para simular o toque de seu irmão mais peludo, prepara um prato saboroso de lentilhas, e envia Yaacov ao pai.
Yaacov deixa o lar e vai para Charan para fugir da ira de Essav e para encontrar uma esposa na família do irmão de sua mãe, Lavan. Essav toma uma terceira esposa, Machlat, filha de Ishmael.
2 – ESTUDO DAS PALAVRAS
“E estas são as gerações de Isaque, filho de Abraão: Abraão gerou a Isaque.” Gn 25:19
A palavra que dá nome a essa parashá é תּוֹלְדֹת “toldôt”, que significa “gerações, nascimentos”, e vimos essa palavra há algumas parashiot (porções) atrás, na porção Noach (Noé), em Bereshit/Gênesis 6: 9 lemos:
“eleh toldot noach noach ysh tsadik tamym hayah bedorotayv et-haelohim hitehalekh-noach”
“Estas são as gerações de Noach. Noach era homem justo e íntegro em sua época, com D’us andava Noach.”
Agora, nessa porção, vemos essa mesma palavra “toldôt” no caso do nascimento dos filhos de Isaac e Rebeca.
O terceiro verso dessa porção nos mostra informações interessantes e que servem de aprendizado para cada um de nós. Veja:
“E Isaque orou insistentemente ao SENHOR por sua mulher, porquanto era estéril; e o SENHOR ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu.” Gn 25:21
O verso nos mostra que eles oraram incessantemente durante vinte anos até que ela consegue gerar -“yalad”, palavra que significa “gerar, dar a luz”. Então yalad é singular e toldôt é plural. Yalad significa algo que é produzido ou levado a existir por alguém ou aquilo que procede de tal pessoa, segundo o site “ShemaYsrael.com”. Entretanto, uma coisa que precisamos aprender com essa palavra nesse texto, é que devemos orar insistentemente, pelo tempo que for preciso, enquanto aguardamos a geração da promessa de HaShem. Os filhos desse casal eram essa promessa, e o Eterno havia confirmado para Isaac a promessa que fez a seu pai, ou seja, que seus descendentes seriam abençoados e numerosos. Porém o tempo passou e eles não viam isso acontecer, mas eles foram fiéis ao Eterno e oraram durante vinte anos.
Vejamos ainda o que o midrash fala sobre essa situação da impossibilidade de Rivka não poder ter filhos, e seu clamor ao Eterno. De acordo com o site Chabad.org.br, o midrash diz que ter um filho a quem o casal pudesse ensinar e educar para se tornar um verdadeiro servo de D’us, era o maior anseio e prece de Yitschac e Rivca durante vinte longos anos. Assim, eles foram ao monte “Moriyá” (Makon Ree Yá – Lugar que se vê o Eterno), o mesmo local onde Avraham elevou Yitschac sobre o altar.
Ainda segundo o midrash, ambos, Yitschac e Rivca, oraram e daqui a pouco falaremos mais sobre isso. Yitschac rezou: "D'us, faça com que os filhos que me darás nasçam desta virtuosa mulher!". Rivca rezou: "D'us, faça com que os filhos que me concederás sejam deste tsadic!". A oração de Yitschac foi aceita, e Rivca engravidou. Agora, finalmente, Rivca teria um filho.
Durante a gravidez, conforme nos conta os rabinos, Rivca tinha dores de tal intensidade que pensava que certamente iria morrer. Sentia como se duas forças travassem batalha em seu útero, tentando matar uma a outra. Ao passar por uma casa de estudos ou de orações, sentia movimentos internos naquela direção. Ao passar por um templo de idolatria, havia outro movimento, desta vez nesta direção. (Apesar de Yaacov e Essav estarem no útero de Rivca, e ainda não possuírem mentes próprias, suas inclinações naturais já se manifestavam, mesmo antes do nascimento). Confusa, Rivca perguntou à outras mulheres: "Vocês já sentiram algo parecido quando estavam grávidas?" "Não", retrucaram.
Por isso, foi consultar Shem, filho de Nôach, um profeta de D'us e lhe perguntou: "Podes me dizer por que sofro dores tão fortes?" O profeta respondeu em nome de D'us: "Não temas!," explicou ele. "Estás carregando gêmeos em teu ventre. Eles lutam entre si. Um dia, o mais velho servirá ao mais novo, mas não quer servi-lo. Por isso, brigam dentro de ti." Quando os gêmeos nasceram, eram completamente diferentes. A cabeça e o corpo do gêmeo mais velho eram tão peludos que parecia vestir um casaco. Sua pele também tinha uma forte coloração avermelhada. Chamaram-no Essav, significando "o pronto", pois nascera com cabelos e pelagem completamente desenvolvidos, como de um adulto. (O nome Essav deriva de 'assui', feito).
O bebê mais novo, porém, tinha a pele lisa. Foi chamado de Yaacov. Yaacov vem da palavra 'ekev', calcanhar. Assim que Essav nasceu, tentou evitar que Yaacov viesse ao mundo, destruindo o útero de sua mãe. Yaacov, porém, segurou firmemente nos calcanhares de Essav, surgindo depois dele.
Essav recebeu seu nome dos pais, mas Yaacov ganhou este nome diretamente de D'us. Quando completaram oito dias, seu pai, Yitschac, fez a milá (circuncisão) em Yaacov, mas teve medo de fazê-la em Essav. "A pele de Essav está muito vermelha," preocupou-se Yitschac. "Esperarei até ficar mais velho e o sangue sair da superfície da pele. Talvez seja perigoso fazer a milá nele agora."
Essav cresceu, mas sua pele continuou vermelha. Yitschac então compreendeu que essa era a cor natural de Essav. Decidiu pois, fazer-lhe a milá no dia do Bar-mitsvá. Mas quando Essav completou treze anos, recusou-se e disse: "Não permitirei que ninguém me faça a milá."
Com esse midrash, tivemos a oportunidade de entender um pouco do que Rivka passou na gravidez e após o parto, vemos também um pouco mais claro a respeito da índole desses dois irmãos tão diferentes um do outro. E com isso, confirmamos que é necessário nossa confiança e dependência total do Eterno, conforme veremos a seguir. Continuemos nosso estudo nessa porção.
Repare uma coisa interessante a respeito de outra palavra que encontramos no texto em hebraico.
וַיֶּעְתַּר “vayeetar”, significa “e orou, e rogou, e pediu”.
וַיֵּעָתֶר “vayeater”, significa “e ouviu, e respondeu”.
Repare que as duas palavras se escrevem do mesmo jeito no hebraico original, sem os sinais massoréticos, ou seja, as vogais, mas as pronunciamos diferente. A palavra que indica oração é a mesma que indica a resposta dela, ensinando e comprovando para nós que somente precisamos orar e confiar que a resposta virá, mas no tempo certo que Adonai preparou em sua preciência, conforme lemos em Kohelet (Eclesiastes) 3.1,2:
“Para tudo há uma ocasião e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,”
E como tudo está debaixo do comando de HaShem, o Grande Rei do Universo, vemos também o Mashiach Yeshua orando “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” A oração insistente alcança a resposta do Eterno.
A torá nessa porção, também nos dá uma instrução, sendo redundante propositalmente, pois lembremos que torá é instrução, aos casais e aos que pretendem se casar. Releia o verso 21.
“E orou Isaac ao Eterno, em frente à sua mulher, (que orava também) porque era estéril; e atendeu o Eterno, e concebeu Rebeca, sua mulher.”
וַיֶּעְתַּר יִצְחָק לַיהוָה לְנֹכַח אִשְׁתּוֹ, כִּי עֲקָרָה הִוא; וַיֵּעָתֶר לוֹ יְהוָה, וַתַּהַר רִבְקָה אִשְׁתּוֹ
VAYEETAR YTSECHAQ LAYHVH LENOKACH ISHETO KY AQARAH HIV VAYEATER LO YHVH VATAHAR RIVEQAH ISHETOH
As palavras em vermelho significam literalmente “em frente a sua mulher e ela para ele porque era estéril”. Aqui a Torá está nos instruindo a orar junto com nosso cônjuge, e mais especificamente um em frente ao outro, reafirmando que ambos são um só. Quando os casais oram juntos pelos propósitos da família dentro da vontade do Eterno, nada pode impedir que eles aconteçam, principalmente se estiverem alinhados com os planos do Pai.
Ainda podemos aprender mais sobre a vida de Yitschac. Disse anteriormente, na introdução desse estudo, que este patriarca recebeu, em relação aos outros dois patriarcas, uma única porção semanal. E isso o torna uma figura enigmática em toda a Torá, pois aparentemente, nada temos a aprender nessa porção, mas não é o que vimos até agora. Parece que depois de deitar-se sobre o altar para que seu pai o sacrificasse à HaShem, ele se fecha em uma clausura, em uma vida de cavar poços. Parece que ele é uma pessoa facilmente manipulada pelos que estão ao seu redor. Espere, pois ainda há algo a aprender com a vida desse homem de D’us.
Segundo o site Chabad.org, os sábios de Israel ensinam que os Patriarcas eram muito mais que progenitores biológicos da nação judaica, pois cada um deles representava uma forma de HaShem se relacionar com o homem. Abraão demonstrava a qualidade divina da “Chessed”, bondade, pois todas as suas ações, pensamentos e palavras estava repleta de bondade e amor pela humanidade. Já Yitschac demonstrava o atributo divino da “gvurá”, força. Em Pirkei Avot, Ética dos Pais, os rabinos dizem ainda, que “forte é aquele que domina suas paixões”. Ou seja, A força não é medida por aquilo que você faz, mas por aquilo que você não faz. Quando se demonstra auto-controle, disciplina, organização, pois essas são características de alguém que não se deixa ser levado pelas emoções.
Assim, podemos entender o que Shaliach Sha’ul (apóstolo Paulo) nos diz:
“E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de D’us está derramado em nossos corações pelo Ruach Hakodesh que nos foi dado.” Rm 5:3-5
Essa força de Yitschac, o fez se recolher para que a bondade de seu pai Abraão permanecesse em foco. Ele se retrai para permitir que a memória e o legado de seu pai fossem perpetuados. Podemos perceber que em todos os seus relacionamentos ele desempenhou um papel passivo. Para algumas pessoas pode parecer frustrante esse papel aparentemente passivo e sem destaque que ele desempenhou nos episódios que temos conhecimento de sua vida. Por exemplo, ele foi levado por seu pai para ser sacrificado a D’us, o servo de Avraham, Eliezer, é enviado para encontrar uma esposa para ele, seu filho Yaacov o manipula para receber suas bênçãos, sua mulher o pressiona para que envie Yaacov ao mesmo lugar para buscar uma esposa, entre outros.
Perceba porém, que auto-controle, disciplina e organização são ferramentas do forte, daquele que não pode ser levado por emoções fugazes e pelos caprichos do instinto. Segundo o site ShemaYsrael.com, pela lógica esta qualidade deveria estar presente em todos os relacionamentos de Yitschac, pois ninguém iria questionar que fora necessário uma força imensurável para calmamente se oferecer no altar em sacrifício, mas e quanto ao resto de sua vida? Onde mais podemos ver atitudes como esta se destacar?
Ainda de acordo com o mencionado site, a criação é uma manifestação da bondade de D’us, pois ele não tem necessidade de nos trazer à vida. O Eterno é a essência da perfeição, a própria antítese do conceito de “necessidade”. Suas intenções eram apenas que Ele desejava nos conceder o maior de todos os prêmios, o dom da eternidade que vem apenas de nos conectarmos a Ele através de Seus mandamentos. Entretanto, há um ligeiro problema, se é que podemos dizer isso, com Seu amor transbordante. O desejo de dar é tão forte que se não fosse controlado, D’us derramaria Sua Divina luz em quantidades tais que mesmo o propósito da Criação seria abolido. Ao invés de dar aos seres humanos a oportunidade de atingir a perfeição, de batalhar e de aprender a lutar por si mesmo, Ele teria nos concedido a recompensa sem que precisássemos levantar um dedo.
Embora pareça tentador viver uma vida de tranquilidade, sem desafios ou obstáculos para superar, bem sabemos que isto não seria verdadeiramente satisfatório. Nos sentiríamos roubados de nossa dignidade, se nos fosse negada a chance de conseguir algo por nós mesmos. Por isso, foi necessário para HaShem se restringir, ou seja, refrear Seu amor abundante, dando-nos a chance de “conseguir através de esforço”.
Isso de modo algum diminui o amor, pelo contrário, aumenta-o, tornando-o mais real. Isso é similar ao modo como os pais se sentem quando observam os filhos lutando contra a adversidade. Como desejamos aparar os golpes para eles, protegê-los da humilhação e da dor da derrota. Mesmo assim, sabemos que fazê-lo destruiria seu próprio ego, seus sentimentos de competência e segurança interior. Tiraríamos a oportunidade de ter suas próprias experiências e escolhas. Esta é a aplicação dos atributos de bondade e força de D’us. Sua bondade deseja derramar sobre nós o maior bem imaginável. O atributo da força, restrição, impede que Sua bondade nos sobrepuje, nos sufoque. Poderíamos dizer que é a qualidade de força que possibilita que o atributo da bondade se torne significativo e eficaz, dando-nos o espaço necessário para criar nossa própria eternidade.
Yitschac é a personificação dessa força. É sua missão facilitar a bondade de Avraham. E talvez você se pergunte, como pode ser isso? E a resposta é que ele se retira do contexto da história, retraindo-se a fim de permitir que a memória e legado de seu pai sejam perpetuados. Yitschac poderia ter criado seus próprios seguidores, ter crescido e se elevado em fama, de acordo com sua vontade, mesmo assim escolheu a negação de sua identidade, permitindo que o mundo recebesse dose adicional da bondade de Avraham. Os sábios de Israel, dizem ainda, que Yitschac era uma cópia exata do pai. Não é coincidência, era sua tarefa ser como seu pai, ou seguir o legado do pai, tornando-o ainda mais conhecido.
Reflita no seguinte: Qual a diferença entre um poço e uma fonte? Um poço retira a água de uma reserva específica e contém uma quantidade finita de água. Por outro lado, uma fonte é viva, tem vitalidade própria. Yitschac cavava poços, mas não simplesmente poços, abria os poços que seu pai havia cavado e lhes atribuía os mesmos nomes que seu pai. Não está vivo por seu próprio direito, está conectado à fonte de seu pai.
Com tudo isso que vimos até agora, aprendemos que é nossa responsabilidade levar a vida justa de Yeshua para o máximo de pessoas que pudermos, isso fará com que sua obra, seus ensinos e práticas se tornem ainda maiores, levando a Torá de HaShem a mais pessoas e engrandecendo o nome do Eterno.
Vimos também, que a forma de vida que Yitschac levou não fez dele um tolo ou incompetente, pelo contrário, isso permitiu que aqueles que estavam à sua volta tivessem a oportunidade de se desenvolverem, isso é uma demonstração de força. Veja que Yeshua diz que:
“são bem aventurados os puros de coração, pois eles verão a D’us. E bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de D’us.” Mt 5.8,9.
Temos motivos de sobra para prestarmos muita atenção aos ensinos do Eterno nessa parashá, e acima de tudo colocarmos em prática imediatamente em nossas vidas.
Os sábios de Israel ainda dizem que, essa característica de Yitschac, é como a bondade divina, pois permite que os filhos descubram sua identidade por si mesmos, estando sempre presente, mas se mantendo a distância, apoiando mas não segurando, e que nós deveríamos aprender a agir assim com nossos filhos.
"E havia fome na terra, além da primeira fome, que foi nos dias de Abraão; por isso foi Isaque a Abimeleque, rei dos filisteus, em Gerar. E apareceu-lhe YHWH, e disse: Não desças ao Egito; habita na terra que eu te disser;" Gn 26:1 e 2
Devido à fome que se instalou na terra, talvez Yitschac tivesse intenção de descer ao Egito, para escapar da fome, como tinha feito o seu pai. Podemos perceber isso ao ler esses dois versos e buscarmos referência geográficas pelo fato dele descer até “Gerar”, na terra dos filisteus que era caminho para o Egito, mas ao chegar ali HaShem fala com o patriarca para que ele não descesse para o Egito. O midrash também fala que ele pensou em descer, veja o que diz:
“Pouco depois, a fome assolou a terra de Canaã. A comida era escassa. Yitschac pensou em viajar para o Egito, como seu pai Avraham fizera noutra época de fome. D'us, porém, ordenou que agisse diferente. "Nasceste aqui, nesta santa terra de Israel," disse D'us. Não a deixe, fique aqui! Vou protegê-lo e abençoá-lo." Yitschac obedeceu. Permaneceu na cidade de Gerar, na terra de pelishtim (que fazia parte da terra Israel).”
E vemos aqui também, que assim como aconteceu na época do patriarca algumas dificuldades ou provações, pode ocorrer de termos também algumas dificuldades para provar nossa fidelidade ao Eterno. A fome na terra, ainda pior que a da época de Avraham era com certeza uma prova para a fidelidade desse homem de D’us.
E reparem em uma coisa interessante, em Gn 26:2, segundo o site Shema Ysrael.com, a palavra que define o Eterno nesse texto é o tetragrama, como em muitos outros textos! Isso significa que o Eterno se tornaria aquilo que Yitschac necessitaria, ou seja, a provisão contra a fome! Yitschac somente teria de obedecer a fim de receber aquilo que o eterno já havia preparado para ele! Obedecer é a palavra-chave na Torá para provisão, suprimento, proteção, benção e vida.
"Peregrina nesta terra, e serei contigo, e te abençoarei; porque a ti e à tua descendência darei todas estas terras, e confirmarei o juramento que tenho jurado a Abraão teu pai;" Gn 26:3
Nesse verso 3 confirmamos a promessa que HaShem iria suprir as necessidades de Yitschac, se ele confiasse no Eterno, ultrapassaria todos os problemas que viessem a surgir.
"E multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e darei à tua descendência todas estas terras; e por meio dela serão benditas todas as nações da terra;" Gn 26:4
A promessa ao patriarca Avraham agora estava sendo reiterada ao filho, o patriarca que o sucedeu, o princípio da obediência e da fidelidade prevalece, assim como as promessas de bençãos. E da mesma forma, ela serve para todos os que se achegam à fé através do Filho de Elohim, Yeshua HaMashiach, estes serão como as estrelas. Os que se achegam tornam-se filhos espirituais de Avraham, isso significa que somos filhos ligados pelo mesmo mover, pelo mesmo poder, ou seja, pela confiança e fidelidade no Eterno. Esta é a segunda vez que essa promessa de que a descendência receberia a terra se repete na Torá.
Ainda quero mostrar algo muito interessante a respeito do que o Eterno fala sobre Avraham para Yitschac. HaShem parece testemunhar sobre a vida de justiça de Avraham, veja:
"Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis.” Gn 26:5
Sobre esse verso, a respeito dessa palavra de HaShem o comentário da Torá da Editora Sêfer nos diz que é como se o Eterno estivesse dizendo: “Porque escutou Avraham a minha voz – e tu és o seu continuador.” ou seja, você deve continuar nos passos dele. Essa é uma lição que precisa ficar em nossos corações. O verso ainda fala que Avraham “...guardou o meu mandado, os meus mandamentos, os meus estatutos, e as minhas leis.”, no referido comentário diz que o midrash explica que “mitsvot” (mandamentos) significam leis ditadas pela moral e consciência humanas, “chukim” (estatutos) são leis ordenadas por D’us, sem que na Torá haja uma explicação de sua razão, e “torot” (leis) são leis orais transmitidas de pai para filho e de professor para aluno, através de cada geração.
Já no estudo dessa parashá no site emunah a fé dos santos, sobre essas palavras, o autor diz que aparecem cinco palavras diferentes que mesmo sendo similares entre si, estão ligadas a sentidos diferentes. Vejamos:
Obedeceu à Minha Voz - Está relacionado à obediência à voz do Espírito do Eterno, que fala ao nosso coração, na nossa caminhada diária, como está escrito em Romanos 8:14 que diz: “porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.”
Guardou o Meu Mandado - Está relacionado com a prevenção, relacionada com as restrições da Torá. Abraão era zeloso e cuidadoso relativamente às coisas que deveria guardar.
Os meus preceitos ou mandamentos - No texto hebraico aparece a palavra mitsvot, que habitualmente é uma referência a todos os mandamentos, assim como às instruções que podemos compreender literalmente;
Os meus estatutos - Em hebraico, chukim. A opinião dos rabinos é que é uma referência aos mandamentos que não têm uma explicação lógica, contra os quais se revela a inclinação para o mal com mais incidência do que nos outros mandamentos, como por exemplo não comer porco, ou não misturar a lã com o linho. No entanto, há quem defenda que estatutos referem-se por exemplo aos moed, que como já falamos anteriormente, são os tempos apontados pelo Eterno.
E minhas leis - Contempla todas as leis que o Eterno deu como constituição da nação de Israel. Vem da palavra hebraica torá.
Basicamente, quando o texto nos diz que Abraão obedeceu a todas estas coisas, está a dizer-nos que Abraão observava toda a Torá que posteriormente o Eterno ditaria a Moisés para que a escrevesse em rolos. Os mandamentos que mais tarde foram escritos, eram os mesmos que regiam a vida dos patriarcas.
Esta porção também menciona um nome conhecido desde a época de Avraham, o rei filisteu chamado Abimeleque. Este Abimeleque, poderia ser o filho do rei que governava no tempo de Abraão, que também tinha o mesmo nome (em hebraico, Avimelech que significa meu pai é rei). O comentário de rodapé da Torá da editora Sêfer nos diz que Avimelech era o nome que se dava a todos os reis filisteus, assim como se chamavam faraós todos os reis do Egito.
Aprendemos então, que Isaque tinha nascido na terra de Israel, onde o Eterno havia dado a seu pai, e além disso, naquela terra, tinha sido oferecido como sacrifício ao Eterno. Um Midrash diz que por ter sido consagrado de uma forma especial, ele não poderia descer ao Egito que era um terra impura devido à tamanha idolatria que ali havia. Esta seria uma prova de fé para Isaque. O Egito representa o sistema apóstata do mundo. Então devemos refletir no seguinte: Quando estamos em crise, a quem recorremos? Ao mundo, ou a HaShem, confiando nas suas promessas? Isaque teria que confiar na promessa do Eterno para continuar a viver numa terra que não produzia.
O Eterno promete a Yitschac que supriria suas necessidades, como já mencionamos, e se ele fosse fiel e permanecesse na terra que havia dado a seu pai Avraham. Da mesma forma, os que se chegam à fé através do Filho de Elohim, serão como as estrelas. Os filhos espirituais de Abraão. Duas vezes se repete esta promessa, de que a sua descendência receberia estas terras. Aprendemos que onde o Eterno nos colocou devemos ser fiéis e frutíferos, vivendo como verdadeiros luzeiros para as pessoas que estão em escuridão.
Encontramos ainda, uma clara referência profética que os filhos espirituais (enxertados) de Abraão também herdarão a terra de Israel e todas as terras do mundo serão a sua herança, como vemos em Romanos 4:13:
"Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé."
Por outro lado, é uma referência ao Messias, que será o governante da guerra, como está escrito em Lucas 1:32-33:
"Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Eterno lhe dará o trono de David, seu pai; E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim."
E em Isaías 9:7:
"Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Eterno dos Exércitos fará isto."
E Daniel 7:14:
"E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído."
“...serão benditas todas as nações da terra.” Aqui é usada a palavra “goyim” nações, que é a mesma palavra que é também traduzida como gentios, em contraste com o texto do capítulo 12:13 onde aparece a palavra mishpachot que significa famílias.
Bibliografia:
- Torá – Lei de Moisés. Editora Sefer
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/771009/jewish/Resumo-da-Parash.htm
- http://shaareishalom.net.br/toldot-resumo-da-parashat/
- https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1992539/jewish/Atravs-de-Esforo.htm
- http://www.hebraico.pro.br/r/biblia/
- http://emunah-fe-dos-santos.weebly.com/uploads/1/4/2/3/14238883/06_toldot_geraes.pdf
- https://shemaysrael.com/parasha-toledot/
- http://hebraico.top/biblia-hebraica-online-transliterada/
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